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3 – O estudo do comportamento humano

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Segundo BOCK; FURTADO; TEIXEIRA (2000), o estudo do comportamento se deu no início do século XIX com o norte-americano John B. Watson, em 1913, quando apresentou um artigo cujo título era “Psicologia como os behavioristas a vêem” criando um movimento que recebeu, então, o nome de behaviorismo (o termo behavior em inglês significa comportamento). Na época, a Psicologia dedicava-se ao estudo da alma e das impressões pessoais de suas próprias vivências. Então, Watson, propôs observar única e exclusivamente as reações de um homem ou um animal, frente a um estímulo exercido naquele instante.

Para os behavioristas, a palavra comportamento designava as reações vitais externas do organismo, em resposta a um estímulo e observáveis por outras pessoas. A Psicologia seria, então, o estudo das relações entre o estímulo e a resposta (S – R).(ENCICLOPÉDIA BARSA, 1990, v. 5, p. 432).

Ou seja, o behaviorismo só considerava os comportamentos dados em resposta a um acontecimento, ocorrido no meio ambiente ou face a um estímulo específico. Nesta concepção, exclui-se quase completamente a existência de acontecimentos ou de variáveis que sejam intermediários entre o estímulo e a resposta, e que não possam ser reduzidos às relações simples que se pode observar entre eles.

Contudo, a concepção de Watson demonstrou ser demasiadamente estreita e hoje é tida como superada por suas limitações, pois dentro dela não há lugar para o organismo; sabe- se, ainda, que a reação face a um estímulo, não é sempre idêntica.

No avançar dos estudos, a concepção behaviorista foi substituída por outras, nas quais se procurou representar, sob a forma de modelos, o que se passa no interior dos indivíduos através do estudo dos comportamentos, observados em condições determinadas (durante o relacionamento on line, por exemplo), partindo-se para uma concepção cognitivista.

De acordo com BOCK; FURTADO; TEIXEIRA (2000), surgem os neobehavioristas que consideram o comportamento como o estudo das reações a um estímulo e dependentes do estado do organismo (S – O – R). No centro desta nova abordagem, aparece uma dificuldade: como distinguir as reações do comportamento, ditas psíquicas, das reações fisiológicas.

O comportamento foi definido, então, como o “conjunto de normas extremamente complexas de reações ou respostas de um organismo aos estímulos recebidos do seu meio. Skinner definiu o comportamento como ‘o movimento de um organismo ou de suas partes num sistema de coordenadas fornecido pelo organismo em questão ou por distintos objetos externos ou CAMPOS de força.’” (CABRAL; NICK, 1997, p. 63).

Comportamento também pode ser considerado como o conjunto de ações de um indivíduo observáveis objetivamente. Maneira de ser, de agir ou de reagir dos seres humanos.

Todo comportamento possui um determinante que seria uma variável que apresenta relação causal com o comportamento. Segundo CABRAL; NICK (1997) distinguem-se os seguintes determinantes: indicadores (estímulos ambientes e estados fisiológicos), imanentes (propósitos obviamente definidos), capacidades (ou aptidões) e os ajustamentos do comportamento.

Para CABRAL; NICK (1997)

(...) em termos estritos, não existe comportamento que seja unicamente adquirido, todo o comportamento depende de fatores hereditários e adquiridos através da experiência. Portanto, a qualificação de comportamento inato ou adquirido só pode referir-se às diferenças registradas entre um e outro. Se essas diferenças forem atribuídas primordialmente à hereditariedade, o comportamento será inato, se essas diferenças forem atribuídas primordialmente à experiência , o comportamento será adquirido. (p. 65-6).

Se o behaviorismo considerava o comportamento como objeto de conhecimento, hoje o comportamento é considerado como uma manifestação objetiva de atividades internas, que são em si mesmas inobserváveis publicamente e cujas testemunhas são subjetivas e duvidáveis.

Atualmente os psicólogos dão um sentido mais amplo ao termo comportamento, incluindo tanto as reações globais do organismo como as maneiras de agir. O termo comportamento é usado, então, para designar uma forma de agir, uma atitude, enquanto esta tem uma significação dentro de uma situação. Esta reação é compreendida, enquanto considerada como uma resposta a uma situação, enquanto manifesta a intencionalidade do sujeito num ambiente.

