• Nenhum resultado encontrado

Perfil Psicológico do usuário da CMC

No documento Download/Open (páginas 61-79)

CAPÍTULO III – PERFIL DO USUÁRIO DA CMC

2. Perfil Psicológico do usuário da CMC

Segundo LEITÃO; NICOLACI DA COSTA (2003), muitos estudiosos do comportamento humano acham difícil acreditar que as tecnologias digitais, e principalmente a Internet, possam gerar mudanças na organização subjetiva de homens e mulheres contemporâneos. Paradoxalmente, estes pesquisadores reconhecem que a organização subjetiva, característica dos séculos XIX e XX, emergiu como resultado das mudanças comportamentais e de subjetividade desencadeadas pela Revolução Industrial.

De acordo com as autoras, exploram, principalmente, as conseqüências humanas de ambos eventos (Revolução Industrial e Revolução Tecnológica), procurando tornar claro que algumas tecnologias podem gerar profundas transformações subjetivas, cuja compreensão é fundamental para as ciências do comportamento.

De acordo com TERÊNCIO; SOARES (2003), a partir do final da década de 90, alguns pesquisadores têm focado sua atenção no comportamento dos internautas (usuários da Internet), e em sua conseqüência para o conceito de identidade. Suas pesquisas têm se concentrado no uso que os internautas fazem dos canais de comunicação online, mais conhecidos mundialmente, como os chats, os IRCs e os MUDs.

Segundo PRADO (1998), os primeiros estudos sobre comportamento na Internet foram feitos em 1996 por YOUNG na University of Pittsburgh at Braford e, posteriormente, por outros autores como THOMPSON e EGGER ambos em 1996 e BRENNER (APUD PRADO, 1998) em 1997.

MURRAY (apud TERÊNCIO; SOARES, 2003) afirma que o estudo dos efeitos da Internet sobre a identidade pessoal é ainda escasso, já que a maioria das pesquisas até o momento se concentrou nas qualidades atrativas da Rede, no seu uso patológico (net-

addiction) e nas suas influências sobre os relacionamentos. Mas os poucos estudos

comportamentais, iniciados nesta área, sugerem que a Internet pode servir como um espelho, até mesmo uma ferramenta, que ajuda as pessoas a buscarem a própria identidade.

Para GIUGLIANO (1999)

(...) uma característica básica de pesquisas que tocam em assuntos ainda pouco explorados, tais como as novas tecnologias em comunicação, é a radialidade das posições encontradas ao se mergulhar na literatura existente. Isso força o pesquisador a explicitar a visão de mundo a qual ele se filia e a tentar manter- se o mais coerente e fundamentado possível. (p.43).

Talvez isto ocorra porque, segundo LEITÃO; NICOLACI DA COSTA (2003), embora seja fácil detectar que as novas tecnologias têm o poder de alterar os hábitos e as formas de agir, é bem mais difícil registrar que algumas tecnologias também podem alterar radicalmente os modos de ser (como o indivíduo pensa, como percebe e organiza o mundo externo e interno, como se relaciona com os outros e com ele mesmo, como se sente etc.).

Com base na autora, a primeira constatação a que se chega, quando se examina o que já foi produzido sobre a Revolução da Internet, é a de que a história se repete. Tal como ocorreu antes, as novas formas de organização social (virtual e em Rede) e o novo espaço (imaginário, porém vivido como concreto) geraram (e ainda vêm gerando) alterações não somente nos comportamentos, mas também na constituição psíquica dos homens, mulheres e crianças dos nossos dias. E esses novos comportamentos vêm sendo relatados por todos aqueles que se dedicaram a estudar os impactos da Internet, em maior ou menor grau de profundidade.

Conforme o trabalho realizado por YOUNG (1996), os motivos mais citados pelos internautas pesquisados para acessar a Rede são a procura de relacionamentos sociais e afetivos e da satisfação sexual. A psicóloga norte-americana também concluiu que a principal atividade online é o bate-papo. Já NICOLACI-DA-COSTA (2002) afirma que o e-mail, e não os chats, são o recurso mais popular da Internet. Além disso, segundo a autora, com relação ao e-mail há um consenso: todos os usuários da Rede, sem exceção, usam- no regularmente e apreciam- no.

