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3 ESTUDO DAS ALTERNATIVAS: A BUSCA PELO DESEMPENHO DE UM TRABALHO COM QUALIDADE

3.1 O ESTADO COMO MINIMIZADOR DOS REFLEXOS PERVERSOS DO MUNDO DO TRABALHO

Após a compreensão da crise do capital e de seus reflexos, faz-se necessário buscar formas de remediação dos efeitos causados no mundo do trabalho e, portanto, diretamente ao trabalhador. Nesse sentido, serão destacadas outras ideias possíveis para a minimização das graves questões sociais geradas pelo contexto apresentado; opções que, em certos casos, são concretizadas por meio de políticas estatais as quais buscam a inclusão socioeconômica do público atingido por estas ações.

3.1.1 A busca por um desenvolvimento includente: o trabalho como elemento redutor de disparidades

Diante da necessidade de atenuar os efeitos causados pela relação existente entre pobreza, desigualdade e exclusão social, Sachs (2008, p.38) aponta a necessidade de promoção de uma “inclusão justa”, o que se conforma como requisito essencial para que ocorra o desenvolvimento. Assim, “se o adjetivo deve colocar atenção no aspecto mais essencial do paradigma de desenvolvimento, podemos falar então de desenvolvimento includente8”.

Tal desenvolvimento proposto pelo autor seria, portanto, a oposição ao padrão de crescimento perverso, caracterizado como excludente e concentrador, que se diferencia igualmente por uma larga escala de trabalhadores confinados em atividades informais e pela fraca participação na vida política por parte da população absorvida por uma luta diária pela sobrevivência. A concretização do desenvolvimento includente requer, dessa forma, o exercício garantido dos direitos civis e políticos, sendo a democracia um valor fundamental. Além disso, os cidadãos deveriam ter acesso a programas de assistência e iguais oportunidades de acesso a serviços públicos como educação, saúde e habitação. Indo além, o desenvolvimento includente deve ser alcançado pela garantia de emprego para todo indivíduo, o que não

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se conforma como uma alternativa fácil em função das contradições inerentes ao capitalismo9.

Em defesa da garantia do emprego para todos, Sachs (2008) destaca a necessária diferenciação entre as políticas compensatórias financiadas pela redistribuição de renda mediante o sistema fiscal e as políticas de emprego que modificam a distribuição de renda. Para o autor, ambas são necessárias, entretanto, as primeiras requerem despesas contínuas, enquanto as políticas de emprego, mediante a criação de oportunidades de trabalho decente10, provocam modificações duradouras na estrutura social. Assim, a geração de emprego deve ser priorizada em detrimento das políticas assistencialistas, mesmo porque essas não promovem a dignidade proporcionada pelo trabalho.

Como destaca Sachs (2008), o Brasil iniciou o século XXI com um aparelho industrial moderno e diversificado, mas, a estrutura ocupacional reflete o atraso social do país. O autor caracteriza a economia brasileira como um arquipélago de empresas modernas e eficientes imersas num oceano de atividades de baixa produtividade: “A riqueza está concentrada no arquipélago, e uma parcela importante da população busca a sobrevivência nadando no oceano da informalidade” (SACHS, 2008, p. 112). A acomodação dos novos contingentes de indivíduos que entram na força de trabalho e a solução da dívida social causada pelo desemprego e subemprego dependerão da criação de empregos que absorvam, dignamente, a massa de indivíduos aptos ao trabalho no Brasil. Como afirma Sachs (2008):

(...) durante quarenta anos de crescimento econômico e de modernização rápidos, porém socialmente perversos, seguidos de mais de duas décadas quase perdidas, o Brasil precisa se transformar numa gigantesca fábrica de empregos. Ano após ano, deverão ser gerados de 2 a 2,5 milhões de postos

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9 O próprio Sachs (2008, 41, grifos do autor) reconhece a dificuldade em garantir-se emprego

decente para todos em função das características inerentes ao capitalismo, afirmando: “Não resta dúvida de que o capitalismo é muito eficiente em termos de alocação, porém deficiente em termos das eficiências keynesianas social e ecoeficiência, que são essenciais ao conceito de desenvolvimento includente, fundamentado no trabalho decente para todos.

