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Um Han está a Oeste, um Han ao Leste está; O cervo, em Changan, menos se preocupará.

No documento Romance Dos Três Reinos - V0.14 (páginas 46-49)

Ao Incendiar A Capital, Dŏng Zhuō Comete Uma Atrocidade; Ao Ocultar o Selo Hereditário Imperial, Sūn Jiān Rompe A Confiança

12. Um Han está a Oeste, um Han ao Leste está; O cervo, em Changan, menos se preocupará.

13. Lĭ Rú prosseguiu: “Se refletires sobre este dístico, aplica-se ele sobre a presente situação. A metade do primeiro verso refere-se ao fundador da dinastia, Liú Bāng, o Supremo Ancestral, que se tornou regente na cidade de Changan, a oeste, a qual foi Capital do Império por doze reinados. A outra parte corresponde a LiuXiu, o Anterior Fundador do Hàn, que fez sua regência em Luòyáng, Capital do leste durante os doze reinados anteriores. A revolução dos Céus traz-nos de volta a este momento inicial. Portanto, transfere a Capital a Changan, havendo assim motivo algum para a ansiedade.”.

14. Dŏng Zhuō estava extremamente satisfeito e lhe disse: “Não tivesses assim o dito, não o teria compreendido!”.

15. Então, a levar Lǚ Bù consigo, Dŏng Zhuō pôs-se em Luòyáng a dar início a tal desígnio.

16. Lá então convocou ele ao Palácio seus oficiais em um grande conselho, dirigindo- se assim a eles: “Após dois séculos de regência aqui, exauriu-se a boa fortuna real; antevejo que a aura regencial migrara para Changan, motivo pelo qual desejo mudar a Corte. É melhor que todos se preparem para a jornada.”.

17. Yang Biao, Ministro do Interior, disse: “Rogo a vós que reflitais. A Terra Além das Passagens é toda em ruínas. Não há razão para renunciar aos templos ancestrais e abandonar as tumbas imperiais aqui. Temo que o povo ficará alarmado. Fácil é alarmá-los, mas difícil é apaziguá-los.”.

18. “Tu te opões aos planos do Estado?”, disse Dŏng Zhuō, em ira.

19. Outro oficial, Huang Fu, o Grande Comandante, apoiava seu colega. “Durante a

Era do Recomeço15, Fan Chong, um dos rebeldes dos SobrancelhasVermelhas, incendiou Changan e deixou o lugar em ruínas, sobrando-lhe apenas suas lajes partidas16. Lá permaneceram alguns, e outros foram para outras regiões. Não é correto

15 23 d.C a 25 d.C. (N. do T.)

16 Durante o período de 9 a.C. a 23 d.C., Wáng Măng , oficial da Dinastia Hàn, usurpou o trono da

abandonar estes palácios em troca de um inóspito terreno.”

20. Dŏng Zhuō respondeu: “O Leste das Passagens está imerso em sedição, e o Império está em plena rebelião. A cidade de Changan é protegida pelas Montanhas Yaohan e pela Passagem Hangu. Além disso, é próxima a Longyou, de onde podem ser trazidas lenha, pedras, tijolos e materiais para construção. Em pouco menos de um mês os palácios estarão construídos. Que isto cesse, então, tuas irrefletidas palavras!”.

21. Assim mesmo, Xu Shuang, Ministro dos Trabalhos, levantou outro protesto, a mostrar preocupação com o transtorno gerado ao povo, mas Dŏng Zhuō também o repeliu.

22. “Como posso levar senão um punhado de pessoas comuns em consideração, quando afeta meu desígnio a todo o Império?”, disse Dŏng Zhuō.

23. Naquele dia os três objetores - Yang Biao, HuangFu e Xu Shuang – foram afastados de seus cargos e reduzidos à posição de comuns.

24. Assim que ia Dŏng Zhuō tomar posição sobre seu assento, encontrou ele dois outros oficiais que a ele fizeram reverência. Eram eles Zhou Bi, Chefe do Secretariado, e Wu Qiong, o Comandante dos Portões da Cidade. Dŏng Zhuō os deteve, perguntando-lhes quê queriam.

