CAPÍTULO III – Análise e Interpretação dos Dados
2. Análise ao conteúdo das entrevistas
2.4. Escala Geriátrica de Depressão (GDS-30)
A depressão é um problema de saúde mental mais comum na terceira idade, promovendo um impacto negativo em todos os aspectos da vida do idoso, principalmente a nível institucional. Entretanto, este aspecto foi avaliado a fim de efectuarmos a correlação com as perspectivas da morte e da morte do outro, do idoso institucionalizado.
A depressão é frequente em qualquer faixa etária, entre 15% a 20% de pessoas a apresentar sintomas depressivos. Entretanto preconiza-se que esta percentagem aumenta
depois dos 65 anos de idade, embora seja uma questão importante na pessoa idosa, não é específica deste grupo etário, bem como não aumenta após os 60 anos (Fontaine, 2000).
Diante da importância desta questão e para a melhor compreensão do fenómeno em estudo foi aplicada a Escala Geriátrica de Depressão de Yesavage (GDS-30), que fez parte do instrumento de recolha de dados. A escala encontra-se no ANEXO 4.
Trata-se de uma escala psicométrica de natureza ordinal, com vários estudos sobre a sua fiabilidade e aplicabilidade, composta inicialmente por 30 itens. Utilizámos a versão portuguesa em que, todos os itens obtêm-se duas respostas alternativas (SIM/NÃO) sobre o modo:‘como:o:idoso:se:tem:sentido:ultimamente, em:especial:de:há:uma:semana:para:cá’
Quadro nº 38-Valores de validade dos itens da GDS-30
N %
Casos
Validos 35 100%
Excluídos 0 ,0%
Total 35 100%
A aplicação da GDS-30 decorreu durante os meses de Novembro a Março de 2013, apoiando os idosos que não apresentavam condições de preencher, e como já referimos tendo o cuidado de explicar as questões, quantas vezes as necessárias, para que este entendesse a questão e respondesse. À aplicação, verificámos 100% na validade dos itens aplicados (Quadro nº 38).
Quadro nº 39-Valores do Coeficiente alfa de Cronbach (α) dos itens da GDS-30
Alpha de Cronbach Alpha de Cronbach Baseado nos Itens Estandardizados
N de Itens
,821 ,816 30
A consistência interna Escala Geriátrica de Depressão (GDS-30) foi obtida através da análise da consistência interna dos seus itens (Quadro nº 39), cujo resultado deste coeficiente de precisão, o alfa de:Cronbach:(α) foi de 0,821. Atendendo a este valor, pode-se considerar razoável ou mesmo boa.
Quadro nº 40 – Distribuição dos participantes em função do nível de depressão medida através da GDS-30
Frequência % Percentagem % Acumulada
Ausência de depressão 17 48,6% 48,6%
Depressão ligeira 17 48,6% 97,1%
Depressão grave 1 2,9% 100,0%
Total 35 100,0%
Quanto à prevalência da depressão nas instituições, observámos a presença de depressão grave em um único idoso e depressão ligeira em 48,6% da amostra e a mesma percentagem para a ausência de depressão (Quadro nº 40).
Quadro nº 41 – Distribuição dos participantes por género e em função do nível de depressão medida através da GDS-30 Género Total Masculino Feminino Ausência de depressão N 8a 9a 17 % Total 22,9% 25,7% 48,6% Depressão ligeira N 7a 10a 17 % Total 20,0% 28,6% 48,6% Depressão grave N 0a 1a 1 % Total 0,0% 2,9% 2,9% Total N 15 20 35 % Total 42,9% 57,1% 100,0%
a - Cada letra subscrita denota um subconjunto das categorias de género cujas proporções não diferem significativamente entre si ao nível de 0,05.
Quanto à distribuição por ‘Género’, verifica-se uma maior prevalência de no sexo feminino (57,1%) que no masculino (42,9%). Não se averiguando uma grande discrepância entre os níveis Ausência de depressão e Depressão ligeira. O único caso de Depressão grave verifica-se no sexo feminino (Quadro nº 41).
Quanto às medidas de tendência central, observa-se que a maior incidência de Depressão ligeira e grave sobre cai no sexo feminino, no intervalo de idades de 91-95 anos e estado civil viúvo, com religião católica. O único ateu apresenta Depressão ligeira (Quadro nº 42).
Quadro nº 42 – Medidas de tendência central e de dispersão em função do nível de depressão medida através da GDS-30
relacionada com o género, idade, religião e estado civil
Escala da Depressão Género Idade Estado civil Religião
Ausência de depressão
N 17 17 17 17
Desvio Padrão ,514 ,943 1,115 ,000
Mínimo Masculino 76 -80 Solteiro Católica
Máximo Feminino 91 - 95 Viúvo Católica
Variância ,265 ,890 1,243 ,000
%Total N 48,6% 48,6% 48,6% 48,6%
Depressão ligeira
N 17 17 17 17
Desvio Padrão ,507 1,222 ,996 ,485
Mínimo Masculino 65 - 70 Solteiro Ateu
Máximo Feminino 91 - 95 Viúvo Católica
Variância ,257 1,493 ,993 ,235
%Total N 48,6% 48,6% 48,6% 48,6%
Depressão grave
N 1 1 1 1
Desvio Padrão . . . .
Mínimo Feminino 91 - 95 Viúvo Católica
Máximo Feminino 91 - 95 Viúvo Católica
Variância . . . .
