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Estado da Biodiversidade animal terrestre

3. O ESTADO DAS TERRAS

4.5 Estado actual da Biodiversidade

4.5.3 Estado da Biodiversidade animal terrestre

Artrópodes

A fauna de artrópodes terrestres cabo-verdiana é constituída pelas classes de insectos, centípedes, aracnídeos e crustáceos de água doce. As classes mais estudadas são os insectos e os aracnídeos. Os crustáceos de água doce estão representados por três espécies de camarões de água doce, (Atya sulcatipes Newport, Macrobrachium chevalieri (J.Roux) e Macrobrachium vollenhovenii Herklots), pertencentes à família Atyidae, todas extintas, devido a sobreutilização da água corrente das ribeiras desde 1960. A sobreexploração da água dessas ribeiras provocou a destruição da maior parte dos habitats desses crustáceos, de entre os quais se destaca Macrobrachium vollenhovenii, espécie de reconhecida importância económica nos países da África Ocidental (Turkay, 1996).

Actualmente são conhecidas 111 espécies de aracnídeos, das quais 46 (41%) são endémicas e 64 (57,7%) estão ameaçadas de extinção. Consideram-se, no entanto, insuficientes os dados existentes sobre esta classe de artrópodes (Schmidt e

Geisthardt, 1996).

Os insectos são os artrópodes que devido à sua íntima relação com as culturas agrícolas, estão melhor estudados em Cabo Verde. A ordem coleoptera (coleópteros) é aquela que, em termos de comportamento ecológico, está melhor inventariada. De acordo com Geisthardt (1996), 470 espécies de coleópteros são conhecidas nas ilhas de Cabo Verde, estando 301 (64%) taxa extintos ou ameaçados de extinção (fig. 8). Devido à sua maior superfície, Santiago é a ilha que detém o maior número de taxa (309). No entanto, consideram-se ainda insuficientes os inventários feitos noutras ilhas do Arquipélago. Do total de espécies inventariadas, 155 são endémicas de Cabo Verde (cerca de 33%). Seguem-se as ordens Diptera (Dípteros) com 204 espécies, das quais 50 são endémicas de Cabo Verde, distribuídas em 37 famílias (Baez, 1982), Lepidoptera (Lepidópteros) com 103 espécies representantes de 10 famílias (Traub e Bauer, 1982), os Acrídeos (gafanhotos) com 33 espécies (Duranton et al., 1984), Homoptera representada por 29 espécies de afídios (Van Harten, 1993), Hymenoptera com 25 espécies da família Formicidade (Collingwood et al., 1993) e ordem dos Thysanura (insectos sem asas), representados por 16 espécies (Mendes, 1982).

Moluscos terrestres

Os moluscos terrestres estão representados pelas espécies de Gastropoda, que habitam os cursos de água doce extramarinhos (Caenogastropoda e Basommatophora) e os gastrópodes terrestres que habitam as zonas de maiores altitudes (Actophila e Stylommatophora). De acordo com Groh (1996), são conhecidas em Cabo Verde 12 taxa de gastrópodes extramarinhos de água doce (Caenogastropoda e Basommatophora), dos quais 8 (66,7%) estão extintos ou ameaçados de extinção (fig. 9.) e 37 taxa de gastrópodes terrestres (Actophila e Stylommatophora,). Desses últimos, 21 (56,8 %) constam da “Primeira Lista Vermelha de Cabo Verde”, como taxa extintos ou ameaçados de extinção.

4.5.3.2 Estado dos vertebrados - Inventário Aves

A primeira edição do Livro Branco sobre o estado do ambiente em Cabo Verde apontava a avifauna de Cabo Verde como sendo constituída por 36 taxa de aves, que se reproduziam nas ilhas e ilhéus (Hazevoet, 1995; Naurois, 1994). Desses taxa, 17 (47,2%) estão extintos ou ameaçados de extinção (fig.11). Da totalidade de taxa já referidos, 13 são endémicos de Cabo Verde (Hazevoet, 1996). Desses, 8 (61,5%) estavam até 1996, ameaçados de extinção. Reproduzem-se, na sua maioria no meio terrestre, no interior de ilhas, em coroamentos rochosos e zonas cobertas de vegetação. Outras espécies como as que se reproduzem nos ilhéus, continuam a ter o seu efectivo populacional dependente da acção dos factores antrópicos. Para além dessas espécies sedentárias, consideram-se as espécies migradoras que habitam temporariamente as zonas litorais. Hazevoet (1995) fazia referência a 108 taxa de aves migradoras que habitualmente escolhem as ilhas de Cabo Verde para passarem o inverno. Em 1999, esse número aumentou para 135 (Hazevoet, 1999), tendo sido observados nesse mesmo ano 11 taxa novos para o arquipélago. Lagoa de Rabil, na ilha da Boavista (já declarada como Área Protegida pelo decreto-Lei 3/2003) continua a ser a área proferida pelas aves migradoras.

