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2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.4 Estratégias em busca do Desenvolvimento sustentável

Para Graaf, Musters e Keurs (1996), muitas estratégias têm sido propostas para alcançar o desenvolvimento sustentável. Uma grande parte destas estratégias visam a um tipo de problema - prevenção da degradação ambiental -, ignorando a importância dos objetivos econômicos ou sociais. Além disso, enquanto as decisões políticas estão no centro das escolhas a serem feitas, a maioria dos pesquisadores parece considerar o desenvolvimento sustentável como um mero problema técnico. A estratégia é baseada na ideia de que é necessário encontrar um consenso sobre o desenvolvimento de um sistema socioambiental

como, um todo, e entre todas as pessoas envolvidas. Deve-se pelo menos estudar duas áreas principais como o fornecimento de informações e a gestão da construção de consenso. Um procedimento formal para a construção de um consenso pode ser desenvolvido com base na literatura e sobre as experiências com avaliações de impacto ambiental, dando especial atenção às informações necessárias. Pode-se resumir as informações sobre: (1) o que delimita um sistema socioambiental; (2) que necessidades e desejos a serem satisfeitos através desse sistema, e (3) quais as limitações físicas, ecológicas, econômicas, sociais e culturais de satisfazer às necessidades e desejos.

Sachs (2004) cita a reunião de Johanesburgo (1995) como uma oportunidade que definiu estratégias rumo ao desenvolvimento sustentável cujo conteúdo foi:

 Estratégias nacionais diferenciadas, mas complementares, nos países desenvolvidos (norte), mudando os padrões de consumo e estilos de vida. Por exemplo, gastando menos combustível fóssil, reduzindo a pegada ecológica da maioria rica;

 Nos países pobres e em desenvolvimento (Sul), estratégias de desenvolvimento endógenas e inclusivas, evitando modelos do Norte, no intuito de prover um salto para civilização moderna, sustentável, com base na biomassa, especialmente adequada aos países tropicais;

 Um acordo Norte-Sul a respeito do desenvolvimento sustentável, aumentando consideravelmente o fluxo real de recursos do Norte para Sul, por meio de comércio justo, estimulando ao mesmo tempo as economias do Norte em crise;

 Um sistema internacional de impostos sobre energia, sobre oceanos e taxas sobre transações financeiras;

 Gerenciamento das áreas globais de uso comum.

A transição para um mundo sustentável exige esforços em todas as frentes, países que batalham politicamente em termos globais ao invés de desenvolver estratégias nacionais para desenvolvimento sustentável.

Conforme Brodhag e Talière (2006), muitas abordagens diferentes para estratégias nacionais de desenvolvimento sustentável - National Sustainable Development Strategies (NSDS) - têm sido propostas desde 1992, com alguns componentes comuns a todos. A estratégia nacional de um país deve ser concebida para ajudar a integrar o meio ambiente a preocupações na política. Mais amplamente, deve coordenar a política local com as questões globais, bem como integrar o conhecimento científico em políticas de planejamento do

desenvolvimento. O mecanismo de revisão por pares para as estratégias nacionais foi iniciado pela França, e também envolveu representantes de países do Norte e do Sul, bem como as partes interessadas. O processo de revisão por pares permite que os países compartilhem suas experiências e informações, que podem ajudá-los a identificar o seu próprio caminho para o desenvolvimento sustentável. A comunidade empresarial também pode contribuir para o desenvolvimento sustentável através da oferta pública de mercadorias local e global. Outra contribuição para o desenvolvimento sustentável poderia vir a partir da International Organization for Standardization (ISO) e seu padrão de Orientação de Responsabilidade Social (ISO 26000), como um mecanismo de coordenação entre as iniciativas voluntárias e obrigações vinculativas (como as convenções internacionais). As normas ISO e as orientações devem ser integradas com as estratégias nacionais de desenvolvimento sustentável e agenda 21 local.

