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Capítulo IV – Inquérito de opinião sobre imigração em Portugal

4.1. Apresentação de resultados

4.1.4. Discussão de resultados com base nos testes de associação de variáveis

4.1.4.5. Escolaridade

O contacto com imigrantes parece ser mais expressivo em relação às pessoas cujo grau de escolaridade é inferior, o que se pode explicar, nomeadamente, pela tendência ao desempenho de funções de menor exigência escolar e académica e, embora certamente com diferenciações pela origem dos imigrantes, pela menor preparação escolar de quem aqui se fixa ou pela colocação em empregos que não estão ao nível do seu grau de escolaridade (ver Anexo III, Quadro 540).

Aqueles que apresentam maior escolaridade são os que revelam maior simpatia pelos imigrantes e que têm opinião mais favorável acerca da importância que os imigrantes, acerca da impressão e forma de agir dos imigrantes para com os portugueses e destes para com os imigrantes, independentemente de onde eles provenham (ver Anexo III, Quadros 541 a 580).

Tal como na presente investigação, no estudo efectuado por Lages et al. (2006), as pessoas com maior instrução, nomeadamente as que têm alguma formação superior, são as que associam em menor percentagem os imigrantes ao crime.

Na presente investigação não foi possível verificar a existência diferenças relevantes no que respeita à influência da presença de imigrantes na situação criminal do país, independentemente da sua região de origem (ver Anexo III, Quadros 581 a 590).

Embora não sendo linear a relação entre o grau de escolaridade e as apreciações que são feitas sobre os imigrantes, vislumbram-se algumas tendências, de certo modo, expectáveis: os receios sobre a presença dos imigrantes são mais evidentes para os que têm menor grau de escolaridade. São assim aqueles que têm maior escolaridade os mais liberais em relação

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à presença de imigrantes. Em maioria, considera que não tiram trabalhos os portugueses, são mais permissivos em relação ao direito ao trabalho para os que não têm a situação legal regularizada, a legislação não é para eles tão adequada como para os outros, contribuem claramente para o nosso desenvolvimento económico, pagam os seus impostos e beneficiam menos deles (ver Anexo III, Quadros 591 a 596).

No que se refere à variável grau de instrução, observou-se no estudo de Lages et al. (2006) uma correlação positiva com a valorização da imigração: quanto maior o grau de instrução maior a valorização da imigração. Segundo os autores, este é um efeito encontrado noutros estudos sobre racismo e a imigração (Vala in Lages et al., 2006: 229).

Em termos cívicos e de linha integrante de um política nacional para a imigração, há muito trabalho a realizar para esclarecer, tanto mais que os dados parecem indicar que uma maior consciência da relação entre as questões da imigração e da integração dos imigrantes está associada àqueles que têm mais estudos.

Curiosamente são esses mesmos respondentes que têm mais dúvidas em relação a muitos aspectos de carácter funcional como as questões relativamente a fases de integração, a quotas anuais ou a requisitos prévios relacionados com as ocupações e as profissões que, em expectativa, aqui podem desempenhar.

À semelhança do que acontece no estudo de Lages et al. (2006), onde se verificou que à medida que a instrução aumentava, diminuía a tendência para que os indivíduos manifestassem atitudes preconceituosas, também a presente investigação revela que o aumento da instrução determina uma maior aceitação dos imigrantes, nomeadamente, como membros da família, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, residentes nas imediações e nas mesmas áreas de residência (ver Anexo III, Quadros 601 a 605).

Todas estas questões, sem excepção, são maioritariamente apreciadas por uma espécie de reserva quanto ao que se deve fazer, “com cautela”, em relação aos imigrantes. Apesar de os mais esclarecidos serem, por referência, os mais liberais também eles acham que a intervenção tem que existir porque muitos sugerem as fases de integração, a limitação de entradas anuais ou a existência de critérios de selecção para a entrada e a permanência (ver Anexo III, Quadros 606 a 615).

