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Estudo da expressão oral

No documento Neuropsicologia - Roger Gil.pdf (páginas 46-52)

Esse estudo é baseado na escuta da linguagem espontânea, na repetição de palavras ou de frases, na denom inação de objetos e imagens.

□ O v o lu m e v e r b a l

li E le pode ser logorréico, adaptado ou reduzido, o que perm ite confrontar j as afasias fluidas ou “flu en tes” com as afasias “ não flu en tes” ou “red u zi­

O U T P U T oral e e s c rito f lN P U T AUDITIVO l das palavras. Form as visu a is das palavras

D

y f IN P U T VISUAL ''j ^ I das palavras I AREAS DE CODIFICAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES DE CATEGORIAS PRÉ-LEXICAIS PORTAS TR AN S M O D A IS D E ACESSO AO RECONHECIMENTO 11(|. 2.5 a. In te r p r e ta ç ã o d o m o d e lo p r o p o s to p o r M e s u la m , r e p r e s e n ta ç ã o o s q u e m a tiz a d a d a e v o c a ç ã o le x ic a l e d a c o m p r e e n s ã o d a s p a la v r a s o u v id a s e lid a s (B ra in . 1998; 7 2 7 :1 0 1 3 -1 0 5 2 ).

A s p o rta s tra n s m o d a is d e a c e s s o (ou c o n e x õ e s tra n s m o d a is ) nã o são im p e c ific a m e n te de n e n h u m a m o d a lid a d e s e n s o ria l. E la s p e rm ite m a c o n v e rg ê n c ia d e in fo rm a ç õ e s m u ltim o d a is , e a g ru p a m o s d iv e rs o s u n g ra m a s p e rc e p tiv o s e e m o c io n a is , d e s e m p e n h a n d o um p a p e l c rític o na re u n iã o d o s c o n h e c im e n to s s e m â n tic o s .

A s á re a s de c o d ific a ç ã o d a s re p re s e n ta ç õ e s d e c a te g o ria s p ré -le x ic a is ou á re a s le x ic a is in te rm e d iá ria s d e s e m p e n h a m um p a p e l c e n tra l n a d e ­ n o m in a ç ã o d a s c o re s , d o s a n im a is , d o s o b je to s , d a s fe rra m e n ta s e do s v o rb o s d e a çã o . A a n o m ia “d a c a te g o ria ” , q u e re s u lta de u m a le s ã o d e s- ■ is á re a s , p e rm a n e c e “p u ra ” se as z o n a s d e c o n v e rg ê n c ia m u ltim o d a l tm tíve r in ta cta : e s s a d is s o c ia ç ã o e n tre o s a b e r le x ic a l e o s a b e r c o n c e itu a i p o d e s e r c o n s id e ra d a c o m o s e n d o a b a se a n a tô m ic a da s e p a ra ç ã o do p o n s a m e n to e d a lin g u a g e m . A i; fo rm a s d a s p a la v ra s o u v id a s e lid a s s ã o c o d ific a d a s n a s á re a s im lm o d a is q u e e n tra m em c o n e x ã o c o m a á re a de W e rn ic k e q u e ag e c o m o u m a á re a d a d e c o d ific a ç ã o e d a c o d ific a ç ã o fo n o ló g ic a . A í en tã o , p o d o m s e r e s ta b e le c id o s os v ín c u lo s c o m as z o n a s tra n s m o d a is de c o n - v o rg ê n c ia , q u e c o n s tro e m o a c e s s o a o s e n tid o . D a m e s m a fo rm a , os c o n h e c im e n to s s e m â n tic o s p o d e m a tiv a r “ in te rn a m e n te " a s re p re - n n n ta ç õ e s d e c a te g o ria s p ré -le x ic a is . A á re a d e W e rn ic k e p e rm ite , en - tno, lig a r os a s p e c to s p e rc e p tiv o s d a fo rm a d a s p a la v ra s c o m a s r e d e s • n r . o c ia tiv a s d is trib u íd a s , q u e p e rm ite m o a c e s s o ao s e n tid o .

