• Nenhum resultado encontrado

E, por último, a nova compreensão é a chegada a um novo começo, a expectativa de que, por meio de atos de ensino racionalizados, o professor alcance uma nova compreensão

4. METODOLOGIA DA PESQUISA

4.6. O PERFIL PROFISSIONAL DOS PROFESSORES DO GRUPO DE TRABALHO

Nesta subseção, identificamos o perfil profissional dos professores que participam da pesquisa, observamos, inicialmente, que o tempo de formação e atuação deles varia consideravelmente, com profissionais iniciantes e outros experientes, entre dois a 24 anos de serviço. Em relação ao tempo que lecionam neste colégio, esse número altera-se, percorrendo o intervalo de um a 15 anos. A diferença se deve ao fato de que alguns já possuíam tempo de trabalho anterior ao ingresso nesta instituição.

Observamos, também, que, entre eles, quatro professores se graduaram na Universidade Federal de Juiz de Fora, sendo três em cursos de Matemática e um de Educação Artística. Dois cursaram em faculdades particulares o curso de Matemática, um deles em Juiz de Fora e o outro, numa cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro.

Quanto ao perfil na formação inicial, um professor também se graduou em Informática, mas nenhum desses professores recebeu o estímulo para usar a tecnologia em suas aulas de modo a ter oportunidade de conhecer os limites e potencialidades desse recurso.

Os participantes desta pesquisa foram mantidos em anonimato, de acordo com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 2), segundo o qual a pesquisadora tratará a identidade deles com padrões profissionais de sigilo; afirmando que os participantes não seriam identificados em nenhuma publicação que possa resultar desta tese. Decidimos utilizar o símbolo P para representá-los e incluímos um índice por meio de um arranjo metódico, que indica a sequência ordenada correspondente ao começo da participação do professor neste grupo. Desta forma, usamos as seguintes representações: P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7 e P8.

A seguir, no quadro síntese sobre o perfil dos participantes do grupo, encontram-se informaçõe sobre o professor, escolaridade, graduação e tempo de magistério, bem como a porcentagem de frequência dos participantes nas 14 reuniões do Grupo de Trabalho.

Quadro 2 - Perfil dos participantes do Grupo de Trabalho

Professor Formação Acadêmica Tempo de exercício profissional (anos) Frequência dos participantes nas reuniões do Grupo de Trabalho Graduação Pós-graduação

P1 Matemática Mestrado em Educação 24 71,3%

P2 Matemática --- 24 57,1%

P3 Matemática Especialização 17 100%

P4 Matemática Mestrado em Educação 24 100%

P5 Matemática Especialização 5 50%

P6 Matemática --- 2 64,2%

P7 Matemática Mestrado em Educação 10 64,2%

P8 Educação Artística Especialização 4 64,2%

Também apresentaremos algumas das contribuições, compartilhadas nas aulas, utilizando o programa GeoGebra, pelos bolsistas (Bolsistas de Treinamento Profissional – BTP) e pelos alunos do Colégio. De agora em diante, utilizaremos os termos B1, B2, B3, B4 para nomear os bolsistas e A1, A2, A3, A4 para designar alunos, também garantindo o anonimato deles. O índice corresponde à ordem de apresentação deles na tese.

Ao discutirmos sobre os cursos de formação inicial de professores nas licenciaturas, se esses são conteudistas, compreendemos nossas concepções desse modelo de ensino e também

refletimos sobre a reprodução que fazemos do modelo tradicional de ensino, vistªo que fizemos isso em toda a vida estudantil, e continuamos reproduzindo essa concepção.

O professor P7, referindo-se à época de sua formação, declara: “Mudou um pouco os cursos de licenciatura, tivemos que fazer apresentações com a profª A., acabou com a linearidade, a profª B. também tinha projetos”.

No entanto, mesmo com essa declaração de P7, os professores presentes reconheceram que os exemplos citados são de trabalhos desenvolvidos pontualmente por docentes específicos, muito subjetivos, e prova disso é que, quando esses professores saíam dos projetos, não havia continuidade.

Nesta perspectiva, outros fatores determinaram a opção por inserir o computador em suas salas de aulas. Reconhecem que o computador é um fator motivador para a aprendizagem de crianças e adolescentes, por isso sentiram a necessidade de incorporar essa tecnologia à sua prática. Aparecem os softwares educacionais com potencialidades para o ensino de Matemática que precisam ser selecionados, estudados e pesquisados para que tivessem condições de incorporá-los à sua prática pedagógica. Alguns buscaram cursos para se atualizarem, como a participação em seminários.

