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Uma sucessão de crimes que impressionaram pela crueldade e abalaram o país nos últimos        meses: bandidos incendiaram um ônibus no Rio, matando oito pessoa (à esq.); a socialite Ana        Cristina Johannpeter (acima) foi morta ao parar num cruzamento; e, em Bragança Paulista,        ladrões atearam fogo a um carro com quatro pessoas dentro, entre elas o menino Vinícius, de        5 anos.”                                             

ANEXO E                                   

ANEXO F           

Referência nº 1: “Aos 66 anos, Yvonne Bezerra de Mello tem o couro duro, acostumada que            está às reações mais virulentas a seu trabalho social e à sua opção de vida. Enquanto        seguíamos para o Complexo da Maré, uma das maiores favelas do Brasil, ela não parecia        abalada, assustada ou mesmo preocupada com os ataques e ameaças sofridos desde o segundo        em que postou nas redes sociais a foto de um negro de 15 anos espancado por justiceiros,        orelha parcialmente arrancada, nu e acorrentado a um poste com uma trava de bicicleta. A        rotina continua a mesma. Todo dia ela percorre o mesmo trajeto para dar aulas no projeto        criado na Maré há 17 anos. “Faço e farei com o maior prazer”, desafia, enquanto desvia o        carro da traseira de um ônibus no trânsito carregado da capital fluminense. Dito isso, o debate        sobre o assunto tem servido muito mais a mistificações do que ao esclarecimento das ideias,        embora não faltem informações a respeito (especialistas de distintas filiações ideológicas e        diferentes nações produziram nos últimos anos diagnósticos interessantes sobre os impostos        brasileiros. Os dados, em boa medida, contradizem as versões dominantes sobre onde        realmente se localizam as distorções.” 

 

Referência nº 2    : “No início do mês, a também escultora e linguista dormia em seu        apartamento no bairro do Flamengo quando foi alertada pelo porteiro sobre a cena grotesca, a        poucos metros do prédio onde mora. ‘Quando vi aquilo, pensei logo em um quadro de        Debret’, descreve. Os bombeiros serraram a corrente que prendia o jovem ao poste e uma        ambulância o levou ao hospital. Yvonne Mello achou que sua missão terminara ali. Ao        denunciar a violência na internet, surpreendeu­se, no entanto, com as reações enfurecidas à        ação humanitária. Em poucos minutos, um enxame de reacionários despejou aquele tipo de        frase a respeito das quais é difícil definir o que é pior: se a indigência mental ou a pobreza        vocabular. ‘Leva para casa e cuida desse anjinho!’, ‘Você defende? Adota! Dá de comer,        beber, banho, água, luz...Hipócrita!’, além da infalível ‘bandido bom é bandido morto’.    

A ativista recebeu até ameaças à sua integridade física. ‘Se eu encontrar você na rua, cuspo,        chuto, te amarro num poste.’ Coisas do tipo’, conta. Em um primeiro momento, fraquejou e        chegou a anunciar o abandono das redes sociais, dada a virulência dos ataques. ‘Depois me        dei conta de que as redes são o retrato da sociedade em que vivemos. Tem de tudo.’  

Yvonne integra o Brasil que tenta resistir a um outro Brasil, mais influente e cada vez mais        alimentado pelo ódio. Ela é o avesso de outra personagem notória desse enredo, a jornalista e        apresentadora do SBT Rachel Sheherazade, de 40 anos. Disposta a aproveitar os 15 minutos        de fama, Sheherazade saiu em defesa dos justiceiros. “A atitude dos vingadores é até        compreensível’, disparou. ‘O contra­ataque aos bandidos é o que chama de legítima defesa        coletiva. Aos defensores dos direitos humanos que se apiedaram do marginalzinho preso ao        poste, lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil, adote um bandido.’ 

 

O comentário sobre o ‘marginalzinho’ não foge ao padrão de Sheherazade, ‘descoberta’ por        Silvio Santos em uma retransmissora do SBT na Paraíba, mas o clima de ódio instalado no        Brasil, cujo objetivo é inviabilizar qualquer avanço social, amplificou suas declarações. Em        reação, o Sindicato dos Jornalistas repudiou sua declaração por violar o código de ética da        profissão e o PSOL decidiu encaminhar ao Ministério Público por ‘apologia [...]”                                       

ANEXO G 

   

   

Referência nº 3     : “[...] do crime’. Acuada, a apresentadora escorou­se na velha defesa da        ‘liberdade de expressão’ e deu várias entrevistas para se justificar. ‘Sou uma pessoa do bem,       

estou do lado do bem. Defendo as pessoas de bem que foram abandonadas à própria sorte’,        afirmou, da bancada do telejornal. 