Tais questões sócio-psicológicas, propostas no passado, segundo ZAJONC (1974), eram concernentes à natureza moral da interdependência humana, ou ao controle e manipulação do comportamento humano.

A partir daí, o comportamento passa a ser visto, segundo LANE (1995) como toda e qualquer ação, seja a reflexa ou os atos considerados conscientes que envolvem experiências, conhecimentos, pensamentos e ações intencionais e até inconscientes.

Esse comportamento a que se refere, deve ser um ‘portar-se humano’, não mais num ambiente restrito, mas constituído da situcionalidade da vida humana. O interesse está voltado à postura do homem situado-no- mundo-com-os-homens com quem vive e participa. Isto porque ser-com-os-outros, ‘portar-se’ diante dos outros e com os outros dá-se sempre numa continuidade e indica uma companhia indispensável ao ser humano. Junta-se a esse ‘portar-se’ o prefixo com, para indicar essa continuidade e companhia, e daí o termo ‘comportar-se’ ou ‘comportamento’, nesse último caso, para indicar uma continuidade na ação do portar-se.

Através desta visão, considera-se, segundo RODRIGUES (1998) que,

o nosso comportamento é pautado por normas sociais, as quais se desenvolvem em decorrência da interação entre indivíduos e da necessidade de estabelecer-se uma situação tal que a proporção de gratificações experimentadas pelos participantes seja de forma a resultar em benefícios para todos (p.314).

Isto porque, desde o primeiro momento de vida, o indivíduo está inserido num contexto histórico que segue um modelo que se desenvolveu e que é considerado correto. Dentro deste contexto, existem normas e/ou leis que institucionalizam aqueles comportamentos que, historicamente, vêm garantindo a criação e manutenção de grupos sociais.

Pode-se considerar, portanto, baseado em TELES (1993), que o modo de ser do homem e seu desenvolvimento não podem ser ignorados, pois o orientam no sentido de seu comportamento. Este, por sua vez, deverá estar de acordo com a sociedade a que o indivíduo pertence para que este possa conviver com os outros, numa sociedade que já encontra ao nascer, dotada de uma complexidade de valores, filosofias, religiões, línguas e tecnologia.

E o fato do homem não viver isoladamente mas, ao contrário, de estar em constante interação com seus familiares, amigos, inimigos, enfim, com a circunstância de ser social, não podendo prescindir do relacionamento com o outro, faz com que seu pensamento e seu comportamento sejam afetados por esta realidade.

Desta forma, é muito difícil encontrar comportamentos humanos que não envolvam componentes sociais. Segundo LANE (1995), esta é uma relação essencial entre o indivíduo e a sociedade e que é entendida historicamente: desde como seus membros se organizam para

garantir a própria sobrevivência, seus costumes, valores e instituições necessários à continuidade desta sociedade.

De modo bastante elementar, o comportamento humano poderia ser explicado dessa forma, porém, o sujeito vai reagir ao mundo conforme ele percebe os estímulos. E o processo de desenvolvimento torna-se, na verdade, de ajustamento. Além de atender a uma série de necessidades internas, o indivíduo também deve se adaptar e atender às imposições e limitações do ambiente, tanto social quanto físico. Sob este parâmetro, TELES (1993) afirma que o objetivo de todo comportamento seria, dentro deste contexto, a aquisição de um repertório de respostas que permita ao indivíduo harmonizar as duas tendências (pessoal e social).

Quando o homem nasce, ele encontra um ambiente formado por grupos, costumes e crenças existentes aos qua is ele deverá procurar ajustar-se; isto significa que deverá aprender formas de comportamento que lhe permitam adaptar-se às exigências internas e externas impostas.

Contudo, esta adaptação nem sempre é tão simples, pois todos os seres humanos têm necessidades que os levam a agir em busca de satisfação ou redução de tensão. A maioria das necessidades são aprendidas no convívio social, pois o homem não tem apenas as necessidades fisiológicas como também a necessidade de afeto, de contato, de aprender, assim como de prestígio, aprovação etc. Ou seja, de acordo com TELES (1993), além dos comportamentos inatos e próprios dos seres humanos, também presume as necessidades, emoções básicas, mecanismos de resposta, capacidade de percepção, potencial intelectual, processos sensórios, memória, temperamento os quais contribuem para a formação do modo de ser de cada indivíduo, adquiridas ao longo de sua existência.

