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2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.2 O surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável começa a ser abordado quando, em 1972, Meadows e Meadows publicam o texto Limites do Crescimento. Neste trabalho, Meadows e Meadows (2008), declararam que limitações ecológicas da terra, relativas à utilização de recursos e descarte, teriam influência significativa no desenvolvimento global do século XXI.

Esse conceito formulou-se em razão do dilema entre crescimento econômico e meio ambiente, que foi relatado primeiramente pelo Clube de Roma, em seu relatório, que defendia crescimento zero de modo a evitar uma catástrofe ambiental (Limites do Crescimento). Ele aparece dentro desse círculo como um conciliador, no qual se verifica que o progresso técnico efetivamente causaliza os limites ambientais, mas não os elimina, e que o crescimento econômico é condição necessária, mas não suficiente para a redução das desigualdades sociais e da miséria. O termo desenvolvimento sustentável foi amplamente aceito, mas não foi capaz de eliminar formas de interpretação quanto ao seu conceito e qual rumo a seguir.

Na sequência foi conceituado o desenvolvimento sustentável, que abrange perspectivas econômica, sociais e ecológicas de conservação e mudança. Em correspondência com a World Commission on Environment and Development (WCED) (1987, p. 46), no relatório sobre nosso futuro comum (Bruntdland), o conceito de desenvolvimento sustentável é definido como “desenvolvimento que atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”. Esta definição é baseada em um imperativo ético de equidade, dentro e entre gerações. Da lista de recomendações do relatório, destacam-se aqui aquelas relativas à interação entre economia e meio ambiente: (a) limitação do crescimento populacional; (b) preservação da biodiversidade;

(c) diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de fontes de energéticas renováveis; (d) aumento da produção industrial dos países não-industrializados à base de tecnologias ecologicamente adaptadas; (e) controle da urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores; (f) adoção, pelas agências do

desenvolvimento, da estratégia do desenvolvimento sustentável; (g) proteção, pela comunidade internacional, dos ecossistemas supranacionais, com a Antártica, os oceanos, o espaço (BRÜSEKE, 2001, p. 33).

De acordo com Frey (2001), um ponto interessante para observar é que o Relatório de Bruntdland pode ser considerado representativo da abordagem econômico liberal. O ponto de partida deste relatório é uma correlação negativa entre pobreza e desenvolvimento sustentável, o que exclui uma possibilidade de vida sustentável em nível de pobreza. Dizem que o estado de pobreza leva forçosamente a uma deterioração do meio ambiente. O relatório de Brundtland centra sua crítica no estilo nocivo de desenvolvimento praticado nos países industrializados, e por causa dessa crítica tornou-se aceitável inclusive para teoria econômica neoclássica e as nações dominantes.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Cúpula da Terra de 1992, ou Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, o desenvolvimento sustentável foi consolidado como um princípio e um objetivo global e transformado no novo paradigma econômico (inserção dos processos econômicos nos limites da biosfera), sendo que sua “operacionalização é o grande desafio civilizatório das próximas décadas” (MERICO, 1996, p. 13). Esta declaração é corroborada por Capra (2006), que afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável está posto, mas não foi relatado como operacionalizá-lo. Para a implementação do novo paradigma foi proposta a Agenda 21, contendo um abrangente conjunto de princípios e programas, constituído como um plano estratégico de ação para todas as organizações componentes do sistema ONU, governos e sociedade civil.

Para Spangenberg, Pfahl, e Deller (2002), o uso de termos relacionados aos contextos institucionais na Agenda 21 implica que o entendimento subjacente das instituições é mais amplo, uma vez que não se refere apenas às organizações, mas também aos mecanismos institucionais, como os procedimentos e normas jurídicas (sistemas formais ou informais, explícitas ou implícitas de regras). O texto busca dar orientações institucionais, como as normas sociais.

A Rio-92, segundo Frey (2001), foi um movimento de contraposição ao crescimento desenfreado e a preocupação com a disseminação do neoliberalismo que com um discurso míope propagava crescimento econômico desenfreado, privilegiando a geração de emprego a qualquer custo. A Rio-92 teve como objetivo repensar o futuro do planeta, valorizando aspectos sociais e ambientais.

Na sequência a declaração de Copenhague, em 1995, reafirmou o compromisso da ONU com conceitos de desenvolvimento sustentável no qual as variáveis sociais, econômicas e ambientais estão entrelaçadas (SACHS, 2007, p. 319). O desenvolvimento, da maneira que hoje é compreendido, diferencia-se do conceito de crescimento econômico; porém, não foi relegado, mas admitido como uma condição necessária, mas não suficiente.

Esses princípios básicos foram confirmados e reafirmados dez anos depois, em 2002, na Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+10, realizada em Johanesburgo, na África do Sul, segundo a qual o desenvolvimento sustentável tem três dimensões mutuamente interdependentes: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental.

