• Nenhum resultado encontrado

Mas o esforço mais notável terá sido o de recuperação da jurisdi ção que os Senhores,laicos ou eclesiásticos,tentavam usurpar,no interior

dos respectivos Coutos e Honras. Esse esforço foi mais visível a partir

dos inícios do século XVII,incrementado pelos agentes régios,e perdurou

atê ao fim do período aqui estudado.Não ê verdade que em Novembro de 1640

a Câmara acusava D.Francisco de A

ta

íde de posse ilegítima da Honra de

-8*f-

0 resultado mais espectacular dessas diligências terá sido a con- quista da jurisdição dos doutos de Roriz e de Leça.Tal êxito traduzirá uma reafirmação do poder municipal na ultima década do domínio filipino?

Pensamos que não.Kas reservamos o tratamento dessa questão para a

3a parte deste estudo.

*f- 0 espaço urbano e suburbano

Voltemos agora a nossa atenção para o espaço urbano.

Aqui há que distinguir o território de dentro de muros e aquele que ficava fora de Portas, Quanto ao último, a linguagem utilizada nos Livros da Câmara reserva o termo "arrabalde" para as duas freguesias que imedia- tamente rodeavam a cintura amuralhada: Santo Ildefonso e Miragaia.

Os arredores da Cidade, Cedofeita, Campanhã e Paranhos constituíam Coutos sendo o primeiro da Colegiada de Cedofeita e os últimos da Mitra.

Campanhã, Santo Ildefonso, Cedofeita e Lordelo do Ouro integravam, por outro lado,o chamado Termo Velho da Cidade que gozava de algumas re- galias fiscais,(67)

0 burgo propriamente dito era constituído naturalmente pelo espaço circunscrito pela linha das muralhas.(68)

Não vamos aqui descrever a cintura dita fernandina de aue ainda restam fragmentos bem viéíveis ; na verdade ê assunto sobre o qual muitos autores antigos e modernos se debruçaram.(69)

Não devemos,no entanto, deixar de aludir às Portas principais que se abriram ao longo da muralha através das quais se processava todo o mo- vimento de pessoas e bens, Eram elas:

- Porta da Ribeira, na Praça do mesmo nome;

- Porta de Cimo de Vila, junto a Nossa Senhora da Batalha; - Porta de Carros, nas proximidades do Mosteiro da Ave Maria; - Porta do Olival, voltada para a Cordoaria Nova;

- Porta Nova (ou Nobre) na entrada de Miragaia.

Para além destas, segundo Novaes, havia ao longo da muralha mais 12 postigos - número que alguns autores consideram exagerado.(70)

Durante o período filipino, a cidade conquanto tivesse várias tor- res enxertadas nos muros (71) não contava n-nhum castelo.(72)Mas, para me- lhor se defender das hipotéticas arremetidas de corsários ingleses foi e- dificado junto à Porta Nova,em 1589, por ordem de Filipe II, um pequeno baluarte a que se chamou de S.Filipe.(73)

-8

5

-

k.l - A divisão paroquial

Até I583, toda a area constituiu urna única freguesia.Vários bispos se haviam dado conta da conveniência do desmembramento pa- roquial mas sempre surgiam dificuldades e oposições quer do Cabi- do da Sê que temia diminuição de rendas e privilégios quer da go- vernança da cidade a quem assustava a hipótese de -acréscimo su- bstancial das contribuições que previsivelmente o sustento das no- vas igrejas acarretaria.

0 Bispo D. Frei Marco? de Lisboa, humilde por nascimento e pobre por convicção e prática de vida, aproveitou o tempo propí- cio a reformas que a subida de Filipe II ao trono de Portugal sus- citara ( o Porto começara a senti-lo desde cedo com a transferên- cia da Casa do Cível para esta cidade) e, em breve, logrou vencer os tradicionais obstáculos, não sen ter sido obrigado a compromis- sos e encargos que, no futuro, não raro, custou honrar. Assim,à Câ- mara e ao Povo, o Prelado garantiu que não os sobrecarregaria com qualquer imposição extraordinária para a sustentação dos novos pá- rocos e fábrica das respectivas Igrejas.(745

E nao bastou a palavra episcopal.Nesta época o documento, o papel escrito era o recurso supremo, às vezes único, para legitimar o exercício de cargos ou para exigir o cumprimento de compromis- sos. (75) Assim, Frei Marcos de Lisboa teve que celebrar escritura pública pela qual se estipulava que os encargos com a fábrica e ornamentação das Igrejas paroouiais e com o sustento dos curas correriam por conta da Mesa episcopal. E se algum dia, no futuro; próximo ou longínquo, os Bispos faltassem ao compromisso, ficariam os paroquianos das novas circunscrições automaticamente autoriza- dos, sem incorrer em excomunhão, a regressar à Igreja-Mãe, a qual, para além das contribuições tradicionais e obrigações de pê de altar, nada ou pouco mais deles recolhia. (76* )

Ao Cabido, o Bispo manteve precedência nas grandes festivi- dades da cidade e em seu favor subscreveu cláusulasque mantinham intactas as oportunidades de arrecadação de proventos devidos por actos de culto: por exemplo, garantia-se que a Coraria da Sé seria

-86-

charnada para qualquer ofício festivo ou de defuntos nas novas paróquias antes de o serem as dos mosteiros da cidade.(77)

Assim, vencidas objecções e embargos, o Bispo dividiu a cidade em quatro freguesias, a saber: Sé, S. Nicolau, Nossa Senhora da Vitória e S. João vde Belmonte.