Assim, na sua passagem pelo mundo, o indivíduo irá se adaptando, desenvolvendo e modificando o próprio comportamento inato. E neste mundo, que implica numa série de regras, limitações e conceitos através dos quais a pessoa tenta preservar a individualidade, a sociedade tenta impor seus conceitos e padrões,

(...) o processo de ajustamento será fundamental para a existência e na adaptação às exigências de seu organismo e do meio ambiente. Muitas vezes, entretanto, reações que se apresentam como úteis, em determinado momento, para a redução de tensão excessiva, podem ser perigosas para o ajustamento geral do indiv íduo. (TELES, 1993, p. 30).

Mesmo assim, segundo KLINEBERG (1972), nem todos os indivíduos reagem analogamente às influências do meio social: alguns podem aceitá- las prontamente, enquanto

outros resistirão. Isto significa que, embora de fato a cultura forme e modele a personalidade, o indivíduo tem um efeito sobre seu meio cultural e social. Não é um simples recipiente passivo, mas um organismo reagente e interagente.

Mas, como afirma RODRIGUES (1998),

(...) se uma pessoa se comporta da maneira que é socialmente esperada, pouco se poderá saber acerca das reais disposições subjacentes àquele comportamento. (...) Quando uma pessoa contraria as normas sociais, o seu comportamento torna-se mais facilmente interpretado pelos observadores (p.314).

Desta forma, de acordo com LANE (1995), o indivíduo pode fazer todas as variações que quiser, para que sua adaptação seja facilitada, mas isto, desde que as características do seu papel, que são essenciais à sociedade, sejam mantidas.

Por isso que boa parte das frustrações são de origem social devido às regras sociais estarem, muitas vezes, em contradição com os impulsos e necessidades da pessoa. Segundo TELES (1993), o indivíduo tentará afirmar-se, mas encontrará conflitos cada vez que contrariar as determinações do grupo social. A princípio terá dificuldade em lidar com tais frustrações. Mas com o tempo, aumentará sua capacidade e ele aprenderá formas conciliatórias.

De qualquer maneira, é difícil viver sem frustrações. Contudo, baseado em TELES (1993), a frustração crônica pode ter efeitos bastante prejudiciais, pois todo indivíduo tem determinado nível de tolerância à frustração e sempre que ela ultrapassa este nível, seu comportamento é desorganizado e sua saúde física é abalada.

O indivíduo também poderá buscar outras formas de agir para combater frustrações de cunho social: a busca por novas formas de integração em grupos com os quais ele se identifica e, uma dessas formas, seria a utilização da comunicação mediada por computador.

A partir de autores como RODRIGUES (1998), sabe-se que uma das necessidades sociais humanas é a de pertencer a algum grupo com o qual a pessoa se identifica, ou seja, as pessoas se associam umas às outras pela simples consciência de que a associação a outros satisfaz certas necessidades básicas, além de ser um tipo de interação; é através dos grupos formados na interação que a pessoa afirma e molda seu comportamento.

A associação a outros seria, para o autor, “(...) uma resultante da necessidade de isto ocorrer para saciação de certos anseios. A associação a outros, teria, pois, um caráter meramente instrumental de saciador de necessidades ou desejos não passíveis de satisfação a não ser através do comportamento gregário” (RODRIGUES, 1998, p. 348).

Existem várias razões para explicar porque os indivíduos se associam. Algumas são generalistas, fontes de observação mas que não são consideradas com tanto valor. Algumas delas foram apresentadas por McDougall em 1908 (apud RODRIGUES, 1998): as pessoas se associam a outras por instinto; as pessoas se associam a outras por aprendizagem; as pessoas se associam a outras em virtude de tendências inatas que acarretam a busca de outras pessoas.

Entretanto, há explicações específicas e bastante satisfatórias, segundo RODRIGUES (1998). Segundo elas: as pessoas procuram associar-se a outras porque as outras lhes permitem saciar a sua necessidade de avaliar suas habilidades e opiniões; as pessoas procuram associar-se a outras quando em estado de ansiedade.

