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CAPÍTULO I – Enquadramento Teórico Conceptual

1. O envelhecimento e a velhice

1.4. Qualidade de vida e envelhecimento activo

Quanto: à: questão: da: ‘qualidade: de: vida’: esta: vem associada ao conceito de envelhecimento activo. Qualidade de vida é um termo cuja definição subjectiva relaciona-se à auto-estima, ao bem-estar pessoal, abrange aspectos como a capacidade funcional, o nível socioeconómico, o estado emocional, a interacção social, a actividade intelectual, o auto cuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores culturais e éticos, bem como a religiosidade, o estilo de vida, a satisfação com o emprego e/ou com actividades diárias e o ambiente em que se vive. Entretanto salienta-se que há diversas interpretações acerca da questão entre a pessoa, família e equipa de saúde, e discrepâncias na sua avaliação, pelo que quem deverá percepcioná-la será a própria pessoa (Velarde-Jurado & Avila- Figueiroa, 2002).

A qualidade de vida está condicionada aos factores acima descritos e à percepção do indivíduo sobre si próprio e à sua vida, sendo que para a população com 65 a 74 anos esta relaciona-se ao seu enquadramento familiar e social, enquanto para o indivíduo com mais de 75 anos esta relaciona-se com a doença e suas consequências a nível funcional (Carneiro, Chau, Soares, Fialho, & Sacadura, 2012, pp. 26-27).

Tendo em vista esta subjectividade, torna-se pertinente conhecer a percepção do idoso quanto ao bem-estar, à felicidade, à realização pessoal, por fim, à qualidade de vida específica a este segmento da população, com o propósito de orientar as políticas para um envelhecimento bem-sucedido, hoje denominado envelhecimento activo. Segundo a WHO (2002), o envelhecimento activo é definido como o processo de optimização das oportunidades para a saúde, a participação e a segurança, no intuito de melhorar a qualidade de vida durante o percurso do envelhecimento.

No âmbito governamental, o Plano Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas ( Ministério da Saúde [MS], 2004) pretende implementar o conceito e a prática do envelhecimento activo, levando a população idosa ao aumento da autonomia e independência para obter ganhos de vida:com:autonomia:Seguindo:a:premissa:de:‘dar mais vida aos anos e não apenas mais anos  vida’. É pertinente a implementação de medidas que permitam, que paralelamente ao processo natural de envelhecimento, o idoso mantenha-se activo consoante as suas aptidões e viva de forma o mais saudável possível, além de melhorar inclusivamente a qualidade de vida de idosos dependentes e portadores de doenças.

Mediante estas premissas, Cabral, Fereira, Silva, Jerónimo e Marques (2013) referem que o envelhecimento activo surge como um programa voltado para a mudança da condição do idoso, uma intervenção que visa responder aos aumentos dos problemas decorrentes da longevidade. Torna-se assim, importante pensar no envelhecimento ao longo da vida, numa atitude mais preventiva e promotora da saúde e autonomia, em que a prática da actividade física moderada e regular, a alimentação saudável, o não fumar, o consumo moderado de álcool, a promoção dos factores de segurança e a manutenção da participação social sejam aspectos indissociáveis ( Ministério da Saúde [MS], 2004, p. 3), pelo que:

importa reduzir as incapacidades, numa atitude de recuperação global precoce e adequada às necessidades individuais e familiares, envolvendo a comunidade, numa responsabilidade partilhada, potenciadora dos recursos existentes e dinamizadora de acções cada vez mais próximas do cidadão.

Neste contesto, a qualidade de vida que as pessoas terão quando se tornarem futuramente idosos, dependerá não só dos riscos e oportunidades que experimentem ao longo da sua vida, mas também da forma como as futuras gerações promovam a ajuda e o apoio aos seus idosos. Aspecto corroborado por Neri (2007), ao assinalar que uma boa qualidade de vida na velhice é o produto da interacção entre o indivíduo e o seu contexto/meio, resultante da qualidade da interacção entre as pessoas em mudança a viver numa sociedade em mudança. O autor referencia alguns indicadores, pertencentes a quatro áreas, para a avaliação da qualidade de vida na velhice, como: 1) a competência comportamental, que se refere ao funcionamento pessoal quanto à saúde, à funcionalidade física, à cognição, ao comportamento social e à utilização do tempo pelo idoso; 2) a qualidade de vida percebida, que está relacionada ao auto julgamento do idoso sobre a sua funcionalidade física, social e psicológica, bem como sobre a sua competência

comportamental nessas áreas; 3) as condições contextuais, que incluem as situações relativas à experiência de velhice; 4) o bem-estar psicológico, que está relacionado ao domínio das percepções, das expectativas, dos sentimentos e dos valores.