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Os que têm menos instrução são os que defendem mais que o Estado deve seleccionar os imigrantes que pretendem vir para Portugal. O grau de instrução dos inquiridos não se revela significativo no que concerne a preferências pelo género dos imigrantes. Os mais instruídos revelam maior incerteza quanto à melhor idade para os imigrantes virem para Portugal, sendo os menos instruídos que mais optam pelas faixas etárias dos 20 aos 29 anos e dos 30 aos 39 anos. A escolaridade do inquirido face às justificações das preferências, no entanto, não se revela significativa A maioria dos inquiridos, independentemente da escolaridade, não tem opinião formada acerca da preferência no grau de escolaridade que os imigrantes devem ter para virem para Portugal, nem as suas justificações podem ser relacionadas com a escolaridade dos inquiridos (ver Anexo III, Quadros 606 a 611).

Quanto ao estado civil dos imigrantes, os inquiridos com menos instrução surgem em maiores percentagens nas preferências pelos solteiros casados, enquanto os mais escolarizados não sabem ou não respondem. Os menos instruídos tendem a dar mais justificações de cariz económico, social e educacional, e os mais instruídos justificações centradas nos interesses dos imigrantes (ver Anexo III, Quadros 612 e 613).

Os resultados de vários estudos revelam que os que têm mais escolaridade favorecem maior número de imigrantes do que os que têm menor escolaridade (Simon; Simon e Alexander, in Chandler e Tsai, 2001: 185). No estudo de Chandler e Tsai (2001), aqueles que possuem ensino secundário são os que mais desejam que o número de imigrantes diminua, mais que aqueles que possuem apenas o ensino básico. Os que possuíam ensino superior, mais do que aqueles que têm mais anos de frequência escolar são os que mais revelam atitudes favoráveis à imigração.

Para Case et al. e para Allport (in Chandler e Tsai, 2001: 186) o ensino universitário é um agente poderoso na construção de um sentimento favorável à imigração, porquanto estes consideram que ao seu maior grau de conhecimento correspondem a somas de pensamento crítico e de entendimento global sobre os ganhos que podem estar inerentes à ampliação de uma sociedade multicultural. Case et al. (in Chandler e Tsai, 2001: 186) acrescentam, por sua vez, que os que têm maior escolaridade possuem redes sociais mais diversas e cosmopolitas em que os imigrantes se enquadram.

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Para Betts (in Chandler e Tsai, 2001: 186 e 187), os universitários que estudaram principalmente nas áreas de humanidades e ciências sociais, que se empregam sobretudo no sector público, desempenham a exigência da sociedade por trabalhadores da informação, cuja principal função é de produzir e processar símbolos. Como estes indivíduos se multiplicaram em números e têm uma mobilidade em sentido ascendente, formam um grupo de status que procura confinamento social, ou seja, a demarcação de fronteiras entre si mesmos e os de fora. Um dos indícios destes grupos é uma espécie de aparência de sofisticação e apreciação por outras culturas. De facto, os seus membros derrogam frequentemente a cultura dominante da sua sociedade e tendem a associar o etnocentrismo com o seu maior tabu, o racismo. São muitas vezes defensores do multiculturalismo e favorecem apenas restrições mínimas sobre os imigrantes.

A principal conclusão de um estudo elaborado por Scheve and Slaughter (in Ortega, 2005: 1853) acerca da opinião pública sobre imigração nos EUA, é de que os indivíduos com baixo grau de escolaridade apresentam maior probabilidade de apoiar restrições à imigração do que indivíduos com elevada escolaridade. No entanto, as suas estimativas revelaram que a maioria dos respondentes com escolaridade superior também apoia restrições à imigração. Os mais escolarizados tendem a apresentar mais incerteza no que respeita à restrição da entrada de imigrantes (ver Anexo III, Quadros 616 a 625).

No que respeita ao grau de escolaridade e de experiência profissional que os imigrantes devem ter para desempenharem funções das diferentes categorias profissionais são os mais instruídos são os que apresentam maior incerteza (ver Anexo III, Quadros 626 a 643).