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Modernidade no Brasil

No documento LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (páginas 84-87)

2 COEXISTÊNCIA ENTRE TRADIÇÃO E MODERNIDADE: UMA LEITURA

2.2 Modernidade

2.2.4 Modernidade no Brasil

A passagem do Brasil para a civilização moderna, iniciada após a independência, acelerou-se a partir da década de 30 e se completou na década de 80 prevalecendo a “ordem competitiva”, o capitalismo, o Estado racional-legal (mesclado ao neo patrimonalismo), formas de consciências individualistas e utilitárias, família nuclear e uma forte crença no progresso (DOMINGUES,1999, p.78). Para o autor, a modernização74 não significa romper com o tradicional, mas

73 Para Dumont (1985), o individualismo é uma alternativa metodológica para confrontar a marca da modernidade, que é o problema da relação entre indivíduo e sociedade, ou seja, a centralidade do indivíduo, o valor supremo do indivíduo, dadas a independência, a autonomia, a liberdade e a igualdade através de um jogo de espelhos referenciais de civilizações distintas, desprovidas de vocação individualista em que as castas na Índia foram pesquisadas para a compreensão deste individualismo como um valor moderno.

74 Em artigo publicado na revista Lua Nova a respeito da compatibilidade, ou tensão, entre modernização e modernidade. Para Norbert Lechner (1990) a modernização diz respeito ao desenvolvimento instrumental – previsibilidade, controle dos processos sociais e naturais - em contraposição à modernidade enquanto racionalidade normativa – autodeterminação política, autonomia moral. “A transnacionalização dos mercados e das inovações tecnológicas transformam a racionalidade instrumental na racionalidade predominante. [...] A modernização impulsiona uma integração transnacional que provoca a marginalização tanto de amplos setores sociais como de regiões inteiras.” A modernização é um critério ao desenvolvimento econômico, é um valor cultural aceito, é uma norma legitimadora do processo político. “[...] a marginalização decorrente aparece como mal menor, indesejado, porém aceito” (LECHNER, 1990, p. 75). Para o autor, a “América Latina somente superará sua posição periférica se alcançar os padrões internacionais impostos pela integração transnacional (Id., 1990, p.76). O dualismo pelo qual manifestam as sociedades da América Latina já não são o do tradicional-moderno (o setor tradicional tinha uma vida à parte do moderno), pois atualmente, “os setores excluídos compartilham do „modo de vida‟ moderno. São marginais, não por seus valores ou aspirações, mas em relação ao processo de modernização que, dado o peso crescente do fator capital (incluindo a tecnologia), é incapaz de integrá-los, gerando um desemprego estrutural” (Id., 1990, p.77-78). Lechner exemplifica que no Chile, na década de 80, a modernização (símbolo do bem-estar material) se impõe sem modernidade, ou seja, à custa da exclusão dos setores sociais estruturados à margem do mercado (desemprego) e da proteção estatal (serviços públicos). Acontece que, na época, o regime militar utilizava o cálculo técnico-instrumental das „vantagens comparativas‟ e inibia toda reflexão normativa sobre a reestruturação da sociedade.

renovar a modernidade aperfeiçoando as instituições, ou encarando-as de modo aberto e reflexivo, com o questionamento de seus valores e padrões de relacionamento social.

A teoria clássica e o pensamento social brasileiro não são suficientes para conceituar e teorizar as modificações e multiplicidade da modernidade. Entretanto, uma “teoria social contemporânea, com grande nível de generalidade e complexidade faz-se imprescindível” (DOMINGUES, 1999, p.82).

Oliven (2001) aponta para o fato de que existe uma ideia de que os acontecimentos que ocorreram no Brasil, em relação à modernidade, estariam em desacordo com o pensamento intelectual brasileiro. Para tanto, o autor mencionou o descaso das elites pela cultura brasileira tomando como um modelo de modernidade a ser alcançado, os valores oriundos das sociedades europeias e, mais recentemente, da cultura norte americana.

