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A escolha do contexto

Capítulo III – METODOLOGIA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

4. Desenho Metodológico

4.2. Segunda fase da investigação-ação – Planear Mudar

4.2.1. A escolha do contexto

sendo: i) as condições estruturais e organizacionais da instituição; ii) a integração da dimensão social e da dimensão educacional; iv) a abertura aos processos de mudança, tendo em vista a qualidade educativa; v) a equipa de profissionais (educadoras e assistentes operacionais); e, vi) a disponibilidade para aceitar o projeto.

Neste sentido, dentro das possibilidades que havia no concelho de Bragança, selecionou-se uma instituição cujas condições estruturais e organizacionais, se coadunavam com as legalmente exigidas e que oferecia possibilidades de se reorganizar, tendo em conta o desenvolvimento do projeto. Além disso, integrava as dimensões social e educativa, permitindo um conhecimento mais profundo dos atores, das suas necessidades e preocupações. O grupo de educadoras demonstrava abertura mental e parecia interessado em mergulhar num processo de desenvolvimento profissional a partir das suas possibilidades, reconhecendo que este processo implicava aprendizagem, investigação, colaboração e apoio. Também a direção parecia empenhada em trabalhar no âmbito da qualidade educativa, revelando grande comprometimento com o desenvolvimento organizacional da instituição. A investigadora/formadora mantinha uma relação de aberta com a direção, as educadoras e as auxiliares, o que indiciava a construção de um clima de confiança necessário numa investigação desta natureza.

Assim, o estudo desenvolveu-se numa Instituição Particular de Solidariedade Social [IPSS] de cariz religioso, localizada no interior norte do País. A instituição foi fundada em 1945 com objetivos educacionais no âmbito da infância e da juventude. Durante mais de cinquenta anos, os serviços de Jardim de infância, escola do 1º Ciclo e semi-internato de

75 A investigadora/formadora conhece grande parte das instituições de educação de infância do concelho de Bragança,

uma vez que acompanha os estágios que as alunas da formação inicial realizam. O processo de supervisão inclui uma reflexão semanal, realizada nos jardins de infância, na qual a professora da instituição formadora participa. Neste sentido, o conhecimento prévio das instituições e das equipas pedagógicas permitiu à investigadora, perceber qual das instituições, estaria mais disponível para se envolver no Projeto.

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jovens do sexo feminino, encontravam-se num antigo palacete do século XVIII. Em 1995 a Congregação adquire o edifício de um antigo Colégio e, após profundas obras de remodelação, transfere o jardim de infância, Escola do 1º Ciclo e semi-internato de jovens do sexo feminino para esse edifício. Além dos serviços mencionados a instituição abriu, em 2008, a valência de Creche, numa construção feita de raiz, contígua ao jardim de infância. No início do projeto frequentavam a instituição um total de 204 crianças, de idades compreendidas entre os 4 meses e os 10 anos de idade e empregava 27 pessoas, em diferentes funções ligadas ao serviço educativo. A gestão/organização dos espaços e funcionamento da instituição encontram-se a cargo da Congregação de religiosas, havendo uma educadora que exercia, cumulativamente, funções de coordenadora pedagógica.

As crianças provinham, na sua maioria, de contextos familiares, aparentemente, estáveis, compostos por pai, mãe e um ou dois filhos. A análise das profissões e habilitações académicas dos pais revelou uma predominância laboral no setor terciário, nas categorias técnicas e quadros superiores. A grande maioria possuía formação de nível superior e empregos estáveis. Revelava-se, neste aspeto, uma determinada seletividade do grupo de crianças, talvez pela imagem de rigor que a instituição foi construindo ao longo dos anos (PE1-07/08; PE2-07/08).

A instituição acolhia também, alunos do curso de licenciatura em educação de infância da Escola Superior de Educação de Bragança, para o desenvolvimento da prática pedagógica, sendo a investigadora/formadora, supervisora desses alunos76.

Escolheu-se a valência de jardim de infância e todos os seus atores como estudo

de caso. No sentido de captar a globalidade dos olhares, sobre aquela realidade

específica, a pesquisa incidiu sobre a coordenadora de setor, as educadoras, as assistentes operacionais, as crianças e os pais das crianças. No entanto, os processos de formação e investigação colaborativa desenvolveram-se mais especificamente com as educadoras e as crianças.

Depois de se selecionar a instituição iniciou-se o processo de negociação que decorreu entre julho e setembro de 2007. Este processo incluiu diferentes fases tendo em conta os atores envolvidos (direção do estabelecimento, as educadoras, as auxiliares, as crianças e os pais).

