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E, por último, a nova compreensão é a chegada a um novo começo, a expectativa de que, por meio de atos de ensino racionalizados, o professor alcance uma nova compreensão

4. METODOLOGIA DA PESQUISA

4.3. ESTUDO DE CASO

A pesquisa qualitativa pode assumir diversas abordagens, entre as quais, o estudo de caso, que descreve um sistema de significados culturais de um determinado grupo, tendo um campo de trabalho mais específico, este sempre bem delimitado e de contornos claramente definidos. Ao utilizar o estudo de caso, o pesquisador deve entender que se trata de uma pesquisa empírica abrangente, com procedimentos preestabelecidos, que investiga um ou múltiplos fenômenos contemporâneos no contexto da vida real.

No contexto das discussões acerca dessa temática, devemos ressaltar diferentes contribuições tanto em nível internacional quanto nacional. Na literatura internacional, destacamos os pensamentos de Yin (2005); Stake (2005, 2009) e Rodríguez et al. (1999). Na produção nacional, evocamos as reflexões de Lüdke e André (2007). Para esses autores, essa abordagem de pesquisa como estratégia de investigação é descrita como algo bem definido ou concreto, como: um indivíduo, um grupo ou uma organização. Mas também pode ser definida num plano mais abstrato, como: decisões, programas, processos de implementação ou mudanças organizacionais.

De acordo com Stake (2009), o estudo de caso não é uma escolha metodológica, mas escolha de um objeto a ser estudado, o qual deverá ser definido pelos interesses dos pesquisadores e pelas características próprias deste tipo de estudo. Há que se evidenciar que os estudos de casos não são caracterizados pelos métodos usados para coletar e analisar dados, mas, de acordo com o seu foco em uma determinada unidade de análise: um caso.

Yin (2005), por sua vez, apresenta três situações nas quais o estudo de caso é indicado. A primeira é quando o caso em estudo é crítico para se testar uma hipótese ou teoria explicitada. A segunda situação para se optar por um estudo de caso é o fato de ele ser extremo ou único. A terceira se dá quando o caso é revelador, ocorre quando o pesquisador tem acesso a um evento ou fenômeno até então inacessível à pesquisa científica.

Esse mesmo autor propõe ainda quatro modalidades para o estudo de caso: plano de caso único global ou inclusivo, plano de caso múltiplo global ou inclusivo. Muitas condições que justificam um experimento único também justificam um estudo de caso único. Outro fundamento lógico para um caso único é aquele em que o caso representa um caso raro ou extremo. E um terceiro fundamento é o caso revelador, situação que ocorre quando o pesquisador tem a oportunidade de observar e analisar um fenômeno previamente inacessível à investigação científica.

Yin (2005) adverte que projetos de casos múltiplos possuem vantagens e desvantagens distintas em comparação aos projetos de caso único. As provas resultantes de casos múltiplos são consideradas mais convincentes e o estudo global é visto como sendo mais robusto. Ao mesmo tempo, o fundamento lógico para projetos de caso único não pode ser satisfeito por casos múltiplos. É provável que o caso raro ou incomum, o caso crítico e o caso revelador impliquem apenas em casos únicos, por definição.

Tal como sugere Yin (2005), a preferência pelo uso do estudo de caso deve ser dada quando se trata de estudo de eventos contemporâneos, em situações em que os comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas é possível se fazerem observações diretas e entrevistas sistemáticas. Apesar de ter pontos em comum com o método histórico, Yin (2005, p.19) esclarece que o estudo de caso se caracteriza pela “capacidade de lidar com uma completa variedade de evidências - documentos, artefatos, entrevistas e observações”.

Uma característica importante do estudo de caso é que propicia ao pesquisador compreender o que está acontecendo a partir da perspectiva do participante ou dos participantes do estudo. De modo específico, este método é adequado para responder às questões “como” e “por que”, bem como não se podem manipular comportamentos relevantes. Desta forma, é útil quando o pesquisador, por razões práticas ou éticas, não pode realizar estudos experimentais (YIN, 2005).

Stake (2005, p.444), por sua vez, distingue três tipos de estudo de caso:

(1º) estudo de caso intrínseco - teve como objetivo compreender um caso particular, porque o caso em si é de interesse. Um caso pode ser de interesse, porque tem características particulares, ou porque é comum; (2º) estudo de caso instrumental - que visa proporcionar insights sobre um assunto ou problema ou para refinar uma teoria. Neste caso, a compreensão das complexidades do caso é secundário para a compreensão de alguma coisa; (3º) estudo de caso coletivo - um certo número de casos, são estudos em conjunto, a fim de compreender a condição de fenômeno, população ou geral.

Stake (2005, p.445) alertar-nos para o fato de que “nem tudo pode ser considerado um caso” e oferece algumas pistas para a identificação do que pode constituir um caso. Para o autor, um caso é uma unidade específica, um sistema delimitado cujas partes são integradas.

