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A historiografia produzida acerca de João de Castilho revela-se volumosa e relativamente dispersa. A nossa proposta é precisamente reunir e analisar os contributos realizados pelos vários historiadores, pois só deste modo é possível formular hipóteses e retirar conclusões que permitam conhecer melhor esta figura central da arquitetura portuguesa da primeira metade do século XVI. Assim, a releitura da historiografia é o ponto de partida para o nosso trabalho e parte fundamental para traçar os caminhos vividos por João de Castilho, assim como permite compreender o contexto arquitetónico desenvolve junto da Coroa portuguesa.

Entre a vida e a morte de João de Castilho encontramos inúmeras considerações historiográficas que por vezes, se tornam antagónicas entre si e que levam a alguns histórias fantasiosas e a equívocos.

É possível referir que Castilho, mesmo após a sua morte, nunca deixou de ser uma figura presente ao longo da história. O manancial literário não é mais que uma marca indelével do tempo, onde o nome do mestre nunca se perdeu no tempo histórico e amiúde deparamo-nos com o seu nome em fontes diversas, como as genealogias ou em obras de teor diverso, como Biblioteca Lusitana: histórica, crítica e cronológicade Diogo Barbosa Machado2.

No entanto, os estudos historiográficos que se realizaram sobre João de Castilho não deixaram de fora o local de nascimento, a respetiva data, o percurso que realizou em terras espanholas antes de rumar para Portugal, tal como o percurso realizado no nosso país.

Em 1847, Conde Raczynski traz a lume o Dictionnaire historico- artistique du Portugal. Neste trabalho, Raczynski remete os leitores para um conjunto de nomes que intervieram nas diversas artes em Portugal e entre as inúmeras entradas onomásticas encontramos duas para a figura de João de Castilho: uma com a denominação Jean Castilho3 e outra com a designação de Jerôme de Castilho (…) architecte: ils est nommé dans un ordre du roi, relatif à la forme du bastion de Mazagão. Apesar da leitura equivocada da documentação, relativo à entrada de Jerôme de Castilho, Raczynski procura apoiar-se no fundo documental conhecido até então para, assim, explanar a figura de Castilho. Contudo, as primeiras palavras da entrada referente a João de Castilho, salientam, taxativamente, que o mestre tem como data de nascimento o ano de 14904 – esta mesma data também é apontada por Albrecht Haupt5. Podemos referir que este apontamento não tem qualquer

2 MACHADO, Diogo Barbosa, Biblioteca Lusitana: histórica, crítica e cronológica, Vol. I,

Lisboa, Of. Gráf. de Bertrand 1930-1935. (Publicada originalmente em: Lisboa Occidental na Officina de António Isidoro da Fonseca, 1741-1759).

3 RACZYNSKI, Atanazy, Dictionnaire historico-artistique du Portugal pour faire suite à l'ouvrage ayant pour titre Les arts en Portugal, Paris, Jules Renouard, 1847, p.43.

4 ibidem.

5 HAUPT, Albrecht, A arquitectura da Renascença em Portugal, Lisboa, J. Rodrigues & C.

base de sustentação documental, mas serviu de baliza cronológica para os historiadores, assim como também foi importante para o conhecimento desta personagem saber o seu local de origem. Para esse efeito, temos de evocar o Dicionário histórico e documental dos arquitectos, engenheiros e construtores portugueses de Sousa Viterbo6.

Dentro do vasto catálogo onomástico granjeado por Viterbo, surge um leque de páginas dedicadas à figura de João de Castilho. Primeiramente há que referir que o trabalho desenvolvido por Viterbo possibilitou conhecer melhor a vida e a obra do mestre em estudo, desta forma, contraria o carácter especulativo que se fazia sentir até então. Entre as novidades evocadas por intermédio da leitura e transcrição da documentação, surge-nos uma Carta de Armas passada no tempo de D. Sebastião7 – 17 de Janeiro de 1561 – e da

sua análise, Viterbo descortina qual a origem de João de Castilho, e remete o leitor para o Norte de Espanha (os nobiliários referiam-se que era asturiano – Santander), mais precisamente as montanhas da Biscaia. Acrescenta, de modo indireto, que o mestre de pedraria detém uma linhagem direta da família dos Castillo, casa assente precisamente na zona cantábrica.

Desta forma, ficamos a saber que Castilho não era de nacionalidade portuguesa, mas sim, castelhana. O reforço desta e de outras ideias irão

crítica de M. C. Mendes Atanázio. HAUPT, Albrecht, A Arquitectura do Renascimento em

Portugal, Introd. Crítica de M. C. Mendes Atanázio, Lisboa, Editorial Presença, 1986.

