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2.1 ESTADO, POLÍTICA PÚBLICA E POLÍTICA EDUCACIONAL

2.1.2 O Estado e a Política Pública

Nosso objetivo, neste item, é discutir o que é Política Pública e entender qual o papel da política social no contexto do Estado capitalista.

Na literatura há uma variedade de definições acerca do que vem a ser uma política pública. Este estudo ancora-se nos conceitos de Souza (2006) e de Boneti (2011). Para Souza (2006, p. 26, grifos do autor),

Pode-se, então, resumir política pública como o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou no curso dessas ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real.

Se for necessária a criação de ações e programas oriundos do Estado, isso revela que a política desenvolvida não está satisfazendo as necessidades, as carências de todo cidadão, significando que a ação política do bem comum não está em prática.

Boneti (2011, p. 18) entende política pública como

[...] o resultado da dinâmica do jogo de forças que se estabelecem no âmbito das relações de poder, relações essas constituídas pelos grupos

econômicos e políticos, classes sociais e demais organizações da sociedade civil. Tais relações determinam um conjunto de ações atribuídas à instituição estatal, que provocam o direcionamento (e/ou redirecionamento) dos rumos e ações de intervenção administrativa do Estado na realidade social e/ou de investimentos.

A partir desta compreensão, o Estado é o agente responsável pela organização e institucionalização de decisões oriundas do debate público entre os diversos agentes a partir das necessidades ou interesses restritos. É através da política pública que o Estado planeja transformar uma realidade em longo prazo (BONETI, 2011).

Esse planejamento não ocorre apenas no âmbito estatal. É necessária uma correlação de forças para identificar a pauta da agenda política e iniciar o processo de elaboração da política pública. Boneti (2011, p. 44) esclarece essa questão ao afirmar que as políticas públicas tendem a ser geradas

[...] no sentido de se estabelecer um vínculo entre a sociedade civil e o Estado mediante as ações de intervenção na realidade social. Esse vínculo se materializa por envolver o cidadão comum também na cumplicidade de manutenção do sistema e/ou do grupo governante pela legitimação (votos) dos poderes instituídos, etc. Isso não significa dizer que a interferência do Estado na realidade social vai se dar apenas de forma a satisfazer uma carência sentida por todos os segmentos sociais, mas também para satisfazer interesses de grupos sociais diversos.

O resultado dessa correlação de forças vai depender de quais partidos políticos estão no poder, da articulação dos movimentos sociais, da influência dos meios de comunicação, do contexto de influência internacional, entre outros.

É importante esclarecer que não existe apenas uma finalidade da política pública: atender às necessidades da população. Para atender a interesses de particulares, é criada uma falsa carência de algo para a manutenção do sistema e ou do grupo governante. As políticas públicas também podem ter como intuito seguir as demandas internacionais (BONETI, 2011).

Nessa conjuntura, há políticas sociais e políticas econômicas. O nosso foco é nas políticas sociais (as de educação, saúde, previdência, habitação, saneamento, etc.).

E políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico. As políticas sociais têm suas raízes nos movimentos populares do século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções industriais (HOFLING, 2001, p. 31).

Voltamos a reforçar que as desigualdades sociais também são produzidas pelo sistema econômico vigente que, no caso brasileiro, é o capitalista. Nessa questão podemos afirmar que o Estado possui ações contraditórias, ao mesmo tempo em que pode provocar as desigualdades sociais (e também econômicas), e é responsável por diminuí-las.

Podemos destacar, também, que

As políticas sociais, nesse sentido, são estratégias promovidas a partir do nível político com a finalidade de imprimir um modelo social, compostas por planos, projetos e diretrizes próprias para cada âmbito de ação social. No entanto, estas políticas sociais assumem as características dos conflitos de interesses e das correlações de forças, presentes ou não, em uma determinada sociedade. Em outras palavras “ao constituir uma unidade, tanto a política econômica como a social podem expressar mudanças nas relações entre as classes sociais ou nas relações entre distintos grupos sociais existentes no interior de uma só classe” (BIANCHETTI, 1999, p. 89, grifos do autor).

Para Marques e Mendes (2007, p. 16), a política social “Compreende tanto a proteção garantida por direito como o conjunto de ações governamentais voltadas para diminuir a pobreza absoluta, a desigualdade de renda e para propiciar a inclusão”.

Estudos sobre as políticas sociais liberais implantadas nos países latino- americanos apontam três características centrais: políticas sociais orientadas para os mais pobres; políticas sociais de assistência-benfeitoria e de privatização; e políticas sociais descentralizadas e recorrendo a uma participação popular (OLIVEIRA; DUARTE, 2005).

A partir dessas compreensões do que vem a ser uma política social e de suas características gerais no âmbito da América Latina, é necessário refletir qual seu papel dentro do atual regime econômico: o capitalismo.

O grande momento em relação às políticas sociais, contudo, deu-se com o fordismo. Percebeu-se que o sistema capitalista era um todo constituído de vários elementos, e que além de capital e trabalho um outro elemento se fazia presente, o mercado consumidor, e que o trabalhador em si seria um elemento importante para incorporar ao mercado consumidor. Neste caso, a questão social passou a ser mais importante. Ela passa a ser essencial por se perceber a importância de um elemento-chave para o modo de produção capitalista: a sua reprodução. A lógica da reprodução dava conta de que para a funcionalidade do modo de produção capitalista era necessário a reprodução do capital, da mão de obra e do mercado consumidor (BONETI, 2011, p. 34).

Assim, o Estado capitalista não implanta políticas sociais porque é solidário com as necessidades e carências das populações menos favorecidas, mas o faz devido a interesses de manter determinados partidos políticos no poder.

Mesmo conhecendo os diversos interesses do Estado em sua ação em relação às políticas públicas, compreendemos que a política social tem grande papel na sociedade, principalmente quando pensamos em uma área que ainda apresenta muita desigualdade social, que é a educação, configurada na política educacional, conforme a seguir.