• Nenhum resultado encontrado

O Espírito Santo: mestre e guia dos seguidores de Jesus Cristo.

O ENCONTRO COM JESUS CRISTO: CAMINHO DE FORMAÇÃO INTEGRAL DO DISCÍPULO MISSIONÁRIO

2.4 O Espírito Santo: mestre e guia dos seguidores de Jesus Cristo.

O dia de Pentecostes foi para os discípulos o dia do anúncio e da comunicação do mistério de Cristo realizado no poder do Espírito Santo. O Espírito manifestou neles a sua força para sustentá-los e animá-los a evangelizar. O verdadeiro discípulo de Jesus Cristo é aquele que se deixa guiar pelo Espírito e vive sob a sua luz. O discípulo missionário de Jesus Cristo é ungido pelo Espírito para continuar a obra missionária do Redentor.

O Pai que enviou Jesus Cristo para a nossa salvação envia também o Espírito para confirmar toda a obra redentora de Cristo, por meio da Igreja, manifestada na ação do mesmo Espírito.

120 DA 240.

121 AGOSTINHO. A Trindade. São Paulo: Paulus, 1994, p. 227. 122 DA 543.

O Espírito permeia toda a vida da Igreja. “A unidade dos discípulos missionários pressupõe pluralidade. Sua unidade é unidade e comunhão no Espírito Santo (2Cor 13,13), no plural dos dons, das vocações e dos significados históricos”123.

É o Espírito Santo que se manifesta em toda a vida da Igreja, que se deixa conhecer nesta mesma Igreja. “A Igreja, comunhão viva na fé dos apóstolos, que ela transmite, é o lugar do nosso conhecimento do Espírito Santo. Aquele que o Pai enviou aos nossos corações, o Espírito do seu Filho, é realmente Deus”124. É na Igreja que nós professamos a mesma fé apostólica e nos inserimos nesta realidade e nos tornamos autênticos discípulos, testemunhas de Jesus Cristo.

Mantemos em tudo inviolável a fé do Concílio de Nicéia, sem simulação de palavras ou sentido torto, e cremos na Trindade de uma única e coeterna essência, não separamos em nada o Espírito Santo, mas o veneramos juntamente com o Pai e o Filho, perfeito em tudo quanto à força, a honra, a majestade, a divindade... 125.

Para o discípulo que se deixou formar pelo mestre é clara a consciência de que o Espírito Santo é o protagonista da missão e o sustento do discipulado.

É o Espírito Santo que deu firmeza aos corações e às mentes dos discípulos, que os iniciou nos mistérios evangélicos, que os iluminou nas coisas divinas; por ele revigorados, não temeram as prisões nem as correntes pelo nome do Senhor; antes, subjugaram as próprias potências e tormentos do mundo, já armados e reforçados por seu intermédio, dotados que foram com os seus dons que este mesmo Espírito reparte e envia como jóias à Igreja, Esposa de Cristo. De fato, é ele que na Igreja suscita os profetas, instrui os mestres, guia as línguas, realiza prodígios e curas, produz obras admiráveis, concede o discernimento dos espíritos, confere os encargos de governo, sugere os conselhos, reparte e harmoniza todo e qualquer outro dom carismático,

123 AMERINDIA. V Conferência de Aparecida: Renascer de uma esperança. São Paulo: Paulinas, 2008, p. 257. 124 CEC 688-189.

125 DÂMASO I. Fragmentos de cartas aos bispos orientais. In Compêndio dos símbolos, definições e

tornando, assim, por toda parte e em tudo plenamente perfeita a Igreja do Senhor126.

Os discípulos de Jesus estavam dissolvidos no medo e na incerteza. Procuravam encontrar o verdadeiro sentido de tudo o que Jesus lhes havia ensinado para poder testemunhar aos outros as obras que o Mestre havia feito. Foi preciso esperar e confiar que Jesus lhes enviaria aquele que explicaria todas as coisas.

É o Espírito Santo que vem à Igreja e a cada um pessoalmente para orientar como mestre; iluminando a consciência e o coração. Ele faz compreender o que se tinha ouvido do Mestre e a praticar cada ensinamento.

Caminhamos para a verdade e acreditamos que ela nos liberta e nos torna verdadeiros seguidores de Jesus Cristo e de seu evangelho. Contudo, o Espírito é também o mestre e guia daqueles que desejam segui-lo decididamente enviando-nos para a escuta atenta da Palavra por ele suscitada. Ele é o pedagogo, o educador, ensina a verdade, a verdadeira doutrina.

A Igreja, no silêncio, na escuta e na acolhida da Palavra de Deus, deixa-se ensinar, educar e desafiar pelo Espírito, que fala por intermédio das Escrituras. Assim, enquanto ela acolhe a Palavra e faz desta o seu alimento, se deixa conformar a Cristo seu Senhor e cresce na comunhão e na unidade do único Espírito. É a Igreja, discípula de Cristo, que o Espírito conduz à plenitude da verdade127.

Todo o batizado deve redescobrir a graça do Espírito Santo em sua vida e em suas atividades. Na presença do Espírito, nós reconhecemos o Senhor e o verdadeiro sentido da sua missão confiada a nós. É o mesmo Espírito que nos configura a Cristo e à sua obra redentora. “O Espírito suscita nos fiéis o sentimento de uma comunhão e virtude da qual, pela fé e pelo amor, eles estão em Deus e Deus neles (1 Jo 4, 13): Nisto reconhecemos que permanecemos nele e ele em nós, ele nos deu o seu Espírito”128.

