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2. SERVIÇOS: INOVAÇÃO E MUDANÇA

2.3 Indicadores de inovação

2.3.1 Indicadores para a inovação em serviços: estado da arte

Embora as proposições do Manual de Oslo, da CIS e da PINTEC tragam suas possibilidades de extensão aos setores de serviços, empiricamente essas aplicações são limitadas. A PINTEC só passou a incorporar setores de serviços em suas edições mais recentes (2005 e 2008) e, ainda assim, limitando-se aos serviços de TI e informática. O desenvolvimento de indicadores capazes de medir inovações em serviços sem limitações quanto às suas atividades se constitui, portanto, como lacuna de pesquisa em exploração.

Evangelista e Sirilli (1998, p. 253) exploram resultados de levantamento realizado sob as premissas teóricas do Manual de Oslo junto a empresas italianas. Os resultados do diagnóstico de inovação evidenciaram a necessidade de adequação das medidas advindas de setores industriais para a mensuração de inovações em serviços. Apontando que “a experiência acumulada na mensuração de inovações em setores industriais representa um excelente ponto de partida para medir inovações em serviços”, os autores caracterizam as medidas originárias – derivadas do Manual de Oslo – como inputs para o desenvolvimento de medidas específicas para medir inovação em serviços, ressaltando que é necessário discutir os limites de aplicação dessas medidas aos setores de serviços.

Evidenciando o elevado peso atribuído por Smith (2005) às atividades de pesquisa e desenvolvimento, já apontadas como tradicionais indicadores majoritário nas medidas de inovação, Evangelista e Sirilli (1998) ressaltam quatro aspectos-chave a serem considerados na aplicação de indicadores para a inovação em serviços: a interação entre prestador e cliente, o conteúdo informacional altamente intangível dos produtos e processos de serviços, a importância crescente dos recursos humanos como fatores competitivos e o papel crítico dos fatores organizacionais no desempenho das firmas.

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As características atribuídas por Evangelista e Sirilli (1998) aos serviços trazem proximidade com as características apontadas por Hill (1977); Gadrey (2000); Gallouj (2002); Kon (2004); Miles (2005) e Rubalcaba (2007) , e foram exploradas previamente em capítulo sobre serviços desenvolvido neste estudo. Caracteriza-se, portanto, a necessidade de consideração das características intrínsecas dos serviços como requisito para a transposição (ou mesmo construção) de medidas para a inovação em serviços.

Os desafios de construção de medidas para a inovação em serviços são apontados por Gallouj e Savona (2010) como agenda de pesquisa para o campo da inovação em serviços. Os autores apontam que, historicamente, o uso de levantamentos em larga escala em serviços se mostra problemático por uma série de razões, a exemplo de dificuldades metodológicas de definição de outputs de inovação em serviços, medidas e abrangência da coleta de dados (Gallouj & Savona, 2010).

Em consonância com Evangelista e Sirilli (1998), Gallouj e Savona (2010, p. 40) apontam que medidas tradicionalmente usadas na indústria mantêm seu foco em dispêndios realizados em pesquisa e desenvolvimento, uma medida que não assumiria o mesmo peso em serviços, onde “os dispêndios em pesquisa e desenvolvimento não representam a maior parte dos inputs de inovação (...), mas apenas um papel marginal”, assim como patentes, que “não são usadas frequentemente em serviços para proteger seus outputs inovadores de imitações”.

Embora estabeleçam críticas à aplicabilidade das medidas tradicionais de inovação aos serviços – representadas, no caso, pela CIS –, Gallouj e Savona (2010, p. 40-41) apontam que os resultados desta aplicação:

Confirma a riqueza e variedade de padrões de inovação em serviços e a importância do papel desempenhado por gastos não relacionados à pesquisa e desenvolvimento e por outros outputs de inovação que não patentes (copyrights, licenças, vantagens de liderança de tempo), assim como a significância da cooperação para a inovação em serviços.

Ao apresentar as limitações para a aplicabilidade de indicadores de inovação de origem industrial aos serviços, Gallouj e Savona (2010, p. 40) sugerem que “medidas diferentes e mais compreensivas precisam ser incorporadas às atividades inovadoras das firmas para estudar a natureza da inovação em serviços e seus efeitos no desempenho econômico dos serviços”.