Para tanto, o autor observa a capacidade dos brasileiros em reelaborar o que vem de fora transformando em algo diferente e novo. Oliven (2001) exemplifica com o pensamento positivista, fortemente presente entre os intelectuais brasileiros do final do século XIX e início do século XX, do qual nutriu a ideia de progresso e alcance de modernidade.

No entanto, para intelectuais como Gilberto Freyre, a idéia de universalidade e progresso como algo benéfico não era condinzente. Oliven (2001) analizou a teoria de Freyre em que este exaltava os particularismos e regionalismos (ideia de tradição) em detrimento dos aspectos homogeneizadores, fortemente marcado pela modernidade.

À época da República Velha, para autores do pensamento social brasileiro, inclusive para políticos, concebia-se o Brasil como um lugar essencialemente possuidor de uma “vocação agrária” em que o fazendeiro e a fazenda se traduziriam em representantes nacionais legítimos. Na República Nova, a partir do governo em 1930 de Getúlio Vargas, observou-se o advento da industrialização. Mudança incipiente e que reelaborou os moldes da relação entre oligarquia e projetos de industrialização do governo Vargas, além de reordenar as relações entre capital e trabalhadores, por meio de uma legislação trabalhista (OLIVEN, 2001).

No período pós guerra, de 1946 a 1964, os debates giravam em torno da dependência do Brasil em relação ao capital estrangeiro, bem como problematizaram a questão nacional. Além disso, depararam-se aos debates em relação à modernidade e ao progresso na tentativa de vencer o subdesenvolvimento. Com o golpe militar em 1964 houve uma centralização em termos políticos, administrativos e econômicos, através de um emprenho em integrar o mercado nacional, para tanto, enfatizou-se a implantação de redes de estradas, a disseminação da comunicação em massa, entre outros aspectos. A esta época, o Brasil encontrava-se em situação de miséria extrema com elementos de progresso técnicos e de modernidade (OLIVEN, 2001).

O autor salienta que, no período de redemocratização do Estado brasileiro, a cultura passou a ter maior visibilidade, com a formação de movimentos populares reagindo contra uma tentativa de homogeneização cultural e preocupados com questões locais. Atualmente, o Brasil comporta um contingente urbano superior ao rural, em que os produtos manufaturados consumidos, em sua maioria, são produzidos dentro do território nacional.

Desta forma, Oliven (2001) salienta que uma característica do Brasil, é a capacidade de se apropriar de aspectos da modernidade que mais lhe interessa, adaptando a sua realidade, articulando o moderno com o tradicional, o individual ao holismo elaborando aspectos sociais próprios.

3 A DIFUSÃO DAS FORÇAS HEGEMÔNICAS A PARTIR DA GLOBALIZAÇÃO: O LOCAL, O GLOBAL E O ESTADO-NAÇÃO

Que voz vem no som das ondas Que não é a voz do mar?

É a voz de alguém que nos fala, Mas que, se escutarmos, cala, Por ter havido escutar (PESSOA, 2003).

Este capítulo versa acerca da globalização, seus efeitos e tensões procedentes das esferas do local e do global, bem como suas implicações enfrentadas pelo Estado-Nação, sobretudo após a descentralização de poder político-econômico, ou seja, da hegemonia bipolar entre o bloco soviético e o bloco norte-americano.

É um capítulo que se justifica pelo impacto gerado na sociedade santanense com a presença dos free shops em Rivera, cujos departamentos foram instalados a partir de acordos bilateriais, facilitados pela implantação da Zona de Livre Comércio.

Embora seja um fato social de abrangência regional, foi facilitada pela interatividade entre os países constituintes do bloco sul-americano (MERCOSUL), cuja estratégia converge às demais ações globais de impacto mundial que são providas pelo neoliberalismo.

Importa assinalar que a globalização é um fenômeno impulsionado pela modernidade e compreende relações de sucessiva mutabilidade crônica das circunstâncias e engajamentos locais (GIDDENS, 1997).

No documento LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (páginas 84-87)