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Capítulo II – Portugal e a Imigração

2.3. Posições partidárias face à imigração

No que respeita à imigração, os eleitores de países com uma grande oferta de potenciais imigrantes enfrentam um dilema, na medida em que têm de optar entre a complementaridade e os efeitos políticos da imigração. É dessa opção que depende a dinâmica da política de imigração. Os eleitores percebem que, frequentemente, os imigrantes acabam por obter o direito ao voto, alterando a composição do eleitorado futuro, e, por sua vez, podendo afectar a política de imigração (Ortega, 2005). É neste sentido que a orientação do voto em termos partidários ganha relevância.

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Os diversos partidos políticos são criados a partir de indivíduos que se congregam em torno de diferentes correntes ideológicas ou das suas derivações. O Estado Democrático permite a expressão dessas ideologias e a sua transformação em normas através da maior ou menor aceitação social. Neste sentido, Ramos (2006: 3) refere que “[...] a palavra assume um papel nuclear na explicitação de ideias, na tomada de posições públicas, na argumentação e contra-argumentação de causas, na captação de adesões [...]”.

As origens do Partido Socialista remontam a 1875, com a fundação do Partido Socialista Operário Português, no seio de um ambiente de industrialização incipiente. Embora inicialmente tivesse uma influência limitada na sociedade portuguesa, os seus militantes mantiveram um relacionamento estreito com o movimento socialista internacional. O PS caracteriza-se pela procura de respostas políticas e económicas que vão ao encontro de uma sociedade solidária, aberta, e com uma economia de mercado. Ou seja um partido social- democrata, que valoriza a cultura de responsabilidade, e se esforça por se adaptar à actualidade, colocando-se à esquerda do espectro político (Reis, 1994).

O Partido Social-Democrata foi fundado em 1974, como Partido Popular Democrático. Era composto, sobretudo, por elementos católicos e republicanos, que propunham uma política de centro-esquerda. Em 1977 adopta a nova designação e em 1983 constitui uma coligação com o PS, denominada de Bloco Central, que assume uma política de austeridade económica. O PSD caracteriza-se mais recentemente por uma ideologia liberal-democrática e reformista, que surge da confluência de valores sociais cristãos e democratas, assumindo posições pragmáticas face a preocupações populares e nacionais. A ambivalência do partido permite-lhe alterar a sua orientação no sentido das circunstâncias, o que, por sua vez, lhe tem conferido uma sólida implantação e eficácia, que se traduz na presença governativa desde 1979 (Reis, 1994).

O Partido Comunista Português, fundado em 1921 sob a égide da corrente marxista- leninista, manteve-se, por obrigação, na clandestinidade entre 1926 e 1974, período após o qual adopta uma estratégia de oposição democrática. Caracteriza-se por ideais comunistas, adoptando uma posição inconformista (Reis, 1994).

O Centro Democrático Social – Partido Popular tem origem nos valores democratas- cristãos e posiciona-se inicialmente ao centro do espectro político. No entanto, a entrada de

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Manuel Monteiro, em 1991, leva a um afastamento do federalismo europeu e a uma aproximação ao conservadorismo, que determinou a expulsão do Partido Popular Europeu. Os seus ideais passam a ser populares, nacionais e conservadores (Reis, 1994).

Os principais partidos políticos portugueses, com assento parlamentar, consolidaram-se a partir de 1974. No entanto, no período de Outubro de 1974 a Janeiro de 1975, referente à realização dos congressos, os seus programas revelaram, curiosamente, que o PS e o PSD se radicalizaram à esquerda, defendendo uma forte presença do Estado na economia, enquanto o PCP opta pela eliminação da expressão “ditadura do proletariado” e adopta uma posição moderada, cujo programa aborda sobretudo medidas de carácter conjuntural (Reis, 1994).

Mais recente é o Bloco de Esquerda nasce do contacto de Luís Fazenda com Fernando Rosas em 1999, após o fracasso do referendo ao aborto de 1998. Parte de um esforço de agregação de várias forças de esquerda, nomeadamente União Democrática Popular, o Partido Socialista Revolucionário e o Política XXI. Os seus dirigentes partilhavam ideais socialistas, de liberdade e eram críticos das experiências soviéticas, no sentido da unificação de uma “esquerda à esquerda”, portadora de novidade (Costa e Oliveira, 20096).