10 Deve-se destacar que nem toda oportunidade de trabalho se perfaz como Trabalho Decente.

É preciso que as políticas empreendidas pelo Estado foquem na criação de vagas e oportunidades com os atributos que compõem o Trabalho Decente. O conceito será estudado a posteriori, mas, desde já, afirma-se que esse tipo de labor é definido como aquele devidamente remunerado e exercido em condições de liberdade, equidade, segurança e apto a proporcionar uma vida digna ao trabalhador (GOSDAL, 2007).

adicionais de trabalho definido pela OIT como decente (SACHS, 2008, p. 112, grifo do autor).

Sachs (2008) propaga a possibilidade e a necessidade de criação de estratégias de desenvolvimento que asseguram inclusão social pelo trabalho decente, por duas razões principais: 1) a inserção no sistema produtivo oferece uma solução definitiva, se comparadas às políticas assistenciais que requerem financiamento público constante e 2) com relação ao indivíduo, o trabalho promove satisfação pessoal.

O autor destaca ocupações que poderiam ter posição de destaque na estratégia de inclusão pelo trabalho decente, como aqueles nos setores não comerciáveis da economia (como os serviços sociais ministrados pelas redes de educação, saúde pública e assistência social; serviços, comércio e turismo; construção civil, com destaque para a construção de moradias de maneira a reduzir o déficit habitacional brasileiro; as obras públicas); nas indústrias naturalmente intensivas em mão de obra e artesanato e nos empreendimentos de pequeno porte (SACHS, 2008).

Quanto a esses últimos, o autor aponta uma enorme heterogeneidade no setor, o que requer a formulação de políticas públicas igualmente distintas. Esse grupo é composto por segmentos como os trabalhadores por conta própria, que se subdividem em postos de baixa qualificação e de alta qualificação; micro e pequenas empresas com atividades informais; micro e pequenas empresas com atividades formais, bem como aquelas que se inserem na economia solidária, como é o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis. Parte desses empreendimentos, entretanto, em função da baixa produtividade, é obrigada a buscar competitividade por meio de expedientes denominados por Sachs (2008) de competitividade espúria, como os baixos salários, a ausência de proteção social, a jornada de trabalho inadequada, sonegação de impostos, além de condições insalubres de trabalho. Conforme o autor, “eles não têm outra solução a não ser mergulhar na informalidade” (SACHS, 2008, p. 145).

Nesse sentido, Sachs (2008) considera que a “desinformalização” dos empreendimentos de pequeno porte consiste em prioridade nas políticas voltadas para a economia. Ademais, é necessário consolidar esses

empreendimentos já existentes, uma vez que a concentração de esforços na promoção de novos empreendimentos fadados ao desaparecimento não parece boa opção.

A ideia fundamental de Sachs é a necessidade de transformar o Brasil numa “fábrica de empregos decentes”. Para tanto, as ações mais urgentes são a quantificação do tamanho dos diferentes nichos de oportunidades e a discussão sobre os obstáculos que devem ser removidos para que as políticas necessárias sejam efetivas. A fim de compreender melhor as ideias acima referidas, é preciso que se compreenda o trabalho enquanto elemento de completude do ser social, bem como a adjetivação do labor dito decente, conforme expressado por Sachs (2008). Antes, será realizado estudo acerca da formação de cooperativas, precisamente as de trabalho, consideradas alternativas à exclusão do mercado formal de trabalho. Apesar disso, serão indicados possíveis entraves à reinserção dos trabalhadores por meio dessas organizações, analisando-se criticamente a escolha do legislador brasileiro para os catadores de materiais recicláveis.

3.1.2 O cooperativismo e suas faces: alternativa ao desemprego ou precarização das relações trabalhistas?

No contexto da reestruturação produtiva e manutenção da reprodução do capital, um cenário de multiplicação de cooperativas de trabalho, de produção industrial e de empresas autogestionárias ganhou destaque. Essas formas de organização da produção se caracterizam pela propriedade e gestão coletiva dos empreendimentos (LIMA, 2009). O processo de multiplicação de cooperativas objetivava minimizar os custos do setor empresarial e atenuar o desemprego característico da nova fase.