O primeiro passo foi realizado informalmente com as educadoras. A investigadora (na altura no papel de supervisora de estágios), durante uma reflexão, questionou-as

76 Durante os anos em que decorreu o estudo a investigadora solicitou à Escola Superior de Educação autorização para

acompanhar os estagiários naquela instituição. Todos os anos, antes da colocação em estágio, os alunos eram informados da situação em que se encontrava aquele centro de estágio, podendo assim, aceitar ou recusar o envolvimento na investigação.

143 sobre a possibilidade de se envolveram num projeto de formação em contexto, no sentido de repensarem as práticas que desenvolviam. Pretendia-se que cada educadora assumisse a sua própria decisão. Não se desejava que fosse um processo em que a instituição decidisse sobre a disponibilidade individual para assumir tal compromisso.

Posteriormente, foi marcada uma reunião com a diretora da Instituição, a coordenadora de setor e a coordenadora pedagógica, apresentando os objetivos do projeto que pretendia interligar formação, pedagogia e investigação. Ambas reconheceram a sua pertinência, mas consideraram que cada educadora deveria ser livre de expressar a sua disponibilidade para participar. Reunimos, então, com as educadoras, revelando os propósitos e as possibilidades da formação e investigação, apresentando os objetivos delineados e esclarecendo sobre o papel de cada um no processo.

Seguidamente, conjuntamente com as educadoras, preparou-se uma reunião com os pais para os esclarecer sobre os objetivos do projeto e qual seria o seu papel e o papel das crianças em todo o processo. No decurso da reunião foi solicitada a participação de cinco voluntários para a realização da entrevista.

Noutro momento, a investigadora e as educadoras reuniram, em cada sala, com as crianças explicitando os objetivos e a dinâmica que a investigação iria ter, auscultando-as sobre a sua disponibilidade para participar. Nesta pesquisa, o consentimento informado configura-se como um dos procedimentos mais importantes, em termos éticos. Ao aceitarmos como princípio sustentador do estudo, a competência participativa da criança, escutar a sua voz sobre um processo que a envolvia diretamente, tornava-se imprescindível. Reconhece-se, neste estudo, que os “direitos da criança têm prioridade sobre os interesses do investigador, [considera-se], a importância de informar as crianças sobre as características da pesquisa, que poderiam afetar a sua participação voluntária” (Woodhead & Faulkner, 2005, p.10).

Em setembro de 2007, após o período de negociação, estabeleceu-se um acordo de colaboração que teve início com a participação das educadoras no Projeto Desenvolver a Qualidade em Parcerias e continuidade no presente trabalho de doutoramento (Anexo I).

Importa salientar que durante os quatro anos em que decorreu o projeto os atores foram alterando. Entraram e saíram crianças e, consequentemente, mudaram os pais, o que implicou a renovação do consentimento informado, tanto das crianças, como dos pais. Além disso, também os profissionais foram mudando. Inicialmente, encontravam-se envolvidas quatro educadoras, no entanto, no ano letivo de 2008-2009, com a abertura da valência de creche, houve necessidade de reestruturar a organização da equipa. Dada a opção pela organização rotativa das educadoras, que acompanhariam o grupo de

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crianças, desde que entravam para a instituição até que saíam, tomou-se, coletivamente, a decisão de que todas deveriam participar nas reflexões temáticas, para não perderem a dinâmica do projeto. No quadro 2 apresentam-se as dinâmicas organizativas dos atores que participaram do estudo.

Quadro 2. Dinâmica organizativa das educadoras e dos grupos de crianças

Ano letivo 2007-2008 Ano letivo 2008-2009 Ano letivo 2009-2010 Ano letivo 2010-2011 Educadoras Grupo Educadoras Grupo Educadoras Grupo Educadoras Grupo

Maria 5 anos Laura 5 anos Inês 5 anos Lia 5 anos

Laura 4 anos Inês 4 anos Lia 4 anos Maria 4 anos

Inês 3 anos Lia 3 anos Maria 3 anos Rita 3 anos

Sónia misto Sónia misto Sónia misto Sónia misto

Maria Creche Rita Creche Inês Creche

Rita Creche Laura Creche Diana Creche

Na instituição os grupos de crianças eram, preferencialmente, organizados por idades existindo, por isso, a sala dos 3, dos 4 e dos 5 anos. Existia, ainda, um grupo organizado de forma vertical, que tinha crianças com 3/4 e 5 anos, mantendo-se a educadora sempre com o mesmo grupo.