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O encontro com a Igreja: Sacramento de Cristo

IGREJA: COMUNIDADE QUE VIVE E PREGA O ENCONTRO COM JESUS CRISTO

3.1 O encontro com a Igreja: Sacramento de Cristo

Há uma afirmação do Concílio que muito nos ajuda a compreender a realidade da Igreja como sacramento universal de salvação em dois âmbitos: cristológico-eclesiológico e escatológico: “Cristo, levantando da terra, atraiu todos a si. Ressurgindo dos mortos, enviou aos discípulos o seu vivificante Espírito, e por Ele, constituiu seu corpo, que é a Igreja, como sacramento universal de salvação”171. Dentro destes dois âmbitos vemos que: O primeiro, porque Cristo é o autor da salvação, o princípio da unidade e da paz. O segundo, porque é o sacramento dessa unidade salvífica. “A Igreja, é em Cristo, o sacramento, quer dizer, sinal e instrumento da união com Deus e da unidade do gênero humano”172.

Cristo age, na Igreja, e assim o faz pela ação do Espírito que age da mesma forma que o Verbo encarnado por meio da natureza humana. Cristo é o sacramento do Pai e a Igreja é o sacramento de Cristo. Ao estabelecermos um encontro com a Igreja, nós o estabelecemos com o próprio Cristo que vive na sua Igreja, e que nela faz-se presente a todo o momento. A Igreja é sacramento de Cristo também numa perspectiva escatológica:

“Com efeito, o Reino de Deus se manifesta, nas palavras, nas obras, e sobretudo na presença pessoal de Cristo. É por isso que a Igreja sendo o “Reino de Cristo já presente em mistério” (LG 3), representa o germe e o início deste Reino na terra” (LG 5), e é “este povo messiânico que, embora não abranja todos os homens e por vezes apareça como pequeno rebanho, é para todo o gênero humano germe firmíssimo de unidade, esperança e salvação” (LG 9)”173.

A Igreja é sacramento de salvação porque ela é a mediação visível da graça salvífica invisível de Deus. Nela, torna-se visível a salvação em Cristo para toda a humanidade. Onde

170 KLOPPENBURG, Boaventura. Mistagogias de Bento XVI sobre a Igreja. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 25. 171 LG 48.

172 LG 1.

está a Igreja, está também a salvação, que constitui a comunhão entre Deus e os homens, conduzindo-os à libertação total, estabelecendo um encontro de salvação, um encontro perene de santificação.

Como o Pai pelo Filho vem ao ser humano, no Espírito, assim o ser humano, no Espírito, pelo Filho, pode agora ter acesso ao Pai: o movimento de descida consente um movimento de subida, num circuito de unidade, cuja face eterna é a Trindade, cuja face temporal é a Igreja174.

A Igreja é sacramento de salvação porque faz os homens perceberem o plano divino de salvação e do amor por meio da pregação, do testemunho e dos sacramentos. Ela é a expressão da comunhão trinitária, pois nela subsiste a presença de Cristo e de seu amor, sua vontade e sua missão. Nela, se expressa a radicalidade do amor de Deus, vivido, na diversidade das pessoas, numa única e plena comunhão de vida. Por isso, a Igreja é expressão do amor trinitário.

Tudo na Igreja vem do amor do Deus três vezes Santo: o coração pulsante da Igreja é o ‘agape’, o amor que vem do alto e tende a voltar para o alto. O ‘agape’ é a regra de vida dos discípulos de Jesus, que por força de sua revelação acreditam no amor infinito do Pai. A Igreja vive do dinamismo fundamental de deixar-se amar pelo Pai, por Cristo, no Espírito, a fim de amar o Pai, por Cristo e no mesmo Espírito175.

A Igreja é expressão do amor de comunhão de Cristo com a humanidade. No encontro com a Igreja, nós conhecemos o amor. Os discípulos de Jesus Cristo só podem permanecer, no amor, se estiverem edificados sobre o fundamento essencial da vida Igreja: a comunhão com Cristo-cabeça e todo o seu corpo. “A Igreja, como “comunidade de amor”, é chamada a refletir a glória do amor de Deus, que é comunhão, e assim atrair as pessoas e os povos para Cristo “176.