Ai. lo s õ e s s itu a d a s na p a rte s u p e rio r d a á re a de W e rn ic k e p ro v o c a m u m a ale xia p u ra no ca so de ha ver u m a d e s c o n e x ã o en tre o in p u t visu a l da s I m lnvras e as fo rm a s visu ais da palavra, ou e n tre as fo rm a s v isu a is d a s p a ­ la v ra s e a á re a d e W e rn ic k e . U m a d e s c o n e x ã o e n tre o in p u t a u d itiv o d a s I m ln v ra s e s u a s fo rm a s a u d itiv a s , ou e n tre as fo rm a s a u d itiv a s d a s p a la - virm o a á re a d e W e rn ic k e , p ro v o c a u m a s u rd e z v e rb a l.

36 A s a fa s ia s

m inante situadas atrás d a fissura de R olando, sendo que as segundas estão, em geral, ligadas às lesões situadas na frente da fissu ra de R olando. Os afásicos logorréicos têm um discurso abundante e fluido, mas pouco ou nada com preensível pelo exam inador, e realizando um jargão. A redução d a linguagem pode, em caso extrem o, ser um a suspensão da linguagem ; às vezes, a linguagem reduz-se a algum as sílabas ou palavras incansavelm en­ te repetidas (“realejo ”) e em itidas de m odo in v o lu n tário por ocasião de q u alq u er tentativa de verbalização: são cham adas de e ste re ó tip o síN o s casos m édios, é necessário estim ular o sujeito, para se o b ter algum as te n ­ tativas de verbalização. A redução da linguagem pode co ex istir com um jo rro de frases que, geralm ente, são frases de polidez ou frases pré-fa- bricadas: é a dissociação autom atico-voluntária que perm ite com parar a linguagem autom ática com a linguagem construída, proposicional.

A lém da prosódia em ocional gerenciada pelo hem isfério m enor (consultar capítulo 17), existe um a prosódia lingüística que caracteriza o ritmo, o tim ­ bre e a inflexão da voz. As aprosodias observadas no afásico m ostram um a substituição do sotaque habitual do paciente por um sotaque do tipo “estran­ geiro” que, às vezes, podem os qualificar com o germ ânico ou anglo-saxão: assim , um falar lento, sílaba por sílaba, com a supressão dos grupos não consonânticos. e ultilização de consoantes^urdas, dá à voz um pseudo-sota- que germ ânico|(“fiom -í/ia doutor" é 4tâb: assim: “Pom.. tia...TôTo... o ...”).

U m a tendência a pronunciar aíjjjeám a vogal com dois sons diferentes na m esm a sílaba, dá um pseydo-sotaque britânico ( “Eu estou doente” é dito

□ A d e s in t e g r a ç ã o fo n é tic a

f

D esignado com o nom e de anartria, afemia, afasia m otora ou realização fo n em á tic a, o term o sín d ro m e d e d e sin te g ra çã o fo n ética, c ria d e -p o r '"Alíijmujnine, agrupa os distúrbios de expressão oral relacionados às dificul­

dades de realização fonética tanto na em issão quanto no encadeam ento dos fonem as. O falar, globalm ente reduzido, é lento, silabado, entrecortado. As palavras são contraídas; alguns fonemas são suprim idos e outros repetidos, o que causa um a “redução de contrastes” ; as consoantes surdas são mais usa­ das do que as consoantes sonoras, os grupos não consonânticos são suprim i­ dos} (espetáculo: pe... tá...cu...lo...; chapéu: a...péu). Esses distúrbios, que não deixam de lem brar a linguagem infantil, podem ser analisados com a prova de repetição das palavras ou de frases (como espetáculo; espevitado; constituição; esse grande ferrolho enferrujado, vou desenferrujá-lo; ele fo i

o pintor dos príncipes e o príncipe dos pintores...) Os distúrbios im plicam

diversos aspectos diversam ente associados em cada doente: <j

um aspecto p ara lític o com in su fic iê n c ia de ar traqueal e fraq u eza dticulatória.

/

□ A a p r o s o d ia

como “Éêu sôóu doêante ). As aprosodias são, em geral, observadas nas afasias de Brocí

A s a fa sia s 37

um aspecto distônico com m ovim entos articulatórios excessivos, desm edi­ dos, sincinésicos.

