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O espaço do ensino de Arte no Colégio de Aplicação inicia juntamente com sua criação, em 1961, com a inclusão da disciplina de Educação Artística no currículo escolar. As aulas de Educação Artística eram ministradas nas 5ªs, 6ªs e 7ªs séries, sendo específicas de Artes Plásticas e ministradas por um único professor. Com a criação do Ensino Médio em 1970, as aulas passaram a ser ministradas também para as 1ªs séries do então denominado ensino de 2º Grau.

Em 1980, com a implantação do setor de 1ª a 4ª séries, a Educação Artística passa a ser componente curricular em todas as séries, sendo ministradas por um único professor que, de forma globalizada e polivalente, trabalhava com as três linguagens artísticas. Uma realidade diferente das demais escolas públicas brasileiras já que, na sua maioria, quando a disciplina de Educação Artística era incluída como componente curricular, esta era ministrada pela professora de série.

A partir de 1980, foi elaborada uma proposta de ensino visando ampliar a vivência e o conhecimento dos alunos em Artes através do ensino de três linguagens artísticas: Artes Plásticas, Música e Teatro. Os alunos de 5ª a 7ª série passaram a ser divididos em grupos e as aulas, a ser ministradas por semestre, sendo que em cada semestre os alunos vivenciavam uma das linguagens artísticas. Aos alunos de 1ª série do 2º grau, atual Ensino Médio, passou a ser apresentada a oportunidade de optarem por cursar uma das linguagens artísticas oferecidas.

Experiências pedagógicas diferenciadas foram realizadas a partir da década de 80, com o objetivo de constituir um corpo de professores de Arte com habilitações específicas, visando ao aprofundamento dos conteúdos das linguagens artísticas e conseqüente melhoria do ensino de arte na escola.

As diferentes alterações efetuadas quanto ao aspecto pedagógico do processo ensino-aprendizagem resultaram na ampliação do espaço de arte na escola. Em 1987, com a alteração da grade curricular, os professores conquistaram o direito de a Educação Artística ser componente curricular obrigatório em todas as séries do 1º Grau e nas 1ªs séries do 2º Grau, implicando na contratação de novos professores.

Na luta pela garantia e ampliação do espaço de arte na escola, somam-se as conquistas de salas ambientes de Artes Visuais, Teatro e Música, a subdivisão das turmas de 25 alunos em dois grupos, com 12 e 13 alunos para trabalhar nas aulas de Arte, tendo cada grupo seu respectivo professor específico de Arte e o horário de duas aulas-faixa semanais para ministrar as aulas.

Conforme já anunciamos, o Colégio de Aplicação, apresentando uma realidade diferente da maioria das escolas públicas no que tange ao currículo, desde 1991 já incluía Educação Artística nas Séries Iniciais e, a partir de 1993, essa disciplina passou a ser trabalhada segundo linguagens específicas de conhecimento. Em decorrência dessa alteração, no ano de 1992 foi elaborado um plano de ensino de Artes Plásticas-Visuais, buscando coerência com a forma com que vinha sendo trabalhado até então. O plano foi organizado em forma de projeto, o que fez com que todo o programa fosse repensado, reformulando-se objetivos e conteúdos e fortificando novas bases metodológicas. O objetivo geral do plano era: “Propiciar uma educação estético-visual mobilizadora e rica,

buscando a criação do conhecimento de forma coletiva que permitisse ao aluno uma leitura do seu contexto sócio-cultural-histórico, de forma atuante, crítica e significante”. Delineou- se, como objetivos específicos, “ampliar o contato com a produção artístico-cultural do contexto social do aluno e do patrimônio cultural da humanidade, contextualizando-a no tempo e no espaço”, e “promover a alfabetização visual-estética, através da pesquisa da exploração e da manipulação dos elementos estruturais da linguagem plástica”. (UFSC, 1993, p. 1).

Tomando por base o Ensino de Arte nas Séries Iniciais, uma vez que é aí que iniciamos o processo de Alfabetização Visual no Colégio, vimos ao longo desses anos, através do inter-relacionamento constante da prática e da reflexão estético-artístico- pedagógica, pesquisando métodos para melhor sistematizar processos de ensino- aprendizagem em Arte.

Concebendo Arte como conhecimento, com um conteúdo próprio possível de ensinar e aprender, como linguagem “[...] constituída de um sistema sígnico, articulado em uma gramática e uma sintaxe próprias e que pressupõe leitura” (BUORO, 1995, p.108), o princípio fundamental norteador de nosso trabalho nas Séries Iniciais vem sendo a sistematização de processos de ensino-aprendizagem em Arte, com ênfase ao conhecimento dos elementos básicos da linguagem artístico-visual, em sua função expressiva, pelas relações de seu uso no espaço, explorados em crescente grau de complexidade.

