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0 primeiro obstáculo procedia da própria natureza:ê que a barra do Douro,desde remota antiguidade,oferecia perigos para a navegação.Não eram

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Cora efeito,já em 1551 se dizia que a barra era muito perigosa de entrar e sair e que não obstante ser a principal entre Lisboa e a Galiza,

aí pereciam muitos homens.(3)Frequentemente lá se desmantelavam e despe-

daçavam navios.

Tais dificuldades eram habilmente utilizadas pela Câmara como argu- ment» contra as tentativas régias de onerar os produtos:em l6l9,quando o Monarca pretendeu obrigar as mercadorias que viessem por mar e nao fos- sem de selo a pagar sisa separada a recolher pela Alfândega,o Senado ob- jectou que tal lei seria perniciosa -pois a cidade precisava de ofere- cer aliciantes aos mercadores estrangeiros precisamente para compensar os obstáculos da barra: era "tão roim barra" que "nem os naturaes sabem entrar por ella sem pillotos da terra muito experimentados por resão da muita estreitesa da dita barra e da muyta variedade que cada dia fas com o cresimento e demenuição das aguas do douro".Por isso mesmo,acrescenta- vam os oficiais com exagero,às vezes um navio tinha que esperar k e 5 me- ses por maré favorável..^)

Ha, de resto,notícias relativamente freauentes de nauMnosíass-!-? a título de exemplo,só em l628,com poucas semanas de distância,se perde-

ram 3 naus, uma das quais procedente do £>rasil.(5)

para resolver o problema,desde cedo a Câmara do Porto organizou um

serviço de pilotos da barra,recrutados entre os mais experimentados ho- mens do marque garantiam a entrada no leito fluvial em boas condições.

Sem aprovação do Senado,nenhum mareante podia ai exercer o ofício.

Embora fossem vários os aprovados - entre 5 e 10 permanentemente- às vezes descuidavam-se,não apareciam para cumprir a obrigação de guiar as naus estranhas e,de duas uma:ou o Mestre do navio arriscava e entrava sem guia mas,não raro,naufragava (6),ou,talvez nais frequentemente ia-se embora sem descarregar,com os prejuízos decorrentes para os mercadores e comércio da cidade.(7)

A Camará,como lhe competia,procurava manter a instituição dos pilo- tos da barra no mais apurado estado funcional,tendo mesmo aprovado em 1623 um curiosíssimo Regimento em que § prescrito um conjunto de opera- ções a observar e desenvolver pelo piloto,tanto na entrada como na saída da barra.Ficamos a saber,por exemplo,que a entrada das naus exigia coor- denação de esforços desenvolvidos simultaneamente por parte do piloto

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que subira para o navio como por parte dos seus colegas que,de terra,lhe forneciam indicações adequadas.(8)

Desta forma,garantia-se o tornear das dificuldades procedentes da estreiteza da barra.

2.2 - Os problemas postos pela pirataria

0 2° obstáculo era conjuntura] mas extremamente desgastante e,nessa medida,muito pernicioso;a pirataria.

Hao foi obviamente a união das Coroas que provocou o aparecimento da pirataria e do corso contra os navios e costas lusitanas.Mas terá con- tribuído indirectamente para que o flagelo se agravasse.De facto,tornan- do-se cada vez mais críticas as relações de Espanha com a Inglaterra e

os Países-Baixos,natural ê que a hostilidade daqueles ^einos para com os

Austrias se voltasse contra as posições lusitanas tanto como contra as de Castela.Além disso,a expulsão dos Mouricos de Espanha em l609-l6l4 e

o seu refúgio no Norte de A fric a suscitou da parte destes ódio vindicati-

ve cora o consequente incremento da pirataria berbere,extensiva às costas portuguesas.(9)

l4ultiplicaram-se,por isso,na documentação as queixas acerca dos

prejuízos causados pelo corso às actividades comerciais.sempre que o Po-

der planeava agravar as contribuições,mais uma vez se aproveitava o ense-

jo para desfiar a ladainha das lamentações contra os "cossairos".ASsim

aconteceu,como vimos atrás,em l607 nos termos que ficaram transcritos. As queixas sao retomadas em 1Ó23.A pirataria,além de impedir as ac- tividades piscatórias normais.dificultava bastante a navegação,causando perdas substanciais e deixando a cidade "em miserável estado" como,de no- vo com algum exagero,se afirma.(10)

Poderíamos multiplicar as transcrições de textos enviados à Corte em que a tónica permanece a mesma:a prosperidade económica da cidade de- pende da actividade marítima e do comércio por ela canalizado.Se esta por causa das ameaças do corso (ou por agravamento dos encargos sobre os mer- cadores) é travada ou dificultada,logo a Governança dava o alarme.