6 VITERBO, Sousa, Dicionário histórico e documental dos arquitectos, engenheiros e construtores portugueses, 3 vols, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1988 [3 vols.

Edição fac-similada de Lisboa, Imprensa Nacional, 1899-1920]. Para além desta obra monumental e fundamental para a historiografia nacional, Sousa Viterbo outros trabalhos importantes para a investigação histórica como: “O mosteiro de Sancta Cruz de Coimbra: annotações e documentos”, Instituto, vol. 37 Coimbra: Imprensa da Universidade, 1890; idem,

Artes e artistas em portugal: contribuições para a história das artes e industrias portuguezas,

Lisboa, Liv. Ferreira, 1892; idem, “Architectos das Praças d' Africa: Lourenço Argueiros”,

Revista Militar, nº.20, Lisboa, 1901; idem, Notícia de alguns pintores portugueses e de outros que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal Lisboa, Typographia da Academia

Real das Sciencias de Lisboa, 1903.

7 VITERBO, Sousa, Dicionário histórico e documental dos arquitectos, engenheiros e construtores portugueses, 3 vols, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1988

surgir, posteriormente, sob a pena de María Ealo de Sá 8 e Rafael Moreira9. O

trabalho redigido por María Ealo de Sá apresenta-se como um dos raros trabalhos de conjunto dedicado à figura de João de Castilho. Nas primeiras páginas do livro, María Ealo de Sá começa por contrariar a data apontada para o nascimento de Castilho e afirma, de forma bastante concreta, que o mestre trasmiero nasceu em 147010 e era natural de Castillo Siete Villas, local

onde residia uma forte estirpe de linhagem que dá pelo nome de Castillos de S. Pedro (Los Negretes) de Transmiera. Salienta que Castilho descende diretamente dessa mesma linhagem11, onde destaca a figura do Señor Pedro

Fernandez Solórzano y Castillo, senhor maior da Casa dos Castillos, que autorizou os filhos do mestre a utilizar as suas armas de linhagem12 – nome

retirado do documento de 1561, redigido por D. Sebastião, onde autoriza o uso das armas pelos descendentes de João de Castilho em território português. Sob este contorno, Mª. Ealo de Sá procura comprovar a linhagem legítima de João de Castilho, para tal cria uma genealogia e refere que João de Castilho era “bisnieto del constructor de la torre de S. Pedro en Castillo, y nieto de Juan Alonso de Castillo e hijo de Pedro Sánchez de Castillo”13. Da leitura podemos referir que Eola de Sá remete o leitor para certezas taxativas, mas não menciona fontes nem documentos que comprovem tais afirmações, no entanto, fica claro e notória onde recorre para afirmar tais premissas: os documentos publicados por Viterbo; ao dicionário onomástico escrito por Fermin Sojo y Lomba14; e aos estudos realizados por Salvador Garcia

8 EALO DE SÁ, María, El arquitecto Juan de Castillo-Documentos Históricos, 2 vols.,

Santander, Merindad de Trasmiera, (1991) 1992.

9 MOREIRA, Rafael, A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal — a Encomenda Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade

de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991.

10 EALO DE SÁ, María, op. cit.,p. 24. 11 EALO DE SÁ, María, op. cit.,p. 25.

12 Remete para os escritos de Sojo y Lomba. Cf. SOJO Y LOMBA, Fermin, Los maestros canteros de trasmiera, Madrid, tip. Huelves y Compañía, 1935, p.49.

13 EALO DE SÁ, María, op. cit.,p. 24.

14 SOJO Y LOMBA, Fermin, Los maestros canteros de trasmiera, Madrid, tip. Huelves y

Pruneda publicados, em 1916, no Boletin de la Sociedade Castellana de Excursiones, num artigo intitulado Turismo Por Portugal15.

Na mesma linha de atuação, encontramos as palavras de Rafael Moreira, embora procure apoiar-se na genealogia para comprovar os seus dados e conclusões. O autor observa que João de Castilho advém de uma linhagem da Trasmiera – segue a mesma linha de Ealo de Sá –, no entanto cria um rede de relações onde afirma que o pai de João de Castilho (Pedro Sánchez de Castillo), após a morte da sua mulher, Dona Felicia de Neiva (mãe de João de Castilho), se transforma em abade de Liérganes e delega o pequeno João à sua tia (irmã de Pedro Sánchez de Castillo) Dona Isabel de Castilho16 – estes elementos referidos por Rafael Moreira surgem, nos escritos

genealógicos de Tristão Vieira de Castro17 e de Manuel Severim de Faria18.

