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Capítulo 5: Análise da Representatividade e Eficiência das Unidades de

2. Caracterização das unidades de conservação selecionadas

2.4. APA Estadual Ponta da Baleia/Abrolhos

A APA Estadual Ponta da Baleia/Abrolhos foi criada através do Decreto Estadual nº 2.218 de 14/06/1993, sendo a mais antiga das quatro áreas selecionadas. Por ser uma unidade estadual está sob a responsabilidade direta do Estado da Bahia, que na época da criação da APA passou essa incumbência à Empresa de Turismo da Bahia – BAHIATURSA. Atualmente, desde 1996, a administração das APAs do litoral sul baiano passou a ser de responsabilidade do Centro de Recursos Ambientais (CRA) - órgão ambiental do estado da Bahia. A APA tem cerca de 350 mil hectares, dos quais 90% são ecossistemas eminentemente marinhos (mapa 17).

Abrangendo a mais extensa área de recifes de coral do Brasil, os recifes do Banco dos Abrolhos apresentam todas as dezoito espécies que habitam os substratos recifais do país, sendo que metade delas ocorrem somente em águas brasileiras. Os quatro grandes grupos de corais: corais pétreos, corais de fogo, octocorais e corais negros têm seus representantes na área do Banco dos Abrolhos, sendo que Mussismilia braziliensis e Favia leptophylla são endêmicas do estado da Bahia (Laborel, 1969).

Segundo Leão (1999) os recifes do Banco dos Abrolhos estão distribuídos em dois arcos, aproximadamente paralelos à linha da costa. O arco costeiro está localizado cerca de 10 a 20 km da costa e é formado por um complexo de bancos recifais e pináculos coralinos isolados, de dimensões variadas, e com recifes que ficam expostos durante a maré seca (recifes intermareais). O arco externo que bordeja o lado leste do arquipélago dos Abrolhos, está localizado cerca de 70 km da costa e é formado por pináculos coralinos gigantes em águas de profundidades superiores a 25 m (figura 27). Desse modo, o arco costeiro que compõe o Banco de Abrolhos está, na sua grande maioria, dentro dos limites da APA, tendo como maior referência o Parcel das Paredes (figura 28).

Figura 27: Mapa esquemático da localização dos recifes de coral do Banco dos Abrolhos (Fonte: Leão, 1999).

As estruturas recifais que compõem tanto o arco costeiro como o arco externo funcionam como criadouros naturais de peixes e outros organismos marinhos, servindo como importantes bancos genéticos que permitem o repovoamento das áreas de entorno e garantem assim a manutenção dos estoques dos recursos naturais deste setor costeiro (CI-Brasil/IBAMA, 1997).

Essa região do extremo sul da Bahia abriga um rico e diverso mosaico de ecossistemas onde se encontram matas nativas, rios, mangues, praias, estuários, recifes de coral e ilhas marinhas. Esta grande variedade de ambientes garante a manutenção de uma elevada biodiversidade na região, notadamente no ambiente marinho onde as espécies que lá vivem e se reproduzem fazem com que o Banco dos Abrolhos assuma grande importância ambiental e sócio-econômica. Além do extremo valor paisagístico da APA Ponta da Baleia/Abrolhos, a região é fundamental à manutenção das atividades pesqueiras das comunidades locais e ao desenvolvimento do ecoturismo regional (Sérgio F. de Oliveira, CRA, gestor da APA entre 2000 e 2001, com. pess.).

Figura 28: Vista aérea do Parcel das Paredes, região marinha central da APA Estadual Ponta da Baleia/Abrolhos (imagem digitalizada a partir de vídeo realizado por Enrico Marcovaldi). Fonte: CI-Brasil/IBAMA, 1997.