A Igreja nos atrai para Cristo, enquanto manifestação do seu corpo místico, edificada e sustentada pelos apóstolos que seguiram o Senhor e se deixaram conduzir por Ele.

174 ALMEIDA, Antônio José de. Sois um em Cristo Jesus. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 37.

175 FORTE, Bruno. Exercícios Espirituais no Vaticano: Seguindo a ti, Luz da Vida. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 120.

A Igreja é sacramento porque ela realiza de forma pública e oficial o plano de comunhão que Deus quer para toda a humanidade... É mistério na medida em que nela se celebram os mistérios de nossa salvação que se realizam litúrgica e sacramentalmente na vida dos fiéis. É mistério pela união que nela se verifica entre o histórico-social e o espiritual divino177.

A sacramentalidade da Igreja se expressa em sua realidade complexa constituída, ao mesmo tempo, pelo elemento divino e humano, visível e invisível. A Igreja, pela sua dimensão histórica e atuante no mundo e pela sua dimensão transcendente e divina, torna-se sinal da presença de Cristo Salvador. Portanto, todos os que buscam esse encontro permanente com a Igreja estão em união com Cristo. “Como sacramento, a Igreja é instrumento de Cristo, pelo qual Cristo manifesta e atualiza o amor de Deus pelos homens”178.

Tal sacramentalidade realiza-se enquanto a Igreja é comunhão, Povo de Deus, Corpo Místico de Cristo e Templo do Espírito Santo. A Igreja é comunhão porque realiza a comunhão da humanidade com Cristo e realiza a comunhão entre os fiéis. “A Igreja ‘atrai’ quando vive em comunhão, pois os discípulos de Jesus serão reconhecidos se amarem uns aos outros como Ele nos amou (cf. Rm 12, 4-13; Jo 13,34)”179. Esta é a Igreja de Jesus Cristo,

uma comunidade reunida no amor. É por isso que no discipulado se torna cada vez mais exigente o encontro com a pessoa de Jesus Cristo que forma a comunidade de seguidores a amar verdadeiramente. “A intimidade da Igreja com Jesus é uma intimidade itinerante, e a comunhão reveste essencialmente a forma de comunhão missionária”180.

A Igreja é ícone da Trindade, por isso ela tem como exemplo a vida de comunhão trinitária. Na Igreja, deve reinar o amor a comunhão profunda e sincera. Nela deve habitar a comunhão e todos devem aprender a partir dela a viver essa comunhão. A Igreja é ‘casa e escola de comunhão’, onde os discípulos compartilham a mesma fé, esperança e amor a serviço da missão evangelizadora”181.

A Igreja é também Povo de Deus, pois foi destinada por Deus desde o Antigo Testamento como povo escolhido a fim de ser luz das nações. A Igreja foi escolhida por Deus e ela também escolheu Deus para ser o fundamento de sua caminhada na Terra.

177 BOFF, Leonardo. E a Igreja se fez povo. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 31. 178 CEC 776.

179 DA 159.

180 FRANCISCO. Evangelii Gaudium. Exortação Apostólica, 2013. São Paulo: Paulinas, 2013, 23. 181 DA 158

Este povo, feito de muitos povos, permanecerá eternamente porque habitará com Deus no novo céu e na nova terra. Esse povo é o portador de todos os mistérios divinos, construindo-se ele mesmo num grande mistério- sacramento no meio dos povos, quer dizer, um sinal e uma interrogação para todos acerca do destino transcendente da caminhada humana rumo ao futuro que é Deus e seu Reino182.

Na Igreja, nós encontramos Jesus, somos por ele atraídos e recebemos dele a graça para nossa caminhada até a plenitude. Somos povo que Deus escolheu e abençoou.

Sacramento de salvação, a Igreja é o Corpo Místico de Cristo. A imagem do corpo é para mostrar a realidade da diversidade dos membros e das funções, e da unidade de todos em vista do bem comum. “Com efeito, o corpo é um e, não obstante tenha muitos membros, todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo. Pois fomos todos batizados num só Espírito para sermos um só corpo...” (1 Cor 13, 12-13).