De acordo com Foladori (1999), em 1999, presidentes de grandes empresas como Electrolux, Volvo, Monsanto publicaram um relatório intitulado Sustainable Strategies for Value Creation (estratégias sustentáveis para criação de valor). Elas basearam-se em experiências como a das empresas The Body Shop4 ou Interface5. A The Body Shop, empresa de cosméticos inglesa, foi considerada um exemplo de responsabilidade socioambiental, porque tem seus produtos a base de componentes naturais e principalmente por seus programas de engajamento do cidadão, que mudaram o mercado tradicional de cosméticos. A Interface (empresa do ramo de carpetes) foi a pioneira em ecologia industrial6, seu pioneirismo foi criar peças que fossem iguais às que a natureza cria. O resultado foi que cada peça do carpete Entropy é diferente da outra. Também os dirigentes dessas empresas relataram ser motivador tratar de questões ambientais e sociais.

O que acabava acontecendo muitas vezes é que os empresários atestaram sobre a dificuldade de aplicar as experiências da The Body, por exemplo, em estruturas complexas. O que aconteceu foi que as grandes empresas aproveitaram a experiência das menores para aplicar em seus negócios. Para Laville (2009), o susteinable strategies for value creation serve de base para estudos, com seus efeitos:

* efeito 1 – antecipação das ameaças de prevenção dos riscos. A empresa preparada face aos riscos que ameaçam a sua reputação como riscos sociais, ambientais, greves.

4 Ver Laville (2009).

5 Laville (2009).

6 Segundo Laville (2009), nova abordagem industrial que procura reduzir a poluição no final da linha e raramente na origem.

* efeito 2 – redução dos custos. A poluição ou os resíduos são custos, ao limitar o consumo de recursos naturais não renováveis, a tendência será uma redução na emissão de resíduos e consequentemente nos custos.

* efeito 3 – a inovação. Cada ameaça pode ser uma fonte de oportunidade, basta inovar.

* efeito 4 – vantagem competitiva de mercado, diferenciação e aumento no valor da marca.

Diferenciação no mercado e aumento no valor da marca.

* efeito 5 – reputação. A melhoria da reputação e fidelização do público.

* efeito 6 – desempenho econômico e financeiro. Trata-se de compreender a relação existente entre desenvolvimento sustentável e o seu próprio desempenho.

A conclusão é que os elementos essenciais para o desenvolvimento sustentável e o aspecto econômico são cada vez mais complexos. Quando se mede vários fatores da sustentabilidade com desempenho econômico, a estratégia está integrada à empresa. A transição rumo ao desenvolvimento sustentável parece inevitável para todas as empresas, há quem relate uma mudança de paradigma, até mesmo de uma nova revolução industrial, e em relação a esse movimento estão saindo alternativas que estavam paradas desde a década de 1970.

Para Foladori (1999), o desenvolvimento sustentável clama por estratégias que rompam com metas tradicionais, pois progressos tecnológicos atuais não bastarão para compensar os simples impactos da progressão das atividades. O autor cita o exemplo da indústria automobilística que passou a criar carros que consomem menos combustíveis e que emitem menos CO2, mas com aumento do mercado mundial e da frota de veículos, a emissão de CO2 com transporte vem aumentando. O problema estava em acreditar que o planeta era fonte inesgotável de recursos, um imenso espaço cuja extensão garantiria a satisfação de todas as necessidades que se possui assim como os dejetos produzidos. Deve-se abandonar sistemas de produção lineares (extrair, produzir, lançar) que esgotam a biosfera e seus habitantes, e adotar esquemas cíclicos (energia renováveis, reciclagem, ausência de resíduos). Deve-se respeitar a escala do planeta que possui o seu tempo para recuperar-se.

De acordo com Dias (2011), as empresas, após melhorarem os seus processos de produção, passam a se preocupar com o produto. Assim, avaliar o ciclo de vida dos produtos é importante para analisar os impactos ambientais causados pelos mesmos. Há questões como a matéria-prima utilizada, como é transportada, como é o processo de fabricação e seu transporte, até a utilização e o descarte, podendo haver outras fases dependendo do produto para ser incluídas na análise do ciclo de vida do produto.

Outra ferramenta que ganha destaca no cenário empresarial relacionada a estratégias de gestão ambiental é o ecodesign. A definição de ecodesign, segundo Fiksel (1996), propõe que um produto para o meio ambiente é a consideração sistemática do desempenho do projeto, respeitando os objetivos ambientais, de saúde e segurança, ao longo de todo ciclo de vida de um produto ou processo, tornando-os ecoeficientes – termo que sugere uma importante ligação entre a eficiência dos recursos (que leva à produtividade e lucratividade) e a responsabilidade ambiental. O ecodesign foca o projeto do produto e o seu desenvolvimento.