- um aspecto apráxico com desorganização dos gestos necessários à elocução, englobado num distúrbio m aior da gesticulação do rosto e da boca que deno­ minamos apraxia bucofacial e que é possível identificar pedindo ao sujeito que assobie, que sopre, que m ostre os dentes, que estale a língua, que faça b e ic in h o ^ /

/

A sfndrom e de desintegração fonética, na m aioria das vezes, está associada nos outros sinais de um a afasia de Broca. Tam bém pode haver um a anartria (com preservação da/escrita e ausência de qualquer sinal de afasia) quando há lesão lim itada da parte opercular do terceiro giro frontal, de todo o opérculo frontal ou da substância branca do braço anterior da cápsula inter­ na, o que rem ete ao quadrilátero de Pierre M arie: essas anartrias tam bém são cham adas de afem ia ou qualificadas de “disartrias” na literatura anglo- saxônica.

11 D is tú r b io s d a d e n o m in a ç ã o

• F alta d a p a la v ra

í Isso pode ser observado na linguagem espontânea e é especialm ente eviden­ ciado na prova de denom inação, traduzindo-se ou pela im possibilidade de nomear, ou por um a definição pelo uso (faca -> para cortar), ou pela produ­ ção de fórm ulas de circunlocução, às vezes acom panhadas de aproxim ações sinoním icas e integradas em condutas de aproxim açãoí(“.../;>ara... eh... segu­

ramos assim no prato; para a carne... cortamos...").)A falta da palavra é

observada em todos os tipos de afasiaj. Q uando é isolada, cham am os de afasia am nésica. O esboço oral (ou “chave” fonêm ica) pode ter ou não um efeito íncilitador: o fato de dizer a^primeira sílaba da palavra pode fazer surgir a palavra desejada; por vezes, a façilitação não leva nenhum a resposta ou leva a um a resposta errada, que pode ser um palavra que com ece com a m esm a sílaba e até um a palavra que não contenha a sílaba pronunciada. Assim , tanto nu denom inação, com ou sem façilitação, com o na linguagem espontânea, podem os acrescentar à falta da palavra, um a outra produção que não a pala­ vra esperada: essa é a definição de parafasia.

• As p a ra fa sia s

As parafasias podem ser objeto de um a classificação inspirada na análise estrutural da linguagem (Fig. 2.5b).

As parafasias fonêmicas ou literais realizam distorções de palavras que não

cMAo relacionadas às dificuldades da realização fonética e sim com o distúrbio iln disposição fonética por omissão, por adjunção, por inversão e por desloca­ mento de fonemas^(locomotiva —> colotomiva; termômetro —> terbômetro, ter-

illônetro; crepom —> cresom, crasom). As vezes, na linguagem espontânea e

mi conversa, o exam inador consegue detectar a palavra-alvo, pelo parentesco lonológico e pelo contexto; no entanto, quando a estrutura da palavra é mui-

38 ,4s a fa s ia s

Parafasia Parafasia verbal

fo n ê m ica (a) morfológica 1 > boleta 1 > canaleta 2 > gapo 4---

V

--- > 2 > garfo PALAVRA-ALVO

denom inar na figura (exemplo 1: borboleta; 2: gato)

i

F ig . 2 .5 b C la s s ific a ç ã o d a s p a r a fa s ia s .

A ; p a ra fa s ia s q u e re s u lta m de u m a d e s o rd e m d a s e g u n d a a rtic u la ç ã o da lin g u a g e m .

B: p a ra fa s ia s qu e re s u lta m d e u m a d e s o rd e m d a p rim e ira a rtic u la ç ã o da lin g u a g e m . A c la s s ific a ç ã o d a s p a ra fa s ia s v e rb a is (s u b s titu iç õ e s le x ic a is ) s e m â n tic a s é a q u e foi p ro p o s ta p o r H. K re m in .

to m udada, o valor inform ativo se perde e, então, passam os a falar de neolo gismos. As parafasias fonêm icas correspondem à desorganização da segunda articulação da linguagem .

As parafasias verbais designam a substituição de um a palavra por outra pa

lavra do léxico. Podem ser:

\ parafasias verbais morfológicas (ou parafonias) quando a palavra está lo

nfeticamente próxim a da palavra-alvo (tulipa: talipe; constituição: constipa

ção; escala: escada; chicote: caixote), sendo que essa parafasia pode si-i

interpretada, a exem plo das parafasias fonêm icas, com o uma desordem cia segunda a rtic u la ç ã o ;\

■■- parafasias verbais semânticas quando a palavra tem um vínculo conceituai com a palavra desejada (mesa: cadeira; chave: ferro); elas podem ser inter­ pretadas com o um a desordem da prim eira articulação da linguagem , isto é, da escolha das palavras.