A imagem do Corpo mostra-nos a Igreja como unidade na diversidade. Cristo é o que dá origem à unidade, Ele é a cabeça da Igreja. Por isso, no encontro com Jesus Cristo, encontramos a Igreja e, na Igreja, encontramos Jesus e do seu corpo participamos como membros vivos e atuantes. Por isso, “a Igreja cresce, não por proselitismo, mas por atração: como Cristo ‘atrai tudo para si’ com a força do seu amor” 183.

É Cristo, mediante o Espírito, quem sustenta a Igreja concedendo os dons e os carismas para todo o corpo, ou seja, para todos os seus membros.

Ademais, o Ressuscitado está presente de forma real, embora misteriosa, na massa humana, na história que caminha na direção do Eschaton (fim bom da criação) e, de forma toda particular, naquela porção da humanidade que o acolhe em sua vida, chamada Igreja. Nesse sentido, a Igreja pode, figurativamente, ser chamada de Corpo de Cristo184.

A Igreja será cada vez mais imagem deste Corpo de Cristo, na medida em que viver a cada dia este encontro pessoal com Ele sentir-se atraída por Ele e ser sinal da presença do

182 BOFF, Leonardo. E a Igreja se fez povo. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 33. 183 DA 159.

Mestre no mundo. “A Igreja atrai quando vive em comunhão, pois os discípulos de Jesus serão reconhecidos se amarem-se uns aos outros como Ele nos amou (Rm 12, 4-13; Jo 13, 34)”185.

Podemos afirmar que a Igreja é sacramento de salvação quando concretiza entre os homens o plano libertador de Deus. Diante das injustiças da nossa sociedade desigual onde milhares de pessoas morrem de fome, de falta de atenção para com suas doenças e de tantas situações de total aberração contra o ser humano, a Igreja é sinal da presença salvífica de Deus, exercendo a sua função profética de denunciar tantas injustiças.

A Igreja é sinal de Deus quando, na atitude concreta de cada cristão, faz a sua parte, promovendo a partilha e a solidariedade. “Na prática, a vivência cristã é, eminentemente, uma vivência de Igreja. É, na Igreja, que nós nos tornamos cristão e resolvemos seguir a Jesus”186.

O verdadeiro cristão é aquele que está inserido em Cristo, fez um encontro pessoal com Ele e vive a prática do amor e da justiça para com todos. Essa prática concretiza-se, na verdadeira evangelização, que é a expressão visível da presença da Igreja no mundo. “Existe, portanto, uma ligação profunda entre Cristo, a Igreja e a evangelização. Durante este “tempo da Igreja” é ela que tem a tarefa de evangelizar. E essa tarefa não se realiza sem ela e, menos ainda, contra ela”187.

É o Espírito quem dá vida, alma, ou seja, ânimo, sustento para todo o Corpo de Cristo. O encontro com a Igreja leva-nos ao encontro com Jesus Cristo, no Espírito Santo, para nosso sustento e ardor. “O que é o nosso espírito, isto é, a nossa alma em relação a nossos membros, assim é o Espírito Santo em relação aos membros de Cristo, ao Corpo de Cristo que é a Igreja”188.

Contudo, Cristo nos envia o Espírito Santo de junto do Pai e concretiza a unidade de cada Igreja local com todas as outras na única Igreja Católica. “O povo de Deus se constrói como comunhão de Igrejas particulares, e através delas como intercâmbio entre as culturas”189.

É a comunhão universal das Igrejas geradas pela mesma Palavra, pelo mesmo Pão e pelo mesmo Espírito. Por isso, cada Igreja particular se reconhece a si mesma em cada uma

185 DA 160.

186 GALILEA, Segundo. Discípulos de Cristo. São Paulo: Paulus, 1996, p. 91. 187 EN 16.

188 CEC 797. 189 DA 182.

das outras Igrejas, ao redor da Eucaristia presidida pelo bispo, participando assim da unidade no Corpo de Cristo a fim de reconciliar o mundo.