Sousa, Galante e Figueiredo (2003), efectuaram um estudo cujo objectivo foi caracterizar a qualidade de vida e bem-estar dos idosos do ponto de vista dos próprios, um aspecto bastante importante, como já referenciado anteriormente. No estudo utilizou-se o instrumento na versão portuguesa do EASYcare (Elderly Assessment System/Sistema de Avaliação de Idosos), que avaliou a percepção em relação às suas capacidades (se se sentem capazes de...), avaliando as suas necessidades ao nível social e da saúde. Da amostra de 1 354 idosos, com 75 anos ou mais, residentes em 13 Distritos de Portugal, concluiu-se que para a maioria dos idosos a qualidade de vida é considerada bastante positiva, sendo que uma minoria apresentou problemas de diminuição cognitiva grave ou algum grau de dependência.

Igualmente Campôa (2009) fez um estudo que pretendeu analisar a qualidade de vida, competências cognitivas e funcionais dos idosos institucionalizados e em Centro de Dia. Além de verificar a influência de outros factores nestas variáveis, pretendeu compreender o papel moderador dos traços de personalidade e o papel mediador dos estilos de vida, estratégias de

coping e suporte social percebido. Utilizou escalas como a Clifton – Procedimentos de

avaliação de idosos; o Questionário de Avaliação da Qualidade de Vida relacionada com a Saúde (MOS-SF-36); a Escala de Estilos de Vida para Idosos (EEVI); a Escala de Satisfação com o Suporte Social (ESSS); o Brief COPE; o Inventário de Personalidade (NEO-FFI 20). Aquela autora concluiu, que a qualidade de vida relacionada com a saúde é baixa nos idosos em estudo, reflectindo a baixa percepção de saúde física e de saúde mental. Verificou que a saúde física é fortemente influenciada pelos estilos de vida, coping e traços de personalidade, enquanto a saúde mental é mais influenciada pelos estilos de vida activos e traços de personalidade. Tornou-se bastante importante o incentivo à prática de estilos de vida activos aos vários níveis, especialmente ao nível da actividade, socialização e coping funcional.

Na verdade, a utilização de instrumentos de avaliação torna-se necessária para o estudo de uma população tão específica. Por exemplo, Alves (2011, p. 21) apresentou um estudo cujo objectivo foi conjecturar sobre os aspectos importantes que permeiam a utilização dos instrumentos de medida e apresentar de forma sistematizada os indicadores e instrumentos de medida de Qualidade de Vida, utilizados e validados no Brasil. Avaliou instrumentos de medida como o WHOQOL (World Health Organization Qualityof Life), o Índice Qualidade de Vida de Ferrans e Powers (IQV), a Escala de Qualidade de Vida de Flanagan, o Hexágono de Kertesz, o Formulário Abreviado da Avaliação de Saúde 36 (SF-36), o EuroQol-5 Dimensions (EQ-5D), o Qualityof Well-Being Scale (QWBS) e o Perfil de Saúde de Nottingham (PSN). Entretanto o autor adverte que

A escolha dos instrumentos deve estar pautada no significado dos termos, na existência de sua versão na língua/cultura em que o estudo será realizado, assim como também na avaliação das suas propriedades psicométricas (validade e confiabilidade), a fim de se alcançar uma medida precisa de acordo com cada realidade.

Qualquer investigador mediante estas premissas poderá desenvolver a sua investigação de modo a gerar conhecimento, pois ao se ter em conta as características da população a quem se vai aplicar uma escala, tornam os seus resultados fidedignos e úteis socialmente.

Porque caso a escala não esteja adaptada à população em estudo, poderá não mostrar estatisticamente aferições adequadas ao contexto do país.

Por conseguinte, a qualidade de vida para a população idosa associa-se ao seu bem-estar e envelhecimento com qualidade, para tal deve-se fomentar a sua participação social. Devemos aproveitar da melhor forma possível o seu potencial, minimizando as alterações no seu dinamismo social, permitindo assim a promoção e a re/construção de uma rede de social e de interacção com outros indivíduos. Dá-se ênfase à interacção entre indivíduos de diversas idades, o que minimizará o seu declínio gradual, próprio do processo de envelhecimento.