Acreditamos que uma efetiva alfabetização não pode acontecer se o aluno não tiver acesso a informações sobre o objeto de conhecimento. Dessa forma, propomos aos alunos, desde o início das primeiras séries do Ensino Fundamental, participarem de situações planejadas que possibilitem a compreensão progressiva da linguagem visual. É por essa razão que propomos um encaminhamento didático a partir de conteúdos básicos dos códigos, de elementos da linguagem, que permitam o conhecimento e a conscientização do uso desses nas produções e favoreçam a apreciação e o fazer artístico. Isso permite um avançar na aprendizagem efetiva da linguagem artístico-visual em sua complexidade.

O procedimento pedagógico adotado por Fayga Ostrower (1987) em Universos da

objetivo de iniciação à linguagem visual possibilita uma abordagem dos elementos dessa linguagem de forma a conduzir a uma efetiva alfabetização estético-visual.

Não nos restringindo apenas à transmissão de conteúdos, mas principalmente desafiando os alunos a pensarem, intervindo no sentido de ensinar formas de acesso e apropriação do conhecimento elaborado, elegemos como linha teórica metodológica para embasar nossas pesquisas a abordagem de ensino de Arte que inter-relaciona o fazer artístico, a leitura da imagem e a contextualização histórica, ou seja, a Proposta Triangular concebida por Ana Mae Barbosa (1991), por permitir a simultaneidade de diversas formas de pensar, num mesmo ato de conhecimento. Trabalhar integradamente as três vertentes é a proposta básica, uma vez que a produção e a compreensão se completam e se enriquecem mutuamente na apropriação de conhecimento. Acreditamos que um competente trabalho de educação escolar em Arte, que garanta um ensino de qualidade, pressupõe a utilização de uma proposta pedagógica consistente.

Ao colocar a imagem no centro da aprendizagem e considerar imprescindível o seu estudo e o entendimento para a realização de uma verdadeira Alfabetização Visual, o ensino da Arte, no momento histórico em que vivemos, encontra um elemento vitalizador na leitura da obra. Traz para o fazer a reflexão sobre o “como isto acontece” na produção plástica e “onde ela acontece” na cadeia histórica da arte, como referência posicional significativa para o domínio dos conteúdos estético-artístico-visuais.

Após vários estudos e reformulações do programa de arte, a proposta que ainda hoje vigora na escola é decorrente dessa reformulação que realizamos no ano de 1993 ,objetivando o conhecimento dos conteúdos específicos de cada linguagem artística: Música, Teatro e Artes Visuais.

Considerando que para a maioria da população a escola é ainda a única oportunidade para a construção de um conhecimento sistematizado das linguagens artísticas e conseqüente efetivação de uma educação estética, partimos do princípio de que os alunos deveriam vivenciar e conhecer os fundamentos básicos de cada linguagem, e de que deveriam ser de certa forma iniciados e sensibilizados nestas, tendo assim oportunidade para, ao longo de suas vidas, ampliarem e fortalecerem efetivamente sua constituição estética.

A proposta estrutura-se, portanto, da seguinte forma:

Nas 1ªs séries: aulas de Artes Visuais; nas 2ªs séries: aulas de Música; nas 3ªss, Artes Visuais e nas 4ªs, Teatro; nas 5ªs, Música; nas 6ªs, Artes Visuais e nas 7ªs, Teatro. Nas 8ªs e 1ªs séries do Ensino Médio, os alunos têm possibilidade de optar, dentro do limite de vagas previsto, por oficinas em uma das linguagens artísticas. Desse modo, de 1ª a 4ª série os alunos são iniciados nos códigos artísticos, aprofundando-os de 5ª a 7ª série, para mais adiante, na 8ª e 1ª série do Ensino Médio, terem condições de optar pela linguagem artística de sua preferência.

O corpo docente responsável pelo ensino de Arte no Colégio de Aplicação - UFSC é composto atualmente por sete professores e subdivide-se por área de formação: dois professores de Música, dois de Teatro e três de Artes Visuais que, tendo em vista a divisão das turmas para as aulas de Arte, trabalham sempre em duplas, em cada série.

Se por um lado a proposta adotada vislumbra a possibilidade de sistematização de um processo ensino-aprendizagem efetivo, por outro lado detectamos na práxis da vivência pedagógica certa descontinuidade e fragmentação no processo, decorrentes do intervalo de dois anos para aprofundamento dos conhecimentos específicos das linguagens. Em Artes Visuais, tal fragmentação acentua-se pela rotatividade de professores substitutos, o que impede a formação de um corpo docente comprometido especificamente com a melhoria da qualidade deste ensino no Colégio.

Estamos cientes de que esta ainda não é a proposta ideal; talvez o melhor seria abrirmos espaço para que todas as linguagens artísticas, inclusive a Dança, compusessem o grupo de componentes curriculares em todas as séries ou que os alunos, após serem iniciados em todas as linguagens, conhecedores do mínimo de conteúdos de cada linguagem, pudessem realmente optar por uma destas e aprofundá-la ao longo de seus anos escolares.

Não possuímos certezas e o ideal é uma meta que se transforma à medida que vamos tecendo a teia. Aprender e ensinar Artes Visuais no contexto de escolarização formal do Ensino Fundamental e Médio vem constituindo-se, há anos, objeto de nossas reflexões e pesquisas e, por sua vez, constituindo-nos educadores.

