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CAPÍTULO IV – ESTUDOS SOBRE SPIN-OFFS ACADÉMICAS

4.1. ESTUDOS GERAIS SOBRE SPIN-OFFS ACADÉMICAS

Tal como vimos no capítulo anterior, existe uma panóplia de definições mais ou menos abrangentes do conceito de spin-off académica. De uma forma mais geral, estas empresas são definidas como ”novas empresas criadas para explorar a Propriedade Intelectual desenvolvida pelas instituições académicas” (Shane, 2004: 4). Detectou-se que a maioria dos trabalhos de investigação generaliza o seu campo de investigação em abordagens baseadas nos recursos existentes à disposição das Universidades e das spin-offs.

Grande parte dos estudos sobre a matéria centralizam-se em compreender o fenómeno da criação de spin-offs na óptica das Universidades, comparando o fenómeno entre elas, tendo em consideração várias vertentes. Estes trabalhos de investigação preocupam-se, sobretudo, em realçar os factores que concorrem para que umas sejam mais bem- sucedidas que outras (DiGregorio e Shane, 2003; Klofsten e Jones-Evans, 2000).

Por outro lado a actividade empreendedora ao nível das spin-offs tem também outras vertentes de análise, nomeadamente o conflito de interesses entre os investigadores por um lado e os interesses comerciais dos promotores da empresa spin-offs por outro, que muitas vezes são divergentes e geradores de conflitos.

Desta forma, a Universidade também corre alguns riscos ao nível da manutenção da sua reputação. A imagem que cada instituição cultiva ao nível da sua capacidade de formação e prestígio é uma condição que poderá ser afectada com a criação de spin-offs que não sejam tão eficientes e tão produtivos no contexto empresarial.

Haverá interesse de todas as partes que todos os projectos empreendedores sejam bem sucedidos na sua criação e no seu desenvolvimento (Shane, 2004a; Slaughter e Rhoades, 2004).

Alguns trabalhos sobre o fenómeno da criação de spin-offs estão fragmentados e alguns adoptam uma forma mais teórica, debruçando-se na óptica das Universidades e identificando quais as que mais facilitam e fazem crescer este fenómeno (Powers e McDougall, 2005; Clarysse et al., 2004; Di Gregorio e Shane, 2003).

Pirnay et. al. (2003) desenvolveram estudos sobre a tipologia das spin-off académicas baseados em dois critérios fundamentais: o estatuto dos indivíduos envolvidos e a natureza da transferência de conhecimento. Estes critérios estão agrupados em quatro categorias, onde o “status” individual é a base para a divisão do conceito em spin-offs académicas e spin-offs de estudantes.

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De acordo com o exposto, os estudos sobre a actividade de criação de empresas spin-off podem ser divididos em algumas categorias fundamentais. Os primeiros estudos sobre este assunto focalizavam a sua análise nas características pessoais dos investigadores/académicos que teriam impacto ao nível da sua capacidade empreendedora.

Ainda nesta linha de estudo, numa investigação mais recente tendo como base o MIT, Shane (2004a) analisou as características motivacionais, tais como o desejo de pôr em prática novas ideias e projectos tecnológicos, a vontade de obter sucesso e riqueza, e por último, o anseio do empreendedor de ser independente.Estes são factores denominados de “push” e “pull” que se apresentam como referência no comportamento dos indivíduos ao nível das spin-offs académicas.

Na segunda categoria de trabalhos de investigação, encontramos estudos sobre a influência das políticas e procedimentos das Universidades. Alguns estudos dão ênfase ao facto de uma política sensível e receptiva da Universidade afectar o modo como os académicos tentam explorar a Propriedade Intelectual.

Tendo em conta a política da Universidade, estes poderão optar por explorar o produto da sua investigação dentro ou fora da Universidade (Feldman et al., 2002; Degroof e Roberts, 2004).

Também neste âmbito, Clarke (1998), teve como base de suporte um estudo de cinco Universidades Europeias, onde procurou investigar a cultura empreendedora como um elemento gerador de sucesso na transferência de tecnologia das Universidades. Este estudo mostrou uma relação positiva ente a cultura empreendedora e a transferência de tecnologia.

Já Siegel et al. (2003) defendem que os responsáveis pelas Universidades devem primar pela promoção de um ambiente empreendedor dentro das instituições académicas focalizando-se em alguns factores organizacionais e de gestão.

São eles um sistema de recompensas para a transferência de tecnologia, a criação de OTIC e, em terceiro lugar, salienta-se a criação de uma rede de políticas flexíveis de forma a facilitar esta mesma transferência de tecnologia, acrescentando recursos adicionais de forma a eliminar as várias barreiras existentes que impedem o normal processo dessa transferência.

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Seguindo esta tendência, as Universidades têm vindo a assumir o compromisso de incentivar as actividades empreendedoras com origem na sua própria envolvente contextual e transaccional.

Tendem igualmente a descentralizar as estruturas activas de forma a criar uma maior autonomia junto dos investigadores e, por último, estão a assumir a responsabilidade de possuir no seu interior, um conjunto de profissionais altamente qualificados, com experiência no contexto empresarial (Debackere e Veugelers, 2005).

Uma terceira corrente de estudos empíricos sobre spin-offs investiga os factores ambientais que envolvem as inovações académicas (Mowery et al., 2001).

As interacções entre Universidades e empresas apresentaram variações consideráveis ao longo do tempo e consoante os países onde ela ocorre. Existem dois conjuntos de razões que explicam a crescente importância desta relação, uma delas prende-se com a análise dos factores do lado das empresas e que foram identificados por Bell e Pavitt (1993). São destacados factores como o aumento dos lucros e a conservação e ampliação de posições mais vantajosas num mercado cada vez mais competitivo. Outras das razões que estes autores exploram é a necessidade de partilhar o custo e o risco das pesquisas associadas ao desenvolvimento de produtos e processos, com instituições que dispõem de suporte financeiro governamental, como é o caso das Universidades.

Estas instituições deparam-se com algumas dificuldades na obtenção de recursos para área de investigação. Se os resultados das investigações estiverem de alguma forma ligados com o sector, existe uma maior probabilidade de haver financiamento do sector privado, o que se torna numa relação recíproca entre ambas as partes.

Não obstante o referido anteriormente, também a comunidade que compõe o meio académico necessita de ver os seus resultados premiados e reconhecidos. Este facto funciona como meio de aproximação às empresas.

Segundo Etzkowitz e Webster (1991), os factores de recompensa também levaram as Universidades a incorporar as funções de investigação para o meio empresarial às suas já tradicionais actividades de ensino e investigação.

Além dos aspectos e contextos anteriores, bem como o factor das taxas de crescimento ao nível do emprego, crescimento dos lucros, fontes de financiamento e sobrevivência, existem também alguns estudos sobre o stock de patentes e sobre como a capacidade de

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registar e utilizar essas mesmas patentes aumenta de uma forma radical a probabilidade de sobrevivência destas empresas (Shane e Stuart, 2002).