Desta forma, não temos muitos professores que introduziram o recurso da informática em sua prática, os poucos que o utilizam começaram timidamente com aplicações esporádicas.

Apesar de o grupo aparentar homogeneidade, por se tratar de professores que lecionam uma mesma disciplina, cada um participa dele por motivos próprios. Estes professores da Educação Básica estudam temas relacionados à aprendizagem dos alunos, sistema de avaliações na escola, formação contínua de professores, filosofia da Matemática, autonomia dos alunos. Esses assuntos refletem um campo eclético de conhecimento desenvolvido pelos participantes e que pode ajudar o grupo a consolidar-se.

Descrevemos, agora, o perfil apresentado pelos participantes na percepção da pesquisadora, considerando como o outro se manifesta no discurso sob o ponto de vista da fala sobre sua formação e experiência profissional, a imagem do outro, o outro que se apresenta diante de nós. Além disso, questionamos aos participantes do Grupo de Trabalho “o que é ser professor”, e as respostas foram enviadas para a pesquisadora por meio de e-mails.

Iniciamos com o professor P1, esse leciona nas turmas do Ensino Médio, possui graduação em Matemática, com Mestrado em Educação. O uso do computador tem sido uma de suas práticas pedagógicas, uma vez que possuiu habilidades com essa tecnologia. Com isso, expandiu seus trabalhos para as redes de informação e comunicação, com a internet.

Conhecia outros programas de geometria dinâmica, quando passou a dedicar-se ao software

GeoGebra e, desta forma, participou da elaboração do módulo especializado com a aplicação

da geometria dinâmica, utilizando o recurso do computador. P1 define o ser professor da seguinte forma:

Há alguns anos atrás, eu responderia que seria um sacerdócio, o ente iluminado que conduz os estudantes ao caminho do conhecimento, da liberdade e da autonomia. Porém, nos últimos anos, percebo o professor cada vez mais como apenas um profissional, com seus fazeres específicos, que é cobrado pelo seu patrão, etc. Ou seja, distanciando-se cada vez mais daquela figura iluminada, inquestionável, com luz própria. Com a massificação da escolarização, o trabalho docente ganha contornos cada vez mais complexos e amplos, exigindo conhecimentos multidisciplinares aos quais ninguém está preparado, sobretudo os formadores de professores, a Universidade. Temos também dificuldades em definir exatamente o que é o papel desse profissional, para uns, é um animador e organizador de atividades a fim de se “construirem” conhecimentos; para outros, ele deve atuar como um transmissor de conhecimentos científicos. Temos também a visão do "formador do cidadão", crítico, reflexivo e autônomo, e por aí vai. Enfim, ser professor é ser um profissional em profunda crise, completamente desvalorizado socialmente (compare a média de corte no vestibular de medicina com a média de pedagogia, ou outra licenciatura qualquer) e que atua segundo suas próprias concepções, haja vista que não temos um projeto de escola definido, e então vivemos experimentando. Já pensou um médico viver experimentando como suturar um machucado, ou um engenheiro construindo pontes segundo suas próprias convicções?

O professor P2 também cursou a graduação em Matemática, na época da pesquisa, mestrando em Educação. Leciona para o Ensino Fundamental e Médio. Tem habilidades e competências para utilizar a informática, conhece tanto a parte dos hardwares como instalação dos softwares.

Ser professor para P2 significa:

Quando eu era estudante no Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), achava que ser professor era sinônimo de sabedoria. Olhava e escutava meus professores e os admirava, pois a imagem que me transmitiam era de realização pessoal, de prazer em explicar as coisas, de perguntar sobre tudo e de fazer a gente querer saber responder. Eram, sem dúvida, mais que os meus pais eram, no sentido de saber científico e dos conhecimentos sobre a política, conjuntura social do país e do mundo. Eram brilhantes. Eu queria ser igual a eles quando crescesse. Simbolizavam o meu ideal de pessoa, de homem (no sentido mais amplo do termo). Segui me sentindo e pensando assim durante o Ensino Médio e até, poderia dizer, sedimentando essa ideia dentro de mim. No Ensino Superior - licenciatura, claro - não só já trabalhava como