 

Mas não se deixe enganar. Sheherazade foi a grande vencedora do embate. A horda que        saqueia e depreda o território da opinião pública e confunde ação criminosa com liberdade de        expressão saiu em peso em sua defesa. Também ficaram do seu lado o deputado Jair        Bolsonaro, os pastores Marco Feliciano e Silas Malafaia, o ‘filósofo’ Olavo de Carvalho e        Paulo Maluf, todas figuras altamente qualificadas para encarnar a reação. 

 

Algumas das ‘pessoas do bem’ defendidas por Sheherazade e responsáveis pelo ataque ao        ‘marginalzinho’ não se mostraram, porém, tão do bem. Os algozes, soube­se depois, integram        uma turma de valentões autointitulada ‘Justiceiros do Flamengo’, dedicada a amedrontar e        espancar qualquer um que julguem suspeito. Um dos justiceiros possui longa ficha criminal        por furto, ameaça, lesão corporal e até estupro. Foram autuados por corrupção de menores e        liberados. 

 

‘E a apresentadora, será punida por incitar a violência? Duvido’, pergunta e responde ao        mesmo tempo Yvonne Mello, enquanto cruzamos a Linha Vermelha. ‘Este é o problema com        a impunidade. No Brasil, todo mundo acha que pode fazer tudo, pois nada acontece.’ 

 

Não foi a primeira vez que a educadora pulou da cama para socorrer garotos em situação de        rua. Em julho de 1993, Yvonne Mello denunciou a célebre Chacina da Candelária, quando        oito jovens sem­teto foram assassinados por policiais militares. Naquela época, ela fazia uma        experiência de ‘escola sem portas e janelas’ com 200 crianças do Centro do Rio, e tinha dado        fichas telefônicas aos guris para que entrassem em contato em caso de urgência. 

 

Acordou no meio da noite com o toque do telefone. Do outro lado, uma voz desesperada:        ‘Tia, mataram nós todos.’ Ninguém foi punido. Sete anos depois, um dos sobreviventes,        Sandro Barbosa do Nascimento, sequestraria um ônibus na tragédia carioca do ‘Ônibus 174’.        Durante as negociações do sequestro, que resultaria na morte de uma refém e na de        Nascimento (em circunstâncias não esclarecidas, por asfixia, dentro da viatura policial), ele        chegara a gritar: ‘Chama a tia Yvonne’. 

 

‘Eu só soube depois, na época ninguém tinha celular. Fico pensando se poderia ter evitado        aquelas mortes’, lamenta. A educadora não sabe se existem outros sobreviventes. “Acho que        morreram todos.” Nascida Rossigneux, Yvonne Mello foi criada pela mãe, funcionária        pública, em um pequeno apartamento no [...]” 

 

Referência nº 4     : “[...] Leme, onde dividia o quarto com o irmão. O pai, comandante da        Marinha, ‘pouco aparecia’. Credita à mãe, ainda viva, o interesse pelas crianças abandonadas.        ‘Ela levava órfãos para passar o fim de semana com a gente. Esse convívio, saber que tem        pessoas com uma vida mais difícil do que a nossa, é muito importante.’ 

 

Casou­se pela primeira vez quando estudava Filologia e Linguística na Sorbonne, e foi morar        na Suécia, onde conheceu a social­democracia. ‘Eu me defino como social­democrata e        parlamentarista.’ De volta ao Brasil, em 1989, começou seu projeto de educar meninos de rua        e, em 1996, chegou a se candidatar vereadora pelo PP, o atual partido de Bolsonaro e Maluf        hoje, mas não foi eleita. ‘Foi bom para saber como funciona o sistema e ver que não é a minha        praia. Não gostei de ter que dar coisas para conseguir votos, ter de fazer churrasco em        comunidade para ser eleita.’ 

 

Viúva de Álvaro Bezerra de Mello, vice­presidente da rede de hotéis Othon, seu segundo        marido, desde 1997 se dedica ao projeto Uerê, mantido por ela no Complexo da Maré e ao        trabalho de capacitar professores da rede pública em 20 favelas a aplicar sua pedagogia para        crianças em zonas de conflito. A garotada da Maré vive em uma região disputada por duas        facções rivais, o Comando Vermelho e o Terceiro Comando. O líder no pedaço é o traficante        chamado de ‘Menor P’ e, quando chegamos ao lugar, às 8 da manhã, adolescentes armados        vendiam drogas nas proximidades. 

