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Programas Governamentais e Instrumentos Legais para a Conservação

dos Recifes de Coral no Brasil

1. Introdução

Segundo Luchenco et al. (2003), os diversos impactos insistentes nos ecossistemas costeiros e marinhos, em geral, provocam alterações fundamentais na estrutura dos ecossistemas e incluem mudanças na diversidade das espécies; na abundância das populações, tamanho, proporção sexual e comportamento; nas interações biológicas, dentre outras. Essas mudanças afetam de maneira significativa, o funcionamento dos ecossistemas marinhos e a sua conseqüente provisão de produtos e serviços.

Os diversos impactos recorrentes já colocam em risco os recifes de coral de 93 países (de um total de 110 países nos quais os recifes são encontrados em suas águas). Algo em torno de 27% dos recifes do mundo estão sobre alto risco de degradação e esses dados sobem para 80% nas áreas mais populosas (Bryant et al., 1998 e GESAMP, 2001).

Esse tema tem gerado diversas discussões sobre a necessidade de elaboração de programas mundiais e regionais de monitoramento do ecossistema recifal, tendo em vista a alarmante degradação que vem sendo observada em várias partes do mundo (Maida et al., 1997, Fonseca et al., 1999 e MMA, 2002a). Esses documentos citam ainda que programas efetivos de manejo devem ser formulados, tendo como base o conhecimento da dinâmica dos ecossistemas recifais.

Como dados sobre interação e interdependência dos organismos nesses ecossistemas, níveis atuais de poluição e as potenciais fontes de impacto, entre outros, ainda são praticamente desconhecidos, aconselha-se seguir o princípio da precaução, principalmente com a criação de novas áreas protegidas e com a seleção de indicadores biológicos que possam avaliar a qualidade ambiental e as diversas mudanças ocorrentes nesses ecossistemas (Talbot, 1994).

No Brasil, isso é especialmente importante uma vez que a explotação dos recursos pesqueiros nas áreas recifais é feita sem um conhecimento prévio adequado, inclusive dentro das unidades de conservação, onde o monitoramento das atividades antrópicas é insuficiente, ou muitas vezes, inexistente, aumentando sobremaneira a preocupação sobre essas áreas, principalmente nas mais costeiras com intensa atividade turística (MMA, 1997).

No entanto, até bem recentemente, conhecíamos muito pouco a respeito da extensão e das condições dos ecossistemas recifais no mundo (Bryant et al., 1998). Do mesmo modo, no Brasil é fato, que apesar de já possuirmos um considerável conhecimento e vários especialistas formados no assunto, apenas recentemente os setores governamentais da a área ambiental do país começaram a empreender diversos esforços visando a conservação desse ambiente. Um importante obstáculo presente para a implementação dessas ações diz respeito, ainda, às lacunas de informação sobre a distribuição dos recifes e ao seu estado de conservação.

Esse capítulo pretende reunir as principais políticas, atos e convenções internacionais, as estratégias adotadas para a conservação dos recifes de coral no Brasil, bem como as ameaças para o seu sucesso.

2. Acordos internacionais com interface na conservação dos recifes de

coral

O Brasil é signatário de mais de 35 Convenções e Acordos Internacionais e Regionais e de 28 Acordos Bilaterais, além de ter participado ativamente da elaboração da Agenda 21 durante a Rio-92. Dentre essas convenções destacam-se os relacionados às áreas protegidas e à flora e fauna silvestres presentes na zona costeira e marinha. A tabela a seguir ilustra esses destaques.

TABELA 1: Convenções e Tratados Internacionais nos quais o Brasil é signatário, com interface no ambiente costeiro e marinho

Ato Local Vigor do Ato Vigor no Brasil

Convenção do Patrimônio Mundial Natural UNESCO/Paris 1972 1972 Tratado sobre a proibição da colocação de

armas nucleares e outras armas de destruição em massa no leito do mar e no fundo do oceano e em seu subsolo

Londres 1972 1988

Convenção sobre o comércio internacional das espécies da fauna e da flora selvagens ameaçadas de extinção – CITES

Washington 1973 1975

Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional especialmente com habitats de Aves Aquáticas – Convenção de RAMSAR

Ramsar 1975 1993

Convenção sobre responsabilidade civil por danos causados por poluição por óleo

Bruxelas 1975 1977

Convenção de Londres sobre prevenção da poluição marinha por alijamento de resíduos e outras matérias

Londres 1975 1982

Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB

Rio de Janeiro 1993 1994 Convenção-quadro das Nações Unidas

sobre Mudanças Climáticas

Nova Iorque 1994 1994 Convenção das Nações Unidas sobre o

Direito do Mar

Montego Bay 1994 1994 Fonte: dados extraídos de MMA, 1998.

A importância de ecossistemas terrestres e marinhos e de áreas protegidas é enfatizada principalmente na Convenção sobre Diversidade Biológica, na Convenção do Patrimônio Mundial Natural e na Convenção de Ramsar. Segundo Salvat et al., 2002, esses três instrumentos internacionais possuem objetivos diferentes e pode-se dizer que complementares. Eles funcionam como “orientadores” para as medidas de conservação, formulando diretrizes aos países participantes, no sentido de se criarem estruturas de desenvolvimento sustentável e manutenção da biodiversidade por meio das áreas protegidas.

Já a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção, nos fornece listas de espécies ameaçadas ou vulneráveis. Nos três primeiros instrumentos encontramos suporte para diversas ações implantadas na conservação dos recifes de coral do Brasil enquanto que na CITES incorporamos algumas espécies de corais e peixes recifais ameaçados a fim de coibir a comercialização dos mesmos.

Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos do Mar - CNUDM

A CNUDM é a principal convenção que diz respeito ao uso dos oceanos e seus recursos. A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) – assinada pelo Brasil em 10 de dezembro de1982 e, posteriormente, ratificada em 22 de dezembro de 1988 – introduz e/ou consagra os conceitos de mar territorial, zona econômica exclusiva e plataforma continental, que, embora distintos e aplicáveis a espaços oceânicos próprios, têm sido freqüentemente confundidos e erroneamente utilizados. Em 4 de janeiro de 1993, o Governo brasileiro sancionou a Lei nº 8.617, que tornou os limites marítimos brasileiros coerentes com os limites preconizados pela CNUDM. Nos termos da CNUDM (artigos 2 e 3), a soberania do Estado costeiro sobre o seu território e suas águas interiores estende-se a uma faixa de mar adjacente – mar territorial –, com dimensão de até 12 milhas náuticas a partir das linhas de base (Brasil, 1985). No mar territorial, o Estado costeiro exerce soberania ou controle pleno sobre a massa líquida e o espaço aéreo sobrejacente, bem como sobre o leito e o subsolo deste mar.

Ainda, em seus artigos 56 e 57 a Convenção dá aos estados costeiros a soberania e direitos sobre a “Zona Econômica Exclusiva”4. Como a maioria dos recifes se limita a águas rasas (menos de 50m de profundidade) eles estão, quase sempre, localizados nas águas internas ou de jurisdição exclusiva dos países. Apesar de citar os recifes de coral em seu Artigo 6, esses são lembrados para fins de medidas de territorialidade dos países costeiros. No entanto a CNUDM é considerada um acordo marco para o desenvolvimento da legislação ambiental internacional por conter várias diretrizes orientadoras à conservação (Davidson, 2002).