Todos os autores antigos e modernos,dos quais destacamos o Pe. A- gostinho Rebelo da Costa (que terá sido o primeiro),(78) são unânimes em afirmar que a freguesia de S. João de Belmonte foi extinta em 1592, quan- do o Bispo D, Jerónimo de Meneses entregou aos Eremitas de Santo Agosti- nho o templo do mesmo nome.(79)

Porém, à face da documentação, tal afirmação que, a nosso ver, terá resultado da ligação errada estabelecida entre a introdução daquela Ordem e a suspensão da Paróquia, deve ser questionada e contestada.E o Bispo que decretou a abolição foi, não D. Jerónimo de Meneses mas D. Gonçalo de Morais em 1604.

Quais os argumentos que balizam a nossa afirmação?

is- 0 Pároco da Vitória ao elaborar, por ordem do Bispo, o inventário das alfaias da sua Igreja, refere uma "custodia de prata dourada que deu o Senhor Bispo que ficou da freguesia de Santo. João de Belmonte que o Senhor Bispo destinguio neste anno de l60jf que esta em meu poder".

oa n . , ,

(80)

2S- 0 primeiro e único Pároco de S. João de Belmonte, Pe. Gonçalo Vieira, aparece-nos várias vezes nos Registos Paroquais das outras freguesias, para além de 1592, sempre na aualidade de Abade de S. João de Belmon- te; assim em 1593 em S. Nicolau (8l) e na Sê, (82), 1595 na Vitória(83), 1602 na Sé (84). e na Vitória (85)0

32- Nos registos de Baptismos.das restantes paróquias aparecem padrinhos a residir em ruas da freguesia de Belmonte e isso é dito expressamen- te no assento: "Ferraria, da freguesia de Belmonte" (1602) (86);"01i- vesaria, freguesia de S. João" (l600) (87); "Ferraria, freguesia de Belmonte" (I603) (88).

4Q -A partir de Fevereiro de 1604, pela primeira vez, as ruas da antiga freguesia de Belmonte aparecem referidas como sendo da Vitória:Ferra- n a Nova, S. Domingos, etc. e não mais se mencionam a freguesia ex- tinta.

-87-

premente desde 1596, altura em que a guarnição militar castelhana terá .deixado a cidade e a zona da Porta do Olival. Com efeito, a partir des- sa data deixam de aparecer pais e padrinhos soldados, de nome claramen- te espanhol e o número anual de baptismos desce sensivelmente.Que o sí- tio havia sido despovoado emvirtude da sua ocupação pelas tropas estran- geiras, torna-se evidente pela escolha do local para a implantação da no- va casa da Relação em l607: um dos argumentos invocados pela Câmara era que o bairro fora outrora semeado de casas nobres e ficara degradado a- pós a instalação dos militares. A nova obra contribuiria para que o lo- cal voltasse a ser procurado para construção de habitações.(89)

De qualquer modo e, não obstante não possuirmos qualquer livro de Registo Paroquial da freguesia de Belmonte, podemos afirmar que a paróquia teve culto organizado e vida sacramental própria pois, nos assentos das demais freguesias, não constam, entre I585 e l604, pais oriundos das ruas constituintes da paróquia em causa.

Quais os critérios que presidiram ao traçado de cada freguesia? 0 documento episcopal que oficializou as novas circunscrições es- tabelece apenas a necessidade fundamental que levou ao desmembramento; população excessiva para um sô Pároco e, em consequência, deficiências e falhas na cura das almas e administração dos sacramentos.(90)

Não refere, pois, os critérios que levaram à adopção daquele traça- do. Mas uma reflexão sobre as ruas que compunham cada freguesia, leva-nos a sugeiir o seguinte:

1Q - não foi primordial a preocupação de distribuir equitativamente a po- pulação pelas diversas freguesias, pois os numeramentos conhecidos atribuem à freguesia da Sê mais de metade de toda a população resi- dente intra muros.(91)

2Q - Os critérios de natureza geográfica sé em parte foram preponderantes. Com efeito, o rio da vila que, descendo por entre vimeiros acima das Hortas, corria a descoberto pelas actuais ruas de Mousinho da Sil- veira e de S. João, não constituiu limite de freguesia,como seria ló- gico não obstante o seu insignificante caudal.Mas as elevações da Sé, da Vitória e de S. João Novo, foram referenciadas como núcleos das freguesias a criar.

