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ESTADO DA QUESTÃO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: OBRA DE JOÃO DE CASTILHO

89 Segundo diversos autores a figura de Nicolau Chanterene reveste-se de uma importância

cabal para a formação de João de Castilho no gosto e na apropriação da arquitetura do Renascimento. As últimas investigações sobre o escultor francês cabem a Fernando Grilo Cf. GRILO, Fernando, Nicolau Chanterene e a afirmação da escultura do Renascimento

Península Ibérica (c.1511–1551), Dissertação de Doutoramento em História da Arte

apresentada à Faculdade de Letras a Universidade de Lisboa, 2000. Idem, “Nicolau

Chanterene escultor e arauto de D. João III”, Revista Clio, Revista do Centro de História da

Universidade de Lisboa, vol. IX, 2003; Idem, “Nicolau Chanterene na corte de D. João III em

Évora (c. 1532 – c. 1542). Cultura e arte no Renascimento em Portugal”, Artis – Revista do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, n.º 3, Lisboa,

Em Janeiro de 1519, está em Tomar90, onde obtém o título de mestre das obras de el-rei (designação que surge no documento de pleito com Pero Cordeiro em 1519), culminando com a obtenção do estatuto de cavaleiro fidalgo (os autores mencionam que em 1518 tinha sido tomado como escudeiro passando a ser cavaleiro da casa real). A 7 de Julho de 1519, ruma ao Mosteiro de Alcobaça91 onde adquire o cargo de mestre das obras do mesmo Mosteiro, aí intervém na sacristia e na livraria do edifício (estas obras estendem-se durante o ano de 1520, pois em Janeiro labora no andar alto do claustro de D. Dinis. A complementar estes dados há que referir um relato documental, que data de 1527-1528), onde se pode ler uma lista de atividades executadas por João de Castilho no edifício alcobacense92. Estas atividades repartem-se pelas obras de cariz religioso e de carácter essencial à vida monástica, como é o caso de lagares e moinhos, acresce ainda a existência de pagamentos a João de Castilho até ao final de 1528.

Nos fins de Julho de 1519 e no decurso dos trabalhos de Alcobaça, Castilho é requerido, juntamente com Vasco de Pina, pela abadessa de Cós onde terá manifestado a precariedade da sua casa monástica93, facto

verificado na carta de 2 de Agosto escrita pelo vedor e administrador das obras e rendas de Alcobaça, Vasco Pina94. No entanto, não detemos

90 VITERBO, Sousa, op. cit., p. 186-188. Carta de pleito de Pedro Carneiro contra João de Castilho mestre das obras do Rei de 3 de Janeiro de 1519.

91 VITERBO, Sousa, op. cit., p. 188 (Carta do Rei D. Manuel a Vasco Pina referente às obras

do mosteiro de Alcobaça de 7 de Julho de 1519).

92 MOREIRA, Rafael, “A Encomenda Artística em Alcobaça no Século XVI”, Actas. Arte Sacra nos Antigos Coutos de Alcobaça, Alcobaça, IPPAR, 1995. Ver também: FARINHA, António

Dias, “Feitos de Vasco de Pina em Marrocos e a sua acção na Abadia de Alcobaça: documentos inéditos” Arquivos do Centro Cultural Português, vol. 1., Paris, Centro Cultural Português, 1969; CORREIA, Vergílio, “Uma Descrição Quinhentista do Mosteiro de Alcobaça”,

Obras, vol. V Estudos Monográficos, Coimbra, Universidade, 1978

SILVA, José Custódio Vieira da, “Alcobaça e o período manuelino” Actas do Congreso

Internacional sobre San Bernardo e o Cister en Galicia e Portugal, vol. II, Ourense-Oseira,

Monastério de Osera, 1992.

93 Pina e Sousa, C. M. A., Gomes, Saul António, Intimidade e encanto: o Mosteiro Cisterciense de Sta. Maria de Cós (Alcobaça), Leiria, Edições Magno, 1998, p.84.

94 A carta escrita pela mão de Vasco de Pina fala sobre os assuntos correntes do mosteiro de

informação de uma intervenção nesta época por parte do nosso mestre. As questões arquitetónicas referentes ao Mosteiro de Cós95 e a relação com João

de Castilho não têm tido a atenção merecida. Rafael Moreira menciona que Castilho interveio no espaço monástico de Cós a partir de 152796, mas Saul

Gomes e Cristina de Pina e Sousa defendem que o momento das obras no Mosteiro de Cós (…) coincide com os anos de 1519-1527 e contou com a assinatura do arquitecto João de Castilho97, (nesse estaleiro iram estar presentes Diogo Salvado, mestre empreiteiro, e Diogo Frade, oficial de pedraria98).

