• Nenhum resultado encontrado

4. DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE ESCALA DE PREDISPOSIÇÃO À

4.5 Estrutura fatorial da escala Predisposição à Mudança em Serviços

O estudo da natureza teórica das variáveis e de sua distribuição nos Fatores I, II e III forneceu indícios para a definição constitutiva de cada um dos Fatores. Inicialmente, analisa- se o Fator I, que tem suas variáveis apresentadas na sequencia:

V1. Há diferentes formas de descrição de protótipos de sistemas para incorporar sugestões de clientes. V2. A prioridade é garantir que o software desenvolvido tenha aderência à especificação original. V3. Há liberdade para que o cliente sugira mudanças durante a fase de homologação de um software.

V6. Acredita-se que a cooperação com outras empresas torna a minha empresa mais aberta a aceitar mudanças em softwares sugeridas por clientes.

V13. A participação de clientes no desenvolvimento de softwares facilita a execução do projeto. V15. Há abertura para aceitar mudanças em softwares sugeridas por clientes.

V16. As chefias apoiam mudanças sugeridas por clientes em relação ao projeto original de software. V18. Acredita-se que as mudanças incorporadas nos softwares farão a diferença no futuro.

V20. Procuram-se reduzir participações de clientes que alterem os projetos originais de softwares. V22. Acredita-se que as sugestões de clientes ajudam a melhorar a qualidade de softwares desenvolvidos. V23. São aceitos os riscos de mudar o projeto original de um software.

V26.Os profissionais se apoiam mutuamente para incorporar mudanças em softwares sugeridas por clientes. Figura 16 – Variáveis do Fator I da Escala PMS.

Fonte: dados da pesquisa.

A análise da natureza teórica das variáveis que compõem o Fator 1 revela a emersão de dois núcleos conceituais comuns que congregam as variáveis. O primeiro refere-se a rotinas organizacionais, conceito explorado na literatura organizacional em discussões voltadas ao comportamento da empresa, racionalidade limitada e inovação (Milagres, 2011). A larga utilização do conceito de rotinas organizacionais em estudos organizacionais levou à emersão de entendimentos distintos sobre o conceito, apresentados por Milagres (2011) em três linhas. A primeira admite rotinas como padrões de comportamento, ação ou interação repetitivos e coletivos. Um segundo grupo de autores entende rotinas como regras ou procedimentos operacionais padronizados, que mantêm um padrão de ação para as organizações. Por fim, uma terceira linha admite rotinas como “disposições coletivas que levam os agentes a praticarem comportamentos adquiridos ou adotados previamente” (Milagres, 2011, p. 165). Emerge como entendimento comum a lógica de que rotinas se referem a padrões organizacionais capazes de determinar o comportamento coletivo na organização. Desta forma, entende-se que V1, V16, V20 e V26 representam rotinas organizacionais.

As variáveis V2, V3, V6, V13, V15, V18, V22 e V23, por sua vez, referem-se a princípios organizacionais e crenças compartilhadas entre os indivíduos de uma organização. Esses elementos fazem referência ao conceito de valores organizacionais, entendido por Tamayo, Mendes e Paz (2000, p. 291) como “princípios e metas que norteiam o

73

comportamento do indivíduo”, agindo como elementos integradores “compartilhados por todos ou por boa parte da organização”. Entende-se, portanto, que este Fator seja formado por “Rotinas e Valores Organizacionais”, rótulo que lhe é atribuído neste estudo. Rotinas e valores são entendidos pela literatura como alguns dos elementos formadores da cultura organizacional, assim como crenças, tradições, usos e normas (Tamayo et al, 2000), o que justifica a proximidade teórica das variáveis que compõem este Fator.

O segundo Fator tem suas variáveis apresentadas na Figura 17.

V4. Há recompensas para os profissionais mais dispostos a aceitar mudanças em softwares sugeridas por clientes.

V9. Os profissionais são encorajados a aceitar mudanças propostas por clientes em relação ao projeto original de software.

V11. O acúmulo de funções por profissionais responsáveis pelo desenvolvimento de softwares dificulta a aceitação de mudanças sugeridas por clientes em relação ao projeto original.

V12. Os profissionais têm autonomia para aceitar mudanças sugeridas por clientes em relação ao projeto original de software.

V19. A participação de clientes no desenvolvimento de softwares ocorre em outras fases além da fase de especificação.

V21. Os profissionais são dispostos a incorporar alterações em softwares sugeridas por clientes Figura 17 – Variáveis do Fator II da Escala PMS.

Fonte: dados da pesquisa.

