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PARTE II ESTUDO EMPÍRICO

7. Objectivos e Hipóteses do Estudo

7.2 Hipóteses

8.2.3 Inventário de Comportamento da Criança para Pais (I.C.C.P.)*

Para a avaliação das competências sociais e do comportamento integrou-se na pesquisa o Child Behavior Checklist (Achenbach, 1991; Achenbach & Edelbrock, 1983), tendo sido utilizada, na parte relativa à avaliação do comportamento, a versão portuguesa - Inventário de Comportamentos da Criança para Pais (I.C.C.P.) (Albuquerque et al., 1999; Fonseca, Simões, Rebelo, Ferreira, & Cardoso, 1994).

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De origem norte-americana, este inventário avalia as competências sociais e os problemas de comportamento de crianças e adolescentes dos 4 aos 18 anos de idade, tal como são percepcionados pelos pais ou por quaisquer outros adultos que desempenhem funções parentais (Achenbach & Edelbrock, 1983; Albuquerque et al., 1999), sendo um dos mais conhecidos e utilizados internacionalmente.

Ele é constituído, quer na versão original (Achenbach & Edelbrock, 1983) quer na mais recente (Achenbach, 1991), por duas partes distintas (ver Anexo 5). A primeira integra 20 itens que facultam informação sobre a competência do indivíduo era diversas actividades e situações de interacção social (por exemplo, número de amigos, participação em desportos e passatempos, frequência das actividades com os amigos). A informação fornecida incide quer sobre a qualidade dessas actividades e interacções, quer sobre a sua quantidade. Esta primeira parte encontra-se organizada em três escalas, relativas às actividades da vida diária, às interacções sociais e à escolaridade (ver Anexo 5).

A segunda parte é constituída por 120 itens referentes a problemas de comportamento. Destes, 118 reportam-se a perturbações específicas da saúde mental infantil e juvenil, e 2 destinam-se a obter informação sobre problemas não explicitados no inventário, sendo apresentados sob a forma de questões abertas (ver Anexo 5). Face aos 118 itens, a escala da resposta utilizada é de 0 a 2 (0 = Não verdadeira, 1 = Às vezes verdadeira, 2 = Muitas vezes verdadeira).

Como já se referiu, o instrumento abrange uma ampla gama de idades, sendo aplicável a três níveis etários: 4-5 anos; 6-11 anos e acima dos 12 anos.

Achenbach (1991) empenhou-se em desenvolver escalas comuns a rapazes e raparigas dos 4 aos 18 anos, possibilitando assim a sua comparação. Desenvolveu também versões homólogas do instrumento dirigidas a pais (ou substitutos), professores e à própria criança, que viria a designar de “cross-informant syndromes”. Para tal, partiu de várias análises factoriais a componentes principais das cotações atribuídas (numa amostra clínica) aos 89 itens que o inventário dos pais partilha com os inventários para os professores e para a criança. O estudo factorial da versão portuguesa incide também sobre estes 89 itens. Contudo, o instrumento mantém os restantes itens (que não fazem parte de nenhum factor) já que podem ser de relevância clínica e, como tal, continuam a integrar a escala global.

Achenbach (1991) identificou oito síndromas ou escalas comuns aos dois sexos, aos diferentes níveis etários e às diferentes fontes de informação, a que foram atribuídas as seguintes designações: Isolamento, Queixas Somáticas, Ansiedade/Depressão, Problemas

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Sociais, Problemas do Pensamento, Problemas de Atenção, Comportamento Delinquente e Comportamento Agressivo.

Por sua vez, os diversos factores/escalas foram agrupados, através de uma análise de clusters, em dois grandes grupos: um de problemas de comportamento extemalizante (externalizing behaviour) e o outro de problemas de comportamento intemalizante (internalizing behaviour).

Desta forma, o instrumento permite obter um resultado específico para cada síndrome, um resultado para cada um dos dois “clusters”, e um resultado global (resultante da soma do conjunto dos itens).

A distribuição dos problemas de comportamento por escalas ou factores tem a vantagem de fornecer um perfil para cada criança, através do qual é possível identificar, de forma rápida, quer as áreas em que o seu comportamento é normal, quer aquelas em que ele é problemático (e.g., Fonseca et al., 1994).

N a versão portuguesa mantêm-se as mesmas 8 escalas da versão americana (ver Albuquerque et al., 1999), mas a escala original “Problemas Sociais” não encontrou qualquer expressão equivalente no nosso país, tendo sido obtida uma escala adicional denominada Hiperactividade (na solução factorial encontrada os itens da escala americana Comportamento Agressivo foram divididos por duas subescalas - Comportamento Agressivo e Hiperactividade).

A cotação do I.C.C.P. deve ser realizada de acordo com os diferentes critérios de cotação descritos no manual do instrumento, observando-se critérios diferentes de cotação para a primeira e a segunda partes (ver Achenbach, 1991, pp. 230-232 e pp. 246-251). Relativamente à primeira parte do instrumento, que remete para a avaliação das competências sociais, atribui-se nas duas primeiras escalas (actividades da vida diária e interacções sociais) uma cotação à quantidade e outra à qualidade da participação da criança em diversas actividades e/ou relações sociais (Achenbach, 1991, pp. 246-247). No que diz respeito à escala escolar, cada um dos itens que a integram (rendimento nas diferentes disciplinas académicas, frequência de uma escola especial, etc.) é também cotado de forma diferenciada (ver Achenbach, 1991, pp. 246-248). No seu conjunto, as pontuações atribuídas às três escalas conduzem a um resultado total de competência social.