Quando se observam situações em que o comportamento de uma pessoa é influenciado pelo de outra ou de outras sem, entretanto, influenciar o comportamento destas últimas, trata- se de uma dependência comportamental. Existe também o que é chamado por RODRIGUES (1998) de interdependência comportamental que se refere à interação entre duas pessoas, na qual os membros da interação têm que emitir comportamentos de acomodação mútua.

Uma reunião de indivíduos, de acordo com CASTELLAN (1987), forma um grupo na medida em que os membros aceitam uma tarefa comum, tornam-se interdependentes no desempenho e interagem uns com os outros a fim de promover sua realização. O grupo natural se caracteriza pela amplidão e intimidade das inter-relações, assim como pelo seu caráter de dado absoluto para o indivíduo.

Segundo CASTELLAN (1987),

(...) três critérios fazem, de uma reunião de indivíduos, um grupo: a tarefa comum, a interdependência funcional e a interação psicológica. Estas são as condições absolutas do grupo, que permitem marcar a diferença com uma multidão por exemplo, que tem poucas finalidades e que não é estruturada, ou com uma reunião, que tem uma intenção, mas que não é em nada estruturada (p.107).

A estrutura que compõe os grupos, nos quais o indivíduo se integra, forma, segundo TELES (1993), a estrutura de sua personalidade que é a base de suas manifestações e de seu comportamento. Dentro daqueles grupos, o indivíduo recebe valores que são uma formulação do desejável e dos padrões de comportamento, que influenciam a sua ação.

Para LANE (1995),

(...) o viver em grupos permite o confronto entre as pessoas e cada um vai construindo o seu ‘eu’ neste processo de intervenção, através de constatações de diferenças e semelhanças entre nós e outros. É neste processo que

desenvolvemos a individualidade, a nossa identidade social e a consciência de si mesmo. (p.16)

Os grupos sociais, segundo RODRIGUES (2002), possuem características próprias, independentemente da soma das partes que os integram. Daí a necessidade de estudar-se a dinâmica que emerge da interação entre os membros do grupo. Pequenas modificações nos elementos integrantes do grupo podem afetar essa dinâmica, fazendo com que o grupo apresente características diferentes. Para o autor, os grupos possuem normas que são padrões de comportamento partilhados por seus membros. A existência dessas normas facilita a vida em grupo e sua coesão. Membros que não se conformam às normas do grupo tendem a abandoná- lo ou a serem dele expelidos pelos demais membros.

Continuando, CASTELLAN (1987) afirma que

(...) na medida em que o indivíduo faz parte de um grupo fechado e a um somente, quer dizer, nas sociedades primitivas, ela não pode deixar de ser exata. Nas sociedades complexas onde os círculos se mesclam, onde a escola intervém cedo, onde a mobilidade social é grande, é difícil dar conta de todas as influências seguidas pelo indivíduo e a análise perde uma grande parte de sua exatidão. (p.85).

Assim, o relacionamento interpessoal dá ensejo à manifestação de um grande número de fenômenos psicológicos, tais como atração interpessoal, relacionamentos íntimos, agressão, altruísmo, cooperação, competição, formação de grupos, percepção de pessoas, influência social, conformismo, formação de atitudes, estereótipos, preconceitos e mesmo a uma forma de pensamento que decorre da presença dos outros, ou da antecipação de contato com outras pessoas.

De acordo com ZAJONC (1974), interação social é a dependência mútua e recíproca do comportamento de indivíduos. Não envolve, primordialmente, interdependência motivacional. A interação social abrange todas essas três formas em quantidades variáveis dependendo da situação.

Sobre a interatividade de acordo com SEMERENE (1999),

(...) não haveria mais um receptor, mas um operador desejante que participaria ativamente do processo, interferido no prosseguimento do programa. Daria -se não só uma troca de estímulos, de informações, de um usuário poder opinar sobre o que o outro está escrevendo, mas a possibilidade persuasiva. (p.35).

A memória do indivíduo só existe na medida em que este é um produto, provavelmente único, de determinada intersecção de grupos. Os grupos sociais constroem as suas próprias imagens do mundo, estabelecendo uma versão acordada do passado ao sublinhar que estas versões se estabelecem graças à comunicação, não por via de recordações pessoais. Na verdade, de acordo com SILVA (2002),as recordações pessoais e até o processo cognitivo de recordar contém, em sua origem, muito de social.