A proposta da criação de cooperativas envolve uma nova forma de organização dos cooperativados, propiciando maior autonomia e democratização das relações de trabalho. Uma cooperativa se caracteriza pela associação civil de pessoas sem fins lucrativos, objetivando a exploração de uma determinada atividade econômica em benefício dos membros da organização, tendo-se como base o livre acesso e adesão voluntária; a gestão

democrática; a autonomia e a economia solidária. Neste sentido, Paul Singer (2002) assinala a existência de uma associação entre iguais, apontada como outro modo de produção, distinto do modo de produção capitalista, caracterizando-se pela propriedade coletiva ou associada do capital. O autor afirma que, talvez, a principal diferença entre a economia capitalista e a solidária seja o modo de gestão, pois diferentemente da primeira, na qual predomina a heterogestão, a segunda configura-se pela autogestão. De acordo com Singer (2002, p. 18-19):

As ordens e instruções devem fluir de baixo para cima e as demandas e informações de cima para baixo. Os níveis mais altos, na autogestão, são delegados pelos mais baixos e são responsáveis perante os mesmos, a autoridade maior é a assembléia de todos os sócios, que deve adotar as diretrizes a serem cumpridas pelos níveis intermediários e altos da administração. Para que a autogestão se realize, é preciso que todos os sócios se informem do que ocorre na empresa e das alternativas disponíveis para a resolução de cada problema. (...) além de cumprir as tarefas a seu cargo, cada um deles tem de se preocupar com os problemas gerais da empresa.

Nesse contexto, encontram-se as cooperativas. Ao presente estudo, interessa compreender as cooperativas de trabalho: sociedades de pessoas formadas para o exercício de determinada atividade econômica em proveito comum e sem fins lucrativos (SILVA, 2007).

As ditas cooperativas de trabalho datam do século XIX. Surgidas na Inglaterra como produto do movimento operário. Atualmente, o “novo” cooperativismo é percebido como uma forma dos trabalhadores se inserirem na sociedade capitalista, oferecendo resposta ao crescimento do desemprego e a necessidade de encontrarem formas alternativas de ocupação e geração de renda. Assim, afirma Jacob Lima (2007, p. 71-72) acerca do histórico do cooperativismo:

Durante todo o século XX, cooperativas foram surgindo e se desenvolvendo em contextos de recessão econômica, com maior ou menor apoio dos governos que, de uma forma ou de outra as garantiam através de contratos de prestação de serviços ou de legislação que favorecia sua organização. (...) Nos países em desenvolvimento, a partir da segunda metade do século XX, foram utilizadas também por governos como forma de atenuar problemas referentes à desigualdade social e à insurgência política, principalmente no meio rural, mas com

êxitos limitados e geralmente organizados para a distribuição da produção. A ideia de cooperativa adquire novo fôlego com as transformações econômicas a partir dos anos de 1970, com a crescente internacionalização dos mercados, a crise e o colapso das economias socialistas, as mudanças tecnológicas e organizacionais no trabalho e questionamento crescente do

Welfare State.

No período mais recente, portanto, as cooperativas foram indicadas como opção para a redução dos custos para o empresário e como forma de superação do desemprego para o trabalhador. No Brasil, as cooperativas ganharam destaque a partir da década de 1980, com a recuperação das fábricas falidas e o surgimento de cooperativas abrangendo os profissionais liberais e os desempregados provenientes das fábricas fechadas e das empresas públicas privatizadas. Lima (2007, p. 75) destaca que:

Com a abertura do mercado brasileiro às importações, aumenta o número de empresas em situação falimentar e as demais se reestruturam visando competir num mercado não protegido. Generalizam-se os processos de terceirização e subcontratação, e as cooperativas se inserem como possibilidade de redução de custos empresariais. Condenadas inicialmente pelo movimento sindical, aturdido com o fechamento de unidades industriais e reestruturações organizativas que multiplicam o número de desempregados, num segundo momento os próprios sindicatos começam a organizar cooperativas industriais, procurando observar os princípios cooperativistas e distinguindo as falsas e as verdadeiras cooperativas, a partir da observância a esses princípios.

Lima (2009, p. 114) aponta ainda que, no Brasil, a partir da década de 1990, o cooperativismo passou a ser base para compor políticas públicas para população de baixa renda, com fins de acesso ao mercado de trabalho por esses indivíduos:

Ao lado dessas perspectivas, podemos situar uma outra: a das cooperativas chamadas “populares”, voltadas para a inserção de trabalhadores excluídos do mercado de trabalho, e que pretendem ser mais uma alternativa de inserção social. Nessa categoria situam-se principalmente as cooperativas incubadas, voltadas para as populações de baixa renda, que se confundem com associações de outros tipos. (...) Ao poucos, a partir da segunda metade da década de 1990, o associativismo com o cooperativismo como base passou a compor políticas públicas voltadas a populações de baixa renda.

