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Eu e a Moda de Viola

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CAPÍTULO IV – LENDO AS MODAS

REI DO GADO

6. Eu e a Moda de Viola

Nem de longe se esgotam aqui as discussões possíveis sobre o assunto, mas acredito que ao longo destas páginas eu tenha mapeado e discutido as questões e os temas mais importantes em relação à observação e análise deste objeto ou do estudo da música em geral, com enfoque das ciências sociais. Contudo, mesmo tendo discutido alguns pontos à exaustão (tanto minha como do leitor), percebe-se que ainda existem muitos aspectos a ser explorados, se não por mim, por outros pesquisadores. Durante o processo percebi que muitos pontos poderiam ser aprofundados, mas me vi obrigado a deixá-los de lado, pelo menos por enquanto, sob o risco de perder o foco do trabalho. Além disso, o aprofundamento de muitas destas discussões exigiriam, até porque merecem, a inclusão de uma carga de leitura e de levantamentos de dados, de modo a comprometer o tempo e a energia, dedicados a outros pontos de igual importância. O mais árduo deste processo não foi o desenvolvimento das discussões que coloquei aqui, mas foi ter de abdicar de uma série de outras. Espero ter contribuído tanto nas discussões sobre música, como nas discussões sobre representações do rural, principalmente nos pontos em que estes enfoques se tocam ou onde apresentam interseções.

Já na introdução é possível perceber a existência de elementos que podem ser desenvolvidos em trabalhos ou produtos mais específicos. Entre estes destaco alguns. Em primeiro lugar, a ferramenta teórica denominada como critérios periféricos e fundamentais. Esta

forma de classificar o modo como se escuta a música e seus componentes sociais têm muitas limitações, mas neste trabalho me serviu principalmente nos momentos iniciais como meio de explicitar algumas idéias e pressupostos que guiaram meu olhar ao longo do processo. Além desta ferramenta, percebi que a discussão sobre a dinâmica, sobre as influências entre a indústria cultural e seu público consumidor, sob a luz das mudanças na própria música, deve ser discutida com maior propriedade, o que não me foi possível em função dos motivos que já coloquei.

No primeiro capítulo, percebo que as discussões sobre folclore, patrimônio e música e seus reflexos nas classificações utilizadas para o tipo de música que estudei e de uma forma geral, também merecem um aprofundamento maior, principalmente, em relação às perspectivas de Garcia Canclini e José Reginaldo Gonçalves, bem como a noção de autenticidade. Os desdobramentos desta discussão e um diálogo mais próximo com o trabalho de Elizete Ignácio dos Santos poderiam proporcionar novos elementos para a classificação da música localizada no fluído entre música caipira e sertanejo moderno. Apesar de não me propor nem querer apresentar mais uma classificação em meio àqueles que discutem este tipo de música, acredito que minhas reflexões poderiam contribuir também com esta discussão.

Em relação ao segundo capítulo, considerei positivo trazer o texto de Antônio Cândido (Literatura e sociedade) para este debate e promover o uso conjugado com Pierre Bourdieu (Regras da arte), que se mostrou um desafio e uma tarefa interessante do ponto de vista teórico. Contudo, esta ferramenta híbrida também é passível de um estudo mais aprofundado, de forma a se buscar um ajuste mais harmônico e, conseqüentemente, um uso mais integrado das perspectivas dos autores. Também reconheço as limitações das fontes que utilizei, contudo, todas serviram de modo satisfatório aos meus objetivos neste trabalho.

No terceiro capítulo, a utilização predominante de fontes secundárias e bibliográficas foi capaz de fornecer elementos para a realização do capítulo seguinte, mas para o emprego mais amplo deste material, percebo que será necessária a incorporação de mais dados. Em relação ao público esta característica é mais evidente. Apesar de o trabalho de Martins ter proporcionado dado material suficiente, é necessário um trabalho mais detalhado sobre a composição do público desta música, tanto da época que abordei como antes e depois.

Em relação ao quarto capítulo quero deixar claro que existem aspectos e indícios de representações que não foram explorados até o limite, pois exigiriam uma atenção mais específica com a inclusão de várias outras fontes bibliográficas. Mais uma vez julguei a contribuição que uma exploração mais aprofundada de tais aspectos propriciaria para o resultado final do trabalho e optei por me ater aos elementos mais relevantes, tendo em vista meus objetivos. O mesmo pode ser dito em relação aos aspectos apontados no início deste capítulo.

Encarei este processo de trabalho como uma jornada repleta de desafios pessoais e científicos (se é que eles podem ser dissociados), talvez por isso o tenha escrito na mesma ordem em que ele está organizado. Contrariando um sábio costume, não deixei a introdução para escrever depois do trabalho concluído. Agora que ao chegar à página final me voltam as perguntas do início, mas acredito que em nenhum momento o apreciador prejudicou o trabalho do cientista assim como o cientista, não interferiu sobre o prazer de ouvir as modas de viola. Para reiterar esta última afirmação, assim que terminar, eu vou ouvir uma das músicas que analisei, mas o resultado da experiência não será publicado aqui ou em outro lugar este vou guardar para mim.

Ao longo desta jornada também foi possível conhecer um pouco melhor o meu gosto por este tipo de música, se iniciei minha apreciação no rádio do meu pai, que o tempo já fez em pedaços, não foi só por isso que continuei a ouvir. Reconheço que as perspectivas folcloristas e modernistas (que há muito admiro) que atribuem valor à “cultura popular” e se preocupam com sua continuidade encontram eco dentro de mim, mas não acredito que a música caipira, que escapa à minha classificação, acabe tão fácil assim e tampouco a música sertaneja geral mais próxima da categoria caipira. Neste sentido, partilho da percepção de Canclini.

Enquanto escrevo sei que em algum lugar distante da capacidade de recepção da minha televisão e do meu rádio e dos megaeventos de música alguém deve estar tocando uma viola, de preferência uma moda.

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