A análise teórica das variáveis que compõem este Fator também revela núcleos conceituais comuns que as congregam. Essas variáveis se referem à “Estrutura Organizacional para a Mudança”. Essa estrutura é entendida como formada por: i) ações tácitas (como estímulos ou encorajamentos da organização para aceitação à mudança ou disposição dos profissionais para mudar) ou explicitas da organização (como disponibilização de recompensas para aceitação à mudança) e ii) condições de trabalho (como acúmulo de funções, nível de autonomia dado aos profissionais e nível de interação estabelecido com os clientes) para a aceitação de mudança.

74 V8. São incorporadas sugestões de clientes que modifiquem o projeto original de um software independentemente do prazo de desenvolvimento.

V5. As sugestões de clientes que modifiquem o projeto original são mais facilmente aceitas em softwares com potencial para gerar avanços na tecnologia existente.

V10. As sugestões de clientes que modifiquem o projeto original são mais facilmente aceitas em softwares que apresentem maior potencial de venda para outros clientes.

V14. As sugestões de clientes que modifiquem o projeto original são mais facilmente aceitas em softwares com maior margem de lucro.

V17. As alterações em softwares sugeridas por grandes clientes são mais aceitas, se comparadas com as dos demais clientes.

V24. São incorporadas sugestões de clientes que modifiquem o projeto original de um software independentemente da etapa em que se encontre o desenvolvimento.

Figura 18 – Variáveis do Fator III da Escala PMS. Fonte: dados da pesquisa.

As variáveis que compõem o Fator III também se agregam em núcleos conceituais comuns. Entende-se que as variáveis V5 e V10 indiquem as características do software desenvolvido, enquanto V8, V14 e V24 mostram a questões relacionadas ao processo de desenvolvimento, como prazo, margem de lucro e etapa atual. Por fim, V17 se refere ao cliente a quem se destina o software em desenvolvimento. A análise teórica conjunta dessas variáveis leva à definição do Fator III como “Especificidades do Serviço”. Entende-se, portanto, que as especificidades do serviço se refiram a aspectos relacionados ao software, ao processo e ao cliente.

A estrutura de variáveis e fatores explicativos para a PMS é composta por 24 variáveis associadas a três fatores explicativos: Rotinas e Valores Organizacionais – composto por 12 variáveis; Estrutura Organizacional para a Mudança – 6 variáveis e Especificidades do Serviço – 6 variáveis. A estrutura completa é apresentada na Figura 19.

75 Figura 19 – Estrutura fatorial para a PMS

Fonte: elaborado pela autora.

4.6 Conclusões

Este estudo teve como objetivo a construção, teste e validação de uma escala de medida para a Predisposição à Mudança em Serviços baseada em sua aplicação aos serviços de software. Os procedimentos realizados levaram à validação de uma escala composta por 24 itens distribuídos em três fatores: Rotinas e Valores Organizacionais – composto por 12 variáveis; Estrutura Organizacional para a Mudança – 6 variáveis e Especificidades do Serviço – 6 variáveis. Entre as limitações para a realização deste estudo, destaca-se a realização de procedimentos de Análise de Modelagem de Equação Estrutural Exploratória (MEEE), sem prosseguimento para procedimentos de natureza confirmatória, tendo em vista a aplicação a uma única amostra de respondentes. Adicionalmente, destacam-se os valores de Alpha de Cronbach reduzidos para os Fatores II e III encontrados na análise MEEE, requerendo novas aplicações para novos testes de fidedignidade para os Fatores. Por fim, destaca-se como limitação o recorte setorial da pesquisa − serviços de software, sem teste para outras atividades de serviços.

76

Considera-se que a construção e validação da escala para a PMS, ainda que passível de avanços por estudos futuros, possa gerar contribuições para os estudos de serviços por trazer entendimentos sobre os fatores explicativos da mudança em serviços e suas variáveis associadas, ampliando o entendimento sobre a natureza e a manifestação de mudanças sob esta perspectiva setorial. Adicionalmente, entende-se que a constituição de uma escala de medida desenvolvida sob a lógica associada aos serviços possa contribuir para a ampliação da oferta de medidas disponíveis para o setor.

Com base nas limitações deste estudo, compõe-se a agenda de pesquisa a ser explorada por estudos futuros com base em três recomendações: i) aplicação da escala validada neste estudo para a PMS a uma nova amostra de respondentes com vistas à realização de Análise Fatorial Confirmatória; ii) realização de novos testes de fidedignidade por meio do cálculo do Alpha de Cronbach para novas amostras às quais sejam aplicadas a escala da PMS; iii) extensão da escala da PMS a outras atividades além dos serviços de software.

77

5. PREDISPOSIÇÃO À MUDANÇA E INOVAÇÃO EM SERVIÇOS: O TESTE DE