• Nenhum resultado encontrado

Capítulo IV – Inquérito de opinião sobre imigração em Portugal

4.1. Apresentação de resultados

4.1.3. Perspectivas sobre a imigração

No que respeita à adopção de políticas selectivas face à imigração a maioria dos inquiridos, 59,5 por cento, revela uma posição positiva a este respeito. Para se poder perceber em que termos os inquiridos consideravam que a selecção deve ser efectuada, seleccionaram-se algumas características sócio-demográficas. Daquilo que foi apurado entre aqueles que defendiam a selecção da população imigrante, a quase totalidade, 96,8 por cento, rejeita o sexo dos imigrantes como factor de selecção (ver Anexo III, Quadros 84 e 85).

Os resultados do estudo de Blume e Verner (2007), acerca da dependência do sistema de protecção social dos imigrantes na Dinamarca, indicam que uma idade elevada e uma taxa elevada de desemprego à chegada do imigrante, aumentam a dependência face à protecção social. Estes dados referem-se, no período de 1985 a 1999, a indivíduos entre os 25 e os 57 anos. Os autores concluem que os imigrantes que chegam em idades jovens revelam maior probabilidade de ser um “investimento” para a sociedade dinamarquesa.

Já face à selecção por idade, verifica-se um número significativo, 22,3 por cento, daqueles que apontam a faixa etária dos 20 aos 29 anos. A justificação para esta escolha baseia-se em razões económicas e sociais em detrimento das razões educacionais ou dos interesses dos imigrantes, o que sugere que consideram que é nesta faixa etária que os imigrantes mais poderão contribuir para o desenvolvimento do país, nomeadamente através da sua força laboral (ver Anexo III, Quadros 86 e 87).

Verificou-se que na opção por idades relativamente jovens, 50,0 por cento das justificações são de cariz económico e social, tais como o envelhecimento da população portuguesa, os custos de educação dos jovens imigrantes para o Estado português, a mais-valia da entrada de jovens com formação superior, uma pretensa maior produtividade e capacidade física e psicológica desses jovens para o trabalho, o contributo para os interesses do País, a menor dependência estatal e a maior capacidade de adaptação (Maia, 2006).

82

Em segundo lugar, representando 39,3 por cento, estão as explicações relacionadas com os interesses dos imigrantes (Maia, 2006), referentes a expectativas e a ambições, a capacidade de integração, a capacidade de planificação, à construção do projecto de vida, à possibilidade de formação, e à necessidade de encontrar trabalho.

Por fim, as justificações de cariz educacional a favor do País, que representam 7,1 por cento, prendem-se por “[...] já adquiriram um nível de educação superior à média.” ou “Porque já possuem alguma escolaridade e já são maiores de idade.” (Maia, 2006: 5). Para os inquiridos que consideravam ser indiferente a idade dos imigrantes que pretendem vir para Portugal, os discursos justificativos foram, em 44,4 por cento das respostas, relacionados com motivos económicos e sociais, sobretudo relacionadas com a questão da justiça, do combate ao desemprego, do contributo para o desenvolvimento económico do país e da autonomia económica.

Em segundo lugar, com 22,2 por cento das respostas, as justificações estavam relacionadas com os interesses dos imigrantes, como por exemplo,“Porque qualquer pessoa tem direito a tentar melhorar a vida. [...] Todos somos iguais.” (Maia, 2006: 6).

As justificações derivadas de motivos educacionais, que representaram 11,1 por cento das respostas, apresentam discursos como:“Importância na aprendizagem da língua; entender a língua portuguesa; adaptar-se a uma nova cultura.” (Maia, 2006: 7).

Para aqueles cuja justificação não é especificada, 22,2 por cento, as justificações dadas explicitam,“Não há idade determinada para se poder imigrar para qualquer país. [...] Penso que a idade não é determinante mas sim a motivação e os objectivos dos imigrantes.” (Maia, 2006: 7).

Aqueles que referiram não saber ou não responder apontaram, no entanto, algumas justificações: “A idade implica que estes tenham maturidade suficiente e valores definidos. [...] Não faz sentido falar em idade para a imigração ou emigração. [...] Só se for para trabalhar seriamente.”(Maia, 2006: 7).

Para aqueles que consideraram que a melhor idade para os imigrantes virem para Portugal é entre os 30 e os 39 anos, 85,7 por cento dos discursos jaz em motivos económicos e sociais,

83

tais como o contributo para o desenvolvimento económico do País, através do aumento da camada de activos, da maior maturidade, da maior produtividade, da experiência e da capacidade de integração (Maia, 2006).

Os inquiridos que apresentaram motivos relacionados com os interesses dos imigrantes, 14,3 por cento, explicam que “[...] terão uma idade mais madura para fazerem essa opção.” (Maia, 2006: 8).