No evangelho de João, é o Espírito da verdade quem dá testemunho de Jesus Cristo, juntamente com os seus apóstolos (Jo 15, 26). Ao fazer um encontro pessoal com Cristo o discípulo missionário deve abraçar a mesma fé suscitada pelo Espírito aos apóstolos para que

126 CPMGJ, p. 26. 127 CPMGJ, p. 27.

a sua obra, seu desejo e sua missão se concretizem na vida daqueles que ainda não fizeram seu encontro pessoal com Cristo.

Enquanto acompanhavam, viam e ouviam Jesus, os discípulos misturavam a fé com a falta de fé, sobretudo a falta de entendimento. O Espírito fará com que a lembrança deles volte aos ensinamentos de Jesus e amadurecerá neles um testemunho que não será simplesmente repetição dos fatos em sua materialidade, mas entendimento e comunicação do sentido dos mesmos129.

Aos discípulos, é concedida a graça de fazer a experiência com o Cristo ressuscitado. É a partir do sopro do Espírito que eles fazem a experiência desse encontro pessoal com o Senhor. O sentido dos gestos e dos ensinamentos de Jesus é, após a vinda do Espírito Santo, esclarecido e como que revelado aos olhos dos discípulos (Jo 2, 22; 12,16; 14 26).

Nesta certeza, não podemos nos esquecer que o “Espírito Santo procede eternamente do Pai e do Filho, não, porém, como de dois princípios, mas como de um só; não por duas inspirações, mas por uma só”130. No encontro com Jesus Cristo, nós recebemos o Espírito Santo e participamos da vida da graça que vem de Deus.

O discípulo de Jesus Cristo que deseja segui-lo, ou seja, permanecer com Ele e aprender dele, deve deixar-se guiar pela unção do Espírito Santo que lhe esclarece tudo (1 Jo 2, 20. 27). O discípulo missionário de Jesus Cristo vive a unidade que o Espírito Santo derramou sobre si e é impulsionado a viver essa mesma unidade na Igreja. “Às vezes nos esquecemos que a unidade é, antes de tudo, um dom do Espírito Santo, e oramos pouco por esta intenção”131.

O Espírito Santo é aquele que suscita na vida da comunidade a complementaridade dos dons e carismas de cada um, a fim de que todos formem um só corpo, o Corpo de Cristo, entregue para a vida do mundo. É na comunidade reunida que o Espírito Santo foi derramado e essa mesma comunidade iniciou sua missão a partir da fé doada pelo mesmo Espírito. Somente, no Espírito, é que a comunidade encontrou o verdadeiro sentido de viver em unidade os mesmos sentimentos e as mesmas atitudes.

129 Ibidem, p. 85.

130GREGÓRIO X. II Concílio de Lião. In Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e

moral. São Paulo: Paulinas, 2007, p.300.

Quem deseja ser discípulo de Jesus Cristo não pode ignorar o protagonismo do Espírito Santo neste encontro, pois “no encontro com Cristo, graças à ação invisível do Espírito Santo, realiza-se na fé recebida e vivida na Igreja”132.

O nosso desejo deve ser o mesmo dos primeiros discípulos e a nossa abertura à ação do Espírito Santo deve nos ensinar e nos encorajar a ir ao encontro daqueles que querem dedicar a sua vida como os primeiros discípulos.

Não temos outra felicidade nem outra prioridade senão a de sermos instrumentos do Espírito de Deus na Igreja, para que Jesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos133

A conversão permanente é proposta do Espírito que nos impulsiona a assemelhar- mos ao mestre cada vez mais. Ele semeou em nós o germe do Reino para que pudéssemos continuar a obra que o Cristo instaurou no meio de nós. Os verdadeiros discípulos, seguidores de Jesus Cristo devem deixar-se guiar por Ele (Gl 5,25). É preciso viver para Ele e deixarmo- nos guiar por Ele, para assim colaborarmos na edificação da Igreja de Jesus Cristo.

O Espírito Santo guiará a Igreja na verdade e para toda a verdade. Dará coragem aos cristãos para darem testemunho de Jesus Cristo até o martírio. Impulsionará a Igreja para as missões até os confins do mundo, tornando-se o agente principal da atividade missionária e evangelizadora da Igreja, como ele o é ainda hoje e sempre. Através dos tempos, santificará e renovará constantemente a sua Igreja134.

A nossa adesão ao Espírito Santo conduz para uma verdadeira renovação eclesial que implica reformas espirituais, pastorais e também institucionais. Essas reformas são muitas vezes urgentes e necessita de nossa coragem e decisão consciente.

O Espírito Santo que encorajou os primeiros discípulos de Jesus Cristo é derramado sobre nós também, para que possamos ajudar a construir um mundo melhor, uma sociedade mais justa, uma Igreja mais comunitária e escola de comunhão e participação.

132 DA 246. 133 DA 14.

134 HUMMES, Cardeal Cláudio. Sempre discípulos de Cristo: Retiro Espiritual do Papa e da Cúria Romana. São Paulo: Paulus, 2002, p. 57.

A Igreja prega um novo Pentecostes, que traga ânimo, coragem, e entusiasmo para testemunhar Jesus Cristo e sua obra de salvação na alegria e na esperança. O Espírito Santo é quem nos garante, na fé, e nos nomeia como verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, a fim de que permaneçamos para sempre com Ele e vivamos esta alegria plenamente (Jo. 14 16. 26).