Segundo a classificação de K remin, as parafasias verbais sem ânticas podem mostrar dois tipos de relação com a palavra-al vo: classificatória e proposicional (Fig. 2.5b).

Certas parafasias verbais são de difícil classificação (borrão: potro), bem com o a gênese de neologism os m uito distantes da palavra-alvo (mantô: apur).

Pode acontecer que um pequeno número de parafasias verbais (palavras de

predileção) volte várias vezes ao discurso. Por ocasião de um a prova de de­

nom inação de objetos, o doente em ite parafasias verbais que são a retom ada de um a palavra anteriorm ente enunciada pelo sujeito ou pelo exam inador: trata-se então de perseverança ou de intoxicação pela palavra. A profusão das transform ações parafásicas pode chegar a um jargão com variações indi­ vidualizadas: jargão indiferenciado feito de um a seqüência de fonem as, ja r­ gão assem ântico feito de neologism os, jargão parafásico feito de parafasias verbais. Em todos os casos, o discurso é incoerente e é prova de um a “desin­ tegração... dos valores sem ânticos da linguagem ” .

A s a fa s ia s 39

i i D is tú r b io s d o m a n e jo d a g r a m á tic a e d a s in ta x e

() agramatismo caracteriza-se pela redução de m onem as gram aticais e em ­

prego de verbos no infinitivo resultando num a linguagem telegráfica (‘‘Nice: não!... três semanas... ao lado... cestos... eh, tem muita gente... cassino tam­ bém... no Natal... dèpois, antes também... mas, agora, minha mulher... antes llão... 6 anos agora. ”)

O agram atism o, tam bém cham ado de agram atism o expressivo, acom panha as afasias não fluentes.

A assintaxia é radicalm ente diferente e caracteriza-se pelo em prego de inúm e­

ras palavras gramaticais, mas não apropriadas, que são equivalentes às parafrasias semânticas ( “a estrada cuja eu vou"; “a criança que eu estendia um bombom

acabou p o r pegá-lo”). Além do mais, elas acom panham a linguagem parafásica

r são associadas a um a incapacidade de reconhecimento dos erros gram aticais i‘, por isso, recebem o nome de agramatismo impressivo.

I I * >n d is tú r b io s d a lin g u a g e m e s c r ita

• D istú rb io s d a le itu ra

A com preeensão da linguagem escrita é explorada nas provas de execução de ordens escritas e de correspondência entre textos e figuras. A leitura em voz ulUl perm ite avaliar as perturbações de transposições visuofonatórias. Se bem que seja raro que um texto lido com perfeição não seja com preendido, em eom pensaçâo, as perturbações da leitura não implicam, obrigatoriam ente, a existência de m aiores distúrbios da com preensão^

40 A s a fa s ia s

As alexias afásicas caracterizam -se pela produção d e paralexias que proce­ dem das mesmas transformações das palavras que as observadas nas parafasias. Elas acom panham a afasia de W ernicke e são associadas a um a agrafia. As paralexias fonêm icas e verbais morfológicas com distúrbios paralelos da es­ crita, reiteradas tentativas de autocorreção e um a boa qualidade da com pre­ ensão podem ser observadas nas afasias de condução. U m a alexia particular, dita anterior, pode acom panhar a afasia de Broca. Certas alexias “sem agrafia” , ou alexia pura, não são acom panhadas de nenhum outro distúrbio da lingua­ gem escrita. U m estudo dos diferentes tipos de alexia é apresentado no capí­ tulo 4.

• D istú rb io s d a escrita

As agrafias afásicas realizam distorsões da linguagem escrita que podem ser sobrepostas às desordens da produção verbal, tanto no plano quantitativo (afasias fluentes vs afasias não fluentes) quanto no qualitativo, com a produ­ ção de paragrafias e, até mesmo, de uma jargonagrafia. A exemplo das alexias, tam bém existem as agrafias puras. Um estudo dos diferentes tipos de agrafias é apresentado no capítulo 3.

• D istú rb io s do cálculo

As afasias podem ser acom panhadas por distúrbios do cálculo. Eles são ana­ lisados no capítulo 6.

F o r m a s c lín ic a s d a s a fa s ia s

A m ultiplicidade das classificações das afasias estim ula a m anter a dicotomia clássica, entre as afasias de Broca e as afasias de W ernicke, com o centro dc gravidade.

A afasia de W ernicke e as outras afasias, sem um a perturbação

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