Por outro lado, aqueles que entendem que os imigrantes devem vir para Portugal com uma idade inferior a 15 anos, cujas justificações se prendem com motivos de natureza social e económica, como por exemplo, da capacidade de adaptação, de inserção ou de integração social e do contributo para o País (Maia, 2006).

Os que têm preferência para idades entre os 15 e os 19 anos, cujos motivos se referem são económicos e sociais, apresentam discursos relacionados com a maior capacidade de adaptação, a independência, a autonomia e a abertura às ofertas do mercado de trabalho (Maia, 2006).

No estudo de Blume e Verner (2007) verificou-se que o nível de escolaridade dos imigrantes reduz a dependência do sistema de protecção social, tanto entre imigrantes provenientes de países desenvolvidos como se países menos desenvolvidos. Segundo os autores, a escolaridade do país de origem parece quase totalmente transferível para o mercado de trabalho dinamarquês.

Face à escolaridade é de apontar alguma preferência pelos graus mais elevados de escolaridade, nomeadamente, ensino secundário, 13,8 por cento, e ensino superior, 15,4 por cento. Aqui, mais uma vez, a grande maioria das respostas centram-se em justificações de cariz económico e social, 68,0 por cento, em detrimento das razões educacionais ou dos interesses da população imigrante (ver Anexo III, Quadros 88 e 89).

De acordo com a conclusão de Iredale (2005) acerca da situação das mulheres imigrantes qualificadas, em comparação com a dos homens, nos processos de selecção, da acreditação e do reconhecimento dos imigrantes permanentes ou temporários, as mulheres só predominam ou se distinguem nas categorias das correntes de migração qualificada quando

84

são desenvolvidas políticas administrativas de selecção para as recrutar. Isto não significa que as mulheres não possuam qualificações que as acompanhem para os seus destinos, mas porque, frequentemente, imigram como dependentes, em vez de candidatas principais, as suas qualificações não são consideradas ou não têm acesso a serviços de integração. Concluiu ainda que as mulheres qualificadas sacrificam frequentemente as suas carreiras em função da sua família ou ficam em desvantagem no processo devido a preconceitos de género e que a inclusão de ocupações específicas nos mecanismos de selecção por pontos e sistemas de ênfase na experiência recente podem funcionar em desvantagem para as mulheres.

A análise efectuada por Purkayastha (2005) acerca de mulheres indianas nos EUA revela que as mulheres migram sobretudo sob o espectro da reunificação familiar, o que implica a gestão de uma série de barreiras adicionais em cada área das suas vidas, nomeadamente, do trabalho, da comunidade e da família, de forma a reconstruírem as suas vidas e carreiras. Estas barreiras adicionais são denominadas de desvantagens cumulativas, que têm efeitos negativos simultâneos, e fazem emergir a necessidade de adopção de um modelo de compreensão complexo, que envolva a interacção entre legislação relacionada com a discriminação de género e racial, do trabalho e das experiências relacionadas com assuntos domésticos.

Para os inquiridos, o estado civil não constitui um critério de selecção atendível, como se pode verificar pelos 41,8 por cento que consideram ser indiferente, e em conjunto com os 41,6 por cento que não sabem ou não respondem. Também face ao estado civil, a justificação das respostas aponta para razões económicas e sociais, 63,1, educacionais, 16,0 por cento, em detrimentos das razões centradas nos interesses dos imigrantes, 16,0 por cento. Ou seja, os portugueses vêem a imigração sob o ponto de vista de interesse do País e não sob o ponto de vista dos imigrantes (ver Anexo III, Quadro 90 e 91).

A maioria dos inquiridos que consideram que deve ser feita uma selecção dos imigrantes, 51,1 por cento, também considera que a sua integração deve ser faseada. Por outro lado, também a maioria dos inquiridos, 55,2 por cento, considera que o Estado deve estabelecer o número máximo de imigrantes a entrar em Portugal em cada ano (ver Anexo III, Quadros 92 e 93).

85

No estudo efectuado por Lages et al. (2006) sobre as atitudes dos portugueses quanto à entrada de mais imigrantes em território nacional, verificou-se que elas diferem ligeiramente em função da nacionalidade dos imigrantes, registando-se uma maior oposição face aos provenientes de países africanos, juntamente com o desejo de ver diminuído o número de outros imigrantes económicos. Nesse estudo, constatou-se que quanto a pessoas naturais de países ocidentais (imigrantes não económicos) a resistência à vinda de novos imigrantes é menor, embora ainda assim muito forte (considerando, sob um ponto de vista sociológico, ou seja, no imaginário padrão da população portuguesa, os estrangeiros provenientes da UE como “imigrantes”).

Colocada a questão em torno da redução de efectivos, os portugueses em geral consideram que o número de imigrantes em Portugal deve diminuir, revelando uma tendência para defender mais a redução de imigrantes de origem africana face aos imigrantes de outras proveniências (Lages et al., 2006).

