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CAPÍTULO I – Enquadramento Teórico Conceptual

5. Factores que influenciam a percepção da morte a nível institucional

5.4. Intervenção dos profissionais

Os lares apresentam uma equipa que promove os cuidados e o acompanhamento ao idoso no decorrer da sua institucionalização. Pelo que as premissas do cuidado ao idoso recaem na

melhor percepção do ser como idoso e das suas necessidades, respeitando a pessoa como ser único:isto:é:ter:em:consideração:os:seus:“():gostos:necessidades:desejos:nas:sua:história: e:nos:seus:hábitos:no:direito:à:sua:intimidade:():a:fazer:escolhas:e:tomar:decisões:livres:e: conscientes, no direito a ser ajudada a melhorar: ou:manter: a:sua:autonomia:()” (Pereira, Gomes, & Galvão, 2012, p. 87).

Um aspecto a ter em conta é que estes profissionais têm as suas actividades rotineiras fortemente influenciadas pelas suas crenças relacionadas ao envelhecimento. Muitas vezes percepcionam o idoso como um doente, incapacitado, incapaz de tomar as suas decisões, condicionando o aparecimento, o desenvolvimento e a perpetuação de comportamentos e atitudes paternalistas ou proteccionistas e de pouco investimento na reabilitação (Cabete, 2004). Atitudes que limitam a autonomia do idoso, influenciando directamente em aspectos vitais como a autonomia física, cognitiva e emocional.

A questão da dependência do idoso a nível da institucionalização, também é um factor importante, visto que Miguel, Pinto e Marcon (2007), referem que a dependência ou independência remetem-se às mudanças biológicas e às mudanças de exigências sociais. Os autores classificam a dependência e descrevem-nas como:

 A dependência estruturada – está ligada à percepção de que o valor do ser humano é determinado pela sua participação no processo produtivo, em que a aposentação leva-o a dependência.

 A dependência física – está relacionada à incapacidade funcional para realizar as actividades de vida diária, que variam em grau dependendo da idade, género, classe social e a ocorrência de problemas mentais. Esta dependência pode ser resultante das doenças crónico- degenerativas e/ou incapacitantes, o que não determinam, necessariamente, a dependência física ou a incompetência do idoso. Entretanto são percepcionadas como um sinal de dependência em geral. O que não é determinante por si só da perda de autonomia por parte do idoso.

 A dependência comportamental – pode ocorrer como consequência da dependência física e é explicada por dois grandes paradigmas: a) um vê a dependência como resultado do desamparo percepcionado em que a dependência é atribuída ao ambiente em que se encontra inserido, sendo este negligente, duvidoso, ou relacionada às experiências de perda de controlo, a mais temida pelos idosos; b) o outro considera a dependência como um instrumento de controlo passivo, em que uma pessoa pode ser considerada incompetente para realizar determinadas tarefas e outra pessoa executa-as em seu lugar, mesmo que isso não seja necessário ou que contraria a sua vontade. Do mesmo modo, ignorar as pessoas idosas, apressá-las ou tratá-las com desrespeito, são factores que também podem induzir à dependência comportamental.

Já Serrão (2006)considera três subtipos de capacidade funcional nos idosos, como:

 Muito dependentes - idade acima dos 85 anos, com dependência que resulta ou do envelhecimento natural ou surge por doença, incluindo a doença oncológica em fase terminal.  Dependentes - resultante, principalmente de doença crónica que sujeita a tratamentos médicos constantes.

 Independentes - os que mantêm as suas capacidades, mas que já estão inactivos, reformados, obstinados pelo slogan:‘não:faço:nada, porque:estou:reformado’

Neste cenário, salientamos que, o atendimento de idosos em instituições passa a ser uma preocupação, visto os cuidados serem frequentemente praticados por profissionais não qualificados, sem nenhuma formação profissional e/ou capacitação para o cuidado específico ao idoso. Na base do que referimos anteriormente, exige-se algumas qualidades, entre elas a capacidade de estabelecer uma relação terapêutica com o idoso, para a concretização dos cuidados. Verificámos, durante a actividade profissional, que alguns destes profissionais, apresentavam dificuldades em desempenhar tal tarefa. Dificuldades expressas, quando referiam não dispensar o tempo necessário para tal, devido à necessidade de cumprir às rotinas institucionais.