Os itens pertencentes à segunda parte do questionário, relativos aos problemas de comportamento, são cotados de zero a dois, consoante a característica ou o comportamento em questão seja “ não verdadeira”, “às vezes verdadeira”, “muitas vezes verdadeira”. O somatório das cotações (0, 1 e 2) atribuídas a cada um dos itens da segunda parte faculta o

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resultado total de problemas de comportamento. Procedendo de forma idêntica em relação aos itens que integram cada uma das escalas, obtêm-se os resultados parciais a elas respeitantes.

Resultados mais elevados em cada uma das partes do Inventário remetem para níveis mais altos de competência social e de problemas de comportamento.

Segundo Albuquerque et al. (1999) os resultados totais devem ser entendidos como meros indicadores da intensidade das perturbações da criança, tal como percepcionadas e vivenciadas pelos pais. Na mesma linha, os resultados obtidos em cada uma das escalas fornecem informações respeitantes à natureza dos problemas da criança, mas não podem ser assimilados a um qualquer diagnóstico clínico.

Diversos estudos (empreendidos nos Estados Unidos e noutros países) têm demonstrado que o instrumento apresenta boas qualidades psicométricas, em termos quer de validade, quer de precisão (e.g., Achenbach, 1991; Achenbach & Edelbrock, 1983). No que se refere à consistência interna, os valores do coeficiente Alpha de Cronbach para os resultados totais (4-11 anos) são elevados (.96 para o total de problemas, .93 para os problemas extemalizados e .89 (rapazes)/.90 (raparigas) para os internalizados), sendo também boa a consistência interna ao nível das escalas (ver Achenbach, 1991).

Por sua vez, a adaptação portuguesa do I.C.C.P. apresenta níveis muito satisfatórios de consistência intema não só para o resultado total (os valores dos alpha de Cronbach são de .93 na amostra da comunidade e .92 numa amostra clínica) mas também em relação às diferentes escalas; neste caso os valores dos coeficientes alpha de Cronbach são iguais ou superiores a .70 (variam entre .70 e .88), com excepção do relativo à escala de Problemas de Pensamento cujo vàlor é .69 (ver Albuquerque et al., 1999).

8.2.4 Q uestionário de Avaliação e C aracterização do M au-Trató e Negligência*

Para a avaliação do mau-trato e negligência foi utilizado o Questionário de Avaliação e Caracterização do Mau-Trato e Negligência desenvolvido por M. Calheiros (1996). De acordo com a autora, este questionário poderá ser utilizado como um instrumento de despiste de crianças em risco de mau-trato e, deste modo, permitir um diagnóstico precoce Hag situações na comunidade de origem. Ele pode ser utilizado quer no âmbito institucional (por diferentes técnicos), quer de investigação.

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0 questionário é composto por duas partes. A primeira remete para 5 áreas - variáveis sócio-demográficas, situação escolar, integração da criança na instituição, suporte institucional e variáveis do agregado familiar. A segunda parte remete para a avaliação do mau-trato e negligência e foi a única a ser utilizada no presente estudo. Ela compreende 18 questões que englobam diferentes tipos de mau-trato (físico e psicológico) e negligência (física e psicológica), o abuso sexual e trabalho infantil/mendicidade (ver Anexo 6). Cada questão é composta por 3 indicadores, devendo os técnicos decidir para cada um deles se está “presente”, “ausente”, se é “desconhecido” ou “suspeitado”.

Em termos de estrutura o questionário está organizado em 5 dimensões (factores): Mau-Trato Psicológico (esta dimensão inclui a negligência psicológica e o abuso psicológico), Negligência Física (integra conteúdos que remetem para actos de omissão parental que colocam a criança em perigo ou em que já se observa dano físico em termos de saúde e desenvolvimento), Mau-Trato Físico (agrupa o conjunto de actos parentais físicos e violentos, e ainda o mau-trato verbal violento/ofensivo face à criança), Actos Graves (actos considerados como severos, desviantes ou perigosos para a criança, designadamente, o abuso sexual, o trabalho infantil e o consumo de substâncias) e Abandono (refere-se ao abandono físico e declarado dos pais e familiares da criança).

Os factores “Mau-trato Psicológico”, “Negligencia Física” e “Mau-trato Físico” apresentam um boa consistência interna, sendo os valores alpha de Cronbach de, respectivamente, .76, .70, .75. Por sua vez, o factor “Actos Graves” apresenta uma consistência abaixo do desejável (.34). O factor “Abandono” só integra uma questão. Nesta sequência as três primeiras dimensões serão as mais valorizadas nas análises estatísticas a realizar no presente estudo.

Cada item é cotado numa escala de 4 pontos (1 na situação de todos os indicadores ausentes; 2, 3 ou 4 consoante o número de indicadores presentes for 1, 2 ou 3). Dado que o nível de certeza que os técnicos têm relativamente à ocorrência do mau-trato e negligência é muito importante na tomada de decisão de se sinalizar a situação (Watson e Levine, 1989, citado por Calheiros, 1996), tomou-se, tal como a autora, uma posição conservadora e os itens assinalados como “desconhecidos” ou “suspeitados mas não confirmados” foram assinalados como não ocorrências. Tal como descrito em Calheiros (1996), a cotação é realizada individualmente para cada um dos cinco factores.

Resultados mais elevados em cada uma das dimensões remetem para níveis mais altos de mau-trato ou de negligência.

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