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livre vinho dos Ter ços a 7 reis

VINHO VERDE

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4 . 2 - 0 sumagre

Segundo N0vaes,para além do vinho,o Porto exportou outros produ-

tos durienses tais como azeite,cera e-.ael, fruta variada (maçãs ,peras , pêssegos,castanhas,nozes,avelãs,pinhões,laranjas e limões),lenha e car- vão, tabuado para navios e ainda produtos coloniais já referidos.

Para além desses,ainda segundo o mesmo autor,pelo Douro era expor- tado muito sumagre.(174 )

Esta mercadoria merece-nos mais atenção do que aquela que tradi- cionalmente lhe tem sido dada.

Como se sabe,o sumagre ê o fruto minúsculo de uma planta do mesmo nome o qual se utilizava largamente no curtimento de peles.

Era muito procurado pelos mercadores flamengos e alemães que,tal- vez antes do vinho,viram nele uma excelente mercadoria de troca.Do mes- mo modo,os ingleses mostraram interesse por ele.Em 1584,António Reimão, mercador de Bristol levou para o-seu país 200 arrobas.E o seu compatri-

ota Anrique Soli comprou 210 arrobas. (175 )Não sabemos de outros casos,

mas admitimos que o produto fosse atraente para os britânicos.

Sabemos,porém,que nos fins do século XVI a procura do sumagre era enorme,oferecendo os estrangeiros elevados preços a ponto de os sapatei- ros e surradores portuenses experimentarem dificuldades em suportar a concorrência.

Os mesteirais do porto que precisavam da mercadoria tentavam de-

fender-se dos rivais e através dos Procuradores do Povo conseguiram que o Senado decretasse que não só o terço mas a metade do volume comercia- lizado na cidade ficasse depositado para seu consumo.(176)

Mas,dada a dificuldade de acatamento do acórdão em razão do eleva- do preço que os estrangeiros se mostravam dispostos a pagar (177),tornou- -se necessário um maior controlo da parte da Câmara cujas linhas prin- cipais foram as seguintes:

12 - ninguém poderia ir comprar sumagre fora da cidade para o tra- zer e exportar sem que estivesse previamente munido da licença da Câma- ra ;

2Q - o sumagre devia ser despachado antes de ser desembarcado e ao despacho deviam estar presentes os almotacéc.o Escrivão da Câmara,o Pro-

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curador da Cidade e os Procuradores do Povo;

3Q - conferida a quantidade,metade seria dada ao dono e outra se- ria armazenada na Rua Nova ou acima dela e não abaixo para dificultar exportações ilegítimas;

hQ - do armazém onde o sumagre ficasse retido haveria 3 chaves, cuja posse era detida pelo dono,pelo Procurador da Cidade e por um dos Procuradores do Povo;

52 - os Escrivães da Câmara e da Almotaçaria teriam cada qual o seu registo para quando fosse preciso,se confrontar um com o outro;no assento figuraria o dono da mercadoria,a data do despacho,a "logea" on- de fora metido e quantidade respectiva;

6o- - a metade podia ser levada pelo dono para onde desejasse,mas

a outra parte não se poderia exportar pois seria vendida a retalho ao povo ;

7Q - no cumprimento destas cláusulas eram também responsabiliza-

dos os barqueiros os quais,se as infringissem,poderiam ser privados do barco e punidos com 3O dias de cadeia agravados com muita de 6$000 reis;

8o- - todos os oficiais intervenientes,desde o Almotacê ao Procura-

dor do Povo seriam suspensos e castigados no caso de lhes caberem res- ponsabilidades pelas infracções;

9 2 - 0 preço máximo foi fixado em l60 reis a arroba.Era muito ele- vado se tivermos em conta que antes de os estrangeiros o cobiçarem va- lia entre 60 e 100 reis.(178)

Infelizmente,os registos desapareceram.Por isso,ficamos impossibi- litados de conhecer as quantidades manifestadas e exportadas.Sabemos,no entanto,que em escassos 5 dias de dezembro de 1590 entraram na cidade, vindos do Douro,13 barcos carregados e que os seus donos constavam da lista dos principais mercadores do burgorDiogo Anriques,Garcia Gomes,

Salvador Rodrigues de Lião,Luis Mendes e Pêro Dias.('l79)

Sabemos ainda que,por volta de 1Ô27,entravam na cidade cerca de 20.000 sacos por ano.Pesando cada saco 20 arrobas,teríamos que se pro- duziam cerca de 'l-OO.OOO arrobas - ( l8o) o que aos preços de I587 vale- ria a quantia astronómica de 6k contos!