Nao admira,pois,que tanto o poder local como a Administração central

tentassem proteger as costas marítimas dos ataques da pirataria e garan- tir a segurança dos mares contra as investidas do corso. Não raro como

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gurada ainda que precariamente pela iniciativa local,com prejuízo das actividades agrícolas.Proteger a mercancia era a prioridade das priori- dades.

3 - 0 Porto,cidade de mercadores

A actividade comercial era exercida por uma substancial mas hete-

rogénea franja da população que ia desde a mulher que na praça da Ribeira

ou calcurreando as ruas da cidade vendia a retalho as castanhas e a fru- ta, os legumes e as hortaliças,a sardinha e o polvo seco até ao grande ne- gociante com ligações internacionais bem firmes.

3.1 - Tentativa de distinção entre os diversos grupos de pessoas dadas à mercancia. 0 interesse dos mesteirais nos néscios A alguns destes convêm o título de mercador ou homem de nego- cios;a outros ficava mais adequado o rótulo de marceiro,tendeiro ou ven- deiro; os mais nao passariam de regatões ou regateiras.

Dentro do grupo dos mercadores deveremos distinguir ainda

A destrinça impõe-se porque não só os distinguia a rede de li- gações internacionais que cultivavam e o volume de capital envolvido no negócio mas também o próprio estatuto social. Quanto às ligações com o

estrangeiro,citemos um caso:-Diogo Henriques,mercador do -korto era sobri-

nho de Manuel Henriques, residente em Antuérpia e tinha urn primo em

Roma.Por sua vez,Manuel Henriques era primo de Simão Vaz,mercador do Por-

to e cunhado de Francisco ^endes,também do Porto. por outro lado,Jorge

Fernandes estava ligado aos Xim e nes de Antuérpia e de ^olónia.(li)

Ho respeitante ao volume de capital e ao estatuto social,re- cordemos o seguinte episódio:em 1578 a Vereação, do Porto quis obrigar os mercadores de sala a darem sua "invenção" para a procissão do Corpo de Deus. Estes, através de Anrique Dias e Manuel Nunes, tentaram recusar de- clarando que, sendo mercadores de sobrado, tratavam em mercadorias gros- sas por mar e por terra para Castela, Brasil, S. Tomé, Flandres e outras partes em oue investiam quantias entre 3.000 e 6.000 cruzados.Além disso, reivindicavam o estatuto de homens honrados, vivendo segundo a lei da nobreza. S o facto de não terem lojas abertas devia dispensá-los do ve- xame que significava quererem obrigá-los a representar o rei David na

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procissão .Aliás,Lopo Nunes Vitória,um da sua igualha,fora dispensado precisamente por não ter loja aberta.(12)

A verdadeira razão pela qual estes mercadores queriam ser liberta- dos era porque,para eles representar uma figura bíblica do Antigo Testa- mento era motivo de humilhação pelo facto de serem cristãos-novos.

Por seu lado,os mercadores de loja foram também compelidos pela go- vernança a fornecerem uma alegoria no mesmo cortejo religioso.Ora,como também nesta categoria havia muitos cristãos-novos,estas contestaram com igual veemência a decisão camarária,nao já alegando o volume dos seus ne- gócios mas a humilhação pública que tal significaria.(13)

Outras distinções entre mercadores aparecem sancionadas nos Livros oficiais.Assim com base no ramo de negócio,os Escrivães distinguem clara- mente: - mercadores de sedas e panos

- mercadores de vinhos - mercadores do Brasil - bacalhoeiros

- saleiros (l4)

Supomos que aos mercadores de pão,de materiais e de equipamentos se chamava siraplesmente"mercadores".

No entanto,como veremos,tirando talvez o caso dos vinhos ( e mesmo este conhece excepções) era raro que um mercador se dedicasse a um só produto.Por isso,esta classificação,apesar de apoiada pelos documentos, apresenta alguma ambiguidade.

Outra distinção aparece baseada em critérios qualitativos:assim fala-se de "mercadores estrangeiros,casados e residentes" diferençando- -os dos nacionais.Do mesmo modo,havia mercadores cidadãos e outros que nao o eram.