A partir do surgimento de novas oportunidades de interação, apresenta-se uma nova oportunidade, de comunicação, aparentemente segura e sem conflitos, enquanto que, no mundo real, os conflitos se multiplicam e a insegurança se instala.

As novas tecnologias dão a cada pessoa a possibilidade de construir o próprio mundo de referência, de encontrar as pessoas que realmente interessam, estejam onde estiverem, de aprender e ensinar sobre aquilo que realmente procuram, esteja onde estiver esse dado e de aprender e ensinar sobre aquilo que realmente querem que faça parte da sua vida.

Segundo TURKLE (1997), uma vasta gama de grupos virtuais, desde MUDs (Multi-

user dungeons and dragons) a painéis de notícias informatizados, permitem às pessoas gerar experiências, relações, identidades e locais de habitação que surgem apenas graças à interação com a tecnologia.

LÉVY (1997) afirma que se trata de um novo tipo de organização socio-técnica em que a identidade sofre uma expansão do eu, baseada na diluição da corporeidade, ou seja, o que se perde em corpo, ganha-se em rapidez e capacidade de disseminar o eu no espaço- tempo. Geram-se os grupos virtuais que são sustentados pela sua partilha intelectual e na riqueza de conhecimentos que emanam dos sujeitos. Surgem novos excluídos, novas formas de cooperação, de afetividade, de intimidade, de sociabilidade que potencializam a emergência de sujeitos coletivos.

Se antes a preocupação era o estudo do comportamento dentro de laboratórios, atualmente os questionamentos voltam-se ao indivíduo em sociedade e como ele está construindo sua identidade a partir das novas tecnologias de comunicação, principalmente a comunicação mediada por computador.

De acordo com SILVA (2002), este novo espaço, com áreas de privacidade, é um suporte aos processos cognitivos, sociais e afetivos, os quais efetuam a transmutação da Rede de tecnologia etetrônica e telecomunicações em espaço social, povoado por seres que (re)constróem as suas identidades e os seus laços sociais nesse novo contexto comunicacional. Geram uma teia de novas socialidades, suscitando novos valores. Estes, por sua vez, reforçam as novas socialidades.

Para NICOLACI-DA-COSTA (2002), as amizades não são mais necessariamente locais. As pessoas não são mais abordadas por serem bonitas, por se vestirem bem ou exibirem sinais de riqueza. As aparências e o dinheiro tornaram-se pouco importantes, pelo menos para um contato inicial. Os primeiros estágios da comunicação tornaram-se anônimos e “afísicos”. As pessoas se aproximam umas das outras por conta do que seus nicknames (apelidos utilizados em salas de bate-papo virtual), ou por conta de que conseguem expressar de si mesmas por escrito (mesmo quando criam um personagem imaginário), o que será visto, de forma mais aprofundada, no terceiro capítulo.

CUNHA (1999) coloca que a violência urbana gera angústia e sensação de impotência, produzindo uma forma de enclausuramento. É uma hipótese, para explicar parte do comportamento afetivo e sexual na atualidade. Em outra época, a violência urbana surgia como possibilidade de moldar indivíduos, acovardados diante do mundo e, a médio e longo prazo, gerar o afastamento social dos indivíduos e a conseqüente redução das trocas humanas, o que pode culminar em uma clausura dentro do próprio apartamento.

O isolamento das pessoas justificados pelas condições sociais do mundo atual, acompanha outros autores além de CUNHA (1999), pois segundo LANE (1995), em sociedades capitalistas, a mediação da ideologia dominante se faz sentir nas relações sociais desempenhadas na família, na escola, e no trabalho, impedindo ou dificultando a criação de novas formas de relacionamento.

Fenômenos característicos das grandes cidades, a família ‘de uma pessoa’ é cada vez mais freqüente, marcada pela substituição do relacionamento familiar, pelas amizades e pela vida profissional. (...) Com as últimas crises econômicas e o aumento do desemprego, aconteceu uma reativação da família como núcleo de sustentação e de proteção. (...) Um dos solteiros típicos é aquele que se afasta da vida familiar e opta por uma vida social intensa. (PSI,

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