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Exagero? Ê possível pois os números são adiantados por urn merca- dor em demanda com um rendeiro e sabe-se como os litígios judiciais se prestavam e especulações .Mas não esqueçamos que Novaes declara que es- te "es uno de los mejores comércios de los Mercadores desta ciudad y de los factores de los dessas partes".(l8l)

Os grossos mercadores nao desdenhavam,pois,tratar em sumagre.O in- teresse dos flamengos manteve-se e,apesar do acórdão de I587,grandes quantidades eram exportadas sem serem submetidas ao controlo da Câmara e dos Procuradores da Cidade e do Povo.

Efectivamente em 1597 várias urcas encontravam-se já carregadas da mercadoria quando o Procurador da Cidade embargou o seu despacho em virtude de não terem deixado ficar o terço na cidade(,l82) ,cemo era de lei.

Este caso foi descoberto a tempo.Mas quanto se exportava clandes-

tinamente?

Nas décadas seguintes,a venda de sumagre ao estrangeiro deve ter

conhecido grande incremento.De facto,para além dos números citados atrás,

sabemos que em 1627 os mercadores haviam comprado a Manuel Francisco de

Mesquita 200 sacos.Se cada saco contivesse 20 arrobas ( e podia pesar mais) teríamos 4000 arrobas.Ora tal volume aos preços de I587 perfazia a soma de ô^OSOOO reis o quedem dúvida,era valor importante num merca- dor que tratava em muitos outros artigos.

Infelizmente não possuímos dados de outra fontes que confirmem as anteriores.Mesmo assim,podemos afirmá-lo,o sumagre desempenhou papel de relevo nas trocas comerciais portuenses.

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5 - 0 Sector Primário dentro de muros e nos arrabaldes

As cidades amuralhadas não sao lugar ideal para o desenvolvimento de actividades do chamado sector primário.A exiguidade e a distribuição do espaço não permitem grandes tentativas de exploração agrícola.

Assim aconteceu no Porto moderno onde,embora quase todas as casas dentro de muros fossem complementadas com um pequeno quintal ou enxido de vária utilidade,não achámos nenhum caso de habitante cuja profissão declarada fosse a de lavrador.E quanto a actividades piscatórias,não obs- tante a presença do ^io e a proximidade do Mar,o panorama nao se mostra muito diferente.Referimo-nos evidentemente aos moradores intra-muros.

Assim, entre I58O e 1590, entre as diversas profissões regista- das nos livros de Registo Paroquial das 3 freguesias urbanas cuja do- cumentação se conserva, (Sé, S. Nicolau e Vitória) nao há nenhum pai ou padrinho residente nesse espaço que declarasse a profissão de la- vrador. Nem de pescador. C 191) No entanto, em 1593 um tal André Afon- so, dos Guindais ê-nos apresentado nos Livros de Sentença?como pes- cador e estalajadeiro (192). E entre es irmãos da Misericórdia, um declarou a profissão de pescador.(193)

Como quer que seja, outros ofícios ligados ao mar são signifi- cativamente referidos: 20 mareantes, 2 barqueiros, 2 marinheiros e 1 piloto, pertencendo a maior parte à freguesia de S. Nicolau. Igual constatação é feita pelo Prof. António Cruz para I568, em que não se constata qualquer lavrador nem pescador nas profissões refe- ridas nos livros de baptismos desse ano.(19*0

E num estudo do Prof. Cândido dos Santos que abrange o período de I78O a I785 e recorre a outro tipo de fontes, o perfil não se al- tera: nas 3 freguesias de perímetro intra-muros não se regista qualquer lavrador nem pescador, mantendo-se em nível elevado as profissões li- gadas ãs actividades marítimas.(195)

No entanto, se passarmos fora de portas, a paisagem rural pressu- põe, de imediato, uma mudança radical no espectro profissional. Aí ê fácil encontrar lavradores a labutar em terra própria ou alheia.