Ainda referente ao ano de 1519 (29 de Agosto), sabemos que Castilho estaria a laborar novamente no estaleiro hieronimita, facto mencionado na carta de Vasco Pina ao Rei. De maneira geral, a obra de Belém não deixava de ser uma prioridade e a presença de Castilho seria, certamente, indispensável mesmo após a morte de D. Manuel, facto que é visível em Setembro de 1522, quando D. João III mandou celebrar contrato com Castilho para o cerrar da abóbada do transepto.

No entanto, e a par do grandioso estaleiro de Belém, visualizamos que o traço de Castilho se espraia um pouco por todo o território, como demonstra o documento de 1521 que menciona a realização de um desenho – mostra – para a janela do coro da igreja de Julião de Setúbal, obra onde trabalharia o pedreiro João Favacho. Já na visão de Rafael Moreira, terá existido (não refere documentação) uma ordem de pagamento ao mestre, a 11 de Outubro de 1521, no montante de 100 mil reis, pelo que iria realizar nos conventos de Alcobaça e Tomar. Não sabemos a que obras se refere o autor, mas a determinado momento do texto, Rafael Moreira menciona que Castilho recebeu uma ordem de pagamento pelas obras inacabadas da casa do

95 Cf. SILVA, José Custódio Vieira da, “Alcobaça e o período manuelino” Actas do Congreso Internacional sobre San Bernardo e o Cister en Galicia e Portugal, vol. II, Ourense-Oseira,

Monastério de Osera, 1992, pp. 813-834.

96 MOREIRA, Rafael, A Arquitectura (…), p. 461; Cf. Idem, “Encomenda artística em Alcobaça

no século XVI”, Arte sacra nos antigos coutos de Alcobaça, Lisboa, IPPAR – Museu de Alcobaça, 1995, pp. 40-62.

97 PINA e SOUSA, C. M. A., GOMES, Saul António, op. cit., p.91. 98 ibidem.

capítulo do Convento de Tomar99 e adianta que a construção se baliza entre

1521 e 1523.

Entre 1524 e 1527, os autores veem um hiato de tempo não preenchido por João de Castilho, certamente estaria ocupado pelas obras que foi acumulando (facto visível na sua carta de quitação). No entanto, algumas hipóteses são equacionadas como o paço ducal de D. Jaime, em Vila Viçosa, como salienta Ayres de Carvalho100, ou na igreja da Atalaia como afirmou

Nogueira Gonçalves101.

A partir de 1528 (4 de Junho), Castilho lança-se numa nova empreitada régia, desta vez no Mosteiro da Batalha, mais propriamente nas Capelas Imperfeitas. Ao assumir o estaleiro é-lhe atribuído o cargo de mestre das obras, após a morte de mestre Mateus Fernandes. Mas, segundo a opinião dos autores, esta magnânima obra não irá atrair a imaginação de Castilho, o que inclusive levou à renúncia do cargo, em 1532, em favor de Miguel de Arruda102, o que terá motivado a partida, em 1529, para outras obras, como as

99 MOREIRA, Rafael, A Arquitectura (…), p. 449. A informação dada por Rafael Moreira foi

extraída do texto e Gaspar Alvares de Lousada “Memórias para Nobiliários” (BNL col. Pombalina, n.º 269, fl. 57).

Sobre as problemáticas da casa, ou casas, do capítulo do convento de Tomar, Francisco Augusto Garcez Teixeira, regista uma polémica sobre a construção da Casa do Capítulo e para sua argumentação salienta Vilhena Barbosa que, no seu livro, Monumentos de Portugal

(Lisboa, 1885), fornece a seguinte informação: “Entre as obras que mostram antiguidade no Convento de Christo, há uma casa quadrangular, com abobada achatada, sustentada em pilares, e de tão sólida construção, que se conserva sem maior ruína, não obstante as aguas da chuva, que dos terrados superiores caem sobre a sua abobada ha alguns annos. Esta casa, situada ao sudoeste do primeiro claustro, de que tratei a pág. 190, parece-me ser a primitiva casa do capítulo”. Perante esta informação do século XIX, Garcez Teixeira apresenta

a sua discordância por nunca ter encontrado tal casa após vários anos de estudo sobre este monumento. Cf. TEIXEIRA, Francisco Augusto Garcez, “A casa do Capítulo incompleta do convento de Cristo”, Anais da União dos amigos dos monumentos da Ordem de Cristo, Vol. I. Tomo Iº. Tomar. Tipografía António Gouveia. 1927, pp. 69-84; Idem, “Empreitada das obras do convento”, Anais da União dos amigos dos monumentos da Ordem de Cristo, Vol. II, Lisboa, Tipografia do Anuário Comercial, 1950, p.31 – 36.