Nesse contexto, Lima (2009) expõe diretamente o caso das cooperativas de catadores de materiais recicláveis que, sem dúvida, representam melhoria da qualidade de vida para indivíduos que, anteriormente, trabalhavam em lixões. Conforme Lima (2009, p. 121-122):

Os resultados mais visíveis dessa atuação têm sido as associações ou cooperativas de reciclagem de lixo, que passaram a contar com a participação de diversas prefeituras, com êxito significativo. Estudo dessas cooperativas aponta a melhoria das condições de trabalho dos trabalhadores envolvidos, principalmente com sua retirada de lixões, organizando-os. Nessas situações, evidencia-se a saída da situação de precariedade anterior, possibilitando sensível melhoria, embora fique difícil afirmar algo sobre a incorporação de valores da autogestão ou mesmo autonomia. A melhoria se dá dentro do quadro de precariedade da vida e da falta de alternativas, no qual a cooperativa, os locais de coleta, as discussões das incubadoras terminam significando efetivamente uma possibilidade de inserção social para grupos excluídos do mercado de trabalho. Mesmo assim, o envolvimento dos trabalhadores enfrenta o dilema da, pelo menos num primeiro momento, redução de ganhos.

Apesar das características marcadamente autogestionárias das cooperativas, é essencial questionar se, no contexto capitalista – em que as cooperativas precisam adequar-se à competitividade de mercado –, é efetivamente possível construir uma solidariedade social difundida. Assim, destaca-se a necessidade de analisar criticamente a ideia do cooperativismo. Para tanto, Lima (2007) aponta os problemas mais recorrentes que inviabilizam o funcionamento das cooperativas em seu sentido mais puro, dentre eles, o autor destaca a) a alta competitividade; b) a falta de cultura autogestionária; c) a alta rotatividade dos cooperados e d) a manutenção da divisão do trabalho, o que não permite de fato a democratização da gestão. Conforme Lima (2003, p. 15-16):

Elementos culturais presentes no assalariamento, entendido como acesso a direitos de cidadania, dificultam a compreensão de uma proposta autogestionária no qual a divisão do trabalho entre os que pensam e os que fazem, tenderia, em tese senão a desaparecer, diminuir. O fato das cooperativas de produção industrial terem no trabalho seu aspecto fundante e único capital dos novos “proprietários” resulta numa intensificação do trabalho inicial nem sempre compreendida. Soma-se a isto, a fragilidade econômica das cooperativas, resultado de empresas

falidas ou de programas de geração de renda decorrentes de movimentos sociais de trabalhadores ou pragmaticamente pensadas para reduzir custos empresariais. (...) Quanto à participação e democratização do trabalho, estas não se constituem em prioridades para essas cooperativas. As assembléias de trabalhadores existem formalmente para legitimar decisões já tomadas. A organização do trabalho continua hierarquizada, e supervisores de fábricas mandam efetivamente no dia a dia da produção.

Assim, há autores (ANTUNES, 200911; LIMA, 2007; SILVA, 2007) que afirmam que a terceirização via cooperativas de trabalho pode se constituir num instrumento eficaz de flexibilização e de precarização do trabalho, chegando-se a assegurar que “a associação dos trabalhadores em cooperativas não tem representado melhores condições e relações de trabalho” (SILVA, 2007, p. 166). Há ainda os que apontam diretamente a relação entre a terceirização e a precarização. Conforme Druck e Franco (2007, p. 116):

A precarização aliada à terceirização se processa, portanto, em múltiplas dimensões, dentre as quais está a desestabilização do emprego e da condição de assalariado; a precarização das condições de trabalho e organização (tipos de trabalho mais ou menos penosos, intensidade, jornada de trabalho, pausas, pressão de tempo); as condições de segurança e saúde no trabalho (políticas de proteção coletivas, individuais, exposição aos riscos, acidentes, adoecimentos, assistência, tratamento, reabilitação, direito ao afastamento); a pulverização dos coletivos de trabalhadores bem como de suas representações (processo de fragilização sindical, inseguranças e vulnerabilidade social, de desenraizamento e desfiliação social).