 

Yvonne Mello conta nunca ter tido problemas com traficantes. ‘Não me meto. O problema do        tráfico é da Segurança Pública, o meu é educar”, explica. ‘Quando o bicho pega e tem tiroteio,        a gente manda fechar.’ Na escola de instalações simples, mas toda colorida, em contraste com        os tijolos sem pintura das casas da favela, os alunos estudam até o 9º ano como uma espécie        de reforço à escola tradicional. Na metodologia criada pela ativista, ouvir é mais importante       

do que anotar. No início das aulas, lê e comenta as notícias do dia com a turma. ‘As escolas        municipais são cinza e as salas têm 50 alunos, isso não pode. Aqui temos no máximo 30.’   

Inspirada pela experiência da infância, a educadora defende o fim das escolas particulares        para promover o convívio entre classes. ‘Mudar o       status quo pressupõe estreitamento de          classes. Meu sonho é uma escola pública obrigatória para todos, para que as classes sociais se        conheçam. Aqui, quando alguém tem um pouco mais de dinheiro, tira o filho da escola        pública para colocar na particular’, critica, para horror das dondocas que a rodeiam na zona        sul. ‘A maior parte só aceita filantropia. Ou você faz caridade e é santa ou luta contra o       status   quo e é maldita.’” 

 

Referência nº 5     : “Por compartilhar nas redes sociais a foto do menor, Yvonne Mello tem        sofrido ameaças” 

 

Referência nº 6: “Quem ataca Yvonne…   

Quanta exposição Sra. Yvonne. Defendendo BANDIDO você ganha a proteção deles? Ou        você acharia BONITINHO também se ele metesse a faca na sua cara, te deixasse na merda e        no fim não roubasse nada seu? A senhora também tira foto com traficantes na boca de fumo e        coloca no Face? 

 

Sou a favor da ponderação e justiça. Mas em situações como essas, com a falta de        policiamento e a impunidade reinante, a ação é atirar nos bandidos (se por acaso a polícia        passar por lá). Se o pessoal dos direitos humanos reclamar, dê uniformes, armas e a        responsabilidade de resolver os problemas de segurança a eles. 

 

Tá com peninha dele, eu não, pq (sic) eles já amassaram o meu carro várias vezes.   

Se eh (sic) bandido pena eu não ter passado com meu pit bull pra deixar ele brincar um        pouquinho… Bandido bom eh (sic) bandido morto!! FDP!!! 

A zona sul está infestada de pivetes roubando geral. Acho que todos os lugares deveriam ter a        galera que faz a justiça e caçam esses merdas… tem que levar uma boa surra mesmoooo…        apanhar muito!” 

 

Referência nº 7: “...apoia Sheherazade   

Desejo elogiar a coragem da jornalista de pensar e transmitir o seu pensamento de acordo com        o preceito legal da liberdade de imprensa 

Paulo Maluf, deputado federal (PP­SP)   

Liberdade de expressão, ouviram falar? Ela só verbalizou o conceito velado por todo cidadão        brasileiro de bem que não é resguardado e assegurado genuinamente pela Constituição do seu        direito de ir e vir 

leitor   

A vítima é a sociedade e não o bandido. O olhar crítico da sociedade não aceita mais essas        balelas de falsos defensores dos direitos humanos, pois o nosso direito foi cerceado há tempo  leitor 

 

Como ela é uma brilhante jornalista, está crescendo cada vez mais o número de pessoas que        coadunam com seu pensamento, que está incomodando a esquerda, principalmente aquela        mais radical e xiita, eles a ameaçam com essa representação 

Jair Bolsonaro, deputado federal (PP­RJ)   

Quase esqueço, parabéns ao SBT por ter a jornalista Rachel Sheherazade. Os esquerdopatas        não a suportam porque ela defende valores cristãos  Silas Malafaia, pastor”               

ANEXO H 

   

   

Referência nº 8     : “Pergunto a Yvonne qual seria, em sua opinião, a solução para o problema       

da violência e para os meninos de rua, que acredita terem aumentado desde a Chacina da       