25. Disse Zhou Bi: “Queremos tentar dissuadir-vos de vosso desejo de mudar a capital para Changan.”.

26. Dŏng Zhuō respondeu: “Persuadistes a mim a fim de conceder um posto a Yuán Shào. Agora volta-se ele como traidor, e sois vós da mesma estirpe!”.

27. E, sem mais demora, ordenou a seus guardas que levassem ambos para fora da cidade e os pusessem à morte. A ordem para mudar-se imediatamente à nova capital foi proclamada.

28. Lĭ Rú, enquanto falava com Dŏng Zhuō, disse-lhe o seguinte: “Dispomos de pouco dinheiro e pouco alimento, e as pessoas ricas de Luòyáng poderiam facilmente ser pilhadas. Esta é uma boa ocasião para relacioná-los com os rebeldes, assim confiscando suas propriedades.”.

29. Dŏng Zhuō enviou cinco mil homens com o intuito de pilhar e matar. Eles capturaram milhares de cidadãos ricos e, pondo-lhes bandeiras que os marcavam como Traidores e

Rebeldes, os mandaram para fora da cidade e os puseram à morte. Suas propriedades atacada por bandidos e o palácio, saqueado. Wáng Măng, visto por alguns como usurpador do trono e, por outros, como honesto seguidor dos preceitos de Confúcio, morreu em batalha, junto a diversos membros da Corte. Após seu reinado, restaurou-se a Dinastia Hàn, e Liu Xiu (Imperador Guangwu) subiu ao trono. (N. do T.)

foram todas confiscadas.

30. A tarefa de levar os habitantes, alguns milhões, foi dada a dois dos comandantes de Dŏng Zhuō, Lĭ Jué e Guō Sì. O povo foi levado em grupos, cada um entre dois grupos de soldados que os guiavam em direção a Changan. Um enorme número de pessoas caía pelas laterais da estrada e morria sobre as valas, e a escolta pilhava os fugitivos e abusava das mulheres. Um gemido de lágrimas ascendia aos plenos Céus. 31. As ordens finais de Dŏng Zhuō, ao deixar a capital Luòyáng, foram de incendiar toda a cidade: palácios, templos e tudo o que lá havia foi devorado pelas chamas. A capital se transformou em vasta terra desolada.

32. Dŏng Zhuō ordenou a Lǚ Bù que profanasse as tumbas dos imperadores e de suas consortes para saquear suas jóias, e os soldados aproveitaram a situação para violar os túmulos de oficiais e saquear os cemitérios. O espólio da cidade, de ouro e prata, de pérolas, sedas e magníficos ornamentos, preenchia milhares de carroças. Com estes, e com as pessoas do Imperador e sua criadagem, Dŏng Zhuō moveu-se em direção à nova Capital no primeiro ano da InauguraçãodaTranquilidade17.

33. Com Luòyáng assim abandonada, Zhào Cén, general de Dŏng Zhuō que protegia a passagem do rio Si, deixou seu posto, o qual foi logo ocupado por Sūn Jiān. Liú Bèi e seus irmãos tomaram a passagem da Armadilha do Tigre e os senhores aliados avançaram.

34. Sūn Jiān apressou-se em direção à antiga capital, a qual ainda ardia em chamas. Assim que chegou, viu colunas de fumaça negra que se espalhavam por sobre toda a cidade e estendiam-se por quilômetros à sua volta. Não havia lá um ser vivo, sequer uma ave, sequer um cão, sequer um ser humano. Sūn Jiān ordenou a seus soldados que apagassem as chamas e preparassem locais para acamparem os senhores aliados. 35. Cáo Cāo encontrou-se com Yuán Shào e lhe disse: “Dŏng Zhuō seguiu rumo ao oeste. Precisamos atacar sua retaguarda o quanto antes. Por quê permaneceis inerte?”. 36. “Nossos colegas todos estão cansados, e não há nada a ser ganho com um ataque.”, disse Yuán Shào.

