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III JOÃO DE CASTILHO: A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE UM MESTRE PENINSULAR.

III.II ) JOÃO DE CASTILHO E A SUA DESCONHECIDA FORMAÇÃO.

III.II.II ORGANIZAÇÃO DE ESTALEIRO – LEITURA DA EVOLUÇÃO ESTATUTÁRIA DE UM DE ESTALEIRO.

Vejamos então a primeira obra claramente documentada de João de Castilho no nosso país para aí asseverarmos do seu estatuto e da qualidade da sua obra, quer técnica quer plástica. A partir da organização do estaleiro podemos demonstrar a sua ligação a uma tipologia de organização peninsular com prática reconhecida na documentação noutros estaleiros peninsulares, no quadro que atrás enunciámos como focos essenciais para a formação dos artistas no contexto histórico em estudo.

A primeira obra que executa João de Castilho no nosso território é a capela-mor da Sé de Braga320 e ocorre durante a prelatura de D. Diogo de

Sousa, inserindo-se esta obra numa política de modernização da cidade321. A

(re)edificação da parte mais importante do templo, revelou-se, antes de mais, um exercício de poder, que se traduz por conter predicados arrojados e inovadores para o nosso território e, para concretizar os seus intentos, o bispo quis, certamente, no estaleiro bracarense os melhores executantes do exercício da arquitetura, como é caso de João de Castilho. A notícia da sua intervenção em Braga é-nos dada por documentação paralela e relativa à

320 ADB., Registo Geral, Livro 330, fls. 316-334v. (1532-1565) - Memorial das obras que

mandou fazer D. Diogo de Sousa. “ (…) Mandou derribar a capella a antiga mayor e fazer esta

nova na forma em que agora estaa, com seu lageamento e degraos dos alicerces ataa cima de pedraria e vidraças das frestas, e foi a primeira capella d’ abobada de combados e de aljaroz de pedraria, que se fez em Portugal ataa este tempo.” Publicado por; ALMEIDA,

Vicente d’, Documentos inéditos: história da arte em Portugal, Porto, Typ. Elzeveriana, 1883, p. 13-55; FERREIRA, José Augusto, Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga (séc. III-

sec. XX) voI. II, Braga, Mitra Bracarense, 1931, pp. 485-508.

321 D’ALMEIDA, Rodrigo Vicente, “Documentos Inéditos Colligidos por Rodrigo Vicente d’Almeida”, Historia da Arte em Portugal, Porto, Typographia Elzeveriana, 1883, p. 13-44; FERREIRA, Mons. J. Augusto, Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga, vol. II, 1931, p. 485-508; COSTA, P. Avelino de Jesus da, “D. Diogo de Sousa, Novo Fundador de Braga e Grande Mecenas da Cultura”, Homenagem à Arquidiocese Primaz nos 900 anos da

Dedicação da Catedral – 4-5 de Maio de 1990, Lisboa, Academia Portuguesa de História,

1990, p. 99-117; MAURÍCIO, Rui, O Mecenato de D. Diogo de Sousa Arcebispo de Braga

igreja Matriz de Vila do Conde322, onde se menciona “pera se tomar o mestre

da obra da igreja que era neçeçario se fazer e por mao nos arcos e nave da dita egreja e tinham mandado chamar Joham del Castillo mestre da capela da Se de braga”323 (doc.4).

Atestando-se a presença do mestre João de Castilho em Braga, numa das mais importantes obras que decorria no reino e atribuindo-se tal responsabilidade desta empreitada, qual seria o estatuto do mestre antes de chegar ao no nosso território e qual terá sido o caminho tomado pelo mestre?

O trabalho de Maria de Lurdes Craveiro quando estuda a figura de Diogo de Castilho, meio-irmão do nosso arquiteto, salienta uma eventual presença de João de Castilho em Portugal antes de 1509 ou a vinda expressa para Braga de um artista que tivesse já evidenciado, no seu país de origem324. Tal como propôs esta autora, também nós pensamos, que o erudito e viajado D. Diogo de Sousa não teria encomendado uma obra, de tamanha envergadura e de tão grande carga política e simbólica a alguém que não tivesse já demonstrado o seu potencial construtivo.