professor, mas, principalmente, já me sentia parte daqueles sapienciais. Quando me formei e comecei a trabalhar, eu os imitava, eu tinha a possibilidade de fazer por outros aquilo que fizeram por mim e fiz, graças a Deus, enquanto a sociedade e seus valores ainda não haviam sucumbido às mídias destruidoras de humanismo. Assim, de uns anos para cá, ser professor passou a ser sinônimo do que não ser para quem deseja ter uma vida digna, sem empréstimos, parcelamentos, aluguéis, enfim, para quem deseja ter algo seu, conquistado. Algo tangível, não interior e enlevado como boa reputação, título etc. Agora, aquele ser sapiencial, quase divino, que eu sonhava ser não passa de um arlequim travestido de gente, com sonhos e otimismo como fonte de incentivo à continuação da tarefa escolhida para viver, esperando ganancioso e afobado pelo dia da aposentadoria, para que possa, nem que por desejo íntimo ou realização de uma fantasia, nas páginas de um conto ou prosa personificar aquele professor que me ensinou a explicar, a perguntar, estimular, estudar, querer ser homem, ter família, prosperar e descansar tranquilo, realizado e feliz!

O professor P3 possui graduação em Informática e Matemática. Leciona para o Ensino Fundamental. Na época da pesquisa, cursava o Mestrado em Educação, trabalha em projetos com o uso do computador no Colégio, aborda os temas de Educação Matemática e de informática educativa. Tem interesse nos estudos do grupo, no qual desenvolve seus trabalhos.

Ser professor para P3 significa:

As funções de professor hoje consistem em cumprir tarefas bastante complexas. Ao professor cabe o compromisso de ensinar de forma que os alunos aprendam com interesse e, ao mesmo tempo, sintam o desejo de continuar aprendendo. Para o despertar do interesse, o professor pode lançar mão de estratégias que fazem parte da realidade do aluno, como partir de situações de seu contexto, utilizar recursos como os jogos e as tecnologias. Porém, o professor deve saber utilizar tais recursos em estratégias que, realmente, promovam a aprendizagem. Tudo isso, representa desafios ao professor que, através da sua disciplina, deve preparar os alunos para os desafios que enfrentarão em seu cotidiano.

O professor P4 cursou Matemática e concluiu Mestrado em Educação. Leciona para o Ensino Fundamental e Médio. Desenvolve projetos com as tecnologias de informática e comunicação, atualmente, trabalha com o software GeoGebra.

O professor é um profissional, que entrelaça seus conhecimentos teóricos, tanto os específicos quanto os didáticos, acrescentando a eles seus saberes psicológicos e conhecimentos práticos de sua própria história de vida. É um ser capaz de educar, ou pelo menos deveria ter essa capacidade, no sentido pleno da palavra, capaz de estimular os seus aprendizes, dando sempre esperança, mostrando a importância da vida, aprender e compartilhar para saber mais. Ser professor é compreender o outro, saber escutar e falar na mesma perspectiva dele. Ser professor é aprender a cada dia, mais e mais, evoluir como pessoa e como profissional. Um ser humano que tem suas dificuldades e limitações, mas, sobretudo exemplo para seus alunos em honestidade, compromisso, moral e ético.

O professor P5, graduado em Matemática, cursa o Mestrado em Educação e leciona para o Ensino Fundamental. Não havia experimentado nenhuma aplicação com o recurso do computador antes de trabalhar nesta escola.

Ser professor para P5 significa:

Para mim, ser professor, atualmente, significa se envolver com o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Tal envolvimento, na minha opinião, exige do professor uma ação mais dinâmica. Ele precisa estar sempre atualizado com o universo dos alunos. Neste aspecto, as ferramentas tecnológicas têm uma participação bastante ativa. Por isso, o professor precisa trocar experiências, reforçar seus conhecimentos e saber se posicionar de maneira flexível. Sendo importante entender que o professor, hoje, não é apenas aquele que “transmite” o conhecimento, mas sim um “gestor” e um “condutor” (não sei bem se estas são as palavras mais adequadas) do conhecimento de seus alunos. Imagino que ele precisa saber onde o aluno “está”, para “chegar” até ele e, aí sim, intervir e conduzir o conhecimento deste. Quero destacar que me refiro a conhecimento como aquilo que o aluno pode ou efetivamente diz a respeito de determinado assunto.

O professor P6, formado em Matemática, cursa pós-graduação, especialização em Estatística e leciona para o Ensino Fundamental e Médio. Utiliza o software GeoGebra em seu módulo de geometria dinâmica, aprendeu esse recurso com o Grupo de Trabalho.

