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Escopo dos dados qualitativos

No documento LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (páginas 44-48)

1.1 Trabalho de campo

1.1.2 Escopo dos dados qualitativos

Bourdieu (2004, p. 20-21) destaca duas preocupações relevantes na escolha do método e das técnicas empregadas à investigação do objeto de pesquisa, quais sejam: “nas situações reais da atividade científica, só é possível esperar construir problemáticas ou novas teorias com a condição de renunciar à ambição impossível [...] de dizer tudo sobre tudo e de forma ordenada”; a seguir, o autor atenta para o fato de o cientista sempre interrogar suas técnicas e não forçar o encaixe do seu objeto de pesquisa a elas. Entende-se que, além de serem preciosas às abordagens e técnicas metodológicas, tais orientações também conduzem o olhar da pesquisadora à interpretação dos fatos.

As categorias das variáveis27 qualitativas28 podem ser classificadas como ordinais – ordenação de cinco em cinco anos entre as categorias e a demografia que

27 Característica de pessoas, objetos ou eventos que diferem em valor entre as mesmas.

foi realizada a partir do ano de 1970 a 2010; e nominais - inexiste ordenação entre as categorias (nacionalidade, profissão, estado civil).

Ao desmembrar a tabela inicial em variáveis menores, observou-se que a plataforma revelou com mais clareza os indicadores (maiores e menores) que sinalizaram transformação em um determinado período. Esses desvios padrões foram eleitos com significativas diferenças de forma a guiar a etapa seguinte da pesquisa de campo, qual seja, a qualitativa.

Assim, realizaram-se 33 entrevistas semiestruturadas que, segundo Chizzotti (1998, p. 45), podem ser “uma comunicação entre dois interlocutores, o pesquisador e o informante, com a finalidade de esclarecer uma questão”, ou seja, um “discurso livre orientado por algumas perguntas chaves” com representantes das instituições eleitas como mais significativas, pois este instrumento é o mais adequado para esclarecer as especificidades dos fenômenos sociais em questão.

O foco da produção de dados descritivos fornecidos de forma escrita e/ou falada, bem como pelo comportamento dos pesquisados, é a percepção e a vivência acerca do tema que está sendo pesquisado (TAYLOR; BOGDAN, 1998). Este é um método que permite aprofundar o assunto, pois vêm à tona conteúdos significativos e singulares para a discussão dos resultados. Contudo, trata-se de um levantamento que exige disponibilidade de tempo, geralmente maior que a aplicação de questionários.

Trata-se, pois, de um levantamento posterior à constituição da plataforma de dados quantitativos, cuja população investigada foi selecionada intencionalmente, o que acabou por limitar o número de interlocutores, evitando a generalização das inferências29a outras populações.

O recrutamento dos pesquisados foi realizado pelo processo de “Bola de Neve”

ou técnica em cadeia que consiste no seguinte:

28 A metodologia escolhida para a realização deste estudo foi uma pesquisa de tipo exploratória de caráter qualitativo, pois esta permite, segundo Minayo, “incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, e as estruturas sociais, sendo estas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, com construções humanas significativas” (MINAYO, 1994, p.10).

29 Yin (2005, p. 83) sugere que o pesquisador tenha, entre outras habilidades, a “noção clara das questões que estão sendo estudadas, mesmo que seja uma orientação teórica ou política, ou que seja de um modo exploratório”.

[...] partir de um primeiro entrevistado, que condiz com o perfil a ser decidiu finalizar essa etapa. A pesquisa por evidências qualitativas (categóricas) contribuiu para a avaliação das condições sociais e econômicas. Por isso, também se recorreu à Taxa de Especialização (ou Quociente Locacional - QL30), para contextualizar os setores mais expressivos da economia local.

No entanto, complementarmente, fez-se uso da observação direta durante o transcurso realizado na cidade e, principalmente, quando das entrevistas, visando a registrar o comportamento dos atores sociais e representantes institucionais da cidade. As demais fontes primárias contaram com a utilização de procedimentos técnicos, como registros fotográficos, figuras e levantamento das entrevistas semiestruturadas,31 aplicadas diretamente aos sujeitos da comunidade. Esse procedimento permitiu interagir face a face entre pesquisador, sujeitos e objetos pesquisados, cujos instrumentos de auxílio foram a caderneta e o diário de campo (GIL, 1996), mais o gravador.

Os sujeitos entrevistados possuem semelhanças no que diz respeito às vivências, tão relevantes à definição do estudo em questão, seja pelo conhecimento, pelo empoderamento de informações seja pela sua atuação, sociabilidade e inserção social. Além disso, e em sua maioria, são atores sociais formadores de opinião pública, atuantes em suas práticas socioculturais e econômicas, de maneira a lhes conferir reconhecimento entre o círculo de relações sociais, formais e informais.

30 “O Quociente Locacional busca expressar a importância comparativa de um segmento produtivo para uma região vis-à-vis à macrorregião na qual aquela está inserida. Mais especificamente, ele busca traduzir “quantas vezes mais” (ou menos) uma região se dedica a uma determinada atividade vis-à-vis ao conjunto das regiões que perfazem a macrorregião de referência” (PAIVA, 2006, p.92).

No entanto, poderá ser utilizada a participação percentual de emprego como medida de importância a uma atividade. A importância do município no contexto regional, em relação a um determinado setor, é demonstrada quando assume valores ≥ 1. Nesse caso, o setor é considerado especializado. A inserção/especialização periférica na divisão social do trabalho não se resolve pela diversificação da pauta produtiva. A diferença entre as especializações (açúcar, soja, minério de ferro, borracha, etc.) circunscreve-se à maior ou menor instabilidade das exportações, da renda interna, do câmbio e dos preços.

31 Apêndice I.

Procurou-se apreender informações relevantes às discussões dessa pesquisa, principalmente no que concerne à consciência, à impressão, à experiência dos atores (sensação interpretada), com relação à presença dos free shops no contexto marcado pelo latifúndio e ancorado na cultura da pecuária.

Os questionamentos nortearam o cotidiano das práticas socioeconômicas que emergiram de forma antagônica e dinâmica entre tradições e modernidade, bem como as percepções dos sujeitos quanto às mudanças ocorridas ao longo do tempo e a reação da comunidade entrevistada em resposta ao fenômeno modernizante que se instalou sobre o território32 historicamente tradicional.

As entrevistas foram marcadas, individualmente, com antecedência, juntamente com um briefing (no sentido de uma antecipação breve de informações para posteriores complementações do assunto), que serviu de guia acerca do assunto tratado na ocasião do encontro. Esse grupo de entrevistados derivou de um prévio estudo de campo realizado em julho de 2009, quando foram visitadas algumas personalidades do local: um ruralista, um político, um líder de comunidade de moradores, um escritor, uma pesquisadora.

Todos os contatos, sobretudo os primeiros realizados em 2009, foram por sucessivas indicações, como uma “Bola de Neve”– um indicava o outro – (BIERNARCKI; WALDORF, 1981), priorizando os atores envolvidos com os debates acerca do desenvolvimento da região e/ou aqueles detentores de profundo conhecimento da fronteira, seja social, político, econômico ou cultural. Contudo, primeiramente, as entrevistas foram agendadas por telefone seguido do encontro pessoal, num local previamente combinado. As entrevistas foram individuais, com exceção da realizada em conjunto em Porto Alegre, com as pesquisadoras Dra.

Neiva Schäffer e a Dra. Adriana Dorfman.

32 Para Santos (1996), território é o lugar de exercício da vida, do fundamento do trabalho, é onde se reside, onde se realizam as trocas materiais e espirituais.

No documento LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (páginas 44-48)