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4.2 O OLHAR DOS QUE TRANSITAM PELO ESPAÇO ESTÉTICO

4.2.1 Quando apenas Um Sujeito Passa pelo Espaço Estético

No gráfico 8 observamos a característica do olhar das diferentes categorias de sujeitos que transitaram individualmente, do total de 2680 sujeitos.

Gráfico 8 - Distribuição dos sujeitos que transitaram individualmente, por característica de olhar. Fonte - Elaborado pela autora, com auxílio da acadêmica de psicologia Lílian Caroline Urnau. Nota - Alunos: 834, 233 e 23; prof. Arte:73, 11 e 2; prof. Séries Iniciais: 242, 40 e 1; prof. 5ª-8ª e E.M.: 74,

17 e 7; funcionários: 358, 48 e 8; pais de alunos: 26, 38 e 13; outros: 430, 183 e 19.

Os percentuais presentes neste gráfico conservam uma certa semelhança com o gráfico 6, que nos apresenta o percentual pelo número total de indivíduos que transitaram (sem considerar a forma de trânsito). Com diferenças levemente significativas, apontamos a pequena diminuição de alunos e professores de Séries Iniciais que se detiveram para olhar. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Percentual da característica do olhar Aluno Prof. Arte

Prof. Séries Iniciais Prof. 5

ª - 8ª e E.M. Funcionário Pai Outros

Sujeitos que transitaram individualmente

Deteve-se para olhar Olhou Rapidamente Não Olhou

Apesar de nesta forma de trânsito não prevermos análise referente à conversa dos sujeitos, tendo em vista não inserirmos as subcategorias mediação de pares e qualidade da

conversa nos formulários de pesquisa desta categoria, uma vez que os sujeitos estariam

transitando sozinhos pelo local, cabe mencionar neste momento que algumas falas foram dirigidas pelos sujeitos à pesquisadora. Embora temporariamente afastada de seu papel social na escola, este não poderia deixar de ser considerada pelos sujeitos, por sua história e envolvimento com o Espaço Estético. A simples presença física de alguém no local já possibilitaria a previsão do estabelecimento da mediação de pares.

Desta forma, sem nos propormos a uma análise mais aprofundada, consideramos pertinente apresentar algumas destas falas, visando qualificar a análise deste momento. Iniciaremos por apresentar as expressões exclamativas de encantamento e admiração, que buscam ressaltar a qualidade do local, da mostra e de algumas obras expostas, uma vez que representam o maior percentual das falas:

- “Tá muito linda esta exposição.” (Professora de Séries Iniciais, de passagem,

direcionando o olhar rapidamente para a mesma, 23.06).

- “Ficou bem legal esta exposição! Legal né!?” (Professora de Séries Iniciais, de

passagem, dirigindo-se em seguida a um outro professor que passava, 23.06).

- “Bem interessante né!? São de Arte?” (Mãe de aluno ao deter-se para observar a

exposição, 23.06).

- “Tá tudo muito lindo! Como a arte consegue, mobilizar tanto a gente? Tá demais!” (Professora de 5ª a 8ª série e E.M., ao deter-se para apreciar a exposição, 23.06). - “Mas tá bonito este colégio, né? Tá lindo!” (Pai de aluno de passagem,

direcionando o olhar para a mostra, 10.07).

- “Ficou boa esta exposição de arte contemporânea. Enche! Ficou muito legal! Olha que lindo este com carvão!” (Professora de Arte, de passagem, direcionando o olhar

rapidamente e destacando a obra Sem Título de Mariana Silveira, 23.06).

- “Que lindo que fizeram! Olha este que forte, bem mais forte. Pesado!”

(Funcionária da biblioteca, ao deter-se para analisar a obra Fé(chado) de Mariana Bado, 23.06).

- “Adorei esta exposição. Parece o tapete do divino. A interferência com carvão ficou legal!” (Professora de Arte, de passagem ressalta a obra Sem Título de Mariana

Silveira, 23.06).

- “Bárbaro, né! ‘Globo torneira’. Tenho que vir outra hora para olhar.”

(Professora de 5ª a 8ª e E.M. detendo-se para olhar a obra Sem Título de Marina Vieira, 01.07).

Além da exclamação referente ao espaço e obras expostas, observamos outras falas que trazem presentes um encantamento, provindo das falas dos alunos, porém resultante do exercício do papel do professor mediador, conforme segue:

- “Adorei a gaiola. Já trouxe meus alunos aqui, olhamos, falta escrever. Um aluno relacionou a rosa direto com amor e destruição.” (Professora de Séries Iniciais, de

passagem, refere-se à obra Sem Título de Fernanda Martins, 01.07).

- “Meus alunos vieram visitar, a Maria Cristina que monitorou. Foi ótimo! Até me surpreendi com meus alunos. Aquela rosa saiu cada coisa! Um dos alunos atribuindo título falou: ‘Como o amor dói’. Estou fazendo os trabalhos, mas tem que ser por passos.”

(Professora de Séries Iniciais, refere-se à obra Sem título de Fernanda Martins, 04.07).

Observa-se, ainda, que algumas falas surgem de um olhar fugaz, efêmero e brincalhão, bem como, em contrapartida, outras ecoam de um olhar que associa, que é curioso, crítico, que significa e flui significando:

- “Fizeram a festa e esqueceram os copos aqui!” (Funcionário, de passagem,

apontando para a obra Sem Título de Marina Vieira, 01.07).

- “Olha, o passarinho fugiu!” (Funcionário, de passagem, direciona rapidamente o

- “Fazer um teste nestes cabelos para ver de quantas pessoas são os botões!?”

(Professor de 5ª a 8ª série e E.M ao deter-se para analisar a obra Fé(chado) de Mariana Bado, 23.06).

- “Eu não entendi esta!” (Conversamos um pouco a respeito das possibilidades de

diálogo com a obra) “Nossa, essa aluna deve ter uma sensibilidade! É uma coisa

profunda!” (Professor de Séries Iniciais ao deter-se para analisar a obra Fé(chado) de Mariana Bado, 10.07).

- “Concepção de fé na terra. [...] Ao nascer você pega um valor e tem que devolver a vida potencializada para receber a vida eterna, valores morais cumpridos, se não [...].”

(Professora de 5ª a 8ª e E.M., ao deter-se frente a obra A fé na Terra de Roberta Silva).

- “Essa exposição está tão impactante que eu ainda não parei. O que é aquela rosa?! E esse com carvões?! E aquele se não é a Marilyn Monroe naquele quadro kitsch. Essa da terra, as cinzas! Como é o nome da exposição?” (Respondo, Diálogos 2002). “Diálogos contemporâneos, né?! Porque [...]” (Conversamos, são todas obras críticas, que

mobilizam fatos que mexem, tocam profundamente...) “Eu só me encorajei de sentar aqui

um pouco agora porque tu estás aqui.” (Professora de 5ª a 8ª e E.M., detendo-se para

analisar a exposição. Refere-se respectivamente às obras: Sem Título de Fernanda Martins,

Sem Título de Mariana Silveira, Beleza de Tatiana Gregório e A Fé na Terra de Roberta

Silva, 16.07).

Dois dias após a fala acima citada, observamos o registro escrito da referida professora no caderno de assinatura da exposição: “Exposição inquietante, pois mostra a

delicadeza mortalmente ferida, atingida, o ser humano e a natureza dilacerados, a beleza ruindo [...].”

Olhar que a cada dia amplia sentidos, como nos diria Saramago (1997), fervilha de sentidos múltiplos, primeiros, segundos e terceiros, num fervilhar sem fim.