Uma segunda categoria de pessoas dadas à mercancia seria constituí- da pelos tendeiros,marseiros e taberneiros.A eles julgamos poder juntar os estalajadeiros e os que "davam de comer e beber". E ainda,de acordo- com as sugestões daslistas dos contribuintes para as fintas de 1639 e 1640 (l5)deveremos arcescentar-lhes os canastreiros,os agulheiros,os livreiros e boticários,os azeiteiros e paneleiros - os quais,no fundo, integravam o grupo dos tendeiros.

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taremos o das padeiras,dos medidores de pao do terreiro e das contadei- ras de sardinha.

Nao deveremos ignorar um numeroso grupo de homens pertencentes ao mundo dos Mesteres e até das profissões liberais que,para além do seu ofleio,procuravam granjear proventos suplementares mercadejando com pro- dutos de venda fácil,como o vinho e o açúcar.

Vê-lo-emos quando tratarmos do vinho.E quanto ao açúcar são mui- tos os manifestantes do produto na Alfândega que aparentemente nada ti-

nham a ver com o seu negócio.Baseando-nos nos livros de Redízima,do es-

pólio do Gabido,conservado no Arquivo distrital do Porto,elaboramos uma

lista de manifestantes relativa a 158^,1585,1591 e l639.Dela constam: - 3 tanoeiros - 3 barbeiros - 2 sirgueiros - 2 ourives - 2 sapateiros - 2 caldeireiros - 1 pintor - 1 cabeiro - 1 ferreiro - 1 calafate - 1 imaginário - 1 confeiteiro - 1 alfaiate - 1 livreiro - 2 médicos - 1 fidalgo - 6 Mestres de navio

Com excepção dos Mestres de navios,trata-se de pequenos manifestan- tes que,para além dos consumos domésticos,procuravam obter lucros na transacção do produto.Mas a mercancia nao constituía para eles activi- dade principal.

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3*2 - tentativa de quantificação dos mercadores e pessoas dadas à mercancia

Será possível quantificar estas diversas categorias de pes- soas ligadas ao comércio?

Comecemos pelos que designamos de mercadores.Em 1578,aquando das demandas surgidas pelo facto de os ^ereadores pretenderem coagir os mercadores de sala e de loja a contribuirem para as figuras da procissão, alegava-se nas declarações da Câmara que na cidade "havia tanta quanti- dade de mercadores que despois da cidade de Lisboa não havia houtra onde ouvesse tantos mercadores..."(16) % i s abaixo afirma-se mesmo nue o seu número excedia os 300.

Que dizer desta cifra?Exagerada?

^e facto,nenhuma lista das que conhecemos referentes a este perío- do se aproxima deste número.0 quadro dos que manifestaram maior volume de mercadorias na Alfândega do Porto que elaborámos com base no valor da dízima que pagaram,regista uma quantidade muito inferior àquela:somando os nomes dos anos próximos de 1584,1585 e 1591 nao obtemos mais que 51 indivíduos.

Bem sabemos que o rol assim confeccionado nao ê exaustivo,pois,por

exemplo,António ias,de S.Domingos e 0riE t o vão Alvares da Rua de S.Miguel,

dela foram excluídos por nós por apresentarem registos de pequena impor- tância e,no entanto,são considerados noutra fonte como "mercadores de so- brado".(17)

Por outro lado,entre 1590 e 1602 (ver mapa anexo) foram processa- dos pelo Santo Ofício nada menos de Zh portuenses identificados como "mer- cadores" - o que nos leva a admitir que a totalidade dos colegas era bem mais elevada.

Poderemos acrescentar que o rol dos mercadores encarregados de,em 1625,importar armas da Biscaia é composto por k^ elementos,entre nacio- nais e estrangeiros e,ao que parece,nem os cidadãos nem os familiares do Santo Ofício foram isentos.(18)

Estas indicações poderão apoiar a suposição de que o número adian-

tado pelos vereadores em I578 era exagerado?Talvez não.O que talvez de-

vamos admitir ê que o seu número baixou devido às perseguições de oue os cristãos novos foram alvo às quais aludiremos.Mas isso não quer dizer

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que o volume das mercadorias tenha diminuído.

Por outro lado,os residentes no Porto que trataram em vinhos entre 1620 e 1640 (excluímos os que apenas esporadicamente manifestaram pipas)

andavam perto dos 100.Se lhes juntarmos os 43 nomes de indivíduos que

pagaram grossas quantias de dízima na Alfândega em 1639 mais os merca- dores de pão e retalhistas de panos e outras mercadorias (mercadores de

loja),teremos que o número de mercadores do porto no fim do período fi-

lipino ultrapassava as duas centenas,tendo talvez sido maior no início do mesmo período.

E quanto aos marseiros e tendeiros?