Para Maria José Stock (in Reis, 1994), os apoiantes do PS e do PSD provém de zonas onde predomina a classe média urbana e agrária, sendo nos espaços urbanos, sobretudo, sustentadas pelos que desempenham actividades profissionais terciárias. O PS tem apoio também nas zonas mais industrializadas do Norte, nomeadamente do distrito do Porto, bem como nas zonas onde predominam os assalariados agrícolas. Por sua vez, os apoiantes do PSD, nas zonas rurais, são pequenos e médios proprietários no Norte e no Centro e das pequenas propriedades do Sul.

No entender de Pacheco Pereira (in Reis, 1994), o PCP está mais implantado nas zonas de grande industrialização, cidades e subúrbios de Lisboa. O CDS tem maior influência nas zonas litorais do Norte e nos centros urbanos.

Torna-se assim fundamental analisar os discursos políticos adoptados actualmente pelas principais facções partidárias que ocupam assento parlamentar. Para este estudo importa

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sobretudo perceber se os discursos utilizados pelos partidos vão ao encontro das respostas obtidas no inquérito de opinião aplicado à população portuguesa. Assim sendo recorreu-se à análise de conteúdo através da adaptação das técnicas de Bardin (1995).

A análise dos documentos que expõe as perspectivas dos diversos partidos, nomeadamente os programas partidários e ou bases programáticas7, revelam que em relação à questão “Os imigrantes tiram o trabalho aos portugueses”, PS e BE se posicionam numa resposta negativa, enquanto PSD, PCP e CDSPP se abstêm (Ver Anexo 1, Quadro 1).

A possibilidade de os imigrantes ilegais trabalharem é entendida pelo PCP de forma positiva, de modo a possibilitar a regularização face ao país onde se encontram. Tal não acontece com o PS e o CDSPP. PSD e BE não fornecem matéria que permita dar resposta à questão (Ver Anexo 1, Quadro 2).

PS, BE e PCP consideram que a legislação sobre a imigração não é adequada à realidade, e propõem alterações nos seus programas. O PSD e o CDSPP não abordam a questão (Ver Anexo 1, Quadro 3).

Para o PS e o PSD, os imigrantes contribuem para o desenvolvimento económico do País. No entanto, o CDSPP afirmava considerar a imigração uma questão “socialmente fracturante”. BE e PCP não disponibilizam dados específicos sobre esta questão (Ver Anexo 1, Quadro 4).

Em relação ao pagamento de impostos por parte dos imigrantes e do benefício que estes retiram dos impostos que pagam, não foi encontrada matéria que possibilite contrastar posição dos cinco partidos em análise com os dados do estudo empírico (Ver Anexo 1, Quadros 5 e 6).

A unanimidade é encontrada em relação à questão “É função do Estado adoptar políticas de actuação específicas para os imigrantes”, numa posição afirmativa, o que demonstra que

7 http://www.ps.pt/media/bases_programaticas.pdf; http://www.bloco.org/media/programa2005.pdf;

http://www.pcp.pt/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=21&Itemid=29;

http://www.cds.pt/items/ProgramadeGoverno2005.pdf;

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todos os partidos dão relevância à matéria da política específica de imigração (Ver Anexo 1, Quadro 7).

PS, BE e PCP consideram que é função do Estado assegurar a igualdade de tratamento entre nacionais e imigrantes. Quanto ao PSD e ao CDSPP não foi encontrada matéria que permita a análise das suas posições (Ver Anexo 1, Quadro 8).

Apenas o CDSPP se abstém de considerações acerca do Estado prestar maior apoio aos imigrantes, enquanto os restantes partidos fazem afirmações que permitem colocá-los numa resposta positiva (Ver Anexo 1, Quadro 9).

PS, PSD e CDS não abordam a questão do Estado assumir a função de expulsar os imigrantes ilegais, sem tentar promover a sua inserção, enquanto BE e PCP demonstram claramente que não concordam que o Estado assuma essa função, pelo menos sem que os imigrantes tenham possibilidade de regularização (Ver Anexo 1, Quadro 10).