Candelária. ‘O que tem de ser feito é evitar que eles cheguem à rua, pois quando vão é muito       

difícil recuperar. Infelizmente, no Brasil não existe política direcionada para a infância e a       

adolescência.’    Corte rápido para o artigo de Sheherazade na       Folha de S. Paulo de terça­feira 11. A jornalista           

chama o Estatuto da Criança e do Adolescente de ‘Estatuto de Impunidade’ e defende a tese       

de que a criminalidade não é consequência da pobreza, mas do ‘coitadismo’ e da legislação       

um modo de as polícias esconderem os assassinatos a sangue­frio, principalmente de jovens       

negros na periferia. Para a apresentadora do SBT e quem hierarquiza seres humanos, o Estado       

não é responsável pelos menores de rua e deveria abandoná­los à própria sorte. Ou melhor,       

tirá­los de circulação.    Os 20 anos entre a Chacina da Candelária e o caso do jovem preso ao poste expõem a       

decadência civilizatória do País. Embora provavelmente uma porção relevante da sociedade       

apoiasse a eliminação de pretos, pobres e favelados, esse tipo de opinião ficava restrito a       

círculos de amigos. A chacina da Candelária provocou uma comoção nacional e internacional       

e colocou do mesmo lado diversas camadas sociais.    Desta vez parece haver uma ruptura, ‘povo contra povo’, como diz Yvonne Mello. Antes       

protegida e aplaudida, a educadora sofre mais ataques. Antes raros, personagens como       

Sheherazade se sentem livres para defender crimes, sob aplauso de quem parece abominar e       

estar disposto a evitar qualquer possibilidade de igualdade, mesmo se ela não passar de um       

sonho ainda distante.    ‘Esses momentos de percepção coletiva do temor ou insegurança favorecem o aparecimento       

de justiceiros. Isso é perigosíssimo’, adverte a antropóloga e doutora em Estudos da       

Segurança Jaqueline Muniz, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. ‘O       

medo é péssimo conselheiro e pode levar a cruzadas moralistas que prometem o impossível: a       

justiça em tempo real, imediata, necessariamente violadora de direitos, extrajudicial,       

autoritária. Muitos não percebem que o ‘el vingador’ de hoje vai se tornar o ‘el tirano’ de       

amanhã, cobrando pela suposta proteção. O justiceiro primeiro será seu pit bull, depois vai       

querer ser seu sócio e por último seu patrão.’    A principal razão para o aumento dos roubos, diz a pesquisadora, é a falta de efetivo nas ruas,       

com o contingente de policiais excessivamente voltado para as UPPs. Para Jaqueline Muniz, a       

apresentadora Sheherazade piora o quadro ao promover justiçamentos, porque estimula o       

medo na população, um clima de ‘salve­se quem puder’, em vez de esclarecer. ‘A jornalista       

não se comportou como uma formadora de opinião, mas como o arauto de uma cruzada        moralista. Ela não é despachante da vontade coletiva.’ 

 

Por se tratar de uma concessão pública, incitar o ódio seria razão para uma emissora de tevê       

perder os direitos de transmissão, mas o SBT se antecipou em nota e se isentou de       

responsabilidade pelas opiniões de seus âncoras.    Segundo especialistas, o limite entre o exercício da liberdade de expressão e a propagação do       

discurso de ódio é tênue, pois se espreme entre dois preceitos constitucionais: a própria       

liberdade de expressão e o direito à diversidade. ‘É um desafio muito grande, e a definição       

acaba sendo dada apenas quando o conflito se apresenta na Justiça’, diz Rosane Leal,       

professora de Direito da Universidade Federal de Santa Maria e autora de vários estudos sobre       

a escalada do discurso de ódio nas redes sociais desde a época do esquecido Orkut.    A internet, diz a professora, é um terreno fértil para a proliferação desse discurso, pois, ao       

contrário de jornais, revistas e tevês, a vítima ou o Ministério Público não podem pedir para       

suprimir o conteúdo. ‘Na internet é impossível. Quando se retira de um site, aparece em outro.       

Ou seja, maximiza a violação e a perpetua. Além disso, o anonimato confere uma espécie de       

salvo­conduto para se falar qualquer coisa’, avalia Rosane Leal.    A internet amplificou os males, é fato. Mas o Brasil continua a viver o mesmo dilema. Precisa        escolher entre Sheherazade e Yvonne Mello. Barbárie e civilização.”                         

ANEXO I                         

ANEXO J 

 

   

Referência nº 1     : “Em duas semanas, o Brasil assiste a dois ‘justiçamentos’. A onda de       

barbárie mostra que a população está à beira da saturação: na segurança, na economia, nos       

transportes, o país dá um passo à frente e dois para trás.  Mesmo nas sociedades mais avançadas a civilização e a barbárie travaram quedas de       

braços. Os gregos clássicos do século IV antes de Cristo, que inventaram o pensamento       

abstrato, colocando a humanidade em um patamar superior, conviviam sem remorsos com a       

escravidão e o genocídio ­ as cidades inimigas sitiadas podiam escolher entre a rendição, caso       

em que apenas os homens adultos seriam mortos, e a resistência, que significava o massacre       

pela espada de todos: homens, mulheres e crianças. Na Roma dos Césares, que atingiu um       

nível de qualidade de vida que só seria equiparado com o advento da Revolução Industrial na       