37. Cáo Cāo disse: “Este momento é o mais propício, dada a confusão que agora impera – palácios incendiados, o Imperador, abduzido, o mundo em ira e ninguém a saber para onde curvar-se. A vilania terá em breve seu fim, e um golpe apenas poderá exterminar Dŏng Zhuō. Por quê não o perseguir?”.

38. Mas os senhores aliados pareciam ter um pensamento apenas, e este pensamento era o de postergar qualquer ação. Então, nada fizeram.

39. “Este povo indigno não é capaz de discutir coisas dignas!”, exclamou Cáo Cāo. 40. Então ele e seus seis generais – Xiàhóu Dūn, Xiàhóu Yuān, Cáo Rén, Cáo Hóng, Lĭ Diăn e Yuè Jìn -, juntamente com dez mil homens, deram início à perseguição.

41. A estrada que ia em direção à nova capital passava por Yingyang. Assim que lá chegou Dŏng Zhuō, seu governador, Xú Róng, foi-se à frente para receber a comitiva.

42. Lĭ Rú disse: “Por haver risco de sermos seguidos, seria prudente ordenar ao Governador deste lugar que prepare uma emboscada fora da cidade. Ao garantirem passagem aos perseguidores, serão eles derrotados por nós e, quando em fuga, interceptados pela emboscada. Isto desencorajará qualquer um com o intuito de nos perseguir.”.

43. Então Dŏng Zhuō ordenou a Lǚ Bù que comandasse a força de retaguarda. Muito em breve viram eles Cáo Cāo, e riu-se Lǚ Bù ao avistá-lo. Ele organizou sua tropa em formação de combate.

44. Cáo Cāo cavalgou à frente, a exclamar: “Rebeldes, abdutores, opressores do povo, aonde ides?”.

45. Respondeu Lǚ Bù: “Simplório traiçoeiro, que dizeres loucos serão esses?”.

46. Então da tropa de Cáo Cāo surgiu Xiàhóu Dūn com sua lança em punho, e Lǚ Bù e

Xiàhóu Dūn puseram-se em combate. O combate mal havia começado quando Lĭ Rú, em companhia de outros, surgiu à esquerda. Cáo Cāo ordenou a Xiàhóu Yuān que fosse também ao embate. Pelo outro lado, porém, surgiu Guō Sì e suas tropas. Cáo Cāo enviou

Cáo Rén para o embate com Guō Sì. A investida do inimigo era muito poderosa e as tropas de Lǚ Bù estavam em grandioso número, então Xiàhóu Dūn foi obrigado a recuar à linha principal. Com isto, as tropas blindadas de Lǚ Bù fizeram seu ataque e deram a derrota por completa. O exército derrotado de Cáo Cāo recuou, em retirada, para próximo à cidade.

47. Ao entardecer, aproximadamente ao tempo da segunda vigília, chegaram eles próximos ao sopé de uma colina e a lua, alta, deixava a terra clara como o dia. Lá, detiveram-se a fim de se recomporem. Tão logo faziam os preparativos para cozinharem a comida, ouviram altos brados e, por todos os lados, da emboscada surgiam as tropas do Governador Xú Róng, prontas para atacar.

48. Cáo Cāo, imerso em grande azáfama, fez-se montaria e fugiu. Sem saber, foi-se direto aonde Xú Róng o aguardava. Então, esquivou-se para outra direção, mas Xú Róng disparou uma flecha que o atingiu no ombro. Com a flecha ainda em sua ferida, fugiu Cáo Cāo a fim de sobreviver. Conforme passava por sobre uma colina, dois soldados, que lá o

estavam aguardando, surgiram repentinamente e feriram seu cavalo, o qual caiu e rolou sobre a relva. E, assim que desmontava de sua sela, foi ele capturado e feito prisioneiro.

49. Foi quando surgiu em galope ligeiro um cavaleiro e, brandindo sua espada, cortou ambos os captores e resgatou Cáo Cāo. Era Cáo Hóng o cavaleiro.