Mais tarde, em 2000, passou-se a registar a existência de 40 espécies de aves como nidificantes em Cabo Verde e aproximadamente 130 espécies que, no seu percurso migratório, passam por Cabo Verde, muitas vezes, podendo permanecer no arquipélago durante o inverno (Tosco, 2000).

Das sete espécies de aves de rapina observadas e descritas para Cabo Verde, todas se encontram em declínio populacional (Tosco et al., 2000; Hille e Thiollay, 2000), a excepção do guincho (Pandion haliaetus). Para esta espécie, estudos diversos, alguns dos quais muito recentes, apontam para um número crescente de casais (Naurois, 1987; Hazevot, 1995; Palma et al., 2000; Tosco et al., 2000), o que pode ser revelador de uma importante capacidade de reprodução e de adaptação às pressões e alterações ao nível dos habitat litorais e costeiros em Cabo Verde.

Contrariamente, espécies como o corvo (Corvus ruficollis) e o abutre (Neophron percnopterus) que, há cerca de duas décadas, sobrevoavam os céus das ilhas, em bandos, nos arredores das vilas e povoações, localizando presas, hoje, já quase que não são vistos. A primeira espécie que, outrora, era motivo de preocupação de criadores de animais em quintais, procurando defender as crias de aves domésticas e de pequenos mamíferos, hoje encontra-se em declínio acentuado.

Cinco espécies constituem um grupo de aves de estepes (Coturnix coturnix – codorniz, Cursorius cursor – corredeira, Eremopterix nigriceps – pastor, Ammomanes cincturus – calhandra e Alauda razae – calhandra do ilhéu raso) sendo esta última, endémica de Cabo Verde (Tosco et al., 2000).

O tamanho das populações de algumas espécies, nomeadamente, Tchota-cana (Acrocephalus brevipennis), Codorniz (Coturnix coturnix), Passarinha (Halcyon leucocephala), Garça-Vermelha-de-Santiago (Ardea bournei) e Galinha-do-mato (Numida meleagris) varia em função da abundância da vegetação.

Das espécies de aves observadas em Cabo Verde, por razões ligadas a hábitos alimentares e aos nichos ecológicos preferenciais, 9 são consideradas aves marinhas que nidificam em Cabo Verde, estando duas espécies ameaçadas de extinção no arquipélago (Phaeton aethereus – rabo-de-junco e Fregata magnificens –

rabil). Esta última espécie, em toda a África, nidifica apenas nos ilhéus Baluarte e Cural Velho.

Alguns dos endemismos em Cabo Verde são de muita importância em termos de biodiversidade, pois, muitas vezes, além da sua distribuição mundial se limitar ao arquipélago, ela se restringe a uma determinada ilha ou nicho ecológico bem preciso. É o caso da garça-vermelha (Ardea purpurea) que somente existe em Santiago, mais propriamente nas zonas de Boa-entrada e Banana (Hille e Thiollay, 2000; SEPA, 2001 – em publicação), constatando-se que, devido, essencialmente, a degradação do seu nicho ecológico, pela intervenção humana, ela se encontra extinta na última zona mencionada.