Estes profissionais cuidam do idoso na vida e na morte, e embora lidem directa e frequentemente com a morte, geralmente não se encontram preparados para lidar com as suas consequências. Isto porque de acordo com Moody e Arcangel (2006, p. 95), as pessoas que sofrem uma perda necessitam de um certo conforto e é desejável que esse conforto seja promovido:por:um:profissional:Estes:podem:ser:definidos:de:facilitadores:que:“():facilitam a evolução do processo do sofrimento, ajudando os sobreviventes a vivenciar e a organizar os seus sentimentos e pensamentos, e educando-os:nesse:sentido”:Como:pode:um:profissional: não preparado proporcionar o apoio ao idoso mediante as perdas sucessivas? Deverá haver uma consciencialização do problema e assim a preparação desses profissionais.

O que nos leva a constatar que não só o profissional deve estar preparado, bem como deverá conhecer a história do idoso ao seu cuidado. O que só será possível se conversarmos com ele, se ouvirmos a sua história de vida e também o que a família e os amigos falam acerca dele. Ao conhecer a história do idoso, compreende-se a resposta emocional que apresentam em determinados momentos de stress, isto, porque é o resultado da sua trajectória de vida. O que torna preocupante perceber onde deverá caber este cuidado nas regras estabelecidas, nas rotinas específicas das instituições,

Devemos ter consciência que a vivência de uma perda provoca alterações afectivo- comportamentais no idoso. Estamos preparados para identificar e responder a esta necessidade no idoso institucionalizado? A perda: envolve: um: processo: de: ‘luto’, isto é, um processo de adaptação e transformação que resulta em benefícios após o enfrentamento desta situação, o que envolve uma reestruturação da pessoa envolvendo novos interesses, aprendizados, actividades e relacionamentos. A demonstração de sentimentos menos positivos nesta fase, como a tristeza, o afastamento, alterações de humor e a ansiedade, podem acontecer e não se deve confundir com doenças. Ao cuidador cabe compreender que isso ocorre e que a vivência do luto seja uma tarefa complexa e difícil para o idoso e geradora de sofrimento.

Por exemplo, Fernandes (2010, p. 45), quanto às questões do cuidador, refere que este deve identificar as necessidades físicas e psíquicas do idoso, avaliar as potencialidades e expectativas, para assim prestar o cuidado necessário, individualizado, estimulador. Tudo isto favorece a autonomia do idoso na realização das suas actividades básicas e instrumentais de vida quotidiana. Assim, o cuidador deve

possuir formação profissional na área, manter a sua integridade física, estabilidade e equilíbrio emocional, ter competências técnicas (conhecimentos teóricos e práticos), éticas e morais. O cuidador deve estabelecer relações de confiança, de dignidade, ser capaz de assumir responsabilidades, deve estar motivado e mostrar empatia pelos idosos. Para além destas qualidades e habilidades que o cuidador deve possuir, é

importante que estabeleça uma relação próxima com a família de quem está a cuidar, para garantir uma sintonia favorável, de bem-estar para quem cuida e principalmente para quem é cuidado.

As práticas, de acordo com Honoré (2002), não devem ser questionadas por pensadores, mas sim pelos próprios atores comprometidos na acção, reconhecidos na sua dignidade de participar lá onde está a sua experiência, a sua experiencia de cuidador.

Sendo assim, este deve estar preparado para lidar com esta população específica, bem como saber lidar com os seus próprios temores, pois para acompanhar em vida, estamos com o passar do tempo a acompanhá-los para a morte. Haverá uma preparação por parte de todos, porque nem todas as perdas são idênticas e não devem ser geridas de forma idêntica.

Em definitivo, analisámos a posição paternalista ou de completa indiferença perante os acontecimentos:da:morte:do:‘outro’:ou:em:‘morrer’:mas:o:cuidado:ao:idoso:institucionalizado baseia-se no princípio da beneficência, promoção da qualidade de vida e evitar o sofrimento adicional. A equipa cuidadora das instituições (técnicos, cuidadores formais e informais e dirigentes) devem assim ser a depositária do saber, pelo que este trabalho torna-se pertinente, no intuito de “():compreender:melhor:os:significados:de:um:acontecimento:ou: de:uma:conduta:():compreender:com:mais:nitidez:como:determinadas:pessoas:apreendem: um problema e a tornar visíveis alguns dos fundamentos das suas representações”:(Quivy & Champenhoudt, 2005, p. 19):sendo:assim:a:nossa:investigação:é:um:“():caminhar:para:um: melhor: conhecimento: (): com: todas: as: hesitações: desvios: e: incertezas: que: isso: implica” (ibidem, 2005, p. 25):Este:conhecimento:poderá:levar:ao:melhor:‘cuidar’