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Capítulo 5: Análise da Representatividade e Eficiência das Unidades de

3. Principais ameaças aos ambientes recifais – fatores de risco

Os recifes de coral são um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo. Rivalizando com as florestas tropicais em diversidade biológica, e fornecendo benefícios ecológicos, sociais e econômicos, os ecossistemas recifais são de interesse global. Em um estudo que avalia os benefícios econômicos dos ecossistemas versus os custos de recuperação desses ecossistemas quando degradados, os recifes de coral são citados potencialmente como o habitat mais caro de ser reabilitado, com custos estimados em US$ 6,5 milhões/ha (Spurgeon, 1998). Esses dados nos mostram a importância de se investir na manutenção desses sistemas pois recuperá-los seria uma missão quase impossível uma vez que, exatamente por sua localização ser concentrada nos limites tropicais do globo terrestre, os recifes de coral fornecem seus benefícios vitais principalmente para os países em desenvolvimento.

Como já comentado anteriormente, as principais fontes de estresse causadas pelas atividades humanas nesses ambientes vão desde as diversas fontes de poluição de origem terrestre às práticas pesqueiras predatórias e o turismo desordenado. Enquanto estes problemas ainda persistem, nas últimas duas décadas viu-se a emergência de outra ameaça potencialmente maior: os recifes de coral foram afetados em incidência e severidade crescentes pelo fenômeno conhecido como branqueamento de corais, esse fenômeno está associado a várias causas de estresse, especialmente ao aumento das temperaturas das águas do mar (Westmacott et al., 2000). O aumento das temperaturas tem sido atribuído às mudanças climáticas globais, essas por sua vez causadas, entre outros fatores, pelo aumento da emissão de gases e pelo efeito estufa. O branqueamento severo e prolongado pode conduzir a uma mortalidade do coral em grande escala, e o evento de branqueamento e mortalidade de coral sem precedentes de 1998, afetou grandes áreas de recifes de coral do mundo, inclusive no Brasil (NOAA/NESDIS, 1998 e Dutra et al., 1999).

Sendo assim, a proteção dos recifes restantes, incluindo aqueles que foram severamente danificados, é cada vez mais crítica. Tal proteção, deve incluir a remoção dos impactos humanos que podem causar, agravar ou serem agravados pelo branqueamento. A evidência encorajadora dos estudos de longo prazo sugere que os recifes de coral possam se recuperar dos principais impactos do branqueamento se as ameaças ou fatores de estresse adicionais forem reduzidos ou pelo menos minimizados. A gestão cuidadosa do ambiente e a manutenção das melhores condições possíveis para suportar a recuperação dos recifes serão vitais no futuro (Salm e Coles, 2001).

As áreas recifais incluídas nas unidades de conservação aqui estudadas também sofrem todas as ameaças globais além daquelas pontualmente incidentes. Segundo os dados do Inventário das Fontes Poluidoras/Contaminantes da Zona Costeira (GERCO/MMA, 2000), merecem destaques as seguintes evidências sobre a realidade geral do aporte de poluição na costa brasileira: (1) a foz dos rios, os estuários e as lagoas costeiras constituem-se nos setores costeiros mais pressionados pela carga poluidora gerada no litoral, tendo-se como principal contribuição as cargas provenientes dos efluentes industriais; (2) o aporte de carga tóxica de origem industrial esta distribuída nos setores costeiros, concentrando-se com maior magnitude nos lançamentos destinados ao mar e em menor magnitude nas baías; (3) aos ecossistemas costeiros mais sensíveis - os estuários/lagoas costeiras/baías - destinam-se 71% da carga poluidora orgânica (1.965 ton./dia); e , (4) os aportes de carga orgânica com magnitudes significativas estão circunscritos a alguns setores específicos da zona costeira, tornando- se bem definidos os focos prioritários das ações de gestão ambiental, sendo eles divididos em grupos: grupo de cargas superiores a 100 ton./dia: Rio de Janeiro, Bahia,

Ceará, Pernambuco e Alagoas; grupo de cargas entre 50 – 100 ton./dia: Pará, Santa Catarina, Maranhão, São Paulo e Espírito Santo; e, grupo de cargas entre 10 - 50 ton./dia: Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Sergipe, Paraíba, Amapá, Piauí e Paraná.

Pode-se notar por esses dados que os estados que mais contribuem com o aporte de efluentes são exatamente aqueles que possuem as maiores distribuições latitudinais de recifes costeiros: Bahia, Pernambuco e Alagoas. Nas tabelas 14, 15, 16 e 17 apresentadas anteriormente, estão descritos os valores de aporte de carga orgânica dos municípios limites de cada unidade de conservação estudada.

Mais recentemente vimos acompanhando o processo de licitação de blocos para a prospecção e exploração de gás e petróleo em áreas extremamente importantes como o Banco de Abrolhos. Em consulta ao site da Agência Nacional de Petróleo - ANP estão disponíveis as informações sobre as novas áreas que estão sendo oferecidas26. A quinta rodada de licitações (prevista para setembro/2003) está disponibilizando uma área total de aproximadamente 192.135 Km² para atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural. Estas áreas distribuem-se por 9 bacias sedimentares brasileiras, sendo que 5 delas estão sob a área de ocorrência recifal na costa nordestina (Bacia do Barreirinhas (MA), Bacia Potiguar (RN), Bacia do Recôncavo (BA), Bacia do Jequitinhonha (BA) e Bacia do Espírito Santo (ES e sul da BA)). O evento de Abrolhos, no entanto, graças a luta conjunta de ONGs e o Ministério do Meio Ambiente, foi minimizado à medida que se conseguiu levar a importância da área para dentro do Ministério das Minas e Energia, que decidiu por retirar da licitação os blocos sobre esse valioso ecossistema.

Outros fatores de risco ao ambiente recifal, segundo Bryant et al. (1998) são as proximidades de cidades populosas, a presença de aeroportos (indicando a facilidade de acesso ao turismo), a presença de portos e terminais petrolíferos e as atividades de pesca predatória. Esses autores analisaram de maneira geral os recifes mundiais e apontam que os recifes costeiros no Brasil estão sob “alta” a “média” ameaça, variando exatamente por sua distância da costa.

Desse modo, optou-se aqui nesse estudo por indicar os principais fatores de risco assinalados para os ecossistemas recifais, sem no entanto entrar detalhadamente nessa questão, uma vez que se constituiria em uma outra abordagem da análise e pelo menos em mais um capítulo neste trabalho. No entanto, foram acrescentados aos mapas gerados a localização e indicação dos municípios com mais de 100 mil habitantes, bem como a localização de aeroportos, portos e terminais petrolíferos existentes na região, visando subsidiar futuras análises e estudos dessa questão.