Quanto à inexistência de direitos trabalhistas, Lima (2003, p. 16-17) destaca:

Ou seja, além de não terem carteira assinada, o que para a cultura dos trabalhadores é um símbolo de inclusão social, as horas extras inexistem uma vez que têm que dar conta das encomendas e as licenças e outros benefícios dependem da existência de fundos de reservas previstos na legislação cooperativista, mas que dependem do funcionamento regular e relativamente estável das cooperativas. Como nem sempre isso acontece (mesmo com contratos de exclusividade com as _______________________________________________________________

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O autor afirma que: “O exemplo das cooperativas talvez seja ainda mais eloqüente, uma vez que, (...) elas nasceram como instrumento (...) contra o desemprego e o despotismo do trabalho. Hoje, ao contrário, os capitais vêm criando falsas cooperativas como forma de precarizar ainda mais os direitos do trabalho” (ANTUNES, 2009, p. 250).

empresas), o recebimento de alguns benefícios fica adiado até a cooperativa “fazer caixa”.

A solução encontrada na criação de cooperativas e de associações para os indivíduos afastados do mercado formal de trabalho é prova de que a exclusão sempre encontra uma resistência, um modo pelo qual esses indivíduos precariamente incluídos buscam sua reinserção. Assim, esses sujeitos perpetram ações individuais e coletivas para se sobrepor à pobreza. A realização da catação de materiais recicláveis é, em si, uma forma de resistência. Alguns indivíduos, entretanto, unem-se aos iguais em busca do fortalecimento e do aumento da possibilidade de reinserção, sendo as cooperativas uma dessas formas e a busca de alternativas face aos efeitos excludentes do capitalismo.

Porém, a análise crítica de experiências existentes e os estudos já realizados possibilitam a percepção de que diversos são os fatores apresentados pela literatura para que se afirme que o trabalho cooperativado, mesmo constituindo-se como opção ao desemprego, não consegue, em alguns casos, minimizar as mazelas sociais provenientes da reestruturação do capital. Isto se afirma porque, nem sempre, a formação de uma organização como essa garante a existência de uma cooperativa de fato, de boas condições de trabalho e sobrevivência ao trabalhador. Como assevera Lima (2009, p. 129) “situações pontuais de sucesso apontam para viabilidade da autogestão como forma de gestão no mercado e para o mercado, mais do que uma alternativa a ele”.

Em função do que foi apresentado, a criação de organizações como cooperativas de trabalho deve ser analisada caso a caso. Para os catadores, é inegável a melhoria das condições de trabalho, quando comparado ao desempenho da catação de forma autônoma nos lixões. Entretanto, é essencial que a inclusão social via inserção em cooperativas e associações considere igualmente o aumento da renda desse indivíduo e a melhoria das condições de trabalho, buscando sempre superar as dificuldades existentes para a configuração de uma cooperativa de fato.

Ainda como alternativa ao contexto de precarização apresentado, organizações internacionais e o poder público buscam estratégias para

minimizar a pobreza, a desigualdade social, o desemprego e a informalidade. No próximo item, será destacado o conceito de trabalho decente, enquanto solução que busca a minimização dos efeitos da precarização das relações de trabalho.

3.1.3 Trabalho Decente e dignidade no desempenho da atividade

O conceito de Trabalho Decente é previsto pela Organização Internacional do Trabalho – OIT. Essa forma institucional de pensar o trabalho foi criada com a intenção de promover não somente a criação de empregos, mas também a promoção de qualidade no desempenho das atividades.

Nem todo tipo de labor é capaz de proporcionar completude ao sujeito (ANTUNES, 1998). Por tal motivo, o conceito de trabalho decente é incompatível com a violação dos direitos fundamentais, sendo considerado trabalho digno e apto a promover os valores da dignidade da pessoa humana (SILVEIRA e FIGUEIREDO, 2013). É, portanto, contrário ao conceito de trabalho degradante, compreendido como aquele em que são verificadas péssimas condições de labor e de remuneração.

De acordo com a OIT, o conceito foi desenvolvido em 1999 com o objetivo principal de promover o acesso aos direitos do trabalho, igualdade e oportunidade de emprego, sendo resultado da união da liberdade sindical; eliminação das formas de trabalho forçado; extinção do trabalho infantil e fim da discriminação em matéria de emprego e ocupação em todas as suas formas (BRASIL, 2009). Conforme Proni e Rocha (2010, p. 29):

Em contraposição ao discurso corrente em favor da flexibilidade das relações de trabalho — que procurava legitimar a difusão de novos tipos de “informalidade” e a