100 CARVALHO, Ayres de, D. João V e a arte do seu tempo, Lisboa, 1963, p. 12.

101 GONÇALVES, A. Nogueira, Estudos de História da Arte da Renascença, Coimbra, 1984, p.

116-118.

efetuadas em Arzila. De um certo modo, esta obra revela, segundo a historiografia, alguns problemas estruturais e levanta dificuldades conceptuais 103 , mas a mão de Castilho parece bastante implícita, nomeadamente no vestíbulo, onde vemos o modelo formal de Castilho. Porém, outros quiseram ver a mão de Castilho na varanda – balcão- renascentista da rotunda de D. Duarte104, todavia esta obra deve ser atribuída a Miguel de Arruda, em 1533, conforme surge numa cartela colocada na mesma varanda.

Podemos referir que Castilho desenvolve um volume considerável de obras no nosso território, porém, a demonstração das suas capacidades atinge outro alcance quando, em 1529, se desloca para efetuar inspeções e reparações nas praças-fortes de Marrocos. Aí cruza com Duarte Coelho (parece ser ele o responsável pela missão e Castilho, o responsável pelo levantamento das necessidades arquitetónicas) e ambos tinham como missão ver todos os muros e fortalezas do Norte de África105 e que de algum modo proporcionou a Castilho o contacto como os modelos italianos106.

103 Nuno Senos não partilha da mesma opinião e salienta que as obras incompletas de

Castilho, no mosteiro Batalha, não se devem às suas precárias capacidades, mas sim por uma firme vontade régia. SENOS, Nuno, “João de Castilho e Miguel de Arruda no Mosteiro da Batalha”, Murphy. Revista de História e Teoria da Arquitectura e Urbanismo, Coimbra, Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2007, p.39.

104 COELHO, Maria da Conceição Pires, A Igreja da Conceição e o Claustro de Dom João III do Convento de Cristo de Tomar, Assembleia Distrital de Santarém, 1987.

105 Segundo Rui Carita, “João de Castilho, mestre das obras da Batalha, deslocou o seu

importante conjunto de artífices para as fortalezas norte-africanas, encontrando-se em reparação e construção os castelos de Mogador, Aguz, Safim, Mazagão, Arzila, Alcácer- Ceguer, Tanger e Ceuta. Nesta vasta campanha de obras, ainda vem colaborar o duque D. Jaime de Bragança que, ao serviço do rei desloca também para o Norte de Africa os seus mestre-de-obras.” Cf. CARITA, Rui, “A defesa do atlântico nos séculos XV e XVI” A

arquitectura militar na expansão Portuguesa, Porto, CNCDP, 1994, p. 117.

106 CASANOVA, Maria Amélia Pinto da Silva, As pinturas de Gregório Lopes em Tomar sob o mecenato de Frei António de Lisboa, Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras

Como sabemos, João de Castilho realiza uma mudança conceptual nas formas arquitetónicas, passa do modelo tardo-gótico107 para o classicismo108. A generalidade dos autores observa que esta viragem se opera lentamente e que poderá ter começado desde muito cedo. Sobre esta temática João Barreira parte do conceito de “nomadismo artístico”, que remete para influências franco–espanholas incrementadas no nosso território através da obra e de artistas oriundos de tais países, como o caso de Nicolau Chanterene, João de Ruão. Por seu turno, Vergílio Correia defende que o conhecimento, a aceitação e a devida aplicação dos vocabulários renascentistas se ficam a dever aos múltiplos contactos e trabalhos que João de Castilho encetou com construtores estrangeiros, como Nicolau de Chanterene, o trabalho de parceria que executaram nas obras do Mosteiro do Jerónimos. Também é vincado na bibliografia que o Renascimento mais erudito de Castilho poderá ter despoletado mediante os contactos realizados com o italiano Benedito de Ravena (Benedetto de Ravena) em Mazagão durante a campanha de obras de 1541 e 1542, onde o italiano traça os planos de arquitetura militar para o Norte de África e Castilho executa a campanha arquitetónica109. Para este autor seria nesta esfera que João de Castilho

abarca o conhecimento do trabalho ao modo da Itália (ou da Espanha Italianizante)110. Já Rafael Moreira indica, a par das ideias anteriores, que a figura de Duarte Coelho pode ter sido um forte contributo para a aceitação, desenvolvimento e aplicação dos modelos do Renascimento no nosso país.