Antes de tudo, queríamos aproveitar o ensejo para salientar que a documentação existente em Portugal para a periodização em estudo, assim como a bibliografia, é praticamente omissa quanto a esta matéria, porém a

322 Sobre o panorama da arquitectura tardo-medieval e respetiva história de Vila do Conde cf.

FERREIRA, José Augusto, Vila do Conde e o seu alfoz, Origens e Monumentos, Porto, 1923; FERREIRA, José Augusto, Fastos episcopais da Igreja Primacial de Braga (séc. III- séc. XX) voI. II, Braga, Mitra Bracarense, 1931, pp. 485-508; NEVES, Joaquim Pacheco, “A igreja Matriz de Vila do Conde”, Vila do Conde, Vila do Conde, Boletim Cultural da Câmara Municipal de Vila do Conde, Nova; COSTA, Marisa, “A Construção da Igreja Matriz de Vila do Conde”, Vila do Conde, Boletim Cultural da Câmara Municipal de Vila do Conde, Nova Série, nº 13, 1994, pp. 32 – 54

323 AMVC, N.I 16, fls. 276. FREITAS, Eugénio da Cunha e, “João de Castilho e a sua Obra no Além Douro”, Colóquio, nº 15, Lisboa, 1961, pp.6-9.: FREITAS, Eugénio da Cunha, “ Os mestre biscainhos na matriz de Vila do Conde”, Anais, Academia Portuguesa de História, II série, vol. XI, p.180 Série, nº 2, 1987;

324 CRAVEIRO, Lurdes, Diogo de Castilho e a Arquitectura da Renascença em Coimbra, Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1990, p. 7.

bibliografia internacional325, que tem estudado as evoluções de estaleiro, para

o nosso caso particular bibliografia espanhola é crucial326, pois pensamos que

não será muito distinto do contexto cultural, mental e oficinal português. Perante estes factos, torna-se imperativo refletir como era o processo formativo destes homens e a ampla organização hierárquica de um estaleiro327.

Todavia, saliente-se que a transmissão de conhecimentos e a sua execução é efetuada de forma gremial – pela prática e pela oralidade – e o seu domínio é fulcral, no entanto, era expressamente proibido dar a conhecer os métodos gráficos a quem não fosse da arte, assim como nenhum indivíduo incorporava o grémio328 se não demonstrasse o seu conhecimento na

325 JACOBS, David, Los constructores de catedrales, Barcelona, Timun Mas, 1974 (New York, American Heritage Publishing, 1969); KOEPF, Hans, Die Gotischen Planrisse der Wiener

Sammlungen, Wien, Hermann Böhlaus Nachf, 1969; COLOMBIER, Pierre du, Les chantiers des cathédrales, Paris, Picard, 1973; GIMPEL, Jean, Les batisseurs de cathédrales, Paris,

Seuil, 1980; VAGNETTI, Luigi: L'architetto nella storia di Occidente, Padova, Cedam, 1980;

Les batisseurs des cathedrales gothiques, catálogo de la exposición celebrada. Director

Roland Recht, Strasbourg, Editions Les Musées de la Ville, 1989; CHASTEL, André; GUILLAUME, Jean (org.), Les Chantiers de la Renaissance (Actes des colloques tenus a Tours en 1983-84), Paris, Picard, 1991; DU COLOMBIER, Pierre, Les Chantiers des

Cathédrales, Paris, Picard, 1992; CASSANELLI, Roberto (cord), Talleres de Arquitectura en la Edad Media, Barcelona, Moleiro, 1995; MARTINEZ PRADES, José Antonio, Los Canteros Medievales, Akal, Madrid, 2001.

326 "FERRER BENIMELI, José, “Antecedentes Histórico-sociales del oficio de cantero y de la industria de la piedra", A.A.V.V., Signos lapidarios de Aragon, Zaragoza, 1983; PINTO, Giuliano, “L’organizzazione del lavoro nei cantieri edili (Italia centro-settentrionale)”, Artigiani e

salariati. Il mondo del lavoro nell’Italia dei sec. XII-XV, Centro di studi di storia dell’arte, Decimo

convegno internazionale, 1984.

327 Sobre a organização dos estaleiros em Portugal ver: GOMES, Saul António, O mosteiro de

Santa Maria da Vitória, Instituto de Hist. de Arte Fac. de Letras da Univ. de Coimbra, Coimbra,

1990, pp. 62-147; FIGUEIRA, Luís Manuel Mota dos Santos, Aspectos Tecnológicos na

Decoração da Arquitectura Manuelina, Tese de mestrado apresentada à Faculdade de Letras

da Universidade de Lisboa, 1992; DIAS, Pedro, “Os artistas e a organização do trabalho nos estaleiros portugueses de arquitectura, nos séculos XV e XVI”, A viagem das formas, Editorial Presença, Lisboa, 1995, pp.15-35.