De qualquer forma, esta parte do estudo está voltada ao perfil do usuário da comunicação virtual, pois é sobre ela que se encontra a maioria das discussões no campo das Ciências Sociais e Humanas. Certamente ao falar do perfil do freqüentador de Chat, news

group ou apenas sobre uma pessoa que se corresponde via e-mail, implicitamente estão as

características do usuário da CMC, já que todos estes usuários são internautas.

É através da Internet, que novas possibilidades de interação se ampliaram ainda mais, pois a comunicação com esse instrumento, dá-se num contexto mundial. Tais possibilidades de comunicação crescem em ritmo acelerado, fazendo com que as pesquisas cujo objetivo é

descrever, de modo abrangente, as possibilidades deste novo processo de interação social, ganhem importância.

Segundo LÉVY (2000), o ciberespaço abriga milhares de grupos de discussão (os new

groups) que se classificam como uma das formas de interação online. O conjunto desses

fóruns eletrônicos permite atingir outras pessoas, não com base no nome, no endereço geográfico ou na filiação institucional, mas segundo um mapa semântico ou subjetivo dos centros de interesse. Para o autor, a comunicação interativa e coletiva é a principal atração do ciberespaço.

A interação mediada pela Internet, segundo CAMPOS (2000), vem fazendo parte da vida de um número cada vez maior de pessoas. Como foi visto no item anterior, a maioria dos freqüentadores da CMC é formada por adolescentes e jovens, mas também são encontrados entre eles pessoas de outras idades, fazendo com que o maior número de oportunidades, no campo do relacionamento humano, surja a partir desta tecnologia. Numa época em que a comunicação globalizou-se e o homem parece mais isolado em seu pequeno mundo interno, essa nova possibilidade de comunicação forneceu a muitos uma abertura para outras pessoas e culturas.

Deste modo, a comunicação virtual é conhecida como a manifestação que atrai um número crescente de usuários que conversam uns com os outros, sem poder sequer ouvir a voz. É uma verdadeira dimensão paralela com regras, leis, segredos e até uma linguagem própria.

Neste ambiente, segundo CHAGAS (1999), existem muitas barreiras disfarçadas: aparência física, estado civil, nível cultural, identidade sexual, desejos antes inconfessáveis, mas que atendem à necessidade do homem de ser muito mais que uma só pessoa no decorrer de sua vida.

Quaisquer sejam suas características, segundo GIUGLIANO (1999), o usuário da Internet é o homem contemporâneo e só poderia encontrar nele as características que esse sujeito possui na vida real.

Num momento em que as pessoas deparam-se com “doenças” (anorexia, depressão, síndrome do pânico, hipocondria) causadas por medos que abrangem, segundo CHAGAS (1999):

(...) o medo de ser rejeitado por não apresentar um físico de acordo com os ditames da moda, medo do contato sexual que pode trazer a contaminação pelo HIV, medo de morte a qualquer sintoma físico, medo de violência e outros. No fundo é o medo do outro e do sofrimento que o contato pode

provocar. Ao viver intensamente essa situação, a pessoa passa a evitar esse contato e isola -se (p.19).

E a partir daí, segundo o autor, evitam-se os riscos que esses medos apontam; a tecnologia passa a ampliar as possibilidades de comunicação e o homem, preocupado com os riscos da interação social, restringindo seu espaço de vida ao confinar-se nas “paredes das salas virtuais”. Por outro lado, as pessoas que entram na Rede são seres sociais que ali encontram ali um lugar onde satisfazer a necessidade de socialização, própria dos seres humanos. Isso acaba determinando a Rede como um espaço social.

Esse novo modo de socialização vem trazendo mudanças internas que são, aos poucos, observadas. Em um primeiro momento, quando detectadas sob a forma de novos comportamentos e/ou novos conflitos, tem-se a impressão de que apenas um ou outro aspecto da organização subjetiva, característica do individualismo, está sofrendo alguma transformação. Isso devido à falta de leituras da subjetividade que identifiquem a nova maneira de ser e de se comportar das pessoas, de modo a possibilitar a construção de outras teorias que interpretem a realidade e a organização subjetiva gerada pela utilização das NTICs (sobretudo da CMC).

Alguns pensam que a interação virtual é um distanciamento do real; outros que é fuga ou forma de isolamento. Realmente, é difícil conciliar as duas realidades paralelas. Do ponto de vista das relações sociais convencionais, o virtual é uma forma de isolamento. Mas há quem revide alegando que a CMC é uma nova forma de sociabilidade.