Conforme OECD (2000), a mensuração de inovações em serviços não é tão direta quanto na manufatura. Investimentos em pesquisa e desenvolvimento podem ser relativamente reduzidos em relação ao observado na indústria, embora alguns setores de

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serviços sejam intensivos em tecnologias avançadas. Entre as limitações de aplicação, “há muitas formas intangíveis de inovação associadas, por exemplo, a processos e procedimentos que são difíceis de medir usando os indicadores estabelecidos” (OECD, 2000, p. 11).

Kanerva, Hollanders e Arundel (2006) apontam que a maior parte dos indicadores disponíveis para medir inovação – como dispêndios em pesquisa e desenvolvimento, registro de patentes, investimentos totais em inovação e vendas de produtos inovadores – foram originalmente designados para medir inovações tecnológicas em setores manufatureiros. Quanto à sua aplicabilidade em serviços, os autores apontam adequação parcial à comparação entre setores de serviço e industrial com base no uso dessas medidas. Barreiras de maior rigor são apontadas, no entanto, à extensão dos dados obtidos provenientes desses indicadores para comparação internacional.

Justificando as limitações para a aplicação de indicadores industriais a serviços, Kanerva et al (2006, p. 3) especificam que os setores inovam de forma diferente, embora não seja este o maior impeditivo para a extensão de medidas, tendo em vista que a “natureza da inovação no setor de serviços se baseia menos no acúmulo de capacidades, permitindo que as firmas de serviços se movam mais rápido em direção às melhores práticas que as firmas manufatureiras”. Adicionalmente, aponta-se que indicadores medem, tanto para atividades manufatureiras quanto para serviços, o fluxo de inovações recentes. Esse fluxo é fortemente dependente do estoque de capacidades acumuladas em firmas manufatureiras, enquanto em firmas de serviços essa dependência não se confirma – dinâmica passível de compreensão à luz dos exemplos de inovações ad hoc (Gallouj, 2002), em que as competências podem ser modificadas durante a prestação do serviço e de forma não planejada, ou seja, sem dependência de competências previamente acumuladas.

O Manual de Oslo (OECD & Eurostat, 2005) também apresenta ressalvas para a proposição de medidas para a inovação em serviços. Ao apontar a diversidade das atividades de serviços, a inovação em serviços é apontada como um processo contínuo, resultante de uma série de mudanças incrementais em produtos e processos, o que pode trazer dificuldades para sua identificação como evento único. Embora o Manual de Oslo ressalte aspectos limitadores para a proposição de medidas para inovação em serviços, a efetiva proposiçãode um conjunto de indicadores voltado aos serviços permanece como lacuna, não se registrando ação propositiva no Manual, mas apenas alertas para estudos futuros que se proponham a explorar a referida lacuna.

Visando preencher a lacuna de indicadores para inovação em serviços, registra-se a recente proposição do SSII – Service Sector Innovation Index, índice de inovação composto

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apoiado em 23 indicadores originais da CIS-4 agrupados em nove temas: recursos humanos, demanda por inovação, suporte público para a inovação, inovação de produto e processo, outputs de inovações de produto e processo, inovações não tecnológicas, outputs de inovações não tecnológicas, comercialização e propriedade intelectual. Os indicadores são selecionados com vistas a abarcar os principais elementos definidores do desempenho em termos de inovação para firmas de serviços (Arundel, Kanerva, Van Cruysen & Hollanders, 2007).

Por consistir em uma subseleção de indicadores originários da CIS-4, o SSII certamente contribui para os esforços de seleção de indicadores de maior sensibilidade às dinâmicas de inovação em serviços, mas não supre, por si só, a agenda de pesquisa. Considera-se que esta ação representa resposta parcial à tarefa de estabelecimento de indicadores para a inovação em serviços, já que a tarefa de desenvolver indicadores especificamente voltados à mensuração das dinâmicas peculiares da inovação em setores de serviços permanece como agenda de pesquisa.