328 Sobre a temática gremial vide: GUTIÉRREZ RUBIO, Julián, “Formación y evolución de los Gremios”, Revista de Trabajo, nº 9, Madrid, 1944; ROMERO MUÑOZ, Vicente, Aprendizaje y

realização de plantas, alçados e outros desenhos inerentes ao estaleiro. Estas diretrizes são bem explícitas nos Estatutos de Ratisbona (Estatutos da Associação de Ateliers de Pedra e Construtores), de 1459 e onde refere: ningún trabajador, ni maestro, ni jornalero, enseñará a nadie, se llame como se llame, que no sea miembro de nuestro oficio y que nunca haya hecho trabajos de albañil, como extraer el alzado de la planta329.

No que corresponde ao processo de formação do “arquiteto”330 (embora

a periodização que mencionamos não deva ter uma leitura linear), começa pelo estatuto de aprendiz331 – primeiro nível do sistema de aprendizagem,

dentro do estaleiro –, sendo acompanhado por um mestre, que podia ter mais de um aprendiz, por aproximadamente seis anos332. O aprendiz começava a

sua andança em estaleiros em tenra idade, por volta dos treze ou catorze anos de idade, para sair do estatuto de aprendiz era necessário realizar um exame, supervisionado por um mestre superior de um grémio, e mediante a

formación profesional en los gremios sevillanos del siglo XVI, Tesis doctoral, 1949; BORRERO

FERNÁNDEZ, Mercedes, “Los medios humanos y la sociología de la construcción medieval”

La técnica de la arquitectura medieval, Sevilla, 2000.

329 KOSTOF, Spiro, El Arquitecto, História de una profession, Ediciones Cátedra, Madrid,

1984, p.93; RECHT, Roland, Il disegno d'architettura. Origine e funzioni, Jaca Book Ed., Milano, 2001, pp. 79- ss.

330 MARÍAS, Fernando, “El papel del arquitecto en la España de] siglo XVI”, Les chantiers de la Renaissance, actes des colloques tenus à Tours en 1983-1984, études réunies par Jean

Guillaume, Paris, Picard, 1991, pp. 247-261. Para o caso portugués ver: MOREIRA, Rafael, A

Arquitectura do Renascimento no Sul de Portugal — a Encomenda Régia entre o Moderno e o Romano, Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1991; RUÃO, Carlos, O Eupalinos

Moderno Teoria e Prática da Arquitectura Religiosa em Portugal (1550-1640), Dissertação de

Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, policopiada, Coimbra, 2006, pp. 80 e ss.

331 NAVARRO FAJARDO, Juan Carlos, op. Cit. p. 22; Cf. RECHT, R., Le Dessin

d’architecture, ed. Adam Biro, París, 1995; KIMPEL, D., “La actividad constructiva en la Edad

Media: Estructura y evolución”, Talleres de arquitectura en la Edad Media, Moleiro editor, Barcelona, 1995.

332 FERNÁNDEZ ALBA, Antonio, “Aprendizaje y práctica de la arquitectura en España”, El

sua aprovação podia exercer a atividade de canteiro333. Porém, a formação

continua. A esta primeira fase de aprendizagem, seguia-se outra na vertente prática de cerca de três anos, que se passava em itinerância e trabalhando à jorna em distintos tipos de trabalho, só desta forma poderia demonstrar a sua real capacidade que por vezes era demonstrada em obra prática ou então através da execução de maqueta onde confirmasse as suas habilidades, só desta forma se estaba en plena disposición de abrir su propio estudio-taller, y en el caso de no tener medios para ello334.

Tendo sido adquirida a formação e as competências necessárias como se expressa em organização de estaleiro.