Para nascente da muralha e um pouco a sul de S. Lázaro, alóm

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da gafaria da cidade, estendia-se a quinta do Reimão , foreira à ci- dade pertencente em 1629 aos herdeiros de Frei Pêro Vaz Cyrne de Sousa onde se produzia bom melão e muita fruta e hortaliça e onde havia pra- dos verdejantes para p ensar o gado e cuja água corrente movia mós de moxnhos. Na, mesma levada remolhavam seus linhos alguns moradores de Santo Ildefonso. 0-96 )

Mais adiante e ao lado ficavam as quintas da Fraga, dos Jesuítas e do Prado, do Bispo da Diocese em que se cultivavam pomares e legumes e onde as azenhas igualmente abundavam. ( 197)

Que os agricultores constituíam o grosso da população de Santo Ildefonso parece estar contido no Regimento da procissão do Corpo de Deus de 1621, quando no acordo se estabelece que "primeiramente irão os hortelões e moradores da freguesia de santo Illeaf onsoiKlCjS )

Mais tarde juntaram -se-lhes na obrigação os lavradores de Cedo- feita. ( 199) Em 1571, segundo os cónegos da Colegiada que pretendiam abandonar o ermo e instalar-se na cidade na Ruade S. Miguel, Cedofei- ta era "lugar despovoado" cujos fregueses eram "pescadores e lavra- dores". ( 200)

Era, de facto, assim: a ausência do sector primário no burgo era compensada pela sua abundância nos arrabaldes.

De resto,fora da Porta de Carros ê também a paisagem rural que dominarlogo à saída,à esquerda,fiacvam as Hortas,topónimo que subsistiu até" muito tarde.Mais além o laranjal.Depois,o campo do Meloal (repare-/ se no topónimo) cuja água potável o espadeiro Gonçalo Pires vendeu à Câmara em 159^.( 201)Mais acima,um antigo vimial,situado próximo deste, na "cancela da velha".( 2o2)

E fora da porta do Olival,tirando o Campo onde os cordoeiros la- butavam e a Rua dos Ferradores,de profissionais do mesmo nome,era a ru- ralidade que se estendia por Cedofeita;para o lado ocidental,o lugar do Carregal onde semelhantemente se granjeava a terra.

E, mais ao largo, Lordelo, Ramalde, Paranhos, Campanhã eram lu- gares distantes, escassamente povoados de uma população submissa à terra e à Igreja.

Nas zonas ribeirinhas predominavam as actividades piscatórias. As vezes eram os particulares, senhores laicos ou eclesiásticos, que construíam as suas próprias pesqueirasra quinta de QuebrantSes,forei-

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ra à cidade,pertença do cidadão Diogo Homem Pinto,possuía um rossio na margem do Douro "onde se estendiam as redes".(20^)2 junto à Capela do Senhor de Além,na margem esquerda do Rio,existiam pesqueiras ( 20'f) e sirgadouro.

Frequentemente as armações ofereciam dificuldades à navegação acontecendo que,normalmente,nesses casos a Câmara mandava derrubá-las, Nem sempre era fácil quando o dono era um senhor poderoso;às vezes,o recurso à via judicial impunha-se como solução ultima,como aconteceu em I587 em que o Corregedor foi autorizado a vencer as resistências

( 2C5) e em I635 em que o Senado obteve sentença favorável do Correge- dor do Cível da Relação contra o Dom Abade de S.Bento da Vit8ria por causa das pesqueiras da quinta de Massarelos que lhe pertenciam.( 206) Mas em 1625, quando a Câmara havia já iniciado o derrube de "novas pes«- queiras" na zona de Monbhique e do Ouro as quais punham em risco a se- gurança das embarcações, a objecção, com grande escândalo do Senado, veio do próprio Governador da Relação.(207)

Independentemente destes casos de auto-abastecimento que não eram raros, a pesca era ofício de muitos habitantes das zonas ribei-

rinhas, vizinhas da cidade. Sem dúvida, em Gaia, Miragaia e Massarelos havia grupos mais ou menos numerosos de pescadores.(208) 2 há que dis- tinguir entre aqueles que exerciam o ofício nas águas fluviais e aque- les que se aventuravam até ao mar. E destes havia ainda os que exerciam, a sua actividade em zonas longínquas. Com efeito, Gaspar de Lomba

mestre de navio, morador em Miragaia, dirige-se em Fevereiro de 1585

para a Terra Nova mas, antes, compromete-se na Câmara a vender na ci- dade todo o peixe que apanhar "trazendo°Nosso Senhor a salvamento"( 209)

