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Sugestões para a Política Nacional de Unidades de Conservação

Capítulo 6: Conclusões e Sugestões

2. Sugestões para a Política Nacional de Unidades de Conservação

De acordo com todas as questões apresentadas e discutidas aqui nesse trabalho, consideramos ser possível inferir sobre algumas sugestões para a política nacional de unidades de conservação. Resumidamente seriam:

- criar o programa de conservação de recifes de coral como oportunidade de integrar as ações de conservação terrestres e marinhas, contendo um subprograma nacional de pesquisa do ambiente recifal brasileiro, onde devem ser priorizadas as demandas das unidades de conservação;

- aproveitar a necessidade apontada pelo decreto que regulamenta a lei do SNUC (Decreto nº 4.340, de 22/08/2002) sobre a necessidade de se atualizarem os respectivos regulamentos de cada categoria de unidade de conservação, no

intuito de se integrarem finalmente as particularidades do sistema de unidades de conservação costeiras e marinhas;

- priorizar as ações governamentais nas áreas costeiras e marinhas integrando ações e otimizando os recursos humanos e financeiros, como por exemplo na constituição de sistemas, redes ou mosaicos de unidades de conservação;

- priorizar a implementação das unidades de conservação existentes no ambiente recifal que ainda só existem no papel;

- definir critérios de incentivo a criação de novas unidades no ambiente recifal; - incentivar programas contínuos de capacitação dos gestores e técnicos que

trabalham nas UCs;

- implantar um sistema nacional, contínuo, de monitoramento dos recifes de coral; - implantar banco de dados das pesquisas já realizadas; e,

- propiciar o desenvolvimento de roteiros metodológicos específicos para a elaboração de planos de manejo das categorias de UCs marinhas (principalmente APAs e RESEXs), incluindo neles as recomendações sobre a necessidade de se manter de 20-30% do total das áreas como áreas de proteção integral ou exclusão.

2.1. Sugestões de ações prioritárias para as unidades de conservação analisadas

Com base nos resultados obtidos na avaliação da efetividade das unidades de conservação selecionadas para este estudo, podemos apontar um conjunto de sugestões de ações prioritárias a serem realizadas em cada uma das UCs estudas. Vale lembrar que as ações aqui sugeridas são apenas as apontadas nos diagnósticos como as mais emergenciais a serem tomadas, e por isso mesmo necessitam de ações de curto e médio prazo.

APA Costa dos Corais: no caso da APA podemos listar uma série de ações prioritárias,

concordando com as sugestões já apontadas pelo Projeto Recifes Costeiros, tais como: - o órgão gestor (IBAMA) deve concentrar e priorizar seus esforços no sentido de

se completar a elaboração do plano de manejo da APA o qual deverá ser baseado nos experimentos exitosos desenvolvidos pelo Projeto Recifes Costeiros. Ao mesmo tempo deve-se aproveitar a oportunidade da elaboração desse plano de manejo para subsidiar a construção de um roteiro metodológico inédito, dessa vez dedicado às especificidades das Áreas de Proteção Ambiental Marinhas. Ainda na elaboração do plano de manejo deverá ser avaliada a necessidade real de recursos humanos e financeiros necessários para a gestão desta APA;

- cabe ainda ao IBAMA a tarefa de assumir sua parte de parceiro e órgão gestor responsável legalmente pela UC e “dividir” as atuais responsabilidades com o Projeto Recifes Costeiros no sentido de ampliar e multiplicar os resultados e as experiências adquiridas no projeto;

- cabe ainda ao IBAMA a tarefa de instituir o Conselho Gestor da APA bem como auxiliar o Projeto Recifes Costeiros na tarefa de continuar, paralelamente, ao atual processo de manutenção dos Conselhos de Meio Ambiente Municipais -

CONDEMAs já instituídos e o estímulo da criação dos demais CONDEMAs em todos os municípios que compõem a APA;

- o IBAMA deve dar especial atenção para os projetos já licenciados, que são incompatíveis com a APA, na tentativa de reverter esse quadro (como a carcinicultura e os loteamentos em terrenos de marinha). Além disso cabe ao IBAMA não só agir supletivamente aos Estados no exercício do licenciamento das atividades impactantes na vizinhança da APA como também cabe o papel proativo de fiscalização e emissão de normas que consigam resguardar a área de influência dessa unidade;

- o zoneamento da APA deverá ser focado no sentido de ampliar o número e área das áreas de exclusão de pesca dentro da APA ou ainda de sugerir áreas internas onde possam ser criadas outras categorias de UC.

- deve-se ainda trabalhar no sentido de divulgação dos resultados e possibilidades advindos dessas áreas de exclusão de pesca no sentido de estimular as comunidades locais a contribuírem com esse instrumento de gestão visando a recuperação dos estoques pesqueiros e a conseqüente melhoria de renda à população local; e,

- deve-se envidar esforços políticos no sentido de se compatibilizar os diversos programas e políticas públicas existentes na zona costeira e marinha no sentido de integrar suas atividades e ações em benefícios às UCs costeiras e marinhas. Essa tarefa cabe ao Ministério do Meio Ambiente no sentido de coordenador do SNUC e das demais políticas ambientais.

RESEX Corumbau: com base nos resultados obtidos da análise, a lista de ações

prioritárias para a RESEX seriam:

- o IBAMA deverá propiciar a infraestrutura básica para a gerência da UC (sede, automóvel, barco, entre outros) bem como trabalhar no sentido de fornecer recursos humanos e financeiros para a manutenção da RESEX;

- deve-se buscar mecanismos alternativos na formação dos conselhos no sentido de não enfraquecer as comunidades tradicionais por um lado, ao tempo em que se deve almejar atender os preceitos de paridade preconizados no SNUC (Art. 18 da Lei 9.985/2000 e Art. 17 do Decreto 4.340/2002);

- o IBAMA deve incentivar que o plano de manejo seja revisto no sentido de prever qual a zona de amortecimento da UC possibilitando aí inclusão das áreas consideradas importantes para a conservação da biodiversidade da RESEX, alternativamente poderá ser realizado estudo sobre a ampliação dos limites legais da UC;

- os programas de desenvolvimento turístico deverão ser compatibilizados com os interesses de manutenção da RESEX. Nesse caso sugere-se que o IBAMA e o MMA procedam no sentido de divulgar a importância dessas unidades de conservação junto aos órgãos de fomento do Governo, viabilizando o desenvolvimento de um turismo diferenciado nessas áreas (essa sugestão vale também para a APA Costa dos Corais);

- o IBAMA deverá negociar com a SPU a rapidez do processo de cessão de uso da área da RESEX às comunidades tradicionais; e,

- deve-se ainda envidar esforços no sentido de se fortalecer as associações ou outras formas de representação das comunidades pesqueiras tradicionais incluídas na RESEX visando assim o fortalecimento nas decisões tomadas pelo conselho;

Todas essas sugestões no entanto deverão ser adicionadas às ações e atividades já existentes na APA e na RESEX, principalmente as atividades de monitoramento mas, principalmente, deverão ser precedias de um fator limitante: o IBAMA precisa reconhecer e internalizar para seus diversos setores a importância e papel dessas unidades de conservação na manutenção da biodiversidade de um dos ecossistemas mais ricos e ameaçados do planeta, os recifes de coral.

Quanto às demais unidades de conservação estudadas que por seu baixo grau de implantação não puderam nem sequer ser avaliadas pela metodologia aqui indicada, caberá um esforço político do MMA (como órgão coordenador do SNUC) no sentido de cobrar dos respectivos órgãos estaduais a real implementação dessas unidades de conservação.