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2.2.6 – Estratégias de tradução literária

Como dito anteriormente, antes de iniciar o seu trabalho de tradução, o tradutor deve ter em atenção certos aspetos do texto, pois estes poderão implicar a necessidade da utilização de estratégias diferentes. Do mesmo modo, obras diferentes requerem abordagens diferentes que levem em linha de conta os desafios do texto fonte, especialmente no que toca a questões culturais, bem como o público-alvo. Consideremos, por exemplo, um texto destinado a crianças em que o original está repleto de aliterações. Será que a mensagem além aliteração é importante, ou o objetivo é a passagem dessas mesmas aliterações? Se o objetivo for a conservação desta figura de estilo, então o tradutor poderá ter a liberdade de alterar a mensagem, introduzindo referências culturais conhecidas do público-alvo, de modo a que este receba a mensagem do mesmo modo que o da obra original. Neste aspeto, alguns textos poderão necessitar de ser adaptados. A adaptação, como refere Landers (2001), é um processo menos “fiel” do que a tradução. Mas tal não quer necessariamente dizer que não seja uma solução adequada em certas obras. Como já referimos, a adaptação pode ser uma solução viável, por exemplo, para textos infantis. Mas estes não são os únicos. Para se manter certas passagens humorísticas, trocadilhos ou mesmo para manter um diálogo natural entre personagens, isto é, um diálogo que não pareça forçado, é necessário, por vezes, alterar completamente as frases, sendo então necessário o uso da adaptação (Landers, 2001). Este método, defende o mesmo autor, pode ter melhores resultados do que a tradução convencional, mas é, também, mais difícil de alcançar, pois é necessária uma maior flexibilidade para reestruturar completamente as frases. A este propóstio, Landers afirma:

Adaptations are not inferior to translations. They merely apply a different set of methods to the selfsame problem of recreating as closely as possible for the TL reader the effect experienced by the SL reader. In some ways, adaptations are even more challenging than more conventional translations, for they demand even greater flexibility […].

O autor mostra-nos ainda que, perante um determinado problema, é possível encontrarmos várias soluções possíveis. O autor dá como exemplo o que poderá o tradutor fazer quando perante uma frase demasiado longa, em que o autor faz uso de

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várias vírgulas para separar várias orações. Como resolução deste problema, o tradutor teria à sua disposição várias escolhas:

 “Partir” a frase mais longa noutras mais curtas e pausadas, ao invés da frase longa que pretendia dar a noção de rapidez. De notar que esta opção altera, como afirma Landers, o estilo do autor.

 Substituir algumas vírgulas por pontos e vírgulas.

 Introduzir um travessão ou parêntesis, ou reformular a frase.

 Deixar como no original, esperando que tenha um efeito exótico junto dos leitores.

Perante estas opções, vemos, mais uma vez, que o tradutor tem à sua disposição vários caminhos possíveis para ultrapassar um determinado problema ou dificuldade. A questão está em analisar cada caso ao pormenor e escolher a opção que considera mais apropriada. Outro problema, apontado por Landers (2001), com o qual o tradutor se poderá deparar relaciona-se com as unidades monetárias ou de medida ou perante objetos ou estruturas culturais que não existam na cultura alvo. Quando existe uma grande diferença entre ambas as culturas, estes elementos irão introduzir problemas, dificuldades de compreensão, que podem ser ou não indispensáveis para a compreensão da obra. Para lidar com lacunas no conhecimento, relacionadas com diferenças culturais, existem, segundo o autor, três estratégias básicas, são elas a nota de rodapé, a interpolação e a omissão (Landers, 2001).

A primeira estratégia consiste em introduzir, no final da página, uma explicação reduzida do termo problemático. Mas esta estratégia, como tantas outras, apresenta vantagens e desvantagens. A vantagem é sobretudo o esclarecimento imediato do leitor perante o termo estranho. O leitor pode continuar a sua leitura com uma visão clara do que se está a passar, em vez de continuar a leitura com “sentimentos” duvidosos ou de interromper a leitura para ir procurar uma explicação a um dicionário, a um livro ou à internet. A desvantagem da utilização desta estratégia está relacionada com a quebra do ritmo, da continuidade da leitura, pois as notas de rodapé desviam o olhar do leitor para um elemento estranho à obra. Esta estratégia destrói, por outro lado, o efeito mimético, a tentativa, por parte da maioria dos autores de ficção, de criar a ilusão de que o leitor está a testemunhar, a experienciar os eventos descritos. A tradução deve, idealmente, apresentar o mínimo possível de pistas que levem o leitor a ver o texto como uma tradução (Landers, 2001).

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A interpolação, outra das estratégias de tradução, consiste em adicionar palavras ou frases, à frase em que existe o elemento problemático, entre parêntesis, travessões ou vírgulas, e o mais discretamente possível. Assim, este elemento explicativo fica inserido na frase do texto original e, se for feito com cuidado e consideração pelo ritmo do texto, pode passar despercebido aos olhos do leitor. Estas adições devem ser curtas e, em caso de dúvida, o tradutor deve consultar o autor sobre esta alteração no texto. O objetivo desta estratégia é tornar o texto igualmente acessível e legível tanto na língua fonte como na língua alvo, apesar das diferenças culturais e, ao mesmo tempo, respeitando as exigências da mimésis. Landers (2001) lembra também que, se o tradutor tiver dúvidas relativamente a quando se deve ou não utilizar esta estratégia, deve perguntar-se quão importante é a informação, se aparece só uma vez ou se é fundamental para a compreensão da história. A vantagem da utilização desta estratégia prende-se com a desnecessidade de voltar a explicar o termo após ter sido explicado pela primeira vez, dando a liberdade ao tradutor de utilizar o termo original, eventualmente mais conciso do que a sua tradução.

Por fim, a omissão é uma estratégia que diz respeito à supressão do elemento explicativo, e não à omissão de uma parte do texto mais problemática (Landers, 2001). Esta estratégia deixa ao cuidado do leitor o modo como reage perante termos estranhos, isto é, através da procura de informação desconhecida aquando da leitura ou posteriormente.

A utilização de cada uma destas estratégias, tal como refere o autor mencionado, depende da decisão do tradutor. Tais decisões, assim como muitas outras, como já vimos, vão marcar, definir, o estilo do tradutor.