1. Busca de descoberta, mesmo que o pesquisador parta de alguns pressupostos teóricos iniciais, teoria que servirá de esqueleto ou estrutura básica a partir da qual novos aspectos poderão ser detectados; 2. Enfatizam a interpretação em contexto, quer dizer, para compreender melhor a manifestação geral de um problema, as ações, percepções, comportamentos e interações da pessoas devem ser relacionadas à situação específica onde ocorrem, ou à problemática determinada a que estão ligadas; 3. Buscam retratar a realidade de forma completa e profunda, procurando revelar a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação ou problema; 4 Usam uma variedade de fontes de informação; 5. Revelam experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas: o pesquisador procura relatar as suas experiências durante o estudo de modo que o leitor ou usuário possa fazer as suas generalizações naturalísticas; 6. Procuram representar os diferentes e, às vezes, conflitantes pontos de vista presentes numa situação social; 7. Os relatos do estudo de caso utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa.

As autoras (2007, p.22-23) seguem apresentando três fases no desenvolvimento de um estudo de caso: “uma primeira aberta ou exploratória, uma segunda mais sistemática em termos de coleta de dados e uma terceira, com a análise e interpretação dos dados, seguidas da elaboração de um relatório”. Em função disso, as autoras advertem que a elaboração de um estudo de caso apresenta, pelo fato de ser um estudo de fenômeno bem delimitado, algumas particularidades. Entre elas, o cuidado especial que se deve ter com as deduções generalizadoras: como cada caso é tratado como singular e único, a possibilidade de generalização passa a ter menor relevância.

Segundo perspectivas de Rodríguez et al. (1999), a utilização de um estudo de caso se justifica por três motivos. Em primeiro lugar, por ele ter um caráter crítico que permite confirmar, modificar ou ampliar o conhecimento sobre o objeto de estudo. Nessa perspectiva, pode contribuir com a construção teórica. Em segundo, a singularidade única e peculiar a cada um dos sujeitos envolvidos num contexto educacional justifica, por si só, esse tipo de projeto. Em terceiro lugar, a utilização do caso único reside no caráter revelador dele mesmo. Esse tipo de representação se encontra no método biográfico, no qual cada caso é revelador de uma situação concreta.

Em relação ao estudo de caso, Yin (2005) enfatiza que, apesar de ser uma forma distinta para a inquirição empírica; ele é visto como a forma menos desejável do que a

experimentação ou “surveys”, por isso é um método suscetível a preconceitos e críticas. Para esse autor, isso ocorre por razões como a grande preocupação sobre a falta de rigor das pesquisas de estudo de caso, uma vez que o investigador de estudo de caso, muitas vezes, tem sido descuidado e tem admitido evidências equivocadas ou enviesadas para influenciar a direção das descobertas e das conclusões (YIN, 2005).

Segundo esse autor, outra preocupação em relação a este método é o fato de ele fornecer pequena base para generalizações científicas, uma vez que, por estudar um ou alguns casos, não se constitui em amostra da população e, por isso, torna-se sem significado qualquer tentativa de generalização para populações. É também uma preocupação frequente com este método a queixa de que ele toma muito tempo e resulta em um documento volumoso e de difícil leitura (YIN, 2005), o que nos parece dificultar o entendimento e a compreensão.

Do ponto de vista de Yin (2005) e Fachin (2001), estas questões podem estar presentes em outros métodos de investigação científica se o pesquisador não tiver treino ou as habilidades necessárias para realizar estudos de natureza científica; portanto não são inerentes ao método do estudo de caso. Para se discutir o método do estudo de caso, três aspectos devem ser considerados: a natureza da experiência, enquanto fenômeno a ser investigado; o conhecimento que sempre se tende a alcançar e a possibilidade de generalização de estudos a partir do método.

Para a coleta de informações em estudo de caso, o pesquisador pode se utilizar não só de pessoas (sujeitos), mas também de livros, documentos oficiais, relatórios, atas, correspondências, publicações, desenhos (documentos), anotações, incluindo entrevistas, observações em ambientes diversos, áudio, dados de vídeo, entre outros. É importante salientar que o investigador deve levar em consideração o formato em que vai recolher os dados, a estrutura e os meios tecnológicos que pretende utilizar. Enfim, uma das características dos estudos de caso é a possibilidade de obterem informação a partir de múltiplas fontes de dados, de acordo com a natureza do caso e tendo por finalidade possibilitar o cruzamento de ângulos de estudo ou de análise.

Apesar de suas posições filosóficas serem distintas entre si, e, ao longo do tempo, os estudos realizados pelos pesquisadores se transformarem, Yin (2005), Stake (2005, 2009), Lüdke e André (2007), entre outros autores, corroboraram com o desenvolvimento desta pesquisa qualitativa, particularmente, uma vez que utilizarmos o método do estudo de caso como suporte ao nosso estudo. Além disso, consideramos que a nossa pesquisa tem as características de um estudo de caso, pois nos interessaram nas perspectivas de um grupo específico de participantes; formado por oito professores de Matemática, que propusseram

como tarefa o estudo de geometria dinâmica por meio de softwares educacionais, o que o torna esse grupo singular. Portanto, como ressaltam Lüdke e André (2007, p.17): “[...] Quando queremos estudar algo singular, que tenha um valor em si mesmo, devemos escolher o estudo de caso”.