De retorno à cronologia sabemos que em 1530, após o seu regresso das praças africanas, João de Castilho tem a incumbência de começar as obras no Convento de Cristo em Tomar. O desígnio da missão imana de uma

107 BARREIRA, João, “O goticismo de João de Castilho”, Revista da Faculdade de Letras,

Lisboa, Imprensa da Universidade, 1933

108 BARREIRA, João, “O classicismo de João Castilho”, Revista da Faculdade de Letras,

Lisboa, Imprensa da Universidade, 1936

109 BURY, John, “Benedetto da Ravena”, A arquitectura militar na expansão Portuguesa,

Porto, CNCDP, 1994, pp. 130-134; “João de Castilho terá sido obrigado a conforma-se, ou seja, aos planos referidos na carta de João de Castilho de 15 de Dezembro de 1541, “como os apontamentos de Benito de Revena”.

110 CORREIA, Vergílio, “A arquitectura em Portugal no século XVI”, Biblos, vol.V, Coimbra,

diretriz régia que pretende modernizar e revitalizar a Ordem de Cristo, no entanto, a obra sofre algumas hesitações até 1533, sendo apelidado este tempo, de 1530 a 1533, como a fase de preparação de um amplo projeto.

Inevitavelmente, o ano de 1533 (Junho) marca de forma sintomática o início das profundas campanhas de obras do convento tomarense. Da leitura do treslado do contrato das obras, que envolveu Bartolomeu de Paiva e J. Castilho, verificamos que existem referências a um enlegimento novo e debuxos, ficamos com a perspetiva, reforçando as ideias anteriores, que Castilho modifica o plano que inicialmente estava proposto. O volume de trabalho acumulado por Castilho é considerável, a ele são atribuídas as obras do Claustro Principal ou Grande e o Claustro de Santa Bárbara, construídos de forma simultânea e foi a primeira experiência “ao romano” do mestre111.

Aliás, existe uma extrema preocupação em construir ao “romano”: “ as ditas abobadas…serão dallgua boa muldura lavradas quebe pareça ao Romano … e o asento dellas será por cima do ponto dos arcos …serã lavrados dallgua boa obra chãa ao Romano … e as quatro capelas que se ã de fazer nas quatro engas da dita crasta, serão pelo theor e ordenança do debuxo com sua cruzaria ao romano”.

Do Claustro Grande restam as capelas angulares, as escadas de acesso, um capitel isolado, quatro arcos e seis colunas inteiras (Sul). Aquele

111 MOREIRA, Rafael, A Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal — a Encomenda Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade

de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991; Idem, “Com antigua e moderna arquitectura – Ordem Clássica e Ornato Flamengo no mosteiro de Belém”, Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura, IPPAA, Mosteiro dos Jerónimos, 1992-1993, pp.24- 39

CASANOVA, Maria Amélia Pinto da Silva, As pinturas de Gregório Lopes em Tomar sob o

mecenato de Frei António de Lisboa, Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras

da Universidade de Lisboa, 2002, p.28.

Já Vieira Guimarães se debate com estas questões do “ao moderno” e “ao antigo” e ao ler a documentação, com ênfase o documento de 30 de Junho de 1533 (ANTT, Convento de Cristo, maço n.º 75) o autor realiza eloquências em torno da arquitetura grega e romana, destacando a existência do termo “ao romano”, dizendo que não era bem à romana, como diz o

documento. Seria à romana por suas abóbadas serem feitas de tijolo e os seus arcos de pleno centro, mas pela colocação das suas colunas, nada teria de romano. GUIMARÃES, Vieira, O Claustro de D. Joao III em Thomar, Edições Pátria, Gaia, 1931, p.53.

claustro tinha maiores dimensões que o atual devido à dupla arcaria, com botaréus, sendo semelhantes ao piso inferior do Claustro da Hospedaria.

O já o Claustro de Santa Barbara, centro de ligação entre os espaços conventuais, tinha dois pisos. No inferior, quatro lanços com três tramos por lanço, doze robustas colunas de fuste liso, capitéis hexagonais com motivos florais, arcos sarapanéis com a zona central reta, abóbadas quase retas com nervuras. O piso superior apresenta dez colunas com capitéis decorados com elementos zoomórficos, mascarões, vermiformes ou vegetalistas.

Para além destas obras conventuais, que se perfilam por toda a década de trinta, também lhe são atribuídas outras construções como a Granja, situada a Norte da vila de Tomar, as casas de Almeirim para os freires, a quinta da Cardiga, o Convento de Santa Iria, as capelas laterais da igreja de Santa Maria do Olival, assim como a sacristia. Na bibliografia ainda surgem outras obras onde lhe associam o nome como a igreja de S. Pedro de Dois Portos (Torres Vedras), a matriz de Sesimbra (1534) e de Castanheira (1532).

