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Produção secundária: Industrial

No documento LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (páginas 167-179)

2 COEXISTÊNCIA ENTRE TRADIÇÃO E MODERNIDADE: UMA LEITURA

5.4 Principais setores produtivos

5.4.2 Produção secundária: Industrial

5.4.2 Produção secundária: Industrial

Durante o século XX, as indústrias instaladas em Sant‟Ana do Livramento eram responsáveis por movimentar, praticamente, toda uma cadeia produtiva, representada pelo fornecimento de carne, de máquinas, de serviços técnicos, de alimentação e de bebidas (Fotografia 24).

Fotografia 24 - Fotografias dos prédios da cervejaria Gazapina S.A., em Sant‟Ana do Livramento/RS.

Fonte: Arquivo da autora, 2009.

164 Entendido aqui pela produção, reprodução e interação com a aplicação das regras e recursos. A exemplo das instituições (prefeitura, associação comunitária, ACIL, Sindicato dos Comerciários, entre outras) todas as quais contendo propriedades estruturais no sentido de que as relações apresentam-se estabilizadas no tempo e no espaço.

A década de 30 se destacou por transformar o município no terceiro maior parque industrial do Rio Grande do Sul que, segundo Schäffer (1993), aglomeravam quatro frigoríficos, três torrefações de café, onze charqueadas e uma das fábricas de bebidas de maior expressão existente na história econômica do início do século XX, que foi a Cervejaria Irmãos Gazapina.

Além da cerveja, a empresa também fabricava refrigerante e gelo em barra para abastecer os bares dos vagões de passageiros da antiga Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) que circulavam na região. A fábrica foi desativada em 1975.

Identificou-se que, a partir da década de 70, os empreendimentos de elevado peso que integravam esse setor eram três indústrias privadas e duas cooperativas de lã, que serão abordadas a seguir, a começar com os frigoríficos.

A presença dos frigoríficos, em Sant‟Ana do Livramento, trouxe novos padrões industriais adversos aos costumes tradicionais que vigoravam nas charqueadas (ou saladeiras) e matadouros (ALBORNOZ, 2000). Segundo a autora, ao abandonar os ofícios peculiares da rudimentar vida rural (tradicionais e manufatureiros), os fronteiriços aventuraram-se à operacionalização de novas técnicas e processos industriais de trabalho.

Ainda para a autora, havia gestores estrangeiros com abordagens estratégicas que inauguravam novo ramo no mercado (enlatados), cujos produtos e serviços requeriam inusitados processos característicos da produção fordista e orientados para a exportação.

Assim, a comunidade empresarial e a esfera governamental de Sant‟Ana do Livramento acolheu aqueles que recém chegavam – migrantes da região e imigrantes europeus que passaram a residir no local. Sem muitas opções, aos santanenses restava mão de obra pouco remunerada para atender a uma demanda internacional, exigente e sofisticada (MARQUETTO; MOTTA, 2010).

Fotografia 25 - Antigas instalações do Frigorífico Armour, em Sant‟Ana do Livramento –RS.

Fonte: Arquivo da autora, 2009.

A cidade tornou-se um centro para as indústrias (sendo que 85% do capital industrial da cidade era originário do Frigorífico Armour)165 de carnes e de derivados, especialmente, por abrigar estâncias produtoras da matéria prima, que servia aos interesses dos investidores estrangeiros como as empresas Swift, Armour166, Wilson, Morris e Cudahy que, em conjunto, foram chamados nos Estados Unidos de o

“truste da carne”167 - meat trust (ALBORNOZ, 2000). A produção frigorífica, tipicamente fordista, era destinada ao mercado externo, cujas características remetem à modernidade. Por outro lado, o abundante fornecimento da carne estava acoplado à atividade tradicional dos santanenses que consistia, basicamente, na pecuária.

Em 1969, o frigorífico Armour fundiu-se com o frigorífico Swift e começou a operar, em 1972, como Swift Armour S.A. Indústria e Comércio168 (ALBORNOZ, 2000), sendo vendido 17 anos mais tarde ao Grupo Bordon, que, por sua vez, entrou

165 Albornoz, 2000.

166 A Companhia Armour se instalou em 1910 e foi inaugurada em 1917 (ALBORNOZ, 2000).

167 Acordo entre empresas e banqueiros com o objetivo de determinar preços e estabelecer mercados para a carne (ALBORNOZ, 2000).