Das localidades referidas acima, parece que aquela que alber- gava a maior comunidade de pescadores era a de Massarelos, referida com mais frequência na documentação. Pagavam a dízima do pescado ao Duque de Bragança, cujo feitor contrariando disposiyões camarárias, teimava em erguer a tenda do imposto na localidade. A Câmara proibe- -lho e teve que mandar derrubar a banca mais que uma vez, em I585, em I606 e novamente era 1622(210) porque, dessa forma, o peixe deixava de acudir à cidade. Repetidamente fora decretado pelo Senado que a banca do Duque sô tinha um lugar: a Praça da Ribeira. Os transgreeso-

-195- res, pescadores, rendeiros e recebedores seriam punidos com 6$000 reis de multa. Além da dízima, pagavam sisa. Mas em 1592, conseguiram o privilégio de serem avençais na sisa do pescado.( 211)

As autoridades municipais protegiam os pescadores na medida em oue o abastecimento feito por autóctones resultava muito mais barato e se- guro. Ê evidente que a produção local não bastava nem de longe para as necessidades. A cidade consumia muito peixe, nomeadamente na qua- resma. Muito pescado fresco acudia-lhe do exterior. De qualquer modo, para evitar intermediários, a Camará reservava um local pró- prio para a venda do peixe dos pescadores o qual, aliás, só poderia ser vendido por eles, suas mulheres ou suas filhas.( 212)Esse local era fora da Porta da Ribeira, bem separado das regateirac que o vendiam dentro. (213) E só na cidade ê que o podiam vender. ( 21^f)

A protecção exprimia-se na ausência de encargos extraordinários: por exemplo, não são mencionados entre os grupos profissionais obri- gados a contribuir para a procissão do corpo de Deus. Nem nos parece que tenham sido grandemente incomodados com a obrigação de exercerem ofícios concelhios.

E em I605, o Rei confirmou áos pescadores de S. João da Foz, Leça e Matosinhos um privilégio antigo pelo qual eram isentos de mobi- lização forçada para a Armada Real (pelo oue pagavam, aliás a dízima de todo o pescado), salvo quando o rei nela fosse pessoalmente.(215 )

Não é difícil imaginar quão importante era a pesca, sob o ponto de vista económico, para as zonas ribeirinhas e do litoral e mesmo para a própria cidade.

Vêmo-lo com alguma clareza, não obstante os prováveis exageros da argumentação de quem em Tribunal procura convencer os juízes da verdade da sua causa, quando em l605, a Câmara do Porto embargou a provisão real pela qualFrancisco da Mota Rebelo era nomeado escrivão das guias dos portos secos da cidade. 0 Procurador da Concelho alega que da execução da tal provisão seguir-se-ia, antes de mais, que, a partir daí, todos os almocreves e mercadores de Trás-os-Montes, Bei- ras e outras partes que, no retorno, levassem do Porto fazendas e pes- cado, seriam obrigados a deixar fiança de como, no prazo de J>0 dias, apresentariam certidão de como e onde revenderam o que levaram.

Ora, na prática, tal exigência significaria que

1Q - os almocreves e agentes de negócio não aceitariam tal obrigação e,

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por isso, deixariam de acudir â cidade;

2Q - não vindo, o burgo deixaria de ser provido de azeite, vinho, le- gumes, pão, cordovão e carneiras<

3o- - o pior de tudo, pereciam os lugares de S. João da Foz, Matosinhos,

Leça, Massarelos, Gaia, Miragaia e Vila Nova "que vivem da pescaria", se não lha puderem, comprar livremente como até agora.(21o)