Em relação à formação de João de Castilho em arquitetura, Ealo de Sá, salienta que João de Castilho terá começado muito jovem nas obras de S. Pedro de Castillo19 e alude a questões estilísticas para tal efeito. Por sua vez,

Rafael Moreira propõem outra via, refere que a condição clerical do pai de João de Castilho lhe proporcionou uma colocação na fábrica da catedral de Burgos, onde laborava o magistral mestre Simão de Colónia20. A partir deste

ponto de formação base, visualizamos os autores a proporem vários caminhos para o período que medeia a formação e a entrada de Castilho no nosso território. Primeiramente, Sousa Viterbo, reserva-se e salienta que não existem dados concretos sobre os primeiros anos, da mesma forma atribui aos genealogistas o discurso da estada de Castilho em terras italianas, com ênfase para Nápoles21. Esta possível estada de João de Castilho em Itália e

15 GARCÍA DE PRUNEDA, Salvador “Turismo, por Portugal” Boletín de la Sociedad Castellana de Excursiones, Valladolid, 1903-1916.

16 MOREIRA, Rafael, A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal — a Encomenda Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade

de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991, p. 420-421.

17 BNA, CASTRO, Tristão Vieira de, Famílias de vários autores, ms. 49 – XIII 18 BN, Faria, Manuel Severim de Faria, Fidalguia portuguesa, cod. 1021 19 EALO DE SÁ, María, op. cit.,p. 24.

20 MOREIRA, Rafael, op. cit.,p. 423.

21 VITERBO, Sousa, Dicionário histórico e documental dos arquitectos, engenheiros e construtores portugueses, 3 vols, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1988 [3 vols.

noutros pontos desta península, onde terá ficado maravilhado com o fulgor da orgânica construtiva do Renascimento, é assinalada por João Barreira22,

assim como uma possível estada na Galiza. Ideia, também, partilhada por Ealo de Sá, onde sugere que terá trabalhado no Hospital dos Reis Católicos23.

Da mesma opinião é Vieira Guimarães24, que procura criar um percurso onde

salienta que Castilho terá passado por Burgos, Leon, Valhadolid onde Enrique Egas erguia a igreja de Santa Cruz e, por fim, Santiago de Compostela. Refere ainda que todos estes locais foram um forte contributo para a solidificação formativa artística de Castilho, o que lhe possibilitou ser, segundo o autor, o melhor “arquiteto” do seu tempo, tal como um talentoso escultor de primorosas decorações.

A existência de um universo espanhol na primeira fase da vida de Castilho era cada vez mais real e será com Vergílio Correia25 que esta linha é

acentuada, ao ler algumas fontes publicadas em Espanha. Transporta-nos, então, para ano de 1507 onde um Castilho terá trabalhado com Juan

Edição fac-similada de Lisboa, Imprensa Nacional, 1899-1920], p.183. Sousa Viterbo na sua obra menciona as propostas dos genealogistas em relação à suposta passagem de Castilho por terras italianas, um desses escritos a que recorre Viterbo e que dá como certa a estada de Castilho em Itália é o manuscrito genealógico redigido por Tristão Vieira de Castro e que se encontra na Biblioteca Nacional da Ajuda. BNA, CASTRO, Tristão Vieira de, Famílias de

vários autores, ms. 49 – XIII.

22 BARREIRA, João, “O goticismo de João de Castilho”, Revista da Faculdade de Letras,

Lisboa, Imprensa da Universidade, 1933; BARREIRA, João, “O classicismo de João Castilho”,

Revista da Faculdade de Letras, Lisboa, Imprensa da Universidade, 1936. 23 EALO DE SÁ, Maria, Maria, op. cit.,p. 26.

24 GUIMARÃES, José Vieira da Silva, O poema de pedra de João de Castilho em Thomar,

Lisboa, Oficinas Fernandes, 1934. Este autor vai criando nos seus textos pequenos complementos para a figura de João de Castilho como: GUIMARÃES, José Vieira da Silva, A

ordem de Christo, Lisboa, Empreza da Historia de Portugal, 1901 (2º ed. Lisboa. Imprensa

Nacional. 1936). Idem, 1319-1919. O sexcentenário da Ordem de Christo, Lisboa, Pap. Figueirinhas, 1919. Idem, A Igreja Manuelina do Convento de Thomar, Lisboa, 1928. Idem,

Tomar. Noticia histórico-arqueologica do Monumento de Christo, e das Igrejas de Santa Maria dos Olivares, de Santa Iria e de S. João, Porto, Litografía Nacional, 1929. Idem, O Claustro de D. João III em Thomar, Gaia, Colecção Estudos Nacionais nº VII, 1931.