Com efeito, o efectivo populacional das aves, em Cabo Verde, parece estar relacionado com factores de ordem ecológica como a disponibilidade de recursos tróficos ou ainda, com locais seguros de nidificação (Palma et al., 2000), como é o caso do guincho (Pandion haliaetus). Por outro lado, a vegetação e determinados factores antrópicos são mencionados como perturbadores das populações de aves, muito particularmente de Acrocephalus brevipennis, Cortunix cortunix, Halcyon leucocephala, Ardea boumei, Numida meleagris. Esta constatação assume uma importância acrescida em termos de biodiversidade pois revela o quanto a biodiversidade específica depende da biodiversidade ecológica e funcional, demostrando assim que, a pressão sobre a biodiversidade, no geral, é de natureza múltipla e requer medidas integradas de protecção (SEPA, 2001 – em publicação). Répteis terrestres

A herpetofauna terrestre de Cabo Verde é constituída por 28 taxa de répteis terrestres, dos quais 25 são endémicos do Arquipélago (Schleich,1996) representantes de 2 famílias (Scincidae e Gekkonidae) e de 3 géneros (Schleich, 1987, 1996). Esses répteis habitam em diferentes tipos de habitats, buracos de coroamentos rochosos e muros, zonas vegetalizadas e outras. Os ilhéus são locais onde se encontra o maior número de taxa endémicos de Cabo Verde. De acordo com Schleich (1996), 7 (25%) dos 28 taxa estão extintos ou ameaçados de extinção (fig.4.11). Macroscincus coctei, espécie endémica de Cabo Verde, foi já considerada extinta.

Anfíbios

Os anfíbios estão representados em Cabo Verde por uma única espécie introduzida, o sapo (Bufo regularis) que geralmente abunda nas ribeiras de água corrente durante a época pluviosa e nalguns reservatórios de água.

Mamíferos

Como acontece geralmente com os arquipélago oceânicos, não existem mamíferos terrestres indígenas, nem peixes de água doce, nem anfíbios. No entanto, existem 5 espécies de quirópteros (morcegos). No quadro 9 apresenta-se a lista de quirópteros observados nas ilhas de Santo Antão, S. Vicente, Maio e Fogo. Desses, um (Taphozous nudiventris) é de origem Afrotropical, um outro (Pipistrellus kuhli) ocorre na Europa do Sudoeste, na África do Norte e do Oeste, enquanto que as outras 3 espécies (Pipistrellus savii, Plecotus austriacus, e Miniopterus schreibersi), estão largamente distribuídos na Europa do SW, na África do Norte, mas não na África do Oeste.

Quadro 4.1 - Espécies de Quiróteros (morcegos) introduzidos em Cabo Verde, autores responsáveis pela sua introdução e data da sua realização.

Espécies Família Locais de

descoberta Colectores Taphozous nudiventris Emballo nuridae Santiago e Maio (6 espécimes) R. de Naurois (1965-68-69) Pipistrellus savii Vesperti

lionidae

Fogo e S. Vicente (5 espécimes)

L. Feae (1898), B. Zava (1984) Pipistrellus kuhli Vesperti

lionidae

S.Vicente (1 spécime) Prof. Cecconi Plecotus

austriacus

- Maio (1 espécime) R. de Naurois (1965) Miniopterus schreibersi - SantoAntão (2 espécimes) B. Zava (1984), M. Pinto (1986) Fonte: Naurois. 1996. Primatas

O macaco Cercopithecus aethiops mantém-se ainda nas ilhas de Brava e Santiago. Devido às depredações que cometem nas terras cultivadas, esses animais são perseguidos pelas comunidades locais. Actualmente só ocupam o centro montanhoso das duas ilhas.

Percentagens de espécies animais terrestres ameaçados de extinção no arquipélago de Cabo Verde, de acordo com a “Primeira Lista Vermelha de Cabo Verde, 1996”.

Aracnídeos

Ameaçados6

4 (58%) 47 (42%)

Fig. 4.6. Percentagem de Aracnídeos ameaçados de de extinção.

Insectos (coleópteros)

Ameaçados3

01 (64%) 169 (36%)

Fig. 4.7. Percentagem de Insectos (Coleópteros)

ameaçados de extinção.

Gastrópodes extramarinhos de água doce

4 (33%) Ameaçados

8 (67%)

Fig.4.8. Percentagem de gastrópodes extramarinhos de água doce ameaçados de

extinção.

Gastrópodes terrestres de água doce

16 (43%) Ameaçados

21 (57%)

Fig. 4.9. Percentagem de gastrópodes terrestres de água doce ameaçados de

Aves

Ameaçadas1 7 (47%)

19 (53%)

Fig. 4.10. Percentagem de aves ameaçadas de extinção

Répteis terrestres Ameaçados7

(25%) 21 (75%)

Fig. 4.11 Percentagem de répteis terrestres ameaçados de extinção