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Capítulo III – SPIN-OFFS E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

3.5. SPIN-OFFS ACADÉMICAS – CONTEXTUALIZAÇÃO INTERNACIONAL

De forma a perceber a evolução das empresas nascidas das Universidades nacionais, torna-se relevante perceber como os mecanismos de transferência de tecnologia e a criação de spin-offs académicas têm evoluído ao longo dos anos no contexto internacional.

No contexto norte-americano, a criação e valorização das spin-offs académicas viveu um aumento exponencial com a iniciativa legislativa denominada Bayh-Dole Act editada em 1980.

O grande progresso do Bayh-Dole Act foi permitir à Universidade reter os direitos de propriedade intelectual sobre o resultado de pesquisas desenvolvidas com recursos

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estatais.6 Até ali, era o Estado o proprietário dos resultados advindos dessas pesquisas.

Todavia, começou-se a ter a percepção que, desta forma, o conhecimento gerado não era adequadamente transferido para o sector empresarial, e consequentemente não se transformava num produto comercializável o que impedia a sociedade americana de ter acesso a esses benefícios. Com esta iniciativa, foi aberta uma ampla discussão no sentido de reverter essa situação.

Como já foi referido anteriormente, o Bayh-Dole Act deu o direito às Universidades de reter os direitos de propriedade intelectual sobre os resultados das investigações e conjuntamente descentralizou decisões, propiciando uma maior disseminação do conhecimento e estimulando a sua transferência para as empresas. Este foi o primeiro passo para o incentivo à colaboração entre as Universidades e as empresas, reconhecendo a força que comunidade académica exerce na produção do conhecimento e o dinamismo da indústria na transformação desse conhecimento em produtos e serviços com utilidade comercial.

A par destas importantes alterações a nível dos EUA, na Europa não existia legislação nos vários países que conduzisse a um processo semelhante de estimulação da transferência de tecnologia. O licenciamento era a forma dominante de comercialização da tecnologia com base nas Universidades (Shane, 2004).

Só a partir da segunda metade dos anos 90, o meio académico e empresarial europeu tomou consciência que as parcerias para transferência de tecnologia e conhecimento poderiam ser vantajosas para ambas as partes.

Este primeiro impacto deu-se nos EUA com a emergência de projectos inovadores e tecnologicamente avançados como o Sillicon Valley ou o Route 128,7 tendo como instituições promotoras a Universidade de Stanford no primeiro caso, e o MIT no segundo.

Da criação destes clusters tecnológicos nasceram vários artigos que foram publicados e chegaram ao conhecimento de outras Universidades e Instituições Públicas sobre as novas empresas com potencial de alta tecnologia que emergiam deste contexto. Este foi o primeiro passo para o crescimento do fenómeno do empreendedorismo académico na

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Esta lei veio permitir aos investigadores universitários reclamarem a propriedade intelectual de invenções com origem em pesquisas patrocinadas por fundos federais, bem como facilitar o seu acesso às patentes, através da redução das taxas exigidas para as obter. O objectivo desta lei era estimular a procura de patentes de base científica e a comercialização dos resultados da pesquisa universitária, por via dos potenciais benefícios associados à exploração, licenciamento ou alienação dos direitos de propriedade intelectual. (informação disponível em (www.iapmei.pt)

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É uma região na qual está situado um conjunto de empresasimplantadas a partir da década de 1950 com o objectivo de gerar inovações científicas e tecnológicas, destacando-se na produção de tecnologias/produtos na área da electrónica e informática.

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forma de spin-offs, e apresentou-se também como tema de interesse internacional à medida que foi ganhando importância e relevo no contexto mundial.

Dada a sua relevância muito autores basearam as suas pesquisas sobre spin-offs académicas tendo como base os vários países e alguns ainda expuseram as diferenças existentes entre as empresas spin-offs criadas na Europa e nos EUA (Chiesa e Piccaluga, 2000; Mustar, 1997; Surlemont e Pirnay, 2001; Degroof, 2004; Clarysse et al., 2000; OCDE, 1998).

Nestes estudos torna-se importante realçar as diferenças entre o número de spin-offs criados nos vários países da UE bem como as suas características e importância. Sem existir uma clara orientação e definição do processo de criação de spin-offs não é possível analisar devidamente os dados estatísticos existentes, levando a resultados completamente díspares (Clarysse et al, 2002).

Ainda no que diz respeito à evolução deste fenómeno nos vários países, é de destacar o trabalho de Chiesa e Piccaluga (2000), que ao agregar várias publicações sobre o tema, elaboraram um trabalho que ilustra a realidade sobre as spin-offs académicas em diversos países, oferecendo um panorama, ainda que aproximado, da evolução deste tipo de empreendedorismo.

