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Estudos realizados com andarilhos de 4 pontas 56

Capítulo 2 – Estado de Arte 7

2.2. Marcha Assistida 42

2.2.3. Benefícios e Riscos dos andarilhos 51

2.2.3.2 Estudos realizados com andarilhos de 4 pontas 56

O andarilho de 4 pontas é frequentemente utilizado para pacientes com fratura do quadril ou com problemas neurológicos ou músculo-esqueléticos, providenciando suporte mecânico e estabilidade. Contudo, este andarilho apresenta algumas desvantagens, como uma marcha lenta e não natural. Para além das vantagens e desvantagens que este dispositivo apresenta, o seu design não sofreu alterações desde há alguns anos, sendo este um ponto a considerar, uma correta adaptação do andarilho às necessidades do paciente. Nesta revisão, foram consi- derados 11 artigos, os quais se focam, essencialmente, em 5 temáticas, sendo estas as alte- rações da marcha, o efeito da altura do andarilho, efeitos e exigências dos membros superio- res e inferiores, controlo postural e a atividade muscular. A descrição mais detalhada destes artigos encontra-se no Anexo A.1, na tabela A.2. Globalmente, todos os artigos apresentados focaram-se no estudo da influência do andarilho de 4 pontas no padrão de marcha adquirido e na saúde dos utilizadores.

Smidt et al (1980) procedeu à descrição da marcha através de parâmetros temporais, comparando a marcha livre com a marcha assistida de forma a discutir problemas clínicos e modificações que o andarilho possa introduzir. Para este estudo foram selecionados 25 jovens saudáveis com uma idade média de 22 anos. De modo a detetar os parâmetros pretendidos, foi utilizado um sistema automatizado para a análise da marcha com acelerómetros triaxiais, switches sensíveis à pressão colocados no pé, uma unidade de amplificação do sinal, um computador e tiras de fita métrica ao longo do percurso, para determinar as medidas passo- distância. Os participantes tiveram que se deslocar à velocidade normal, moderada, lenta e muita lenta. Para cada uma destas condições utilizaram uma bengala, muletas, andarilho de 4 pontas ou sem nenhum dispositivo, repetindo 2 vezes cada condição. Para os parâmetros cal- culados determinaram a média e o desvio-padrão. Finalizado o estudo, os autores concluíram que a razão fase de balanço/tempo e fase de apoio/tempo são simétricas e, por outro lado, o comprimento do passo é assimétrico, acelerações verticais são desproporcionalmente eleva- das, o tempo de duplo apoio e o tempo de passo são assimétricos e, por fim, há uma redução da velocidade aquando da utilização do andarilho de 4 pontas comparativamente à em mar-

Já os autores Deathe et al (1996) focaram-se no estudo da relação entre a estabilidade e a altura do andarilho durante a ambulação. Para tal, utilizaram um sistema de Telemetria, footswitches, que providenciavam os períodos de fase de balanço e de apoio dos membros inferiores e extensómetros colocados em cada pé do andarilho, para monitorização da força aplicada verticalmente no dispositivo. Os testes consistiam em caminhar durante 30 s com diferentes alturas do andarilho – normal, 3 cm acima e abaixo do normal. Para a realização deste estudo, foram selecionadas 11 pessoas com uma idade média de 64.5 anos, as quais sofreram uma amputação unilateral e, necessariamente, eram dependentes da utilização do andarilho. Neste estudo, os autores revelaram que a altura do andarilho não influencia a dura- ção da passada, a altura mais baixa do dispositivo alivia a carga aplicada sobre a perna proté- sica, os pacientes com limitações nos membros superiores requerem o andarilho mais alto e a altura mais baixa aumenta a exigência sobre este membros e, por fim, a altura do andarilho e o aumento das forças horizontais aplicadas sobre o andarilho podem gerar alguma instabilida- de (Deathe et al. 1996).

Em relação aos artigos que se dedicaram ao estudo da avaliação das forças aplicadas no andarilho, de uma maneira geral, concluíram que o andarilho de 4 pontas é um dispositivo estável e que este consegue suportar forças elevadas, considerando suporte vertical. Desta forma, consegue-se reduzir a carga aplicada sobre os membros inferiores, uma vez que o an- darilho suporta grande parte do peso corporal, mas por outro lado, os membros superiores podem ser prejudicados, uma vez que a carga é suportada por estes membros (Melis et al. 1999; Deathe et al. 1996; Ishikura 2001; Bachschmidt et al. 2001; Mcquade et al. 2011). Os autores Mcquade et al (2011) focaram-se na descrição da cinemática das articulações, forças, momentos do pulso, cotovelo e ombro. Para tal utilizaram um sistema de análise da marcha 3D com 3 câmaras infravermelhas e 2 transdutores extensómetros, colocados no suporte de mão do andarilho. Os participantes, 20 pessoas com uma idade média de 67 anos que sofre- ram uma cirurgia para substituição do joelho ou do quadril, tiveram que caminhar 10 passos a uma velocidade normal com o andarilho e com um padrão de marcha de 3 pontos. A análise estatística foi realizada por aplicação do método ANOVA e o teste Tukey. A conclusão que ob- tiveram foi que 20 % do peso do corpo é aplicado em cada articulação dos membros superio- res e que o aumento da carga no cotovelo, provoca uma maior exigência ao nível dos múscu- los extensores do cotovelo e do ombro (Mcquade et al. 2011).

