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Capítulo 5: Análise da Representatividade e Eficiência das Unidades de

2. Caracterização das unidades de conservação selecionadas

2.3. RESEX Corumbau

A Reserva Extrativista Marinha do Corumbau foi criada em 2000, por meio do Decreto s/n de 21/09/2000, abrangendo uma área total de 98.174ha nos municípios de Porto Seguro e Prado no litoral sul do Estado da Bahia (Mapa 16).

O Decreto de criação da RESEX cita que a UC “tem por objetivo garantir a exploração auto-sustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis tradicionalmente utilizados pela população extrativista da área” pode ser considerado como mais simples que os objetivos das demais unidades uma vez que aponta apenas um grupo de usuários.

Outra característica diz respeito ao papel do órgão gestor uma vez que no decreto de criação está dito que a ele cabe apenas a missão de coordenar a área, “caberá ao IBAMA supervisionar a área, promover as medidas necessárias à formalização do contrato de concessão real de uso gratuito com a população tradicional extrativista para efeito de sua celebração pelo Ministério do Planejamento e acompanhar o cumprimento das condições nele estipuladas” (grifo nosso).

A RESEX do Corumbau inclui importantes ecossistemas do chamado Complexo dos Abrolhos, que compreende os recifes de coral e ambientes costeiros e marinhos situados ao sul do Rio Jequitinhonha até a divisa entre os estados da Bahia e Espírito Santo (Leão, 1999). Os recifes de Itacolomis estão localizados (a região superior da Resex) ao largo da Ponta do Corumbau, próximo ao local da descoberta do Brasil por navegadores portugueses em 1500, do mar pode se avistar o Monte Pascoal. Nesses recifes existem amostras representativas das comunidades dos Abrolhos (Castro e Segal, 2001) (Figuras 25a e 25b).

O litoral baiano ainda possui os últimos remanescentes de mata atlântica sendo que as porções mais significativas já estão sob a forma de unidades de conservação, constituindo-se um verdadeiro mosaico.

Figura 25a: Vista do Monte Pascoal olhando no sentido dos Recifes Itacolomis para a terra. Resex de Corumbau. (Foto: Ana Paula Prates)

Figura 25b: Vista aérea dos Recifes Itacolomis. Resex de Corumbau. (Foto: Enrico Maroni)

A fase de criação da RESEX é distinta das demais uma vez que, como sempre no caso de reservas extrativistas, a demanda surgiu da comunidade local, que por meio de abaixo assinado solicitou ao CNPT/IBAMA, em 1998, visitas e estudos sobre a viabilidade da área em se constituir uma unidade de conservação da categoria reserva extrativista. Para tanto, o IBAMA assinou um termo de cooperação técnica com a CI- Brasil (Conservation International do Brasil) que viabilizou a execução dos laudos biológico e sócio-econômico da área, bem como vem propiciando o desenvolvimento de um programa de monitoramento e a elaboração do plano de manejo da UC (Alexandre Cordeiro, IBAMA, com. pess.).

Apesar de ser uma unidade nova, a RESEX Corumbau já possui um Conselho Deliberativo constituído e funcionando, bem como já se encontra em processo a implementação do Plano de Manejo, aprovado pelas comunidades extrativistas no fim de 2002. A construção do Plano e a constituição do Conselho se deram de forma participativa, muito mais pelo desejo de participação das comunidades do que pela imposição legal do SNUC ou por meio de incentivos governamentais. O Plano de Manejo incorpora uma série de inovações gerenciais, consideradas de baixo custo, tais como a designação de duas áreas marinhas completamente protegidas (Recifes Itacolomis e Recife Tauá) (figura 26), aos moldes dos experimentos realizados na APA Costa dos Corais, e sete zonas de uso restrito, nas barras dos principais rios da RESEX (Rios Caraíva, Corumbau, Cahy, Imbassuaba: restrições de apetrechos de pesca), em frente à Aldeia Indígena de Barra Velha (restrições de apetrechos e horários de pesca), na Bacia do Japara (restrições de apetrechos de pesca) e no Recife Tatuaçu (restrições de espécies-alvo e apetrechos de pesca) (CNPT/IBAMA, APPA e CI- Brasil, 2003).

Figura 26: Mapa Esquemático dos Recifes Itacolomis, destacando-se a Área Marinha Protegida (linha amarela) e os pontos do monitoramento (pontos vermelhos), dispostos dentro da área protegida e em distâncias subseqüentemente maiores a essa (Fonte: CNPT/IBAMA, APPA e CI- Brasil, 2003).