No que respeita a critérios de selecção dos imigrantes, PS e PCP não consideram tal hipótese. Os restantes partidos optam por não elaborar argumentos sobre esta matéria específica nos seus programas (Ver Anexo 1, Quadro 11).

A especificação de critérios de idade, escolaridade, estabelecimento de fases de integração e quotas não permite uma análise da posição dos partidos, uma vez que os seus programas não abordam as questões com especificidade (Ver Anexo 1, Quadros 12 a 15). Esta análise permite ainda afirmar que os partidos optam por não abordar com especificidade matérias passíveis de suscitar controvérsia entre o eleitorado, mantendo assim uma posição de omissão.

Para Fennema (1997, in Boomgaarden e Vliegenthart, 2007: 405) é na extrema-direita do espectro político que encontramos os partidos “anti-imigrantes”, que, em geral, atacam a política governamental de imigração e partilham ressentimentos contra os imigrantes.

No entanto, é necessário ter em conta que o processo político associado à integração europeia determina a estratégia utilizada por Portugal face à imigração e que se desenvolve a partir de 1986, data da sua integração. As posições políticas e os discursos são também

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afectados pela conjuntura económica e social do momento, que vão condicionar as atitudes sociais e políticas face à integração dos imigrantes e o debate sobre os modos da sua operacionalização (Ramos, 2006).

Para alguns autores (Betz; Givens; Iversflaten; Lewis-Beck; Mitchell; Van Der Brug et al.; Fennema in Boomgaarden e Vliegenthart, 2007: 407), a posição económica, tal como o estatuto da sua ocupação, classe de pertença ou rendimento, ou mesmo a percepção acerca da situação económica individual ou nacional, podem influenciar o apoio a partidos anti- imigrantes. Pressupunha-se que uma situação económica desfavorável levava à crença de que os estrangeiros ou imigrantes ameaçam a segurança económica (Sniderman et al., in Boomgaarden e Vliegenthart, 2007: 407). Alguns estudos encontram mesmo uma relação entre desemprego e apoio a partidos anti-imigrantes (Anderson; Jackman e Volpert in Boomgaarden e Vliegenthart, 2007: 407).

O contacto pessoal frequente com estrangeiros é visto por alguns autores como um factor redutor de atitudes negativas face à imigração, o que significaria que as pessoas que viviam em países ou áreas com grande número de imigrantes teriam menos preconceitos e, dessa forma, estariam menos inclinados a apoiar partidos da direita (Allport; Roy, in Boomgaarden e Vliegenthart, 2007: 408). Por outro lado, é possível que um grande número de estrangeiros a viver num determinado país pode levar os cidadãos a vê-los como competidores, por exemplo, no mercado de trabalho e, por isso, mais susceptíveis a argumentos dos partidos de direita (Boomgaarden e Vliegenthart, 2007). Os estudos de Givens; Golder; Lubers et al. (in Boomgaarden e Vliegenthart, 2007: 408) revelam uma relação positiva entre o número de estrangeiros ou imigrantes e o apoio a partidos anti- imigrantes.

A percepção de ameaça cultural nas notícias é o principal motivo que leva os indivíduos a apoiarem os partidos anti-imigrantes e não o enfoque na ameaça económica. No entanto, o efeito de notícias de cariz económico também é significativo, sendo o público sensível à relação entre os dois factores. Um tom positivo na cobertura de assuntos relacionados com a imigração contribuiria para um declínio dos votos anti-imigração, mesmo quando se verifica grande cobertura dessas matérias. Para além das variáveis económicas, sobretudo taxa de desemprego, variáveis relacionadas com a imigração e variáveis relacionadas com o sistema eleitoral, tais como o número de partidos políticos, ou o limiar para entrar no

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parlamento, o factor “media” revela-se fundamental para o sucesso de partidos anti- imigrantes, sobretudo no que respeita ao papel dos conteúdos da média na influência à intenção de voto dos indivíduos, na medida em que foca em determinados assuntos e porque providencia um espaço público para os assuntos essenciais dos partidos populistas anti- imigrantes, providenciando um ambiente informativo que aumenta o apoio eleitoral a estes partidos, intencionalmente ou não (Boomgaarden e Vliegenthart, 2007).