Tabela 3 – Contexto de spin-offs académicas

Países Evolução da actividade spin-off

França

Evolução da criação de empresas do sector da alta tecnologia verificou-se a partir dos anos 80. Cerca de 1/3 das empresas foram criadas por investigadores do sector público até 1994.

Factores de sucesso: Forte rede de contactos e parcerias com a envolvente transaccional e contextual.

Suécia A maioria das spin-offs académicas tem origem apenas num indivíduo e apenas 1/3 não conta na sua composição com pessoas pertencentes à Universidade.

Escócia

Existem muitas spin-offs, mas poucas assumem grande expressividade e sucesso. As motivações gerais prendem-se com a continuação das investigações e não com objectivos comerciais. As Universidades apoiam este tipo de iniciativas mais por questões relacionadas com financiamento ou com motivações pessoais/empreendedoras.

Holanda

A criação de spin-offs verificou-se a partir dos anos 70. Existe alguma tradição na criação destas empresas e até à década de 2000 os empregos altamente qualificados eram privilegiados.

Estados Unidos

A criação de empresas spin-off é mais estruturada e dinâmica do que na UE. O envolvimento e a eficácia nas relações Universidade - Empresas são crescentes e mais significativa. Exemplo do referido é o MIT (criação de 4000 spin-offs até 1997)

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Neste país o sucesso das spin-offs está relacionado com dois factores fundamentais: possibilidade de utilização dos recursos da Universidade e estado dos produtos criados quando a empresa se estabelece. Também as motivações dos investigadores são factores que influenciam a actividade e sucesso das empresas criadas, logo o crescimento é moderado assim como a assumpção de riscos.

Fonte: Chiesa & Piccaluga (2000)

Tendo em consideração que a evolução das spin-offs académicas nos vários países da União Europeia (UE) e nos próprios EUA tem sido bastante diferente, bem como a diversa visibilidade e importância que cada país lhe confere, é então difícil encontrar dados concretos de evolução da criação de empresas spin-off para os vários países. Este facto torna igualmente difícil estabelecer comparações pela forma como cada país define e encara este tipo de empreendedorismo académico. Contudo, com alguns dados de estudo levada a cabo pela OCDE, tornou-se possível apresentar um panorama evolutivo de comparação da actividade spin-off em alguns países (Callan, 2000).

Verificou-se que alguns países não tinham registo de mais de uma dezena de spin-offs por ano ou até um ou dois spin-offs anuais em Instituições Públicas, como é o caso da Bélgica ou da Finlândia.

Os casos de sucesso recaem nos países que assistem a algumas centenas de spin-offs criados por anos. Os EUA apresentam-se como o país mais bem-sucedido devido à sua intensa relação entre Universidades e as empresas de base tecnológica como se pode observar na tabela 4.

É possível igualmente verificar algumas diferenças pertinentes entre os países mencionados. A Alemanha aparece como um dos países que mais tem gerado este tipo de empresas, juntamente com os EUA, o Canadá e a França. Na década de 90 continua a manter-se esta tendência no entanto, destaca-se aqui a Noruega, país que gerou 41 spin-

offs anuais de 1996 a 1998, assistindo-se a um crescimento acentuado e a uma maior

posição de destaque.

Com este estudo, foi possível concluir que estamos perante uma grande diversidade na actividade spin-off entre os países da OCDE. A investigação apresentada é um pouco limitada porque apenas responderam alguns dos países, nomeadamente aqueles que apresentam mais relevância e que mais fomentam este tipo de empreendedorismo.

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Tabela 4– Resumo da comparação de spin-offs entre países da OCDE Países Instituições Nº spin-offs

acumulado Período Nº Spin-offs anuais Período Austrália Todas 138 1971-99 10 1991-99 Bélgica Todas 66 1979-99 4 1990-99 Canadá Universidades 746 1962-99 47 1990-98 França Todas 387 1984-98 14 1992-98 Finlandia Laboratórios Públicos 66 1985-99 4.5 1990-99 Alemanha a) Laboratórios Públicos 462 1990-97 58 1990-97 Alemanha b) Universidades 2 800 1990-95 467 1990-95 Noruega Laboratórios Públicos 122 1996-98 41 1996-98

Reino Unido Universidades 171 1984-98 15 1990-97

AUTM (EUA) Universidades 1 995 1980-98 281 1994-97

AUTM inclui universidades e hospitais de investigação. O número acumulado é referente só aos EUA, o número por ano refere-se às Instituições dos EUA e Canadá.

Fonte: Callan, OCDE, 2000.