50. Cáo Cāo disse: “Estou condenado, meu bom irmão. Vai, e salva a ti! 51. “Meu senhor, monta em meu cavalo! Eu seguirei a pé!”, disse Cáo Hóng. 52. “E quê será de ti, caso aqueles miseráveis surjam?”, disse Cáo Cāo. 53. “O mundo pode ficar sem Cáo Hóng, mas não sem ti, meu senhor!”. 54. “Se sobreviver, a ti deverei minha vida!”, disse Cáo Cāo.

55. Então pôs-se ele à sela. Cáo Hóng arrancou sua armadura, empunhou sua espada e pôs-se a andar junto ao cavalo. Assim seguiram eles até a quarta vigília, quando viram, à sua frente, um amplo veio de água e, atrás de si, ainda escutavam dos perseguidores os brados cada vez mais próximos.

56. “É este o meu destino,”, disse Cáo Cāo, “estou mesmo condenado!”.

57. Cáo Hóng ajudou Cáo Cāo a desmontar de seu cavalo. Então, despindo-se de suas vestes de combate e de seu capacete, Cáo Hóng carregou o ferido em suas costas e seguiu pelo veio d’água. Assim que chegaram à outra margem, os perseguidores já haviam ganho acesso à margem oposta, de onde disparavam flechas.

58. Ensopado, prosseguiu Cáo Cāo. Aproximava-se a aurora. Seguiram eles por vários quilômetros, até que pararam para descansar ao sopé de um precipício. Repentinamente ouviram altos brados, e então um grupo de cavaleiros surgiu. Era o Governador Xú Róng, o qual havia cruzado o vau do rio. Foi neste momento que, de súbito, surgiram Xiàhóu Dūn e Xiàhóu Yuān com várias dúzias de homens.

59. “Não feri meu senhor!”, exclamou Xiàhóu Dūn a Xú Róng, o qual prontamente investiu contra ele.

60. Mas foi breve o combate. Xú Róng rapidamente caiu sob um golpe de lança de

Xiàhóu Dūn, e suas tropas foram dispersadas. Em pouco tempo, chegaram os outros generais de Cáo Cāo. Tristeza e alegria entrelaçavam-se entre os cumprimentos. Eles reuniram as poucas centenas de soldados remanescentes e retornaram a Luòyáng. 61. Assim que os senhores aliados adentraram em Luòyáng, Sūn Jiān, após ter

extinto todas as chamas, ergueu acampamento próximo às muralhas, tendo sua própria tenda sido montada próxima ao Templo Dinástico. Seu pessoal removeu os detritos e fechou as fendidas tumbas. Os portões foram barrados com travas. Ao lado do Templo Dinástico montaram eles um abrigo e, então, rogaram aos senhores que se reunissem e lá prestassem homenagens, sacrifícios e orações.

62. Finda a cerimônia, os demais partiram e Sūn Jiān retornou a seu acampamento. Naquela noite, competiam em brilho a lua e as estrelas. Sentando-se ao ar livre e a mirar os altos céus, percebeu ele uma névoa que se espalhava sobre as estrelas da Constelação do Dragão.

63. “A estrela do Imperador está esmaecida.”, disse Sūn Jiān, com um suspiro. “Eis que um ministro rebelde perturba o Estado, o Povo queda-se em poeira e cinzas e a Capital é feita em ruínas!”.

64. E suas lágrimas rolavam sobre seu rosto.

65. Então apontou ao sul um soldado, a dizer: “Há um facho de luz colorida vinda de um poço!”.

66. Sūn Jiān ordenou a seu pessoal que acendesse tochas e entrasse no poço. Logo trouxeram consigo o cadáver de uma mulher havia sido morta e estava lá há provavelmente algum tempo. Ela vestia roupas palacianas e, sobre seu pescoço, pendia um saquitel bordado. Ao abrirem-no, lá encontraram um pequeno baú vermelho de tranca dourada e, dentro dele, viram um quadrado selo de jade, com cerca de dez centímetros em cada um de seus lados. Sobre ele haviam sido delicadamente talhados cinco dragões entrelaçados. Um dos cantos estava partido, tendo sido consertado com ouro. Havia oito caracteres no estilo do entalhe de selo, os quais podiam ser assim interpretados:

67. Foi Pelos Céus O Mandato Agraciado:

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