No caso dos e-mails, em uma pesquisa feita por NICOLACI-DA-COSTA (1998), algumas modificações foram verificadas desde o momento no qual seus colaboradores, que responderam os questionários online, além de não acentuarem, nem usarem cedilhas, escreveram textos econômicos, abreviações e ícones que retratam emoções de forma sintética. Também, não expressaram qualquer preocupação em corrigir erros.

Na concepção da autora, no caso do usuário brasileiro, acostumado a longas digressões e “rococós” estilísticos, isso também significa dizer "altere o estilo de escrever, e pensar, tipicamente nacional". Segundo NICOLACI-DA-COSTA (1998), não cabe julgar se isso é bom ou mau; cabe apenas registrar uma tendência À mudança. A autora acredita que seja melhor aceitar essa realidade porque as línguas sempre foram dinâmicas e não se pode proibir o cidadão comum de usar a terminologia que quiser na expressão da própria linguagem. Lembra que, talvez um dia, tal como o Latim, algumas línguas deixem de ser faladas.

Nos ambientes de bate papo virtual, em que os primeiros contatos são afísicos, as pessoas têm a possibilidade de se comunicar apenas mediadas pelo computador, e como não

se encontram presencialmente, muitos aproveitam para criar comportamentos virtuais e passam a representá-los durante o chat. Segundo CAMPOS (2000), podem ser criados comportamentos completamente diferentes dos usuais, ou apenas acrescentarem pequenas inverdades para tornar a história mais interessante.

VILLELA (apud NICOLACI-DA-COSTA, 2000), coloca a sua visão sobre os canais de

chat: segundo o autor, a Internet mostra um valioso atalho para o inexplorado interior do

comportamento das pessoas. Para abordá- las, não é preciso mais se arrumar, fazer pose, arriscar possíveis incômodos ou gafes - embora haja a possibilidade de “falsificar a identidade”. No ciberespaço o outro é conhecido, não pela sua aparência física, pelo que parece ser externamente, mas, ao contrário, pelo que assume ser em sua essência. A personalidade interior da pessoa, seu comportamento, a visão de mundo e particularidades, nesta inversão tecnomoderna, são mais evidenciadas do que o corpo físico. Ao contrário, portanto, da forma como as pessoas estão habituadas culturalmente, no mundo real, onde as aparências são tão valorizadas. A Internet apresenta uma nova e poderosa capacidade de explorar facilmente o comportamento do próximo, sem grandes riscos. E, conhecendo melhor a essência dos outros, o indivíduo estará também conhecendo um pouco mais de si mesmo.

De acordo com LANZARIM (2000), no mundo dos chats o internauta pode ser quem ele quiser. Ele tem a liberdade de criar uma personagem com características completamente adversas à sua, ou seja, pode colocar a “máscara que desejar”. A autora afirma que estar no mundo implica possuir máscaras: de filiação, de classe social, de raça e elas se sobrepõem, se enlaçam, se combinam e vão compondo o mosaico da existência.

Pela da comunicação virtual fica muito mais fácil preservar o ‘eu’, mostrar apenas o que se decide mostrar através das máscaras. No convívio, as pessoas vão mostrando como realmente são e isso pode trazer acontecer as desilusões.

A construção de personagens também pode ocorrer nas relações presenciais, mas a adoção de personagens no mundo virtual ocorre de outra natureza, uma vez que no ciberespaço o internauta tem total liberdade para construir a imagem com a qual deseja se apresentar, considerando as limitações do meio, já que a escrita é a única forma de apresentação da imagem.

Esta imagem poderá estar desvinculada da realidade do organismo. Isto é possível, graças à acorporeidade e a consciente intencionalidade na adoção da personagem, mesmo que as escolhas realizadas sejam determinadas por forças inconscientes (desejo não determinado pela vontade consciente do indivíduo).

Entretanto, na maioria dos casos, uma pessoa online é um paradoxo dela na vida real. A existência está baseada no texto e os aspectos de gênero, idade, raça entre outros, perdem sua importância, dado que todos os habitantes virtuais são criados iguais. Para ANDERSON (2002), parece que o espaço cibernético é todo um novo campo para a construção e transformação do ‘eu’, uma dimensão da vida na qual as pessoas podem assumir, facilmente, diferentes formas e aspectos para novos relacionamentos.