25 CORREIA, Vergílio, As Obras de Santa Maria de Belém de 1514 a 1519, Lisboa, Typografia

Guarnizo, Pedro Millan e Pero de Trillo nas obras da Catedral sevilhana. Isto leva V. Correia a questionar, se Pero de Trillo vem para Portugal, por que não virá também João de Castilho26. Esta hipótese é uma das favoritas da

historiografia nacional para atestar a formação de Castilho e é partilhada por Pedro Dias27 e Rafael Moreira28.

Estes são os caminhos de Castilho, traçados pelos historiadores, antes de chegar ao nosso território. No entanto, o surgimento de Castilho em Portugal revela-se nebuloso. De modo genérico, todos aqueles que escreveram sobre o mestre até Eugénio da Cunha Freitas29, são unânimes em

afirmar que a primeira obra realizada por Castilho foi na Sé de Viseu, onde laborou conjuntamente com o seu irmão, Diogo de Castilho, na campanha arquitetónica da abóbada da igreja (abóbada de nós) e na abóbada do baixo coro30, por volta de 1513, sob o auspício de Diogo Ortiz de Vilhegas.

26 CORREIA, Vergílio, As Obras (…), p.16.

27 DIAS, Pedro, “O Manuelino”, História da Arte em Portugal, vol. V, Lisboa, Publicações Alfa,

1986. DIAS, Pedro, A arquitectura Manuelina, Porto, Livraria Civilização, 1988, pp.131-ss. DIAS, Pedro, Os Portais Manuelinos do Mosteiro dos Jerónimos, Coimbra, Universidade, Instituto de História Arte da Faculdade de Letras, 1993, p.32.

28 MOREIRA, Rafael, A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal — a Encomenda Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade

de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991, pp. 425-428

29 CUNHA E FREITAS, Eugénio Andrea da, “Os mestres biscaínhos na Matriz de Vila do

Conde, João Rianho, Sancho Garcia, Rui Garcia e João de Castilho”, Anais da Academia Portuguesa da História, II série, vol. 11, Lisboa, 1961;Idem, “João de Castilho e a sua obra além Douro”, Colóquio, nº. 15, Lisboa, 1961. Idem, “Os Mestres Biscaínhos na Matriz de Vila do Conde”, Anais da Academia Portuguesa de História, Série II, Vol. 11,1996.

30 VITERBO, Sousa, op. cit., p. 183: “esta sé mandou abobadar o muito magnífico Senhor D.

Diogo Ortiz bispo desta cidade do conselho dos Reis e se acabou em a era do Senhor 1513.” Para além das dúvidas de Sousa Viterbo neste dado, também outros posteriormente questionam tal premissa, como é o caso de Vergílio Correia: CORREIA, Vergílio, As Obras de

Santa Maria de Belém de 1514 a 1519, Lisboa, Typografia do Anuário Comercial, 1922, p.16.

Por outro lado, vamos observar na dissertação de Rafael Moreira o relançar da presença de Castilho em Viseu, mas como diz o autor, as suas informações advêm de via indireta. MOREIRA, Rafael, A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal — a Encomenda Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade

Para além da suposta intervenção arquitetónica de Castilho em Viseu, a cidade reveste-se de outro interesse para o estudo da vida pessoal da personagem em estudo. Segundo salienta Rafael Moreira, seguindo os genealogistas D. António de Lima e Tristão Vieira de Castro, no decurso dos anos 1512-1513 João de Castilho vê nascer o seu primeiro filho a que lhe dá também o nome de João de Castilho. No futuro, este assume cargos importantes na Corte31. O nascimento deste filho, segundo Rafael Moreira,

seria um bastardo e é fruto de um relacionamento que o mestre teve com uma cristã nova que vendia loiça junto à Torre do Relógio32: “João de Castilho

quando esteve em Vizeo teve conversasão com huma xpã nova que vendia loisa ao pee da Torre do Rellogio de que ouve João de Castilho [D. António de Lima]”. Contudo, e face as leituras realizadas, outras informações de carácter pessoal são trazidas a lume e referem que João de Castilho teria tido um outro filho, também bastardo, de seu nome Diogo de Castilho. A par destas bastardias, João de Castilho irá contrair matrimónio, segundo os genealogistas, em Freixo-de-Espada-à-Cinta, com Maria Fernandes, filha de Garcia Fernandes de Quintanilha33. Deste enlace pouco ao nada se sabe,

todavia Eola de Sá, partindo do documento de 1561, menciona que Castilho teve cinco filhos de nome António de Castilho, Pedro de Castilho, Diogo de Castilho (Rafael Moreira refere-se a este como o segundo bastardo), Manuel de Castilho e João de Castilho. Porém, Vieira de Guimarães no seu livro, A Ordem de Christo, relata um outro dado interessante, refere que o mestre foi casado, efetivamente, com Maria Fernandes Quintanilha, e d’ ella teve D.