A APA Ponta da Baleia/Abrolhos abrange ainda uma extensa área de manguezais, onde diversas comunidades tradicionais se espalham ao longo dos canais de rios e mangues. A atividade extrativista é desenvolvida pelos catadores de guaiamuns (Cardisoma guaiumi), aratus (Goniopsis cruentata), sururus (Mytillus sp.) e ostras (Crassostrea sp.). Estas populações, coletores, pescadores, entre outros são os grandes responsáveis pela manutenção da diversidade biológica da qual dependem para sua sobrevivência. Por outro lado, essas mesmas populações protagonizam diversos incidentes referentes à pesca de arrasto do camarão. Existe na região um constante conflito entre pescadores artesanais e empresas de pesca de camarão. A necessidade de manutenção das populações tradicionais é considerada pela CI-Brasil e IBAMA (1997) como essencial para a manutenção dos ecossistemas locais, e a ordenação de suas atividades é fundamental para o uso moderado e sustentado dos recursos naturais, apoiando-as em busca de melhoria da qualidade de vida.

No entanto, seus ecossistemas encontram-se ameaçados pela sobrepesca e pelo uso de práticas inadequadas para a exploração dos recursos naturais. O ordenamento da atividade pesqueira e o zoneamento da APA, devem ser parte integrante do plano de manejo, quando elaborado, pois são as ferramentas fundamentais para que a unidade possa cumprir o papel de proteger os importantes ecossistemas marinhos e costeiros que abriga (Sérgio F. de Oliveira, com. pess.).

A APA assume então um papel fundamental para a gestão do ambiente recifal da região, pois além de conter uma das maiores áreas de recifes rasos mapeados no

capítulo 3, está diretamente ligada ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos podendo ser considerada como sua zona de amortecimento25.

Juntamente com o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos a área é conhecida pela periódica presença das baleias jubarte (Megaptera novaengliae), que no inverno e na primavera chegam ao Banco de Abrolhos para se reproduzirem. É considerada uma das quatro espécies de baleias que têm populações mundiais mais reduzidas (Márcia Engel, Instituto Baleia Jubarte, com. pess.). A porção marinha da APA Ponta da Baleia/Abrolhos tem se mostrado, segundo pesquisadores do Instituto Baleia Jubarte, organização não-governamental que se dedica à pesquisa e conservação destes animais, de extrema importância para o ciclo migratório dessa espécie de cetáceo.

Os impactos antropogênicos mais comuns na costa da Bahia estão relacionados ao desenvolvimento costeiro, turismo, pesca predatória, instalação de projetos industriais e 46 projetos de exploração de combustíveis fósseis (até 1996) (Leão, 1996). Entre os problemas relacionados ao desenvolvimento costeiro, a produção de lixo e de esgotos “in natura” podem causar alterações na composição das comunidades recifais, por exemplo, através de um favorecimento ao crescimento de algas em detrimento dos corais. Os dados referentes à poluição doméstica lançada pelos municípios que compõem a APA estão na tabela 17 a seguir.

TABELA 17: Municípios da APA Estadual Ponta da Baleia/Abrolhos (BA) com respectivos valores de população total, vazão de esgoto doméstico (m3/d) e carga

orgânica (kg/d) lançada na zona costeira do estado.

Municípios APA Ponta da Baleia/Abrolhos

População Vazão Esgoto (m3/d) Carga Orgânica (kg/d) Prado 24.227 4.890 1.467 Alcobaça 15.769 3.165 949 Caravelas 18.669 3.625 1.088 Nova Viçosa 27.323 5.545 1.663 Totais 85.988 17.225 5.167 Fonte: Cadastro Municipal - IBGE, 1997 e Inventário das Principais Fontes

Poluidoras/Contaminantes da Zona Costeira – GERCO/MMA, 2000.

Quanto aos impactos pode-se ainda comentar sobre a forte pressão imobiliária existente, principalmente em Caravelas e Nova Viçosa. O turismo e a recreação marinha também representam um setor em franca expansão na região dos Abrolhos, sendo possivelmente a influência humana que causa mais preocupação em relação à conservação dos ecossistemas recifais de Abrolhos. Leão et al. (1994) relataram um aumento de 400% no número de visitantes no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos em um período de cinco anos (1988-1992). Após este período, o número de visitantes continuou a crescer, ampliando-se também a sua distribuição ao longo do ano (CI-Brasil e IBAMA, 1997).