Na verdade, o processo de hierarquização de um estaleiro é vasto e complexo (fig.17). No que concerne ao nosso território são poucos os fundo documentais que atestam o processo evolutivo e organizativo do estaleiro, mas cremos, como dissemos anteriormente, não será muito diferente do que acontece nos restantes territórios europeus. Os historiadores, Pedro Dias335 e

Saul António Gomes 336 , Luís Mota Figueira 337 , abordaram o tema

relativamente ao nosso cenário construtivo e observaram, fundamentalmente, uma repartição do estaleiro em dois grandes sectores: o sector operário ou construtivo; o sector administrativo. Estes dois sectores têm um ponto comum, a figura do vedor das obras, que é o responsável, perante o rei, pela

333 KOSTOF, Spiro, El arquitecto: historia de una profesión, Cátedra, Madrid, 1984. Também

em Portugal podemos observar as avaliações no livro Regimento dos Oficiais Mecânicos da

Cidade de Lisboa, de 1572; CORREIA, Vergílio, O Livro dos Regimentos dos Officiaes mecânicos, Coimbra, Impressa da Universidade, 1926, p. 108; CARITA, Hélder, Lisboa Manuelina, Lisboa, Livros Horizonte, 1999, p. 84.

334 NAVARRO FAJARDO, Juan Carlos, Bóvedas valencianas de cruceria de los siglos XIV al XVI. Traza y montea, Tese de Doutoramento apresentada à Universidade de Valência, 2004,

p. 22.

335 DIAS, Pedro, “Os artistas e a organização do trabalho nos estaleiros portugueses de

arquitectura, nos séculos XV e XVI”, A viagem das formas, Editorial Presença, Lisboa, 1995, pp.15-35.

336 GOMES, Saul António, O mosteiro de Santa Maria da Vitória, Instituto de Hist. de Arte Fac.

de Letras da Univ. de Coimbra, Coimbra, 1990, pp. 62-147.

337 FIGUEIRA, Luís Manuel Mota dos Santos, Aspectos Tecnológicos na Decoração da Arquitectura Manuelina, Tese de mestrado apresentada à Faculdade de Letras da

fiscalização in situ dos trabalhos cometidos pelos mestres e restantes oficiais338.

A figura principal de todo o estaleiro é o mestre maior (mestre das obras em Portugal: a nossa documentação é omissa na terminologia): as suas funções são muito variadas, por um lado administra os gastos da obra, a sua execução e também é o responsável pelo seu desenho. O termo mestre-de- obras não é um título em si mesmo, pois podia ser mestre-de-obras em determinado estaleiro e num outro poderá ser simplesmente um mestre. No entanto, a atividade de mestre-de-obras está relacionado diretamente com uma determinada obra. Ao mestre-de-obras, a figura maior dentro do estaleiro, a ele cabia toda a conceção arquitetónica e possivelmente também todo o caráter geral da ornamentação, desta forma toma nas suas mãos o conhecimento particular de cada uma das partes a construir, permitindo-lhe instruir os seus subalternos sobre a obra por intermédio do desenho. Também a ela cabe a organização do estaleiro, nomeadamente ao nível das contratações dos diversos canteiros e especialistas que intervenham diretamente na obra, da mesma forma coordena os distintos ofícios que nela intervêm, com a finalidade puramente prática, velando também pela economia de meios do estaleiro, supervisionando o modo da construção e a qualidade dos materiais, sempre em consonância com o aparelhador.

A segunda figura do estaleiro é o aparelhador, são “quadros médios”339,

a quem cabe, para além de controlar e dirigir a obra na ausência do mestre340

(um dos aspetos a destacar é a ausências frequente dos mestres-de-obras o que revela que existência de mais de uma obra sob a sua alçada)341. Ao

aparelhador cabe, também, o papel de especialista em determinar o apparatus, quer isso dizer o aparelho das pedras sobre um plano e à escala de 1:1, poderá debuxar traças e as monteas, define as plantilhas e os

338 Idem, p. 44.

339 IZQUIERDO GRACIA, P., Evolución histórica de los estudios, competencias y atribuciones

de los Aparejadores y Arquitectos, Técnicos, Madrid, Dykinson, 1998, pp. 19-28.

340 RECHT, Roland, Le Dessin d'Architecture. Origine et Fonction, Paris, Adam Biro, 1995, p. 74.

341 Cfr.FALCÓN MÁRQUEZ, Teodoro, El aparejador en la historia de la Arquitectura, Sevilla, Colegio de Aparejadores y Arquitectos Técnicos de Sevilla, 1981.

escantilhões onde os canteiros se baseiam para obter os diversos cortes342.