Ser professor para P6 significa:

Ser professor é uma profissão que exige muita dedicação, nos dias de hoje, precisamos ser criativos o tempo todo, para que os alunos tenham mais interesse nas aulas.

O professor P7 é formado em Matemática e mestre em Educação. Leciona para o Ensino Fundamental e Médio e possui experiência profissional, tanto na área da informática, com os aplicativos do Word, quanto da Matemática.

Ser professor para P7 significa:

Em primeiro lugar, é uma profissão - trabalho. No entanto, atuar como professor significa promover algum tipo de aprendizagem no meu aluno. Essa aprendizagem vai desde os conteúdos matemáticos até tomada de decisão, escolhas, posturas, convívio em grupo [...] Sem florear muito, o meu pensamento vai muito, no seguinte sentido: quando ingressei na faculdade a escolha foi em função da afinidade com a área de exatas, mas, quando entrei na sala de aula como docente, senti prazer no que passei a vivenciar - de certo modo, o poder de mudar, modificar a vida das pessoas, com perspectivas de coisas melhores. Julgo importantíssimo que a profissão que exerço me proporcione satisfação, pois passamos boa parte de nosso tempo trabalhando. Outra coisa é pensar em algo novo sempre que possível, para não cair na mesmice e desmotivação - deixando de ter satisfação no que faço.

O professor P8, formado em Educação Artística, mestrando em Educação, leciona para o Ensino Técnico Integrado de Nível Médio no Instituto Federal Sudeste Câmpus Juiz de Fora/MG. Trabalha com a geometria plana, utilizando em suas aulas o recurso do computador, assim se propôs a participar do Grupo de Trabalho e estudar, compreender e aplicar o software GeoGebra em suas atividades de aula.

Ser professor para P8 significa:

Professor, esta atividade tem me surpreendido! Quando saí da escola, levei comigo muitos ensinamentos de meus professores, muitos deles tão significativos e outros nem tanto. [...] É por viver uma trajetória de 15 anos trabalhando como professor que hoje posso confirmar que ser professor é uma postura de quem pretende reunir o conhecimento adquirido, as referências de seus professores, as experiências relacionadas com a vivência de trabalho e, acima de tudo, a vontade de transmitir o que conheço e aprendo de novo de maneira interessante e motivadora para que os alunos entendam e, mais ainda, procurem aprimorar por conta própria a partir da própria consciência assim formada. Acreditando que este caminho é permanente, como professor, sinto a necessidade de me atualizar para estar junto aos alunos e manter a percepção de seus gostos e necessidades, além de atualizar os conhecimentos e estar em franca sintonia com os colegas de profissão. Além disso, considero que o professor deve ser um educador que é capaz de orientar os alunos por meio da disciplina, bons hábitos, cidadania e

companheirismo, para que a construção do conhecimento de seus alunos seja algo espontâneo e prazeroso, fique consolidada e seja a referência para a busca de uma formação constante. Ser professor, para mim, é ter o prazer de ensinar e a satisfação de conhecer seus alunos cada vez melhor na sociedade como profissionais e como pessoas.

Nesses relatos, deparamos com professores com motivação para fazer o aluno aprender, porém desmotivados com o trabalho árduo de ensinar, nas condições de sua profissão, com a pressão sofrida e acumulada durante os anos e com a desvalorização do seu exercício pelo sistema político e pela sociedade. Os seus comentários demonstraram que são todos comprometidos, sérios e adaptados em relação à Educação, ao mesmo tempo são favoráveis às mudanças no sistema educacional, visto que desejam avançar, desenvolver-se como profissionais.

Esses professores revelam trajetórias de vida diferenciadas no tempo (pelas diferentes épocas vividas) e também no espaço (pelos diferentes locais e caminhos percorridos). No entanto, apresentam como ponto em comum o interesse na aprendizagem dos alunos com o recurso do computador e o estímulo pelas novidades, a disposição para estudar.

Reconhecemos em seus relatos que possuem experiências como docentes, são profissionais engajados em aprender a aprender, que hoje se reúnem e, quem sabe, possam se encontrar por meio do processo dialógico. Não acreditam em uma mudança radical, mas não se desanimam, pois estão comprometidos com o “agora” e, com isso, preocupam-se em fazer o seu trabalho da melhor forma possível, com competência e com pesquisas.