Como já foi mencionado, em 1541, João de Castilho tivera a incumbência de se deslocar à praça-forte de Mazagão. Aí, devia dotar a cidade de um bom sistema defensivo, contudo, neste cenário norte, Castilho conta com a colaboração de Benedetto de Ravena, homem que há muito labora em fortificações, nomeadamente para a coroa espanhola. A estada de Castilho por estas paragens é bem conhecida, pois são várias as cartas que relatam o estado evolutivo das obras112. Porém, no início de 1543, regressa a

Portugal (Tomar) por ordem régia.

Estando de volta a Portugal (Tomar), Castilho retoma as obras no Convento e executa, durante a última década de vida, o Claustro das Hospedarias (1541-1543), a Cisterna, o Claustro da Micha (1543), o Claustro das Necessárias, o Claustro dos Corvos (1543-1546), a capela do cruzeiro, os dormitórios e, por último, entre 1546 e os anos o início da década de cinquenta constrói Obra Nova, onde se destacam as três salas do Noviciado, sobressaindo a sala tetrástila vitruviana. Fora da estrutura de clausura do

112 MOREIRA, Rafael, A Construção de Mazagão – cartas inéditas 1541-1542, Lisboa,

convento, Castilho construiu, segundo os autores113, a Charolinha (1548),

pequena capela situada no meio de um lago, na Mata dos Sete Montes, com planta circular e pilastras jónicas.

A tratadística é um dos recursos bem visíveis na obra de Castilho, primeiro através das Medidas del Romano de Diego de Sagredo e na década de quarenta o texto vitruviano de Cesare Cesariano. Estes textos, assim como as respetivas gravuras, passam a ser as principais fontes para a arquitetura erguida por Castilho. Contudo, conforme veremos nos capítulos respetivos, pensamos que a introdução desses valores modernos é realizada pela mão de terceiros, mas que marcara a obra executada pelo mestre trasmiero.

Já numa fase final da sua vida, encontramos a presença de João de Castilho em de Areias (Pias) para reformar a igreja de Santa Maria de Areias (Arenas) em 1548, segundo António Baião114. Por carta, Castilho dá conta ao

Rei como Miguel de Arruda não tinha tempo para visitar o edifício e efetuar a avaliação devida e esse facto era prejudicial para Castilho e para a obra pois necessitava de dinheiro para a sua conclusão.

Por último e tido como o mais profundo rasgo do classicismo, surge a obra da igreja da Conceição de Tomar, traçada por volta de 1547 em simultâneo com Noviciado. Esta obra foi concebida para alegadamente se destinar a panteão régio de D. João III115. Desde muito cedo, esta obra tem

113 BARBOSA, Álvaro José, Os Sete Montes de Tomar, Caleidoscópio, 2003; CASANOVA,

Maria Amélia Pinto da Silva, op.cit., p.32; MOREIRA, Rafael, A Arquitectura do Renascimento

no Sul de Portugal — a Encomenda Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de

Doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991.

114 BARBOSA, Inácio de Vilhena, As Cidades as Villas da Monarchia Portugueza que teem brasão d'armas, Vol. 1, Lisboa, 1860; BAIÃO, António, “A Vila e o Concelho de Ferreira do

Zêzere”, O Archeologo Português, Vol. 14 e 22, 1909 e 1917; CÂNCIO, Francisco, Ribatejo

Histórico e Monumental, 1938; SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Santarém, Vol. 3, Lisboa, 1949. BAIÃO, António, A Vila e o Concelho de Ferreira

do Zêzere, 2ª Ed., Ferreira do Zêzere, Câmara Municipal de Ferreira do Zêzere, 1982.

115 MOREIRA, Rafael, “A ermida de Nossa Senhora da Conceição, mausoléu de D. João III?”, Boletim Cultural e Informativo da Câmara Municipal de Tomar, nº 1, Tomar, 1981, pp. 93-100.

sido atribuída a João de Castilho116, todavia, a morte em 1552 não permitiu

que concluísse a totalidade da obra e quem assume a direção das obras é o arquiteto Diogo Torralva, dando-se por concluída, nove anos depois, em 1561. A principal fonte de inspiração utilizada pelo arquiteto foi a edição de Cesare Cesariano 117, com ilustrações da obra que já tinha influenciado as salas do

Noviciado, também não podemos descorar, outras fontes clássicas, como