Os aparelhadores podem ainda tomar sob alçada uma determinada empreitada, sendo assim responsáveis pela execução de determinada obra, pois era um canteiro de categoria, dotado de conhecimento básico na arte de traçar343. Veja-se o caso das obras de Santa Maria de Belém em 1517: no rol

de despesas do Mosteiro de Belém344 surge a folha relativamente a segunda

feyra a xbj djas de março de bc xbij (1517) onde se menciona o seguinte, “item Joham de Castilho mestre empreyteiro de crasta premeyra e capytollo, sancrystia e portal da travessa ade trazer cemto e dez hofycyales e adeaver por mes cemto e corenta mil rs”. A informação dada pelo documento é clara e inequívoca, sob a alçada de Castilho está todo o estaleiro e em cada obra coloca um aparelhador, a saber: na obra do capítulo encontra-se Pero Goterres aparelhador; Rodrygo de Pontezilhas aparelhador na porta do capytolo; Fernando de la Fermosa aparelhador da sancrystia e Francisco de Benavente aparelhador da crasta premeyra.

A categoria dos assentadores, segue, na hierarquia do estaleiro, logo atrás da figura do mestre-maior e do aparelhador (seguimos aqui o exemplo do estaleiro da catedral Sevilha), como la palabra indica, era la de assentar los sillares com ayuda de los peones345. Sabemos que nesta categoria estavam presentes canteiros experimentados, capazes de avaliar a composição e estado dos materiais, conhecem as formas de interligação dos vários ofícios existentes no estaleiro e acima de tudo é do seu desempenho e rigor junto dos canteiros e moldureiros a obtenção do bom aparelhamento dos muros, pilares e silhares, da mesma forma eram estes que dirigiam os labores de montagem

342 NAVARRO FAJARDO, Juan Carlos, Bóvedas valencianas de cruceria de los siglos XIV al

XVI. Traza y montea, Tese de Doutoramento apresentada à Universidade de Valência, 2004,

p. 22.

343 RODRÍGUEZ ESTÉVEZ, Juan Clemente, Los Canteros de la Catedral de Sevilla – del Gótico al Renacimento, Diputacion de Sevilla, 1998, p.300.

344 ANTT, Fundo Antigo, nos 811-814, Despesas das obras do Mosteiro de Belém, fl.21

(Caderno de 1517).

345 RODRÍGUEZ ESTÉVEZ, Juan Clemente, Los Canteros de la Catedral de Sevilla – del Gótico al Renacimento, Diputacion de Sevilla, 1998, p. 309-310

dos blocos sobre os muros, pilares e abóbadas, cuidavam das cimentações e da qualidade dos morteiros.

Dentro do estaleiro outra categoria que surge é dos entalhadores. Este termo é algo ambíguo, pois pode referir-se ao canteiro que lavra peças com ornamentos, escultores ou entalhadores de madeira. No que se refere ao entalhador/canteiro, a sua formação pende para uma alta especialização, cabe-lhe a execução de trabalhos mais complexos e delicados sobre pedra, como sendo o talhe de peças de forte complexidade ornamental (como capiteis ou chaves floreadas)346. Contudo, é de notar que, nas nóminas de

1507, surge-nos nomes como Juan de Guarnizo, Francisco de Segovia, Simón Rodriguez, André de Palencia, Pedro de Trillo e também de Pero de Millán. Como bem sabemos, este era mais conhecido pela execução de peças escultóricas em barro cozido, sendo designado por imaginário e não por canteiro, mas certamente terá realizado obra de lavores escultórios para a obra catedralícia.

Ainda dentro da orgânica do estaleiro e das relações mesteirais, estão ainda sob a alçada do mestre principal e restantes mestres, tidos como “menores” dentro complexo do estaleiro, com o mestre de carpintaria; o mestre de ferraria, etc… A um nível inferior eram colocados os menos qualificados e os que detinham trabalho braçal, como os moldureiros, os pedreiros, os vidreiros, os cabouqueiros, os carreiros, os mesteirais e os obreiros.

346 HOAG, John Douglas, Rodrigo Gil de Hontañón. Gótico y Renacimiento en la arquitectura española del siglo XVI, Madrid, Xarait, 1985, pp.48-49.

Figura nº 17 - Hierarquização de Estaleiro – referencia ao exercício do ofício de cantaria.

III. III) AS OBRAS DO HOSPITAL REAL DE SANTIAGO DE COMPOSTELA