Concordando com esse raciocínio, MURRAY (apud TERÊNCIO; SOARES, 2003) considera a web como um lugar seguro para se tentar diferentes papéis. É um tipo de experimentação para o ‘eu’ que a pessoa deseja trazer à vida real.

Isso acontece porque, segundo TURKLE (1997), a Internet permite às pessoas explorarem facetas de sua personalidade que têm expressão limitada na vida presencial (offline), especialmente devido às restrições do contato social. As limitações colocadas pela sociedade ao comportamento individual parecem suspensas na vida online, o que estimula a auto-expressão livre, que, por sua vez, pode favorecer o desenvolvimento de uma nova identidade pessoal. Segundo a autora, a experiência da Internet une o conceito de identidade ao de multiplicidade, afirmando que cada sujeito é uma multiplicidade de partes, fragmentos e conexões.

Para Suler (2001), essa experimentação com a identidade ocorre devido à sensação de anonimato possibilitada pela Internet, que reduz a inibição tanto para comportamentos positivos (auto-conhecimento e a formação de vínculos saudáveis), quanto negativos (comportamentos agressivos, vício na Internet, perversões sexuais), ambos comportamentos a serem discutidos, com maior profundidade, no Capítulo 4.

Na primeira parte desta pesquisa, ao contextualizar os principais termos abordados, colocou-se, de maneira breve, como ocorre a interação social (tão necessária e indispensável na vida do ser humano), através de estudiosos da Psicologia Social. A partir daí, apontou-se que o homem nasce em uma sociedade já existente, com suas regras e papéis “pré- estabelecidos”, mas em transformação. Segundo a visão clássica sobre interatividade é, a partir daí, que o indivíduo vai se identificar com um determinado grupo social e construindo sua identidade.

O termo identidade é complexo, envolve áreas como a Psicologia, a Sociologia, Antropologia e Filosofia. A concepção mais clássica de identidade pessoal está relacionada ao conceito de personalidade (ligada ao termo perfil) e seria, de acordo com CHAPLIN (1981), uma “sensação de continuidade pessoal ao longo do tempo” (p.277).

A identidade pode ser definida, segundo LAURENTI; BARROS (2001), como sendo um conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma determinada pessoa. Este conceito, entretanto, está ligado às atividades da pessoa, à sua história de vida, aos sonhos, fantasias, características de personalidade e outras características relativas ao indivíduo.

Continuando com LAURENTI; BARROS (2001), a identidade permite que o indivíduo se perceba como sujeito único, toma ndo posse da sua realidade individual e, portanto, tendo consciência de si mesmo. Não é só o que a pessoa aparenta; ela agrupa várias idéias como a noção de permanência, de pontos que não mudam com o tempo. Algumas destas características imutáveis são o no me da pessoa, parentescos, nacionalidade, impressão digital e outras coisas que permitem a distinção de uma unidade.

Contudo, é importante deixar claro que, segundo CIAMPA (1994), “não é possível dissociar o estudo da identidade do indivíduo do da sociedade” (p.172). Pois as possibilidades de diferentes configurações da identidade estão relacionadas às diferentes configurações da ordem social.

Nessa perspectiva, a identidade pessoal é uma entidade que está ligada às relações sociais, pois ela depende do contínuo reconhecimento dos outros para se manter: “a identidade é aquilo que individualiza o sujeito, ao mesmo tempo que o socializa, é aquilo que o diferencia e que o torna um igual” (Vionalnte, 1985, p.146).

De acordo com essa abordagem psicossocial a identidade vai se transformando e se adaptando conforme as vivências do indivíduo; desta forma, a partir do momento em que a sociedade passa por intensas transformações, a identidade também será influenciada por elas, inclusive alguns autores abordam a questão da crise de identidade, a ser comentada no decorrer do capítulo. Além disso, não se pode falar de perfil sem considerar a identidade, pois aquele faz parte do conjunto que forma esta última.

Para confirmar tais colocações, CIAMPA (1994) afirma que a identidade de todo e qualquer indivíduo está em constante transformação, ou seja, é uma produção constante e aberta para o futuro. Desta forma, a partir das modificações na forma de relacionamento, a construção da identidade também é afetada.