Na porção terrestre da APA, assim como nas demais localidades do sul da Bahia, a enorme riqueza de Mata Atlântica vem dando lugar a grandes plantações de eucaliptos,

25 Segundo o Art. 2º da Lei do SNUC a zona de amortecimento de uma UC é “o entorno de uma unidade de

conservação onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade”.

base de produção de papel. Tanto que recentemente, em julho de 2001, começaram diversos debates referentes à construção, operação e manutenção de um terminal de barcaças para embarque e desembarque de toras de eucalipto, pela empresa Aracruz Celulose S.A., na região do município de Caravelas. As dragagens, que envolviam a implantação desse terminal, foram motivos de diversas reuniões técnicas e emissões de pareceres estaduais e federais além da análise de um EIA/RIMA elaborado pela empresa. A polêmica girou em torno dos possíveis impactos negativos, e considerados pelos ambientalistas como irreversíveis, que poderiam ocorrer na região do Banco dos Abrolhos. Essa discussão da comunidade acadêmica e das entidades ambientalistas da região adiantou pouca coisa e as instalações começaram a ser construídas. Como uma das medidas mitigadoras, a empresa é hoje responsável pela manutenção de um sistema de monitoramento das condições locais do banco dos abrolhos que avalia entre outros parâmetros, os níveis de turbidez na área das dragagens e outras áreas de influência.

Talvez devido a esse evento, o CRA tenha simplesmente se retirado da área. Apesar da APA ter sido criada desde 1993, e ter sido dado, em seu decreto de criação, um prazo de 18 meses para a elaboração de seu plano de manejo, o CRA, tomou as providências mínimas para dar início à implantação da APA apenas no ano de 2000. Nessa época foi instalado um escritório administrativo da unidade, na sede do município de Caravelas, contratados dois funcionários (1 técnico de nível superior para gerenciar a APA e um de nível médio para o apoio) e colocado um carro e telefone a disposição do escritório. Menos de dois anos depois, após todo a movimentação em torno da instalação do terminal da Aracruz Celulose, episódio que contou com parecer favorável do CRA, o órgão, argumentando estar passando por uma reorganização interna, fechou o escritório em Caravelas e demitiu os funcionários (Sérgio F. de Oliveira com. pess.).

Recentemente, no início de 2003, por meio de uma medida compensatória do empreendimento da Aracruz Celulose, o escritório da APA foi reaberto em Caravelas e um funcionário contratado, no entanto, nenhuma ação foi ainda feita em relação à implantação da unidade (Guilherme Dutra, com. pess.).

A mais recente ameaça na região diz respeito a disponibilização de blocos a serem leiloados pela Agência Nacional de Petróleo - ANP para as fases de exploração de gás e petróleo (atividades de sísmica) na região do Banco dos Abrolhos. As várias entidades ambientalistas atuantes na região, lideradas pela CI-Brasil, apresentaram documento ao MMA, IBAMA, Ministério Público Federal e CONAMA, no sentido de alertar quanto aos diversos impactos e perigos advindos desse tipo de empreendimento para a região. O documento finaliza com o pedido ao governo para a exclusão da área do Banco de Abrolhos dos processos licitatórios da ANP (Marchioro e Nunes, 2003). O documento já foi analisado pelo MMA, que se posicionou favorável à exclusão da área e está sendo analisado no momento pelo Escritório de Licenciamento das Atividades de Petróleo e Nuclear - ELPN do IBAMA. Não houve ainda, qualquer tipo de manifestação por parte do CRA.

Desse modo, apesar de ser a unidade de conservação mais antiga das selecionadas, essa não poderá ser avaliada quanto a sua efetividade uma vez que não existiam as condições para a aplicação do questionário nem um número mínimo de indicadores a serem avaliados.