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CAPÍTULO II: EDUCAÇÃO DE ADULTOS EM MOÇAMBIQUE

2.4. Estabelecimento do Sistema Nacional de Educação

Até à altura do lançamento das campanhas de alfabetização e educação de adultos (1978), Moçambique não dispunha de um Sistema Nacional de Educação, as atividades educacionais, particularmente as da alfabetização e da educação de adultos, eram asseguradas pela DNAEA. No entanto, as medidas tomadas no III Congresso (1977), recomendavam, entre outros aspetos, uma planificação rigorosa e centralizada que articulasse adequadamente os recursos com as necessidades com vista a enfrentar a miséria, a fome, o analfabetismo e o subdesenvolvimento durante a década de 1980/90 (Gómez, 1999, p. 348). Assim, na sequência desse raciocínio, era necessária a instituição de um sistema nacional de educação que pudesse responder às exigências de um crescimento planificado e, ao mesmo tempo, que pudesse assegurar a consecução do objetivo central da criação do Homem Novo, construtor da pátria socialista (Mazula, 1995, p. 171).

Com essa perspetiva, criou-se, no Ministério da Educação e Cultura (MEC), um Gabinete do Sistema Nacional da Educação que integrava responsáveis nacionais do ministério e da universidade. Esta equipa coordenava com outros setores sócio-económicos que apresentavam as necessidades e as expetativas que o sistema de educação devia ter em conta (Gómez, 1999). Através do trabalho dessa equipa, de acordo com Mazula (1995) o “MEC apresentou à Assembleia Popular, na sua 9ª sessão, um documento contendo a conceção de um novo sistema educacional conhecido por Linhas Gerais do Sistema Nacional da Educação que foram aprovadas pela resolução nº 11/81, de 17 de dezembro” (p. 171) e, dois anos mais tarde, com base nesse documentos, em março de 1983 foi aprovada, pela Assembleia Popular, a Lei do Sistema Nacional da Educação.

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2.4.1. A Educação de Adultos no Sistema Nacional da Educação

A Lei nº4/83 do SNE concebeu a educação como um processo organizado para transmitir às novas gerações experiências, conhecimentos e valores culturais tendo como fundamento as experiências da educação desde a luta armada até à nova em que se construía o socialismo nos princípios universais do Marxismo-Leninismo e no património comum da humanidade.

Assim, para fazer face a essas intenções, o SNE definiu três grandes objetivos nomeadamente: a erradicação do analfabetismo; a introdução da escolaridade obrigatória; e a formação de quadros para as necessidades do desenvolvimento económico e social e da investigação científica, tecnológica e cultural.

Relativamente à educação de adultos, tendo em conta o objetivo de erradicar o analfabetismo e para assegurar o não retorno ao analfabetismo das pessoas alfabetizadas e a continuação dos seus estudos, a lei do SNE estabeleceu um subsistema da educação de adultos estruturados em três níveis nomeadamente: Ensino Primário, Ensino Secundário e Ensino Pré-universitário, todos exclusivamente para Adultos.

O Ensino Primário foi dividido em dois graus. O primeiro correspondia a componente da alfabetização, durava três anos e tinha uma formação equivalente à 5ª Classe e; o segundo grau, com a duração de dois anos, constituía a continuação da formação iniciada no primeiro grau e conferia aos graduados uma formação equivalente a 7ª Classe do Ensino Geral.

O Ensino Secundário tinha uma duração de três anos e devia ser frequentado por aqueles que tivessem terminado nomeadamente o Ensino Primário para Adultos, o Ensino Primário Geral ou o Ensino Elementar Técnico-profissional. Os graduados tinham uma certificação equivalente ao Ensino Secundário Geral.

E, por fim, o Ensino Pré-universitário para Adultos, que durava dois anos, devia ser frequentado por aqueles que concluíssem o Ensino Secundário para Adultos, o Ensino Secundário Geral ou o Ensino Básico Técnico-profissional. Com essa estrutura, a Lei nº 4/83 assegurava à população maior de 15 anos uma formação científica geral equivalente aos diversos graus e níveis estabelecidos no SNE.

Porém, o novo SNE não levou muito tempo e funcionou com muitas dificuldades em parte devido ao conflito armado, que estava latente até mesmo na altura da independência e em parte devido ao sistema económico e político adotado pela FRELIMO no período pós independência.

Até à altura da independência (1975) havia dissidentes africanos que tinham sido expulsos da FRELIMO ou que se haviam associado, durante a guerra de libertação, a movimentos obscuros. Estes, apoiados pelos colonos e pelo regime de apartheid da África do Sul, opuseram-se ao governo da

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FRELIMO e formaram a RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique) que travou uma luta com a FRELIMO entre 1977 e 1992. Esse movimento rebelde, segundo Newitt (1997), tinha como principais alvos nomeadamente: “as aldeias comunais e cooperativas, infraestruturas sociais como hospitais, escolas e edifícios governamentais” (p. 483), por isso o SNE funcionou com dificuldades: infraestruturas sabotadas, professores e alunos mortos ou deslocados e, como consequência disso, a alfabetização e educação de adultos sofreu uma redução significativa ficando confinada às grandes cidades (Mário & Nandja, 2010).

Porém, através da pressão que a FRELIMO sofria do sistema capitalista ocidental, de acordo com Francisco (2010), no seu V Congresso (1989) decidiu abandonar o sistema marxista-leninista e implantar o sistema capitalista de economia de mercado, pois, com essa medida o país deixava de representar uma extensão do regime soviético na região austral de África e poderia receber apoio dos Estados Unidos para fazer face à crise causada pela guerra e pelo regime político.

Assim, após o fim da guerra mediante a assinatura de acordos de paz, em Roma (1992), entre a FRELIMO e a RENAMO, implantou-se a democracia e o multipartidarismo no país e, a partir de década de 80 o país atravessava um momento de ajuste económico através do Programa de Reabilitação Económica (PRE) que começou a ser aplicado em janeiro de 1987 (Mosca, 2005, p. 309). Diante dessa situação, o país reajusta o SNE através da Lei nº6/92, de 6 de maio, para adequar as disposições contidas na lei anterior (Lei nº 4/83) às atuais condições sociais e económicas do país, tanto do ponto de vista pedagógico como organizativo (SNE, 1992).

No que diz respeito à alfabetização e educação de adultos tanto o anterior como o reajustado SNE definem como um dos seus objetivos gerais nomeadamente: “erradicar o analfabetismo de modo a proporcionar a todo o povo o acesso ao conhecimento científico e o desenvolvimento das suas capacidades” (SNE, Artº. 3ºa).

Quanto à sua estrutura, o atual SNE compreende três tipos de ensino nomeadamente: o Ensino Pré-Escolar, o Ensino Escolar e o Ensino Extraescolar. Neste sistema, a educação de adultos é considerada como uma das modalidades especiais do ensino escolar que acolhe os indivíduos que já não se encontram na idade normal de frequência dos Ensinos Geral e Técnico-profissional ou aqueles que não tiveram oportunidade de se enquadrarem no sistema do ensino escolar. O nível de acesso à educação de adultos é a partir dos 15 anos para o Ensino Primário e 18 para o Ensino Secundário que geralmente funciona em regime noturno. O Ensino de adultos atribui os mesmos diplomas e certificados conferidos pelo ensino regular.

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