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CAPÍTULO I – Enquadramento Teórico Conceptual

1. O envelhecimento e a velhice

1.1. Teorias sobre o envelhecimento

Os estudos científicos sobre o envelhecimento são recentes havendo muitos dados que nos permitem observar o desenvolvimento de várias teorias interdisciplinares explicativas desse processo. A teoria é o termo usado de várias maneiras para descrever as interpretações de ideias ou observações. De facto, a teorização é um processo de desenvolvimento de ideias que permite compreender e explicar as observações empíricas (Bengston, Gans, Putney, & Walker, 2009).

Mesmo dentro de um determinado campo de conhecimento científico, como a gerontologia, as perspectivas sobre a teoria mudam ao longo do tempo, não se sabendo tanto quanto gostaríamos sobre o porquê ou como ocorrem os fenómenos do envelhecimento e suas consequências, ou como e por que há tanta variação nesse processo. Provavelmente a tendência mais marcante tem sido o desenvolvimento de teorias interdisciplinares. Apesar das dificuldades e dos desafios de trabalhar com diferentes paradigmas e tecnologias, houve significativos avanços na explicação dos fenómenos do envelhecimento, aproximando as várias perspectivas interdisciplinares (ibidem, 2009).

Um dos primeiros impactos foi o desenvolvimento do modelo de coorte do período da idade, que exigiu o desenvolvimento da teoria que distinguia as mudanças da idade (medida longitudinalmente) e as diferenças de idade (medida transversalmente) (Schaie, 2001).

Descrevem-se de forma breve algumas das teorias sobre o envelhecimento:  Teorias Biológicas do Envelhecimento:

- Teorias Biológicas da Senescência. Estas teorias sustentam que a senescência é o resultado determinado geneticamente, dentre as mais populares incluem: a) a teoria de radicais livres, sustenta que a acumulação de vários metabólitos pode causar dano extenso ao organismo, b) a restrição calórica, que argumenta que tanto o tempo de vida e o potencial metabólico podem ser modificados, aumentando a sobre vida, c) a mutação somática, decorrente de danos genéticos provocados pela radiação, que variam segundo o agente, d) a teoria hormonal, propõe que a alteração dos níveis de hormónios produzidos pelo córtex adrenal, podem acelerar o envelhecimento, e) a teoria imunológica que atribui o envelhecimento ao declínio do sistema imune. A resposta imune desregulada tem sido associada à doença cardiovascular, à inflamação, à doença de Alzheimer e ao cancro. Outro aspecto a referir é que os mecanismos de protecção e de reparação de células são insuficientes para lidar com o dano cumulativo que ocorre ao longo do tempo, limitando a capacidade replicativa das células, favorecendo o envelhecimento (Bengston, Gans, Putney, & Walker, 2009; Netto & Borgonovi, 2002; Schaie, 2001);

- Teorias: do: ‘stress’ Estas afirmam que o sistema neuro endócrino pode influenciar os padrões de envelhecimento, devido à possibilidade de relacionar-se ao aumento do risco de doenças e deficiência. Além de que alguns factores psicossociais, o padrão de comportamento e as diferenças de género possam influenciar os padrões deste sistema (Bengston, Gans, Putney, & Walker, 2009; Netto & Ponte, 2002; Schaie, 2001).

Destaca-se que esta prestação das teorias biológicas do envelhecimento auxilia no consenso acerca do papel que a evolução e a selecção natural têm sobre o desenvolvimento da senescência e da longevidade, além das diversas perspectivas alternativas sobre como esse processo possa ter ocorrido (Bengston, Gans, Putney, & Walker, 2009).

Teorias Psicológicas do Envelhecimento:

Neste contexto Schaie (2001), refere a teoria da selecção, optimização e compensação defendida por Baltes (1996), que sugere haver ganhos e perdas psicológicas em cada fase da vida, mas que na terceira idade as perdas excedem em muito aos ganhos. Pelo que o desenvolvimento evolutivo contínua incompleto para o último estágio da vida, durante o qual o apoio da sociedade não será suficiente para compensar o declínio fisiológico e as perdas da funcionalidade comportamental.

-Teorias da Cognição. Estas apresentam distinções que, geralmente são feitas entre as capacidades cognitivas, em que se pensa serem geneticamente destinadas e que tendem a diminuir ao longo da vida adulta ou que se pensa serem capacidades aculturadas, isto é, capacidades que são assimiladas e específicas da cultura, que tendem a ser mantidas em idade avançada. As grandes variações destas teorias incluem as diferenças de estratégias como a assimilação com base na idade, as diferenças quantitativas na eficiência das etapas de processamento de informação, implicando deficits em estágios específicos ou a alteração de um ou mais dos processos básicos cognitivos (Schaie, 2001);

-Teorias da competência no quotidiano. Essas teorias procuram explicar como um indivíduo pode funcionar de forma eficaz nas tarefas e nas situações colocadas pela experiência quotidiana. Tais teorias incorporam processos subjacentes, como a mecânica (ou primitivas cognitivas) e pragmática do funcionamento cognitivo, bem como os contextos físicos e sociais que limitam a capacidade do indivíduo de funcionar eficazmente. Podemos observar três grandes abordagens: a) vê a competência no quotidiano como uma

manifestação de construtos latentes, que podem ser relacionados com os modelos de cognição básica; b) conceitua a competência no quotidiano envolvendo bases de domínio específico do conhecimento; c) tem como foco o ajuste ou congruência, entre competência cognitiva do indivíduo e as demandas ambientais enfrentadas pelo indivíduo (Schaie, 2001);

-Teorias Sociopsicológicas. Estas teorias enfocam sobretudo o comportamento do indivíduo em função de variáveis microssociais, procurando compreender os fenómenos sociais centrados na pessoa, isto é, na sua estrutura e funcionalidade individual. Podemos observar duas abordagens: a) a teoria da selectividade que tem por objectivo explicar a redução estabelecida nas interacções sociais observadas na velhice; b) a teoria da actividade que considera a inactividade um problema socialmente induzido decorrente de normas sociais, associando-se ao envelhecimento bem-sucedido. Por outro lado verificam-se a teoria do desengajamento que sugere que o idoso torna-se menos envolvido na vida ao seu redor, com diminuição das interacções e a teoria da modernização, em que o idoso é resistente à inovação e desconfiado quanto às tecnologias modernas. Argumenta-se que a dependência em pessoas de idade resulta de diferentes contingências sociais, que incluem o reforço de dependência e a negligência ou punição em resposta à busca dessa independência (Doll, Gomes, Hollerweger, Pecoits, & Almeida, 2007; Schaie, 2001).

Pode-se observar a teoria biopsicossocial do envelhecimento saudável de Ryff e Singer (2008), que referem ser os factores psicossociais positivos promotores de uma melhoria na regulação biológica. Promovendo assim o desenvolvimento do potencial positivo de cada um, abrangendo essencialmente as relações positivas com os outros, a autonomia, o domínio do ambiente, o crescimento pessoal, o propósito na vida e a auto-aceitação (Bengston, Gans, Putney, & Walker, 2009; Ryff & Singer, 2008).