A partir desse pensamento, a identidade de cada pessoa ou grupo pode ser considerada como uma resultante de composições criadas pela várias influências que existem na sociedade. De acordo com essa visão, o sujeito nunca pode ser pensado fora da relação de alteridade, sem se considerar o "outro", já que a identidade se constrói na relação com este "outro" que, segundo CIAMPA (1994), pode ser a família, o grupo de amigos, o grupo de professores ou as mensagens dos diferentes meios de comunicação, inclusive da CMC.

No entanto, ainda que a Internet e outros meios de comunicação tenham o poder de atingir a formação da identidade, este poder tem limites, uma vez que a lógica da identidade como um suporte à individualização do ser humano é relativa e, a cada momento da história, transforma-se. A identidade não é um valor universal e histórico. Os indivíduos, no decorrer de suas vidas, vivendo e se fazendo na história, não são os mesmos. Cada um, de acordo com os laços afetivos, familiares, profissionais, sociais, culturais se recria e participa da recriação do mundo em que vive.

Nas sociedades tribais, por exemplo, a identidade era construída externamente, os papéis eram pré-determinados através de um sistema de mitos que orientava as pessoas, dando- lhes menos alternativas de construção autônoma, como afirma CIAMPA (1994). Num mundo governado por ritos, a identidade não era tão problematizada como é hoje.

Continuando com o autor, na Modernidade, com a crescente complexidade das sociedades, a identidade tornou-se móvel, múltipla, pessoal, auto-reflexiva e sujeita a mudanças. Embora tenha alguns traços mais ou menos fixados, a identidade passou a se relacionar com uma série de papéis e normas numa combinação de vários deles.

Sendo um processo, a identidade se define nas relações vividas no cotidiano, podendo- se dizer que sua construção ocorre à medida que a pessoa tem a possibilidade de se ver como uma pessoa que participa de um grupo com características próprias, que procura neste grupo uma identidade enquanto ser social, mas que, também, constrói sua individualidade como ser único. O processo de construção da identidade é, portanto, um processo social. À medida que cada um se liberta das projeções que os "outros" fazem sobre si próprio, a identidade se singulariza.

Na concepção psicossocial de identidade descrita por CIAMPA (1990), ela tem o caráter de metamorfose, ou seja, as mudanças ocorrem constantemente, o que, entretanto, não aparece. A aparência da identidade é de algo que não muda. A identidade, para a abordagem psicossocial, pressupõe a realidade social na qual o indivíduo está inserido. Revela uma condição de vida, estrutura familiar, religião e costumes da pessoa. No entanto, sabe-se quem é a pessoa, não apenas por sua definição, mas por suas atividades. Esta é a principal construção da identidade. Um ponto importante a ser considerado é que, ao fazer parte de diversas organizações, a ação é fragmentada. A pessoa é o que faz naquele momento, pelo comportamento assumido e em cada papel que é desempenhado. Cada atividade toma forma a partir de um personagem criado, nas diversas situações de nossas vidas. Identidade é, para a abordagem psicossocial, um movimento constante.

E é devido às intensas transformações nos contextos culturais das sociedades modernas que TERÊNCIO; SOARES (2003) afirmam, como outros autores, que há necessidade de uma reformulação do conceito de identidade pessoal. Segundo eles, uma “crise de identidade” está afetando o sujeito nas sociedades modernas a partir do final do século XX. Tais sociedades não mais fornecem embasamentos sólidos para a manutenção da idéia do ‘eu moderno’ como coerente e integrado.

NICOLACI-DA-COSTA (1999), tendo por base uma ampla pesquisa realizada com usuários brasileiros da Internet, primeiramente divulgada em 1998, identifica as principais características do que vê como o homem do século XXI. Um homem que, segundo ela, "pensa, age, sente, faz uso da linguagem, se relaciona consigo próprio e com os outros, percebe o mundo, etc. de forma diferente da de seus predecessores (incluindo ele próprio antes de a transformação acontecer)" (p. 173).

Ao observar o ambiente de relacionamento que se forma através do uso da CMC, verifica-se que ele não é apenas um passatempo, mas um “lugar” onde as pessoas, na tentativa de escaparem da violência e das doenças características da sociedade atual, acabam reformulando ou até construindo o que pode ser chamado de identidade do homem do século XXI.

A partir desse cenário, segundo CIAMPA (1994), não se pode isolar de um lado todo um conjunto de elementos (biológicos, psicológicos, sociais) que caracterizam um indivíduo,

No documento Download/Open (páginas 61-79)