• Nenhum resultado encontrado

Institucionalização e relação com a família

CAPÍTULO I – Enquadramento Teórico Conceptual

5. Factores que influenciam a percepção da morte a nível institucional

5.2. Institucionalização e relação com a família

A institucionalização é vista como prática na nossa sociedade, uma realidade, não se pensando nos significados para os seus intervenientes, o idoso, a família e os cuidadores formais. Seria de se pensar que a institucionalização constituísse uma possibilidade de recuperação das limitações, aumento da socialização e acesso a melhores cuidados de saúde, o que não se verifica. Observam-se sim fortes alterações quantitativas e qualitativas na

qualidade de vida do idoso (Baixinho, 2006-2007). Perante estes factos, complementa-se com pensamento de Santos (2002, p. 48), referir que a institucionalização

tem os seus riscos e perigos, podendo causar regressão e desintegração social, falta de privacidade, perda de responsabilidade por decisões pessoais, rotinas rígidas, ausência de estimulação intelectual e privação espiritual. Tudo isto pode levar à perda de amor próprio, interesses e respostas emocionais diminuídas, dependência excessiva, comportamento automático e perda de interesses pelo mundo exterior.

Quanto à adaptação do idoso à institucionalização, para Schneider (1997), citado por Prochnau e Pastório (s.d.), reflecte-se na necessidade de incluir-se no meio, de ser aceite pelo outro e desempenhar um papel neste grupo; na necessidade de controlo, levando-o ao interesse pelos procedimentos que levam às decisões; e nas relações, numa busca de aceitação pelo grupo, a integração emocional através de manifestações abertas dos diversos sentimentos.

Em relação à capacidade de adaptação no idoso, Bromley (1966), citado por Agostinho (2004) refere que uma boa adaptação exprime-se pela presença no sujeito de sentimentos como a confiança, o contentamento, a sociabilidade, a emancipação das emoções, a auto- estima e a actividade. Ao superar, com eficiência, as suas dificuldades, o indivíduo resolve conflitos e consegue satisfações e realizações socialmente aceitáveis. Pelo que a boa adaptação depende dos que o rodeiam e que com ele interagem. Caso não haja uma boa adaptação o idoso apresenta sentimentos como, medo das pessoas, descontentamento, ansiedade, dependência, sentimento de culpa, depressão, sentimentos de inferioridade, apatia e isolamento.

De acordo com Bourdieu (2008, p. 165): “Sob: pena: de: se: sentirem: deslocados: os: que: penetram em um espaço devem cumprir as condições que ele exige tacitamente de seus ocupantes”: De facto, quando o idoso escolhe opcionalmente ou é obrigado a mudar de residência, para uma instituição, observamos duas situações: a) quando as pressões ambientais aumentam, os idosos são cada vez mais desafiados a testar os seus próprios limites e se estas exigências tornam-se um fardo demasiado grande e pesado, pela sobrecarga ou: ‘stress’: excessivo: pode: ocorrer: um: desequilíbrio: físico: e: espiritual: b): se: as: pressões: ambientais são muito baixas dá-se a oportunidade de adaptação por parte dos idosos, entretanto se as pressões ambientais são excessivamente baixas, os efeitos podem consistir em privação sensorial, tédio e até mesmo vício (Runcan, 2012).

A casa para a pessoa idosa é uma necessidade fundamental (lugar de pertença), ao adquirir um significado especial. Não é apenas um meio de conforto, mas também um valor emocional, reforçado pelos sentimentos pessoais sobre a família, as relações com os amigos e vizinhos. A casa é uma parte de sua vida e dela não deve ser separado. A vida em reclusão em casa: é: geralmente: mais: fácil: do: que: ‘uma: vida: arrancada’: Muitas: vezes: verifica-se uma redução no tempo de vida de idosos que deixam o seu ambiente, mesmo que recebam cuidados de boa qualidade (Puwac, 1995, citado por Runcan, 2012). Este autor evidencia que, numa instituição de longa permanência, 100% dos idosos apresentavam depressão, dos quais 4% sofrem de depressão leve, 62% sofrem de depressão moderada e 34% sofrem de depressão grave, através da aplicação da Escala Beck para medir a depressão. Refere ainda, que a pessoa não é inerentemente vulnerável, mas é transformada por factores como pobreza, habitação inadequada, a receber serviços de baixa qualidade, estatutos legais que lhe são desvantajosos. A vulnerabilidade e o desespero pela incapacidade de mudar alguma

coisa e do tempo que se torna insuficiente, pelas perdas mediante condições crónicas, de relacionamento, dificuldades financeiras ou alterações adversas do seu curso de vida, podem desencadear depressão.

Mediante esses factos, a capacidade de se manter independente é importante e de acordo com Drago e Martins (2012, p. 82) a independência é condicionada por factores:como:“():a: constituição genética, os hábitos e estilos de vida, o meio ambiente, o contexto sócio- económico e cultural, ou ainda o facto de ter nascido numa sociedade mais ou menos desenvolvida:e:numa:família:com:maior:ou:menor:capacidade:económica”:A:dependência:é: condicionada por factores como a perca de forças, o advento de doenças, a dificuldade em estabelecer e/ou manter um diálogo, podendo levar à solidão.

Pelo que a dependência do idoso gera a necessidade de cuidados mais específicos e pode fazer com que seja posto de parte pela família e levá-lo à institucionalização. São aspectos importantes, isto porque, o novo ambiente institucional será o seu novo lar, a sua nova família. Este grupo de idosos, bem como os funcionários da instituição, serão o seu ponto de apoio, entretanto não se menospreza a família, ponto de apoio importante, durante todo o processo de institucionalização.

Este aspecto pode ser observado no estudo de Oliveira, Souza, Freitas, e Ribeiro (2006) que analisaram a percepção de idosos em relação à importância da família para a qualidade de vida e bem-estar durante o processo de envelhecimento na instituição, em que 42,82% refere que a família não pode fazer nada para isso. Observaram que a institucionalização deu- se por diversos motivos, sendo a família a determinante no processo, identificando a componente de negligência, por esta descurar os contactos com o idoso e fugir a compromissos assumidos como responsáveis pelo processo e idoso. Entretanto enfatizam que deve-se conhecer o contexto e os sentimentos mais profundos dos laços familiares, avaliar as fragilidades da família e assim determinar as necessidades do idoso, promovendo estratégias de apoio e acompanhamento familiar, na mediação de conflitos. Esta subjectividade e realidade é uma questão pouco estudada, pelo que sugerem um aprofundamento das questões da saúde emocional do idoso institucionalizado.