Este grupo,se nele incluirmos os taberneiros,era muito abundante. Efectivamente,os autorizados em I606 eram 60,sendo 53 em l628.(l9)Mas as casas autorizadas a vender vinho ( e outros produtos) em 1604 eram 85 (20) e 102 em 1621.(21)

Quanto a marseiros,as fontes documentais fornecem-nos rois dos que,

em 1625 e I639, foram obrigados a possuir pólvora para venda:40 e 34,res-

pecta, vãmente. v 22/ Azeiteiros er-am 48 em 1590 (23) e 31 em ib04 (24(.

Perante estes indicadores será exagerado calcular o número dos des- ta categoria acima dos 256? Parece-nos que não.

Resta-nos o grupo dos regatões e regateiras.difícil de destrinçar relativamente a algumas franjas do grupo anterior.

Direraos que só em l6o4 foram emitidas I36 licenças de venda de pei-

xe e fruta,fora os 74 postos de venda existentes na zona da rraça da

Ribeira e suas imediações.A quantidade aumentará se lhes juntarmos as contadeiras de sardinha e medideiras de pão ( 29 em 1604) e as vendedei- ras ambulantes de castanha.Julgamos,pois,cue o seu número ultrapassava as 3OO.

Se os nossos cálculos não pecam,teríamos que no Porto mais de "00 famílias desenvolviam actividade ligada ao comércio,em pequena ou grande escala.Será muito?

De qualquer modo,estamos muito longe dos 800 mercadores de sobra-

do e dos 5.000 mercadores e donos de oficinas e "logeas" que 3randão de

Buarcos aponta para a cidade de Lisboa na segunda metade do século de Quinhentos.(25)

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3.3 - A redízima eclesiástica cobrada na Alfândega do Porto e o seu contributo para o conhecimento da mercancia

0 estudo da actividade comercial da cidade não pode dispensar o con- tributo das fontes alfandegárias.Não que elas contemplem todas as merca- dorias que se transaccionavam,mesmo não considerando já as que entravam pelos caminhos ínvios do contrabando.Alguns produtos importados por via legal e à luz do dia não aparecem nos documentos:ê o caso,por exemplo,do cereal trazido por estrangeiros em primeira mão - o qual não pagava di- reitos alfandegários.(26)

Mesmo assim os registos rlfandegários,se descobertos e trabalhados, fornecerão óptimas informações sobre mercadores e mercadorias, sobre o volume e valor das importações,sua proveniência,etc.Neste aspecto,a con-

jugação com outras fontes,como os Livros das visitas de Saúde por-erá mos-

trar-se preciosa.

Mas infelizmente os Ar q uiv o s <ja Alfândega do porto mostram-se com-

pletamente vazios de documentação'rplativa à época por nós estudada.Exis- tirá algures?Em Lisboa?

N0 entanto,como foi dito,no Arquivo ^istrital do Porto,nos fundos

do Cabido,encontram-se preciosas cópias dos Livros da Dizima da Alfânde- ga (uma vez que à Mitra e Cabido cabia a redízima) em série quase comple- ta a partir da Restauração.

Relativamente ao período filipino apenas possuímos registos para os anos de 1584,1585,1591,1639 e 1640 - mas os dois primeiros encontram-se truncados:para 1584 não temos mais que 7 meses cobertos e para I585 so- mente 9 meses.(27)

Analisámos aturadamente os códices referidos e algumas conclusões se nos impuseram.Ei-las:

12 - o número absoluto de manifestantes diminuiu notavelmente entre 1585 e I59I. De facto foram 152 as pessoas que manifestaram mercadorias nos 7 meses de 1584,número que aumentou para 163 nos 9 meses do ano se- guinte.Ora as cifras desceram para 119 em 1591.

A diminuição verificada pode ser explicável pelo medo do corso in- glês:sabemos que em 1591 Diogo Anriques não pode dar execução a uma en-

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ques,de Antuérpia,precisamente devido ao corso inglês.(28)

Mas os resultados de I639 traduzem recuperação:133 pessoas apresen- taram-se a declarar produtos.

Todavia,mais importante que o número dos manifestantes ê o volume das mercadorias manifestadas e o valor da dízima cobrada.Ora aí não há quebras sensíveis,como se poderá verificar pelo quadro .Pelo contrá- rio,de 1591 para I639 triplica o valor cobrado pela dízima.

Gomo explicar tal crescimento?