31 Filho mais velho do mestre foi escrivão da Câmara de D. João III. Já durante o reinado de

D. Sebastião, João de Castilho (filho) passa a desempenhar o cargo de Escrivão da Fazenda e através da compra da alcaidaria de Alenquer que efetua ao conde da Sortelha, Castilho (filho) torna-se alcaide-mor da respetiva localidade. A par destas questões, temos ainda de salientar a sua posição de Conselheiro da casa do cardeal D. Henrique, assim coassume a posição de apontador-mor.

32 MOREIRA, Rafael, op.cit, p. 437-438.

33 ALVES, Francisco Manuel, Memórias Histórico-Arqueológicas do Distrito de Bragança, XI,

1948, p.316. Não podemos deixar de salientar uma vez mais o trilho genealogista que Rafael segue para tecer argumentações. ATANÁZIO, M. C. Mendes, “ Contributos de João de Castilho para o espaço e estrutura da arquitectura do manuelino”, As Relações Artísticas entre

Maria de Castilho (…)34, assim, e conjugando os diversos dados que amiúde

surgem, visualizamos que João de Castilho teria tido seis filhos e não cinco, dois de uma primeira relação e os restantes fruto de uma ligação matrimonial com Maria Quintanilha.

Não podemos deixar de salientar o processo existente de homonímia entre pai e filho. Esse facto, notado em dois escritos espanhóis, embora separados entre si por mais de meio século35, revelam taxativamente que

João de Castilho (pai) tinha um filho com o seu nome e fué arquitecto y escribano36, e que trabajó com su padre en algunas de sus obras37. Sobre esta temática, os autores ainda não teceram considerações e somente a documentação poderá revelar novos dados, mas desde, já sabemos que o filho, João de Castilho, que foi escrivão da câmara e que surge referenciado em alguns documentos conjuntamente como seu pai.

Quanto à figura estatuária de João de Castilho dentro do estaleiro, podemos dizer que é bastante representativa, começamos a observar primeiramente a ser referenciado como mestre nas obras da capela-mor da Sé de Braga, seguidamente, em 1515 (segundo Rafael Moreira), é nomeado “mestre-de-obras d’el rei” quando executa as obras do Convento de Cristo. Porém, no Mosteiro dos Jerónimos é denominado de mestre-de-obras e de mestre empreiteiro (1516) e quando retorna às obras de Tomar, em 1519 é apelidado de mestre das obras do dito senhor e rei (designação que surge no documento de pleito com Pero Cordeiro em 1519). O trabalho executado durante estes primeiros anos mereceu o reconhecimento social e profissional de D. Manuel I e D. João III, sendo agraciado, em 1518, com o título de

34 Cf. GUIMARAES, José Vieira da Silva, A Ordem de Christo, Lisboa, Empreza da Historia de

Portugal, 1901 (2º ed. Lisboa. Imprensa Nacional. 1936), p.168. ANTT – Convento de Cristo, Maço 28).

35 SOJO Y LOMBA, Fermin, Los maestros canteros de trasmra, Madrid, tip. Huelves y

Compañía, 1935, p. 47-51; M.C. GONZÁLEZ ECHEGARAY: M.A. ARAMBURU-ZABALA HIGUERA; ALONSO RUIZ, B. y J .J. POLO SÁNCHEZ, Artistas cántabros de la Edad

Moderna. Su aportación al arte hispánico. (Diccionario biográfico-artístico), Santander,

Institución Mazarrasa-Universidad de Cantabria, 1991, p. 147.

36 SOJO Y LOMBA, op. cit., p. 49

37 M.C. GONZÁLEZ ECHEGARAY: M.A. ARAMBURU-ZABALA HIGUERA; ALONSO RUIZ, B.

escudeiro, passando mais tarde será cavaleiro da Ordem de Cristo por investidura no ano de 1533.

Todavia, a informação documental disponível em torno da figura de