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Esta estrutura analítica é oferecida como uma forma de preencher a teoria do discurso filosoficamente fundamentada e a análise da produção imaterial no capitalismo cognitivo. O ponto de partida é a aceitação de que todo significado está baseado na identidade discursiva, e, portanto, toda a problemática do “open source”, os projetos, os problemas e os quadros que estruturam a comunidade são discursivos. Segundo a discussão registrada no capítulo anterior a nossa posição é a de que a identidade fundamentada no discurso nunca é totalmente fixa, não importando quão sedimentada esteja.

Além disso, as discussões em torno de produção de software são profundamente politizadas e tal vulnerabilidade do discurso oferece oportunidade para reforçar determinadas combinações discursivas particulares. Portanto, mais do que sugerir uma

arcabouço familiar para entender a comunidade estudada, sua organização, interesses defendidos, atores envolvidos, as ações estratégicas e ideais, a nossa armação foca as estratégias discursivas para a constituição da comunidade, analisando os antagonismos, hegemonias e significantes vazios nos processos de identificação, significação do SLCA e estratégias de ação. Vamos começar essa secção delineando como esboçamos cada uma dessas estratégias e enfatizar a importância de compreender como os discursos são forjados e como chegam a gerar os equivalentes gerais e significantes vazios. Finalmente traremos que tipo de material é requerido para suportar a aplicação empírica da teoria do discurso.

3.1.1 Identidade e estratégias discursivas

Existem três variedades de discurso que são relevantes para a análise do processo de construção discursiva da comunidade PUG-PE. São os discursos de identificação, governança open source e estratégicos.

Primeiro existem os discursos de identificação comuns que constituem desde as identidades espaciais, formação acadêmica, posições de liderança, tecnologias adotadas, relacionamentos e setores de aplicação. Estes estão em constantes mudanças e, ocasionalmente, podem sofrer deslocamentos, mas são discursos relativamente sedimentados e reiterados com o passar do tempo, uma vez que delimitam os limites antagônicos da comunidade. Esse processo de identificação pode partir da universidade onde se estuda até o tipo de software que se utiliza no seu desktop.

Segundo, existem os discursos de governação da comunidade que procuram hegemonizar um determinado contexto político. Tais discursos irão se manifestar empiricamente a partir dos apelos aos equivalentes gerais ou nas exposições retóricas das lógicas de diferença, equivalência e fantasia. Os discursos de governação operam em diferentes níveis: no nível micro e meso.Vão desde destacar a sua formação discursiva ou a

coalizão de diferentes atores em torno do fenômeno e, no nível meso, quando articulam em um grau maior de abstração, como acontece nos discursos que atravessam outras formações discursivas e identitárias, permitindo que problemas sejam identificados, legitimados e inscritos no discurso.

Terceiro, se destacam os discursos estratégicos. Esses são cadeias de demandas articuladas por uma identidade de governação para um propósito específico.

De forma a compreender a emergência dos equivalentes gerais nesse processo de construção discursiva estaremos direcionados a avaliar as condições que sustentam tais políticas. Portanto, embora nossa abordagem seja sobre o estabelecimento e constituição de uma identidade discursiva, o nosso foco é na identificação dos antagonismos, hegemonia e significantes vazios que forjam esses discursos e o papel dos atores estratégicos, cujas identidades são construídas dentro desses discursos.

3.1.2 Os requisitos dos dados do corpus

Os requisitos dos dados empíricos que precisamos para explorar as estratégias discursivas da comunidade são os dados que, primeiramente, sejam suficientemente ricos para permitir a desconstrução. A leitura desconstrutiva de um fenômeno envolve uma análise crítica de como tem sido apresentado, estudado e analisado nas pesquisas existentes e na literatura teórica (DENZIN; LINCOLN, 2006).

Esses autores sugerem que a desconstrução possui as seguintes características: desnudar as concepções a priori em termos de observação e definições. Envolve uma interpretação crítica das definições e observações tomadas como certas. Ele também examina criticamente os modelos teóricos subjacentes da ação humana que sustentam os pressupostos tomados como certos dos fenômenos. Finalmente, apresenta as preconcepções e vieses que circundam as compreensões existentes sobre o fenômeno em

questão. Desconstrução, dessa forma, auxilia na compreensão dos discursos existentes sobre a produção de SLCA em comunidades open source, uma vez que os significados dos elementos são definidos no interior dos jogos de linguagem (OLIVEIRA, 2012)

Um segundo requerimento para os dados corresponde aos que informam a genealogia dos “discursos do open source” e seus equivalentes gerais. Genealogia é uma forma de análise histórica popularizado pelo último Foucault (2010). A nossa abordagem genealógica traça a relação entre os discursos delineados ao longo do tempo, o que permite problematizar as narrativas existentes. Dessa forma, necessitaremos de dados que não só cobrem a situação atual do grupo, mas também acessar os atores envolvidos no passado e os arquivos existentes.

Uma terceira exigência referente aos dados é que capturem a riqueza retórica existente. O uso da retórica pelos atores investigados é uma manifestação importante na articulação das equivalências, diferenças e fantasia. A retórica é freqüentemente minimizada em análises sociais e políticos rejeitando sua importância no dualismo “retórica e realidade”. Em vez disso, enxergaremos como os atores articulam e interpretam certas formas retóricas como centrais para a reiteração dos discursos do open source e estratégicos. Por exemplo, o trabalho de Skinner (2002) aponta que sua aplicação pede a transcrição completa das falas em vez de transcrições seletivas. Seu estudo também enfatiza o uso de buscas eletrônicas e softwares de recuperação do corpus do texto.

Os dados primários requerem acesso às falas do atores de modo a se entender os pressupostos tidos como certos sobre a identidade, governação e estratégias. Tal abordagem também requer o acesso à documentos tanto públicos como internos (HAJER, 2005). Limitações de ordem financeira e de tempo impediram um estudo de natureza longitudinal, de forma a rastrear os equivalentes desde a fundação do grupo. Mas a

natureza do nosso estudo requer o acesso a todo o tipo de arquivos disponíveis sobre os atores estudados.