168 A entrada do capital monopolista transnacional dos grandes frigoríficos (Swift-Armour, Anglo), iniciada no período da primeira grande guerra, não teve a esperada repercussão no que se refere à capitalização e à modernização do setor. A inovação veio por conta da introdução de culturas alimentícias para a industrialização e exportação, decorrente da inatividade dos estabelecimentos nos períodos de entressafra, tais como a produção de ervilha em Rosário do Sul (Swift-Armour) e Bagé (Bordon-Frigorífico Nacional), (COSTA, 1988, p. 65) e (ROS, 2006).

em concordata em 1994169. Nesse mesmo ano, o frigorífico encerrou suas atividades, deixando a cidade de Sant‟Ana do Livramento imersa em grave crise econômica (ALBORNOZ, 2000).

Juntamente com o fechamento do frigorífico Swift Armour, o Lanifício Albornoz apresentou dificuldades, agravando o desemprego na cidade. Esse é um dos prejuízos pelo excessivo poder de mercado de uma única empresa - e de capital estrangeiro -, em um determinado setor.

Segundo Nochi (2001), na década de 70, o antigo Lanifício Albornoz empregava uma parcela da população no campo (500 pessoas e tinha 1.500 postos de trabalhos indiretos, quando do início da produção de tops170). Em 1980, esse índice baixou para 17,9%, chegando, em 1985, à redução de mais 25,81% (NOCHI, 2001), pois a demanda por tops de lã obedecia ao mercado internacional. A partir de 1982, o Lanifício Albornoz passou o controle (por ordem judicial) à Holding Esquila, administrada pelo Banco Auxiliar de São Paulo.

Do antigo lanifício, surgiu a Cooperativa Regional Santanense de Lãs Ltda (COLÃS)171. Esta passou, em 1983, a ser denominada Cooperativa Regional Rural Santanense Ltda., constituindo um “complexo empresarial rural que chegou a congregar, na safra de 80-81, mais de 1.700 associados, comercializando 4 milhões de quilos de lã” (NOCHI, 2001, p.41).

Segundo Correia172 (2011), em 1996, a fábrica passou a ser arrendada à Cooperativa dos Profissionais da Fiação e Tecelagem de Sant‟Ana do Livramento

169 Em 1994, o país vivia uma das maiores crises inflacionárias de sua história. Segundo Gonçalves (2000, p.99), “na segunda metade dos anos 90, a estratégia de abertura comercial, financeira e cambial do governo provocou uma significativa apreciação cambial entre 1994 e 1998, que foi seguida de uma maxidesvalorização em 1999”.

170 Tops é denominação inglesa do produto do trabalho da penteagem de lã, primeira fase de fiação, cujas características são: finura, comprimento, teor de gordura residual e limpeza (NOCHI, 2001).

171 Antigo Lanifício do Rio Grande do Sul, Thomaz Albornoz S/A, fundado em 1908 (NOCHI, 2001), cuja importância se estendeu durante os períodos de guerras mundiais, uma vez que fornecia lã para alguns países europeus. O lanifício gerava postos de trabalho no campo em períodos sazonais em que se extraía a lã. Ao findar a Segunda Guerra Mundial (1945), o mercado externo de lã e carne se contraiu devido às baixas demandas da Inglaterra. Desse processo, decorreram contínuas falências em diversos setores produtivos, tanto de bens como de serviços.

172 Entrevistado.

Ltda. (COOFITEC). Ainda nessa década173, isenta de incentivos governamentais, a cooperativa (Fotografias 26 e 27) passou a enfrentar dificuldades para manter sua estrutura.

Fotografias 26 e 27 - Antigas instalações da Cooperativa Rural Santanense Ltda., em Sant‟Ana do Livramento-RS.

Fonte: Arquivo da autora, 2009.

Vale observar que o segmento de fiação de fibras têxteis naturais representa alta Taxa de Especialização (QL), condizendo com índices apropriados a produtos tipo exportação174. Contudo, apresenta insignificante número de empregos formais, sinalizando que os postos de trabalho estejam ocupados por cooperativados - portanto, não aparecem nas estatísticas da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).

Em 2009, em uma visita realizada à COOFITEC, havia 80 associados que trabalhavam de forma escalonada no local175. As condições de trabalho eram precárias, decorrentes da utilização prolongada (e desgastada) do maquinário mecanizado – adquiridos pelo Lanifício Albornoz, na metade do século XX. Em

173 Ainda que alguns países latino-americanos já estivessem em processo de liberalização e desregulamentação econômica, o Brasil passou a adotar esse processo a partir de 1990 (CEPAL, 2002). Tal reforma reduziu a tarifa alfandegária (média), entre 1990 e 1995, de 32% para 14%.