Em relação ao controlo postural do utilizador num andarilho de 4 pontas, Bateni et al (2004) realizaram um estudo de forma a analisar a potencialidade dos andarilhos e das ben- galas para interferir ou restringir os movimentos laterais dos pés e, consequentemente, impe- dir a realização dos passos compensatórios, em resposta a uma perturbação lateral. De forma a atingir o fim pretendido, utilizaram uma plataforma movível controlada por um computador, onde se aplicavam perturbações posturais aos participantes, estes por sua vez, usavam um cinto por questões de segurança, 5 câmaras de vídeo e o andarilho e a bengala dispunham de células de carga, para determinar as forças axiais aplicadas. O teste consistia em estar na pla- taforma com o dispositivo e as pessoas tinham que pressionar o dispositivo para baixo, com uma força constante. As perturbações eram ativadas quando a carga correspondia a 5 % do peso corporal do valor desejado. Os testes decorreram segundo 5 condições diferentes, com andarilho, parte de cima do andarilho, bengala, parte de cima da bengala e sem dispositivo. Os participantes incluídos neste estudo eram saudáveis e ativos, com idades entre os 22 e os 27 anos, resultando num total de 10 pessoas. Por fim, os autores concluíram que o andarilho de 4 pontas proporciona estabilização biomecânica, através das forças de reação geradas pe- las mãos dos utilizadores, estas forças de reação previnem instabilidade e permitem a recupe- ração do equilíbrio, em situação de perturbação. Para além disso, demonstraram que estas forças eram maiores no andarilho do que na bengala, o que se traduz numa melhor capacida- de para a recuperação do equilíbrio do utilizador, sem a necessidade de recorrer a pequenos passos (stepping). Concluíram ainda que o andarilho de 4 pontas, em situações de perda de equilíbrio, pode impedir o movimento lateral das pernas e, consequentemente, impossibilitar as reações por passos compensatórios (stepping compensatory reactions)(Bateni et al. 2004) . Os autores Vennila et al (2011) também se debruçaram sobre o controlo postural e suge- rem que o andarilho pode ser um instrumento de bastante interesse para melhorar o controlo postural, nos casos em que a informação visual não existe ou está danificada (Vennila & Aruin 2011).

A última temática abordada entre os artigos selecionados, baseia-se na atividade muscular dos utilizadores do andarilho de 4 pontas. Ishikura (2011) estudou a força de suporte do peso e a sua variação ao longo da marcha. Em termos biomecânicos, explorou a possibilidade da aplicação de uma marcha com um suporte parcial do peso do corpo no andarilho e, ainda, a relação entre o ângulo de flexão do quadril e o nível de ativação muscular durante a marcha com o andarilho. Para a realização dos testes foram selecionados 30 jovens saudáveis com

uma idade média de 23 anos. Este estudo divide-se em 2 testes com diferentes focos. O pri- meiro utilizava uma plataforma de força, os participantes deslocavam-se com e sem andarilho e com diferentes ângulos de flexão do quadril, segundo um determinado padrão de marcha – joelhos estendidos e os membros superiores fletidos a 90º no cotovelo. Os participantes tive- ram que percorrer 10 m à sua velocidade normal. Para o segundo teste realizaram EMG – Eletromiografias – novamente para duas condições, com e sem dispositivo e com diferentes ângulos de flexão do quadril, conseguindo medir a força muscular durante 10 s. O autor verifi- cou que o andarilho consegue suportar grande percentagem do peso corporal do utilizador, permite uma redução da carga aplicada aos membros inferiores, provoca um aumento do ní- vel da atividade muscular que mantém ou até mesmo aumenta a força muscular e que o an- darilho pode ser utilizado para suportar apenas uma percentagem do peso corporal ao longo da marcha. Quanto aos riscos, demonstrou que há uma flexão exagerada do quadril, provo- cando uma redução do movimento desta articulação e uma alteração dos tecidos à volta da articulação (Ishikura 2001).

Os autores Andersen et al (2007) também se focaram no estudo do efeito da condição fí- sica. Os participantes foram classificados entre pessoas que caem e que pessoas que não caem e, ainda, por utilizadores de andarilhos ou não utilizadores. No total selecionaram 40 pessoas com uma idade média 86.8 anos. Realizaram alguns testes físicos aos participantes, questionários antes e depois de praticarem com o andarilho. Os questionários aplicados foram o Short Form-36 e um simples inquérito sobre quedas. Para a análise dos dados realizaram uma análise da covariância através do SPSS. Com esta abordagem, os autores concluíram que o andarilho afeta positivamente tanto os níveis de mobilidade como de fitness, por outro lado, provoca o enfraquecimento físico e da saúde no geral, podendo causar problemas fisio- lógicos e físicos.