Para Dias (2011), foram identificadas algumas estratégias que devem ser articuladas e detalhadas de modo que possam ser implementadas, tais como:

i) capacitação/profissionalização de representantes do setor industrial;

ii) divulgação de posicionamentos oficiais do setor industrial;

iii) promoção de ações destinadas a reduzir as incertezas e a precariedade dos diversos atos autorizativos da gestão ambiental e de recursos hídricos;

iv) mudanças legais necessárias para o fortalecimento de uma agenda ambiental nacional que promova a conservação ambiental com desenvolvimento socio-econômico; e

v) fortalecimento da liderança da CNI na área de gestão ambiental e de recursos hídricos.

De acordo com Dias (2011), a empresa ambientalmente responsável insere-se profundamente no novo modo de fazer as coisas, economizar e reduzir o uso de recursos. A integração parcial na perspectiva ambiental não se converterá em vantagem competitiva em longo e médio prazos; quando muito em curto prazo, na melhoria da convivência social da organização com outros agentes sociais, será dissipada se somente as intenções forem para maquiar a realidade e não transformá-la. As vantagens competitivas em se adotar a gestão ambiental são:

Com o cumprimento das normas, há uma melhora no desempenho ambiental da empresas, podendo ela fornecer produtos para o mercado verde.

Com o design do produto de acordo com as exigências ambientais torná-lo mais flexível do ponto de vista de operação e instalação.

Com a redução de consumo de energia, reduz o custo de produção;

Com a redução no consumo de matéria-prima a economia dos recursos naturais;

Com a utilização de matérias renováveis, facilita reciclagem e melhora a imagem da organização;

Com a otimização das técnicas de produção, diminui-se o retrabalho;

Com o aproveitamento do uso dos espaços nos meios de transporte, há redução com gastos com combustíveis.

As empresas de certo modo despertaram a consciência coletiva em relação aos problemas ambientais. O interessante de observar-se é que as empresas foram as principais causadoras de desastres ambientais do século XX.

Segundo o WBCSD (2010), com o projeto Visão 2050, no qual 29 empresas associadas desenvolveram uma visão de um mundo sustentável até meados do século e um caminho para lá chegar – caminho esse que exigirá alterações profundas nas estruturas governamentais e nos planos econômicos, bem como ao nível de atitude empresarial e humana. Essas mudanças são necessárias e possíveis, e oferecem excelentes oportunidades de negócio para empresas que transformem a sustentabilidade numa estratégia comercial.

Para Simon Zadek (2001), as empresas modelam seus valores coletivos, influenciam políticas públicas e são o principal instrumento de criação de valor econômico e financeiro.

Segundo Laville (2009), a crise pode surgir sem avisar para a empresa que não integrar questões sociais e ambientais em sua estratégia. Essa crise pode estar ligada à escassez de recursos ou até mesmo à falta de pessoal para trabalhar. Então, aspectos como o desmatamento pode ser algo em que a empresa teve de participar da discussão para não ficar em dado momento sem recursos.

O Instituto Ethos, fundação suíça para a promoção do investimento ético e sustentável, reúne vários fundos de pensão, tendo decidido avaliar o desempenho socioambiental das empresas nas quais aplica, não apenas analisando suas práticas de engajamento e resultados empresariais, em matéria de desenvolvimento sustentável, e suas práticas industriais, seu sistema de gestão ambiental e política ambiental.

De acordo com Laville (2009), a empresa, levando em conta os princípios do desenvolvimento sustentável e a proteção ao meio ambiente, incorpora verdadeiramente a estratégia de empresa. Uma abordagem orientada não para a preservação de riscos ambientais e da imagem, mas para as oportunidades ligadas ao fornecimento de soluções sociais em ambientais. Os primeiros resultados gerados pelas estratégias de desenvolvimento sustentável engajados nessa nova via, cuja oferta se posicionava, historicamente, a partir de um valor verde agregado, constituíram o sucesso de suas marcas sobre essa base.