Contudo, a maxidesvalorização em 1999 foi determinante para que os santanenses experimentassem nova leva de falências de lojas no ramo comercial.

174 Marquetto; Motta (2010).

175 E. Vargas, na condição de presidente da COOFITEC – Entrevistado dia 30/07/09, Sant‟Ana do Livramento.

funcionamento, os teares emitem repetitivos ruídos ensurdecedores, e as pessoas que lá trabalhavam estavam desprotegidas de equipamentos auditivos176.

Fotografia 28 - Processo de cardagem, tecelagem, tops de lã da COOFITEC, em Sant‟Ana do Livramento-RS.

Fonte: Arquivo da autora, 2009.

De acordo com Vanin (2011), atualmente a cooperativa possui 40 pessoas encarregadas de preparar e embalar a lã para venda. Em 20 anos, a COOFITEC reduziu 85,71% do quadro de empregos que, somado às baixas demandas pelo mercado mais a ingerência ambiental177, evidencia um quadro crítico e insustentável.

Não obstante, os cooperativados apostam no tradicional setor do lanifício (Fotografia 29, 30 e 31) de que, passado por gerações, o ofício de lavar, cardar e tecer a lã faz parte da cultura santanense. Embora tenha reduzido o contingente da força de trabalho disposto a se dedicar ao processamento da lã, existem aqueles

176 Entre as inserções de campo da presente tese, observou-se o processamento da lã nas instalações da COOFITEC. Durante a estada, em meio ao processamento da lã, entre as máquinas de tecelagem, o sucessivo barulho das batidas metálicas ecoava nos ouvidos horas após ter saído daquele ambiente.

177 Quanto à gestão ambiental, no início de 2011, a cooperativa enfrentou um embargo após ser fiscalizada pela Fundação Estadual e Proteção Ambiental (FEPAM) devido ao não cumprimento dos resíduos e tratamento da água que é utilizada para a lavagem da lã. Câmara Municipal de Sant‟Ana do Livramento (CÂMARA DOS VEREADORES, 2011).

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que passaram anos de sua vida dentro do lanifício, adquiriram práticas e condicionamentos que os limitam a se aventurar em outro tipo de ofício. Significativa reserva de trabalhadores desempregados, pós-falência das indústrias, dedicaram-se a novas funções, em sua maioria nos estabelecimentos comerciais, como supermercados, armazéns, ferragens, etc.

Fotografias 29, 30 e 31 - Maquinário para lavagem da lã; processo de tratamento dos resíduos industriais da COOFITEC, em Sant‟Ana do Livramento-RS.

Fonte: Arquivo da autora, 2009.

A superação das dificuldades antecipa o conhecimento de práticas e técnicas aprendidas empírica e tradicionalmente. Porém, na modernidade, o mercado de trabalho está cada vez mais exigente e recessivo, requerendo conhecimentos tecnológicos avançados e adquiridos em Escolas Técnicas e/ou de Ensino Superior, bem como em intercâmbios educacionais, estágios em empresas modernas que adotam técnicas de gerenciamento avançadas e inovadoras.

No entanto, a falta de perspectiva de trabalho e de renda minou o imaginário coletivo, acarretando depressão generalizada e inércia, como evidenciado nos relatos de (BENTANCUR; MOREIRA)178:

Eu comecei a ver que as dificuldades estavam vindo, as vendas já não eram as mesmas, a venda de mercadoria já não estava acontecendo da forma que aconteceu durante os outros 19 anos anteriores. É como eu falei; é uma coisa que foi da noite pro dia, praticamente. A venda caiu mais de 60, 70%

da noite pro dia. Porque a mercadoria brasileira passou a ser vendida do fabricante brasileiro pro importador dentro do país Uruguai de uma forma diferenciada daquele que era anteriormente. No Uruguai, você abastecia a

178 Entrevistados, 2011.

mercadoria na fronteira. E a partir de então, passou a ser abastecida a mercadoria na sua cidade destino, já (BENTANCUR, 2011).

Quando fechou o frigorífico, tivemos o problema social em dobro, porque recebemos essas pessoas de Rosário do Sul, que depois ficaram desempregadas juntamente com os nossos santanenses desempregados [...] Daí foi o caos! Parecia que Livramento não ia sair mais do “fundo do poço”, que Livramento tinha morrido, acabado! (MOREIRA, 2011).