Além do estabelecimento de áreas de proteção integral ou de uso restrito no interior da UC, o Plano de Manejo também regulamenta a atividade extrativista com medidas tais como limites no número de anzóis nos espinhéis, proibição de apetrechos de pesca altamente predatórios (como parelhas de arrasto, redes de tresmalho), limitação no tamanho, tipo e quantidade de panos de rede, determinação de espécies de exploração voltada exclusivamente para consumo próprio (bivalves e ouriços), entre outras. (CI-Brasil e CNPT/IBAMA, 2002)

No presente momento (abril de 2003), os esforços dos atores envolvidos com a RESEX estão voltados para o fortalecimento das associações dos extrativistas e para a criação de processos mais eficazes de participação dos extrativistas, paralelamente à implementação do Plano de Manejo, em boa parte realizada pela própria comunidade. Esse processo vem ocorrendo com grandes dificuldades, por conta de deficiências estruturais tanto no que se refere à organização comunitária quanto ao órgão responsável pela supervisão da RESEX, o CNPT/IBAMA (CNPT/IBAMA, APPA e CI- Brasil, 2003).

O único funcionário do IBAMA, lotado na RESEX, desde novembro de 2002, tem enfrentado diversas dificuldades, desde problemas de locomoção, para manter maior contato com as comunidades, até a ausência de uma sede da UC. Não existe qualquer infra-estrutura para a RESEX Corumbau, ficando por conta dos parceiros e das demais unidades de conservação. O Parque Nacional do Descobrimento, por exemplo vem dando apoio no sentido de ceder uma sala da sede para o funcionamento do escritório da RESEX e empresta, sempre que possível, um veículo para a locomoção do gestor da área. Tais dificuldades, tendem a ser minimizadas agora com a recente aprovação do

projeto “Gestão Participativa na RESEX de Corumbau” pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA.

As lacunas ainda existentes no processo formal de conhecimento, como um diagnóstico mais detalhado das manifestações culturais e da cadeia produtiva, deverão também ser supridas com a execução do projeto apoiado pelo FNMA (Ronaldo Oliveira, gestor da RESEX, com. pess.).

Quanto às pressões ambientais existentes na UC essas são principalmente referentes ao aporte de sedimentos, a pesca predatória e desenvolvimento do turismo na região. Quanto ao aporte de sedimentos esses são provenientes tanto do Rio Jequitinhonha, bem distante da UC (como pode ser visto no mapa 15) bem como do Rio Corumbau que deságua no pontal do Corumbau (sua pluma pode ser vista no mapa 16) e que vem margeando a porção do Parque Nacional do Monte Pascoal reivindicada como terra indígena e hoje ocupada pela tribo Pataxó. Os dados referentes à poluição doméstica lançada pelos municípios que compõem a RESEX estão na tabela 16 a seguir.

Quanto à pesca, conforme diversos relatos de extrativistas da região haveria uma necessidade de revisão do período de defeso da lagosta, pois esse recurso está cada vez mais escasso na região. Esse é um dos objetivos do projeto solicitado ao FNMA a fim de que possam ser obtidas informações suficientes para uma solicitação da revisão da portaria atualmente em vigor no órgão competente (IBAMA). Outra questão diz respeito a disputa existente entre os pescadores de “dentro” e de “fora” da RESEX. Por se sentirem excluídos quando da criação da unidade, os pescadores de outras regiões, que freqüentavam a área da RESEX para pescar, constituem-se hoje em potenciais ameaças às diretrizes de ordenamento acordadas com os pescadores cadastrados na UC (Guilherme Dutra, CI-Brasil, com. pess.).

Além disso, assim como em praticamente todas as localidades afastadas das sedes municipais da região nordeste, no extremo sul baiano o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) está abaixo da média nordestina. Nas comunidades da RESEX há uma grande deficiência de infra-estrutura necessária à boa qualidade de vida, como postos de saúde, água tratada, saneamento básico, segurança pública, energia elétrica, escolas noturnas, entre outros. Para completar o quadro, o governo estadual vem incentivando o desenvolvimento do turismo na região sem antes aportar infra- estrutura mínima nessas localidades. As comunidades por sua vez têm sofrido com especulações imobiliárias que começam a representar uma ameaça às populações tradicionais da RESEX, principalmente no Pontal do Corumbau (Guilherme Dutra, com. pess.).

No entanto, apesar das dificuldades apontadas quanto à gestão da UC, por ser essa de caráter mais participativo que as demais e por já ter seus instrumentos de gestão elaborados e atuantes (como o plano de manejo e o conselho), essa unidade apresenta condições para a realização da avaliação de efetividade.

TABELA 16: Municípios da RESEX do Corumbau com respectivos valores de população total, vazão de esgoto doméstico (m3/d) e carga orgânica (kg/d) lançada na zona costeira do estado.

Municípios RESEX Corumbau

População Vazão Esgoto (m3/d) Carga Orgânica (kg/d)

Porto Seguro 64.957 13.589 4.077

Prado 24.227 4.890 1.467

Totais 89.184 18.479 5.544 Fonte: Cadastro Municipal - IBGE, 1997 e Inventário das Principais Fontes

Poluidoras/Contaminantes da Zona Costeira – GERCO/MMA, 2000.