Inglaterra dezesseis séculos mais tarde, a diversão mais popular era ver pessoas serem       

devoradas por leões famintos no Coliseu. As sociedades modernas também foram palco do       

mesmo fenômeno de contrastes. No começo dos anos 60, a União Soviética, no auge, foi       

capaz de colocar um homem em órbita, mas mandava dissidentes para morrer de fome e       

exaustão do trabalho escravo em infernos na Terra, os ‘gulags’. Mesmo nos Estados Unidos       

do pós­guerra, em que pessoas comuns tinham mais luxos do que os monarcas do começo do       

século XX, o ódio racial separava brancos e negros, que comumente eram alvo de       

organizações secretas assassinas, sendo a Ku Klux Klan a mais notória. Mas tudo isso é       

história. A tendência do progresso atualmente é aplainar as diferenças mais gritantes entre os       

estágios civilizatórios em um mesmo território. No Brasil não vinha sendo diferente. Mas, de       

uns tempos para cá, os episódios de barbárie têm sido tão frequentes e crescentemente cruéis       

que há sinais alarmantes de que o país pode estar vivendo um processo de ruptura social       

grave, cujo sintoma clássico é o amortecimento [...]” 

  Referência nº 2     : “REPUGNANTE, BRUTAL E CURTA Assim é a vida sem o filtro da lei,       

na imagem do jovem acorrentado por “justiceiros” no Rio na semana passada, na gravura de       

Debret, do século XIX, mostrando um escravo no Pelourinho,...” 

  Referência nº 3     : “...na execução de um acusado de roubo na Baixada Fluminense e na foto de       

1968, que congelou o instante do assassinato de um guerrilheiro comunista na Guerra do        Vietnã.” 

ANEXO K 

 

Referência nº 4: “ [...] das consciências, um transe coletivo em que as pessoas já não se             

chocam com mais nada.  Tome­se o caso do adolescente que foi encontrado nu e com o pescoço preso de uma       

rua no Aterro do Flamengo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Na semana anterior, um       

motoqueiro se aproximou de um jovem, imobilizado por dois homens no meio da rua, e       

estourou­lhe os miolos com três tiros à queima­roupa. Cena semelhante à registrada na       

semana passada num ‘linchamento oficial’ na República Centro­Africana, um dos países mais       

pobres do mundo. Alguém filmou a cena com um celular. O crime ocorreu à luz do dia em       

uma esquina movimentada de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Pelo vídeo dá para       

perceber que a execução sumária foi insuficiente para mudar a rotina da rua. A vida ali       

continuou como se nada tivesse ocorrido. Tampouco houve muita comoção com a divulgação       

das imagens do adolescente preso a um poste como um escravo no pelourinho ­ cena       

corriqueira e típica no Brasil de meados do século XIX, mas que, exibida por gravuristas       

europeus a seus conterrâneos na Europa, já produzia engulhos na época.  Nos dois primeiros episódios da semana passada, os autores eram ‘justiceiros’       

‘patrulheiros’, cujo ‘novo esporte’ ­ como escreveu um deles, Lucas Felício, em uma rede        social ­ é ‘caçar vagabundos roubando para meter porrada’. 

‘Bandido bom é bandido morto!!’, dizia uma das muitas mensagens postadas na        internet sobre P.R.S., o adolescente preso ao poste, de 15 anos e três passagens pela polícia        por furto, [...]”                                                       

ANEXO L 

 

   

Referência nº 5       : “ [...] roubo e lesão corporal. ‘Vagabundo tem de ficar assim mesmo! Quem       

tem pena leva para casa para cuidar’, dizia outra. ‘Se a polícia não age, o povo toma atitude’,       

escreveu alguém. O mesmo tom congratulatório foi usado para comentar a ação do atirador de       

Belford Roxo, que a polícia identificou como integrante de uma milícia da região. ‘Show de       

bola! Ladrão e estuprador tem que morrer mesmo!’ O vídeo do justiçamento em Belford Roxo       

foi o que atingiu 1 milhão de visualizações mais rapidamente na história do site do jornal       

Extra. No Facebook, o número de comentários a favor dos ‘justiceiros’ foi o dobro do de       

crítica.  É francamente assustador que grupos de pessoas se coloquem no papel do Estado e da       

lei prendendo um adolescente ao poste ou executando um homem como quem abate uma