3Q - Parece terem sido decisivas na definição dos polos do novo traçado

-88-

Assim, a freguesia da Sé irradiaria da vetusta catedral e, como ma- triz, devia conservar parte substancial dos moradores bem como duas das mais importantes e aristocráticas artérias: a Rua Chã (outrora Rua Chã das Eiras, que ficava entre a Porta de Vandoma da primiti- va cerca e a Rua de Cimo de Vila) (92) e a Rua das Flores ou de San- ta Catarina das Flores, rasgada por ordem de D. Manuel por entre hortas e jardins episcopais que no sitio havia e tendo como limites a Praça de S. Domingos (em frente ao Mosteiro do mesmo nome) e o Terreiro de S. Bento (defronte das Beneditinas do Convento da Ave- -Maria) (93)

A freguesia de S. Nicolau teria o seu centro na movimentadissima Praça da Ribeira ou Praça simplesmente, como se dizia na época, vasto re- cinto quadrado situado em frente da porta do mesmo nome.A Igreja paroquial estava implantada era zona ouase periférica, mas junto a uma rua tão larga que, durante o período filipino(e certamente depois)era entaipada 3 vezes no ano para servir de praça de toiros da cidade.(9*0 Era a Rua Nova ou Rua Formosa, como gostava VJ.G -une chamar ±y. voao ±. que a mancara cons.t^ruxr nos fins do século XIV - princípios do século XV, entre o Padrão de S. Francisco e a Rua dos Mercadores.

Quando foi extinta a Paróquia de Belmonte e anexada parte dela à freguesia de S. Nicolau, o Templo achou-se em posição mais equidistante.

A Paróquia de Nossa Senhora da Vitória teria como polo um local de grandes tradições religiosas.Efectivamente naquele morro os judeus do Por- to haviam construído outrora a sua sinagoga.(95)

Finalmente, S. João de Belmonte correria a partir da Praça o Rossio do mesmo nome (96) e incluiria no seu perímetro a importante Rua de Bel- monte com seu Padrão.

Uma primeira alteração a este traçado inicial deu-se, como vimos, cerca de 20 anos depois de ser estabelecido,com a extinção da paróquia de S. João de Belmonte, tendo o seu território sido integrado nas duas freguesias vizinhas de S. Nicolau e da Vitória.

A partir de então, tirando o arredondamento de I838 - l8*fl (97) a divisão paroquial no espaço intra muros não se alterou, nas suas linhas gerais, até aos nossos dias.

-89-

^.2 - Praças e locais de lazer

Como qualquer cidade europeia da época, o Porto procurou manter es- paços livres de fruição pública a aue chamavam Praças ou Rossios os quais, tal como hoje, se destinavam a encontros, a lazer e a actividades comer- ciais.

Assim, em frente das principais Portas da cidade, do lado exterior mas especialmente do lado de dentro, procurava-se deixar livres grandes áreas, antes de mais por razões pragmáticas ligadas com o movimento de carros, cavalgaduras e pessoas,de dentro para fora e no sentido inverso.

0 mais importante desses Rossios era a Praça da Ribeira â qual dia- riamente confluía gente de todos os pontos da cidade e dos arrabaldes pa- ra comprar e vender produtos de consumo corrente,como veremos.Era aí que se arrematavam anualmente as sisas e as rendas do Concelho e também lá tinha a sua sede a Almotaçaria da Cidade.

Mas as outras Praças, da Porta do Olival, da Porta de Cimo de Vila e da Porta de Sarros, cada uma à,sua maneira, tinham grande importância no desenvolver da vida quotidiana da urbe. 0 rossio do Olival foi ocupa- do durante os primeiros anos de domínio filipino quase exclusivamente pela guarnição militar estrangeira aue o Rei quis manter na cidade.Fei- ção algo semelhante coube, por períodos curtos, à zona da Porta Nova de Miragaia, posto avançado da prevenção de ataques militares.Mas a Porta Nova não deixou de ser considerada e utilizada como a Porta Nobre.E a construção da nova Relação nas imediações da Porta do °lival desmilitari- zou definitivamente o local,valorizando-o de forma assinalável.A curto prazo,dada a comodidade que oferecia,tornou-se o local preferido pelos Magistrados para estabelecimento de residência.

Da parte de dentro da Porta de 0a r r o s abria-se um magnífico Ter-

reiro, limitado pela frontaria do hosteiro beneditino da Ave Maria.Nele

semanalmente se realizava a feira da Cidade.

Finalmente tanto a zona de C im o de Vila como a do Olival,dentro e

fora de Portas,desde muito cedo foram dotadas de infraestruturas para acolher os transeuntes.Tanto numa como noutra abundaram estalagens com camas e mesa,como veremos.

No miolo da cidade,quase todos os Mosteiros e Igrejas voltavam as

suas portas para pracetas mais ou menos espaçosasrassim,junto às Bene-

-90-

da Rua das Flores,a Praça de S.Domingos,com seu chafariz^junto aos Graci-