%Total N 2,9% 2,9% 2,9% 2,9%
Total
N 35 35 35 35
Desvio Padrão ,502 1,094 1,040 ,338
Mínimo Masculino 65 - 70 Solteiro Católica
Máximo Feminino 91 - 95 Viúvo Ateu
Variância ,252 1,197 1,081 ,114
Dados que estão de acordo com a literatura e estudo de Barros-Oliveira e Neto (2004), que observaram que a depressão nas mulheres é 2 vezes mais prevalente que nos homens. Outros factores de risco que aumentam em até 5 vezes esta prevalência são a presença de comorbilidades, a história prévia de depressão, a perda recente do companheiro e não ter um companheiro (solteiro/separado).
Já a OMS refere que vários estudos verificaram que o sexo, a idade, o estado civil e o nível social estão directamente associados à depressão, em que as mulheres têm duplo risco de depressão relativamente aos homens, as pessoas separadas ou divorciadas têm significativamente maiores índices de depressão do que os actualmente casados, e a taxa de depressão geralmente diminui com a idade. Refere que esta evidência, no entanto, vem principalmente a partir de estudos realizados em países ocidentais (Bromet, et al., 2011).
Dos 35 idosos do estudo verifica-se uma maior predominância do sexo feminino, o intervalo de idade máximo de 91-95, a viuvez e a religião católica presentes tanto para a depressão ligeira como grave, bem como para os não deprimidos. O ateu da amostra apresenta uma depressão ligeira. Aspectos já referenciados na literatura (Quadro nº 42).
Relativamente à distribuição: dos: idosos: quanto: à: ‘Idade’, verifica-se que existe similaridade entre as faixas etárias dos 81-85 (14,3%) e 86-90 (20,0%), com pouca diferenciação, apresentando depressão ligeira. E um caso de depressão grave na faixa etária mais envelhecida, dos 91-95 anos (Quadro nº 43).
Quadro nº 43 – Distribuição dos participantes por idade e em função do nível de depressão medida através da GDS-30
Idade Total
65 - 70 76 -80 81 - 85 86 - 90 91 - 95 Ausência de depressão N% Total 0,0%0a 8,6%3a 14,3%5a 20,0%7a 5,7%2a 48,6%17 Depressão ligeira N% Total 2,9%1a 5,7%2a 14,3%5a 20,0%7a 5,7%2a 48,6%17
Depressão grave N% Total 0,0%0a 0,0%0a 0,0%0a 0,0%0a 2,9%1a 2,9%1
Total N 1 5 10 14 5 35
% Total 2,9% 14,3% 28,6% 40,0% 14,3% 100,0%
a - Cada letra subscrita denota um subconjunto das categorias de idade cujas proporções não diferem significativamente entre si ao nível de 0,05.
Quanto:à:‘Religião’:averiguámos uma presença de depressão ligeira (48,6%) e grave nos católicos e o único ateu manifesta sinais de depressão ligeira. Observamos valores similares quanto à ausência de depressão e depressão ligeira, de 48,6%da amostra (Quadro nº 44).
Quadro nº 44 – Distribuição dos participantes por religião e em função do nível de depressão medida através da GDS-30
Religião Total Católica Ateu Ausência de depressão N 17a 0a 17 % Total 48,6% 0,0% 48,6% Depressão ligeira N 16a 1a 17 % Total 45,7% 2,9% 48,6% Depressão grave N 1a 0a 1 % Total 2,9% 0,0% 2,9% Total N 34 1 35 % Total 97,1% 2,9% 100,0%
a - Cada letra subscrita denota um subconjunto das categorias de religião cujas proporções não diferem significativamente entre si ao nível de 0,05.
No:que:se:refere: ao:‘Estado civil’, os dados vão ao encontro do que relata a bibliografia citada, ser estatisticamente mais acentuada em pessoas viúvas, tanto nos níveis de depressão ligeira (42,9%), como grave (2,9%) e o solteiro (5,7%) com depressão ligeira (Quadro nº 45).
Quadro nº 45 – Distribuição dos participantes por estado civil e em função do nível de depressão medida através da GDS-
30
Estado civil Total
Solteiro Casado Divorciado Viúvo
Ausência de depressão N 2a 2a 1a 12a 17 % Total 5,7% 5,7% 2,9% 34,3% 48,6% Depressão ligeiraN 2a 0a 0a 15a 17 % Total 5,7% 0,0% 0,0% 42,9% 48,6% Depressão grave N 0a 0a 0a 1a 1 % Total 0,0% 0,0% 0,0% 2,9% 2,9% Total N 4 2 1 28 35 % Total 11,4% 5,7% 2,9% 80,0% 100,0%
a - Cada letra subscrita denota um subconjunto das categorias de estado civil cujas proporções não diferem significativamente entre si ao nível de 0,05.
Em suma, verifica-se uma taxa de depressão de 51,5%, com uma maior prevalência do sexo feminino (57,1%), que no masculino, com (42,9%), relacionando-se às faixas etárias entre os 81 e 90 anos de idade (34,3%), à religião católica (48,9%) e à viuvez (45,8%).
Resultados similares ao estudo de Vaz e Gaspar (2011), efectuado na região de Bragança utilizando o mesmo instrumento, observou alta prevalência de depressão (47%), mais acentuada entre as mulheres (51%) do que nos homens (40%), relacionando-a ao menor nível cognitivo, menor adaptação à vida institucional, menor importância dada às actividades de lazer, maior índice de solidão e maior dependência nas actividades de vida diárias.