Diante disso, percebe-se que ocorreu uma espécie de efeito dominó de modo a desequilibrar toda a cadeia produtiva que atendia o fornecimento e a distribuição dos produtos gerados pelo frigorífico, refletindo no declínio dos demais estabelecimentos comerciais, de serviços e de lazer.

Em entrevista, a historiadora e pesquisadora Aseff (2011) observou que no auge das atividades produtivas das indústrias, a sociabilidade era patrocinada pelos fazendeiros, fornecedores da matéria prima (carne) aos frigoríficos.

Porém, frente ao encerramento das fábricas, o setor da pecuária foi atingido, e muitos fazendeiros entraram em crise e, com isso, o lazer proporcionado pelas estruturas dos clubes sociais (Fotografia 32).

Fotografia 32 - Sede do Clube Social Armour, em Sant‟Ana do Livramento-RS.

Fonte: Arquivo da autora, 2009

Tais instituições recreativas “começaram a ficar decadentes”, inclusive o “Clube Farroupilha, específico para os negros”, o Clube dos Comerciários, situado em frente da Praça General Osório, igualmente fecharam suas portas. Desse modo, a sociabilidade e a economia da cidade ficaram estagnadas (ASEFF, 2011).

Pressionados pelas dificuldades socioeconômicas, acirrou-se o fenômeno de evasão demográfica, cujo ápice deu-se a partir de 2000. Foram trabalhadores que deixaram a cidade em busca de melhores oportunidades laborais (de sobrevivência, sustento da família), como salienta Conceição179:

Essa perda da cooperativa, do frigorífico as pessoas ficaram sem empregos. Fez com que muitos migrassem à região Serrana, para Caxias do Sul (cerca de 15 mil santanenses vivem lá) e cidades circunvizinhas.

Temos um ônibus direto para lá todos os dias.

Apesar das sérias restrições no mercado de trabalho, os santanenses contam com alguns segmentos que estão prosperando e gerando novas oportunidades de renda. Entretanto, há que se ter conhecimento técnico e disposição para aprender diferentes habilidades, pois são ofícios sazonais que dependem da época correta para o plantio, poda, colheita, correção do solo, etc., como é o caso das culturas de citros, da uva, da fabricação do vinho, só para citar alguns.

A fabricação de vinhos teve suas primeiras iniciativas no início da década de 70 (ENGELMANN, 2009), ainda durante o chamado “Milagre Econômico Brasileiro180”.

Foi um período em que o incremento empresarial mostrava-se animador, pois surgiram várias iniciativas interessantes que, de certa forma, dinamizaram a economia santanense.

O cultivo da uva para a produção de vinho teve seus experimentos após a segunda metade do século XX e tem mostrado vigor com a presença de vinícolas de renome no mercado internacional de vinhos. Após a instalação da vinícola Cordilheira de Santana e da Cooperativa Viti-Vinícola Aliança181, decorreram outros investidores, como a Cave Don Gabriel, a Seagram do Brasil Indústria e Comércio Ltda (Vinícola Almadén182) seguida, em 2000, da instalação da Livramento Vinícola

179 Entrevistado, 2011.

180 Em 1969 a 1973 durante o regime militar no governo de Médici.

181 A Cooperativa Viti-Vinícola Aliança origina-se da Vinícola Livramento, pertencente ao grupo japonês Hombo, maior produtor e distribuidor de bebidas do Japão, que se instalou em Sant´Ana do Livramento para produzir vinhos para aquele país, bem como para o mercado brasileiro. No entanto, o grupo vendeu o investimento para a Aliança, em 2005 (ENGELMANN, 2009).

182 Segundo entrevista com o sr. V. Silveira, “a Almadém chegou aqui em 1982 e gerou, no início, 300 empregos só para matar formiga! Empregos com carteira assinada!”

Industrial Ltda, da Vinícola Palomas, da Vinícola Carrau, e, recentemente, da Miolo Wines S/A183 e da Vinícola Salton184.

O setor do vinho sinalizou a segunda melhor taxa de especialização, ou seja, um QL acima de 20, significando alta especialização. Além disso, ocupou o terceiro lugar como empregador dentro dos segmentos que apresentavam o QL acima de 1,5.

Gráfico 17 - QL de alguns segmentos que compõem o bloco da indústria de transformação, em Sant‟Ana do Livramento, ano 2006.

Fonte: Adaptado do Território Paiva, 2008.