Os autores levantavam então a hipótese de que a recusa da vinda de mais imigrantes se deve à proximidade cultural sentida em relação aos diversos grupos em presença, com excepção para a língua e para a construção de imagens negativas. A questão torna-se complexa e até contraditória, na medida em que deve ser analisada perante as relações entre Portugal e as ex-colónias e da integração dos imigrantes africanos e seus descendentes (Lages et al., 2006).

Para a grande maioria dos inquiridos em Lages et al. (2006), o número de imigrantes existentes no País é suficiente, pois apenas cerca de 6,0 por cento consideram a possibilidade de aumento. Para 53,0 por cento dos inquiridos o número de imigrantes deveria diminuir e o restante defende a manutenção.

De acordo com os resultados de Blume e Verner (2007), a dependência dos imigrantes provenientes de países menos desenvolvidos face ao sistema de protecção social é mais sensível às variações dos ciclos empresariais do que a dos nacionais e a dos que provém de países desenvolvidos. Isto sugere que o vínculo da força de trabalho dos imigrantes de países menos desenvolvidos é caracteristicamente mais marginal do que a dos nacionais e dos imigrantes provenientes de países desenvolvidos.

86

Para os inquiridos, a restrição de entrada de imigrantes é mais elevada para aqueles que são originários de outros países Africanos que não dos PALOP, da China e de outros países Asiáticos, com percentagens de 25,1 por cento, 25,0 por cento e 21,6 por cento, respectivamente (ver Anexo III, Quadros 94 a 103).

No que concerne à escolaridade que os imigrantes devem ter para poderem desempenhar as várias actividades profissionais, a análise pela CNP (IEFP11) revelou uma tendência lógica

para um maior grau de exigência naquelas actividades que conferem maior estatuto ou que exigem saberes específicos: para poderem desempenhar profissões pertencentes à categoria de Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa (QSAP/DQSE), a maioria dos inquiridos, 59,8 por cento, considera que os imigrantes devem ter um nível de escolaridade elevado ou muito elevado; para Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas (EPIC), 60,4 por cento; para Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio (TPNI), 48,4 por cento; para Pessoal Administrativo e Similares (PAS), 30,4 por cento; para Pessoal dos Serviços e Vendedores (PSV), 16,5 por cento; para Agricultores e Trabalhadores Qualificados da Agricultura e Pescas (ATQAP), 10,8 por cento; para Operários, Artífices e Trabalhadores Similares (OATS), 8,6 por cento; para Operadores de Instalações e Máquinas e Trabalhadores da Montagem (OIMTM), 15,0 por cento; para Trabalhadores Não Qualificados (TNQ), 4,4 por cento. É ainda de referir a grande percentagem, de inquiridos que refere não saber ou não responder, entre 37,9 e 42,8 por cento (ver Anexo III, Quadros 104 a 112).

À semelhança do que acontece com o grau de escolaridade, também quanto ao grau de experiência que os imigrantes devem ter no país de origem para poderem desempenhar as várias actividades profissionais, a análise pela CNP (IEFP12) revelou uma tendência lógica

para um maior grau de exigência nas actividades que conferem maior estatuto ou que exigem saberes específicos: para poderem desempenhar profissões pertencentes à categoria de QSAP/DQSE, a maioria dos inquiridos, 49,2 por cento, considera que os imigrantes devem ter um nível de escolaridade elevado ou muito elevado; para EPIC, 50,3 por cento; para TPNI, 42,0 por cento; para PAS, 28,6 por cento; para PSV, 17,5 por cento; para ATQAP, 14,2 por cento; para OATS, 12,1 por cento; para OIMTM, 17,9 por cento; para

11 http://www.iefp.pt/formacao/CNP/Documents/INDICE.pdf. 12

87

TNQ, 6,4 por cento. É ainda de referir a grande percentagem, de inquiridos que refere não saber ou não responder, entre 44,0 e 45,5 por cento (ver Anexo III, Quadros 113 a 121).

Na sondagem aos portugueses efectuada por Lages et al. (2006), regista-se, antes de mais, que a amostra reproduz a população donde foram retiradas, em termos de cluster, sexo, idade, posição religiosa. O perfil de instrução dos inquiridos era relativamente baixo: 42,0 por cento tinha grau de instrução igual ou inferior ao 6º ano de escolaridade, ligeiramente inferior ao total nacional registado no Censo de 2001, que era de 47,0 por cento, e 10,0 por cento não frequentaram a escola ou que não terminaram a 4º ano, superior ao registado naquele recenseamento.

A grande maioria dos inquiridos em Lages et al. (2006) trabalhava por conta de outrem e apenas 20,0 por cento trabalhava por conta própria, números muito próximos dos do Censo de 2001. A taxa de actividade da população inquirida era de 40,0 por cento. Dos inquiridos, 18,0 por cento teve experiência de trabalho no estrangeiro, dos quais 60,0 por cento eram homens e 40,0 por cento mulheres.