O compromisso social com a melhoria da qualidade do ensino de Artes Visuais no espaço escolar impeliu-nos a participarmos do Projeto Arte na Escola, projeto este vinculado à Fundação Iochpe que se concretiza mediante a parceria com Universidades, Museus, Fundações e Secretarias de Educação, comprometidas em melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem da Arte no Brasil. O projeto tem reunido esforços a fim de disponibilizar materiais, oportunizar a formação de grupos de estudo e realizar cursos, seminários e eventos com vistas a sistematizar conhecimentos e práticas relacionados à educação em Arte.

Nosso envolvimento no Projeto Arte na Escola, que a princípio tinha como meta firmar convênios apenas com instituições formadoras de Artes Visuais, imprimiu-nos uma responsabilidade com a qualificação e com a disseminação do ensino de Artes no país.

Os encontros técnicos do Projeto, espaços para reflexões, ampliação de conhecimentos, informações e relatos de experiências, motivaram-nos ainda mais no sentido da objetivação e sistematização de práticas pedagógicas. Sentíamos o quanto as experiências provindas da prática do Ensino Fundamental e Médio eram importantes nas ações de disseminação, impulsionando-nos a aguçar um olhar especial para a pesquisa.

A responsabilidade social da extensão, por sua vez, mobilizava-nos à socialização destas reflexões e pesquisas apresentando-as em eventos e congressos de Arte e Educação em diferentes tempos e espaços. A produção desenvolvida no percurso de 1992 a 2002, uma década que demarca nossa inserção no projeto Arte na Escola, resultou na publicação

Artes Visuais e Escola: para aprender e ensinar com imagens (COSTA; CAMPOS, 2003),

a qual apresenta um panorama histórico do percurso vivenciado na práxis do processo ensino e aprendizagem de Artes Visuais do Colégio de Aplicação, reunindo as experiências que consideramos mais significativas.

Em 1999, por ocasião do processo de construção participativa do Projeto Político Pedagógico da Escola, desencadeado pela necessidade de mudança na estrutura e organização escolar, o qual buscava “consolidar a escola como um espaço de cultura: democrática, participativa, crítica, integrada à realidade, preocupada com o desenvolvimento sócio-político e cultural dos estudantes, digna e de qualidade” (UFSC,

1997, p. 7), os professores de Arte foram chamados a refletir e posicionar-se frente aos fundamentos da proposta pedagógica de arte na escola.

Resumidamente, consta desta Proposta de Ensino de Arte do Colégio de Aplicação da UFSC (2001) que:

Ao refletirmos sobre o conhecimento artístico como uma forma de compreensão, apropriação e transformação do meio vivenciado, consideramos que o significante da arte não se relaciona apenas com seu aspecto formal - extrapola a esfera intelectual para resgatar o universo sensível do ser e de ser e sua experiência está voltada para a dialética entre a razão e a emoção.

É nessa perspectiva que leva em conta a totalidade do ser humano, que precisamos pensar a formação do educando, no sentido de possibilitar-lhe o conhecimento, percebendo a Arte na educação como campo de conhecimento, com a finalidade de propiciar uma relação mais consciente do ser humano no mundo e para o mundo.

A proposta metodológica para o ensino de Arte do Colégio de Aplicação, fundamentada na visão de Arte como conhecimento, pressupõe a interação do fazer artístico com a contextualização histórica e a leitura e apreciação crítica da arte.

Com esta proposta, buscamos recuperar a totalidade do humano através do resgate da afetividade, das questões inquietantes e significativas vivenciadas, fazendo vir à tona os sentimentos, emoções, idéias, imaginações, buscas, inquietações e prazeres, o lado subjetivo do indivíduo professor e do indivíduo aluno. (UFSC, 2001, p. 2).

Atualmente delimitamos como objetivos do Ensino de Arte no Colégio de Aplicação:

(a) propiciar uma alfabetização estético-artística nas diversas linguagens: musical, teatral e visual;

(b) possibilitar a construção de capacidades sensíveis e cognitivas para vivenciar, fruir e expressar a Arte;

(c) contribuir para a constituição da subjetividade de si e do outro, mediada pela experiência estética, e

(d) contribuir para a formação de sujeitos estéticos, críticos, éticos, capazes de interferir no contexto sócio-cultural e histórico de forma significativa e transformadora.

Ao reconhecermo-nos produtores da cultura e culturalmente constituídos, aumenta a trama de reflexões referentes ao aprender e ensinar Arte na escola. A imaginação possibilita-nos novos vôos e amplia complexidades que sabemos inesgotáveis. Novas experiências e projetos vão sendo tecidos e materializados através das práticas educativas e os espaços do ensino de Arte automaticamente vão sendo preenchidos, ampliados e enriquecidos com os espaços de arte criados na escola.

3.3 ESPAÇO ESTÉTICO DO COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UFSC: UM ESPAÇO