Segundo Frey (2001), a comunidade internacional é toda favorável à concepção do desenvolvimento sustentável, mas dificilmente consegue reconhecer essa suposta adesão, com compromisso de defesa do meio ambiente e das gerações futuras nas ações e medidas atuais.

A questão é que na reflexão da teoria sobre desenvolvimento sustentável boa parte dos estudos não aprofunda a dimensão político-democrática e esta é certamente um dos fatores que contribuem para a limitação da implantação de estratégias do desenvolvimento sustentável.

Segundo Foladori (1999) as medições sobre sustentabilidade tinham menosprezado as questões sociais. A de se considerar a sociedade humana como um todo no seu relacionamento com seu entorno, e as medições sobre sustentabilidade tem privilegiado o relacionamento genérico da sociedade, considerada uma unidade frente à natureza externa.

Com isso ficam ocultas as contradições sociais que muitas vezes são a causa dos problemas ambientais.

Nesse sentido, os elementos centrais na definição sobre o desenvolvimento sustentável são: a) a garantia para as futuras gerações de um mundo físico-material e de seres humanos com condições iguais ou melhores que existem atualmente; b) um desenvolvimento com equidade para a geração atual.

Há uma linha na qual no desenvolvimento sustentável o mercado funciona como força reguladora econômico-liberal. O mercado é o melhor mecanismo para garantir a satisfação dos desejos individuais inclusive ambientais (DRYZEK, 1992, p. 39). No caso do Estado e das instituições, são indispensáveis no processo de desenvolvimento da abordagem ecológico-tecnocrata de planejamento.

Borger (2006) relata que a Cúpula do Milênio, realizada em Nova York no ano de 2000, estabeleceu para a ONU oito metas a serem atingidas até 2015:

1. reduzir à metade o número de pessoas que vivem com menos 1 dólar por dia;

2. alcançar a educação primária para todos;

3. promover a igualdade entre homens e mulheres;

4. reduzir a mortalidade infantil em dois terços para crianças de cinco anos;

5. reduzir em dois terços a mortalidade perinatal.

6. combater doenças infecciosas como a Aids e a Malária.

7. reduzir à metade o numero de pessoas sem água potável e introduzir o conceito de desenvolvimento sustentável na políticas públicas.

8. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.

As metas elencadas acima são um desafio para a sociedade. O caso da responsabilidade corporativa pode ser considerado um contrato de relação entre empresa e sociedade, porque há um momento no qual a responsabilidade social é alvo de críticas para a gestão empresarial e aponta para o caminho de uma sociedade sustentável, que implica a convergência de esforços para equilibrar os desejos dos stakeholders, levando a inovação e a prosperidade do mercado a atender expectativas sociais e ambientais.

Conforme Sneddon, Howarth e Norgaard (2006), o desenvolvimento sustentável em um mundo pós-Brundtland mudou. Ainda duas décadas após a publicação do Nosso Futuro Comum, a paisagem política e ambiental do mundo mudou significativamente. No entanto, argumenta-se que o conceito e a prática do desenvolvimento sustentável (DS) continuam a ser importantes para enfrentar os múltiplos desafios desta nova ordem global como um orientador do princípio institucional, meta de política concreta e foco da luta política. No entanto, como o DS é conceituado e praticado, depende de modo crucial da disposição de estudiosos e dos profissionais para abraçar uma pluralidade de perspectivas epistemológicas e normativas para a sustentabilidade e das múltiplas interpretações e das práticas associadas com a expansão do conceito desenvolvimento e esforços para abrir um contínuo espaço público local-global para debater e aprovar uma política de sustentabilidade. Também para usar o pluralismo como um ponto de partida para a análise e a construção normativa de desenvolvimento sustentável, dando especial atenção à forma como uma variedade de ideias e trabalhos recentes na economia ecológica, na ecologia política e no desenvolvimento de como a literatura pode dar liberdade e avançar o debate DS para além do sua estagnação pós-Brundtland. Assim os níveis elevados de degradação ecológica, a elevada desigualdade nas oportunidades

econômicas dentro e entre sociedades representam barreiras rumo ao desenvolvimento sustentável.

Para finalizar e corroborar com o que foi abordado anteriormente, essa seção tem alguns itens elencados do documento final da Rio + 20, que podem servir como norte para DS. O nome do relátorio "O Futuro que queremos", em primeiro lugar reforça o compromisso político para o desenvolvimento sustentável. Os Estados membros concordaram em lançar metas universais para o DS. Terceiro, a igualdade entre homens e mulheres. Quarto, o Estado como centro das ações para o DS, ele deve comandar essas ações junto com outros agentes da sociedade. Quinto, fortalecer o Programa da Nações Unidade para Meio Ambiente (PNUMA).

Sexto, a Rio + 20 adotou um quadro de dez anos de produção e consumo sustentáveis, incentivando os Estados membros que desejam a apostar na economia verde. E sétimo, erradicação da fome no mundo e alimentação digna para todos.