Nao foi certamente devido ao aumento de taxas porque,estas,na g e - neralidade nao sofreram alteração. Parece-nos que o progresso se deveu:

-primeiro,ao maior volume de importações.canalizadas na sua maior parte por mercadores estrangeiros;

-segundo,ao lugar importante ocupado pelo bacalhau.Em 1591 entra pouca quantidade e está na mão dos flamengos.Em l639,as quantidades são incomparavelmente mais elevadas e os ingleses dominam o ramo;

-terceiro,mostra-se diferente o volume do açúcar proveniente do Brasil: enquanto em 1591 se haviam registado 11-786 arrobas om I Ã ^ Q ,• festaram-se 17.7^0»

Em suma,em 1Ô39 há maior dinamismo na Alfândega.Parece,pois,con- f i r m a s s e no que respeita ao Porto a tese de Jaime Cortesão segundo a

qual,não obstante as perdas e prejuízos infligidos pelos holandeses ao trato açucareiro,Portugal conheceu um período de prosperidade e ressurgi- mento da marinha mercante - quanto a nós ,mais visível no trato açucarei- ro - ò qual coincidiu com o reinado de Filipe IV.(29)

2°- - a percentagem de pessoas que manifestam exclusivamente açúcar § notável,Vejamos :

em 1584 são 90 pessoas - 5 9 , 2 % em I585 " 75 » _ ^o/o

em 1591 " if3 " _ 36,15 em I639 " 56 » _ Íf2 1/

E obviamente o valor do açúcar no conjunto das receitas da dízima ocupa lugar de destaque:

em 1584 preenche 2 5 % do total das receitas em I585 " 3 5 , 5 % » » em 1591 " 3 5 % " ii em I639 " 1 6 , 5 % " " I o/ L/5 1 0/ I/O

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Como vimos,a diminuição em I639 da percentagem no conjunto das re- ceitas da dízima nao significa quebra em valores absolutos,relativamente a 1591,mas admitimos que ela se tenha verificado em relação aos anos que precederam imediatamente a perda de Pernambuco - para os ouais não pos- suímos dados.

3Q - 0 Brasil desempenha papel de primeira grandeza no progresso

económico do burgo.Os produtos coloniais à frente dos quais colocámos o açúcar e depois o pau-brasil,o tabaco,os couros constituíam oferta in - teressante para o escambo com os estrangeiros.

Em contrapartida,a colónia sul-americana apresentava-se como exce- lente mercado para a colocação de produtos produzidos no Keino,tais como o vinho,azeite,algum cereal e dos que,procedentes da ^uropa,para lá eram rexportados:têxteis,ferramentas,equipamento,etc.

Esta ligação profunda foi percebida por Madrid quando,em I635,ten- tando estimular as gentes e os governantes do Porto a comprometerera-se no auxílio à recuperação de Pernambuco,afirmava: » quoanto menos frutí- fera dizeis que he essa Cidade e seus arredores tanto mães necesidade tem do comercio do Brasil,cuja navegação he mães façil e abreviada,e também mães proveitoza,pello que se ganha nas fazendas ainda e nos retornos del- ias por cuja saida trazem os estrangeiros a essa Cidade outras mercado- rias com que se sustenta o negoçeo que fez essa cidade riqua e abastada".

por isso,no entender do monarca,a perda de Pernambuco trazia au-

mento^da pobreza de "todo este Reyno e dessa cidade em partecular por

ser tao dependente do Co m erçio daquellas partes..."(30)

kQ _ Os Livros da «edízima,completados com informaçSes contidas no único livro de Visitas de ^aúde que nos ficou relativamente ao período

aqui estudado (3l) - informaçSes sobre mercadorias e sua proveniência -

indicam-nos os principais vectores das ligaçSes do ^orto com o exterior. Assim,da Inglaterra vinham-nos os têxteis e o bacalhau»

da França,os cereais (trigb e centeio),o papel e miudezas; da flandres,armas e muniçSes,livros,cereais,artigos para a

construção naval;

da Biscaia,metais,armamento e artigos para tanoaria;

da Galiza,madeiras e pescado;

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Acrescente-se que,no entanto,nem todo o pano transaccionado na ci- Sade procedia do estrangeiro : em 1599 registava-se a entrada de peças e

estamenhas de Portalegre,de panos de ^ouveia e da Serra.(33)

50 - A ligação com os países da -Europa obedece um pouco ao ritmo das vicissitudes politicasra partir de 1585,depois do desencadear das acções de corso por parte da Inglaterra,nao encontramos praticamente li- gações directas com este país;os mercadores britânicos desaparecem dos registos para voltarem aaparecer ainda na 12- década do século XVII,apôs o tratado de paz entre os dois Reinos.E no fim do período filipino,o