A população de S. João da Foz, desde tempos antigos vivia princi- palmente da pesca. Em 1551» fceria ura lugar cem cerca de ^5© vizinhos e fogos, os quais eram todos "mareantes e pescadores" e, ao que parece, eram eles quem, nessa altura, abasteciam a cidade de peixe fresco.(217) Ali próximo da foz do rio havia uma zona de águas calmas e profundas a que se ehamava "lago" riquíssimo em peixe, onde , além dos naturais, pescavam os de Matosinhos, Vila do Conde, Esposende- e outros. As es- pécies mais frequentes eram sardinha, robalos, ruivos, raias e cações. Ha ainda referências várias a lagostas, a "caranguejas" e a. outros crus- táceos comercializados por regateiras as quais os adquiriam certa- mente junto dos mesmos pescadores da Foz.(219)

Mas, em 162^, o couto de S. João da Foz queixou-se, talvez com

exagero como acontecia nestas circunstâncias, de grandes dificuldades para satisfazer a sua parte do serviço especial que coubera à Câmara do Porto para socorro da índia. A razão era que na localidade havia poucos pes- cadores e muitos dos seus moradores estavam captivos no norte de Âfri- . ca. (220) 2as

-Nas águas do Douro era copiosíssima a afluência de sáveis e lam- preias nos meses da desova,Fevereiro,Março e Abril(220A;)Há ainda refe- rência à pesca de samarões que abusivamente se realizava com a ajuda de ancinhos.Aliás,a Câmara proibiu em 1584 o uso desse instrumento pois matava "toda a criação miúda". (221)

A pesca naturalmente' era realizada com redes. Mas também existia a pesca à cana, sobre a qual, de resto nao podia ser cobrada a dízima, como nretendia o rendeiro do Duque de Bragança. ( 222)

Em conclusão: dentro de muros não havia um sector primário desenvol- vido porque essa não era a vocação de uma cidade.Mas não podia prescindir dos frutos dele.Por isso,bateu-se muitas vezes por conservar e atê aumen- tar o seu Termo pois ai estava o seu complemento indispensável e a garan- tia de subsistência dos seus moradores .

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6 - A ACTIVIDADE INDUSTRIAL

6.1 - A organização mesteiral.Rivalidades,conflitos e demandas. 0 papel das Autoridades concelhias

Sobre a organização dos Mesteres ê muito abundante a bibliogra- fia e,por conseguinte,não iremos demorar-nos neste aspecto da questão que nos vai ocupar.(223)Gonvém,no entanto,reafirmar que cada profissão constituía uma unidade dentro do Concelho em que se inseria e que pos-

suía regulamentação propria e específica contida no seu Regimento.Des-

taque-se,desde já,embora voltemos ao assunto,que todo o processo era superintendido pelas Autoridades concelhias.

Por exemplo,quando em l6l0,os tintureiros de Vila Nova se auise- ram erigir era ofício,juntaram-se na Câmara do Porto e ali,"as mais vo- zes" elegeram o seu Juiz e o Escrivão.A estes foi mandado que dentro de 30 dias fizessem seu Regimento e começassem por examinar quem não o ti- vesse sido. izzh) 0 mesmo sucedeu com os agulheiros da cidade nue,no mesmo ano de I6l0.,foram. â Câmara solicitar ao Juiz de Fora e Vereado-

res que os deixassem escolher Juiz de Ofício.Ali mesmo elegeram,por

votação,dois oficiais para o cargo.E tal como os tintureiros de Vila Nova obrigaram-se a,no prazo de 3O dias.apresentarem o seu Regimento para ser aprovado. (225)

Um Oficio minimamente organizado possuía,para além do Regimento, o seu Juiz ou Juízes,o Escrivão e,pelo menos no respeitante aos barbei- ros do Porto,o Mordomo.

Como ficou insinuado acima,a função primacial do Juiz de ofício era a de examinar,durante o ano do seu mandatons candidatos que acaba- vam a aprendizagem da profissão. (226 ) Os Acórdãos camarários previam a pena de 2$000 reis para o profissional que aceitasse obra ou pusesse tenda sem ser examinado previamente. (227 )

As vezes criavam-se situaçSes pontuais em que o Juiz eleito não podia ser o examinador.E se se referem aqui,não obstante os aspectos èe pormenor ê porque nos ajudam a perceber melhor a mentalidade e a psico- logia colectiva da 6poca.

Antes de mais,não podia ser examinador de seus filhos,criados e obreiros,como se contem no Regimento dos coreeiros.de 1622.(228)

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Mas havia casos menos óbvios em que tal sucedia.Por exem-