De acordo com Andrade Jr (2009), assessor de imprensa do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN), a Região da Campanha, com cerca de 1.500ha, consolidou-se como produtora de vinhos finos na década de 80. Tornou-se, um polo produtor onde são cultivadas, exclusivamente, castas de Vitis vinífera, com predominância das uvas tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Cabernet Franc, Pinot Noir; Touriga Nacional, Tempranillo e, entre as uvas brancas, destacam-se Chardonnay, Sauvignon Blanc, Pinot Griogio e Ugni Blan (Trebbiano).

183 Em 2009, a Miolo Wines integrou quatro empresas de produção em três regiões brasileiras:

Vinícola Miolo (Vale dos Vinhedos/RS), Projeto Seival Estate e Vinícola Almadén (Campanha/RS) e Vinícola Ouro Verde (Vale do São Francisco/BA), além da comercializadora Miolo Wine Group.

184 A Vinícola Salton adquiriu 700ha para o plantio de uvas em Sant‟Ana do Livramento (ENOEVENTOS, 2011).

A região da Fronteira da Paz é reconhecida como apropriada para o desenvolvimento de castas de uvas nobres (Gráfico 18). Para Ferreira (2005), as características edafoclimáticas foram os principais critérios motivadores à instalação dos vitivinicultores185 na região, cujo clima é seco no período de amadurecimento das uvas, e o solo e o relevo otimizam a qualidade da matéria-prima, tornando o produto final mais competitivo e valorizado.

Gráfico 18 - Dados absolutos da produção de uva em Sant‟Ana do Livramento-RS. Período de 1980 a 2010.

Fonte: Anuários Estatísticos, FEE; IBGE, 1971 a 2010.

Em entrevista, Moreira (2011) comentou acerca do cultivo de uvas: “Todos querem terra para plantar uva! Os “colonos186” estão cultivando uva de mesa e os produtores maiores cultivam a uva para fabricar vinho”.

Além de abrir novas frentes de trabalho e de expandir a escala de produção, é premente que as instituições, tanto as normativas como as de ensino, assumam o elo de impulsão da cadeia vitivinícola, oferecendo informações à sociedade com

185 Fornecedor de matéria-prima para as vinícolas (ENGELMANN, 2009).

186 Referindo-se aos assentados rurais.

vistas a preparar as pessoas às novas demandas por trabalho especializado, abrangendo, inclusive, todos os setores das atividades da agroindústria187.

Esse é um aprendizado que deve ser auferido pelas escolas técnicas, pois existe um nicho de trabalho que promete rendimentos de ordem social. Tal preocupação vem à tona entre as palavras proferidas pelo entrevistado, prof. Ângelo Sant‟Anna: “Em janeiro, há grande procura por mão de obra nas vinhas. Mas é sazonal. Observamos que essa mão de obra, sem preparação, vai para Vacaria colher maçãs”.

Considerando a relevância do setor vitivinícola para Sant‟Ana do Livramento, faz-se uma breve contextualização acerca da representação da Taxa de Especialização, cujo levantamento foi realizado em 2009 (MARQUETTO; MOTTA, 2010). Identificou-se que a vitivinícola impõe-se com uma Taxa de Especialização (QL) com indicação de 5,07, ou seja, bem acima do QL 1,5, típico do produto destinado à exportação. O cultivo da uva vinífera apresentou um QL 4,13 (nos municípios do entorno, o QL era abaixo de 1), cuja participação, na produção do Rio Grande do Sul, é de 41,63%.

De acordo com pesquisas realizadas na EMBRAPA (TONIETTO;

CARBONNEAU, 1999), os vinhos elaborados, nas safras de 1991 a 1994, com uvas provenientes de Sant‟Ana do Livramento, revelaram grandes diferenças de tipicidade dos vinhos da Serra Gaúcha, por apresentarem uma tonalidade rubi mais acentuada, menor intensidade de cor, menor acidez e menor adstringência.

Os indicadores da indústria do vinho apresentam o QL mais significativo para o Município de Sant‟Ana do Livramento. No triênio 2004/2006, o valor era de 21,04, o mesmo QL apresentado na Região da Campanha da qual Sant‟Ana do Livramento faz parte.

Esse é um setor multiplicador de trabalho e de renda, uma vez que envolve um leque de subsetores e abrange as produções primária, da cultura da uva; a secundária, do processamento do vinho; e a terciária, do comércio, turismo e energia.

187 Desde 2008, Sant‟Ana do Livramento possui o Curso Superior de Tecnologia em Agroindústria, Unidade da Universidade Estadual.

No documento LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (páginas 167-179)