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A evolução dos primeiros sistemas jurídicos religiosos dos gregos e romanos

Capítulo I. O Direito e seus rituais no berço da Religião

7. Direito e Religião na tradição Greco-Romana: A herança da tradição Itálico-Helênica arcaica

7.3. A evolução dos primeiros sistemas jurídicos religiosos dos gregos e romanos

Ainda na antiguidade não há que se falar em Direito greco-romano, mas de uma multiplicidade de direitos. Não havia uma unidade política e jurídica nas cidades antigas de Grécia e Roma. Cada cidade tinha o seu próprio Direito, tanto público quanto privado. Não havia leis aplicáveis a todos os gregos e romanos; em maior escala, apenas alguns costumes comuns.

Por meio do culto doméstico foram instituídas as primeiras leis, tais como as fúnebres, que deram margens às leis matrimoniais, em caso, as mulheres deviam abandonar-se por completo do culto de seus familiares e adotar por inteiro o culto dos mortos de seu marido. O casamento realizado entre duas famílias não estabelecia a união entre os seus deuses. O culto doméstico foi conjectura para a criação de leis de adoção para quem não tinha filhos, mas deveria ter quem lhes fizessem os sacrifícios mortuários. Também foi motivo de lei regularizar a propriedade com a vedação do lar. A vedação do lar era privativa e nunca estava ao alcance de olhos estranhos. O culto doméstico supunha lei do nascimento com a iniciação religiosa do culto da família.

Bem fundamentadas e estabelecidas pelas sociedades gregas e itálicas apareceu a religião doméstica, com a família, e o direito de propriedade. A ideia de propriedade privada estava intimamente atrelada à religião. Os deuses conferiam a cada família os seus direitos sobre a terra. Frise-se que eram os deuses domésticos, o lar e os antepassados. Na Grécia e em Roma era reconhecida e praticada integralmente as leis de propriedade privada gerida pelo culto doméstico.

Não eram as leis, mas a Religião que previamente dava garantia ao direito de propriedade. A lei mais tarde institui a garantia e eficácia dando a ideia do domicílio com o traçado que identificava o sinal irrecusável ao direito de posse.

A religião domestica derivou-se nas regras do direito de sucessão entre os antigos. Ela criou os vínculos culticos e estabeleceu regras sociais, inclusive em caso de esterilidade entre casais, ela instituiu ordenamento.

A religião doméstica foi importante dada a sua hereditariedade necessária e natural para a continuidade do culto. O pai não tinha necessidade de fazer testamento, o filho herdava de pleno direito. O filho era um herdeiro necessário, excluía-se da herança somente quando emancipado ou por não adotar o culto da família. Permitia-se a adoção para aqueles que não possuíssem herdeiros.

A religião doméstica, propiciou civilizações maiores. Constata-se que as primeiras civilizações nos registros das histórias greco-romana herdaram da época dos clãs. As comunidades clânicas, seguiram as aldeãs que assentaram-se na linha do parentesco por afinidade ou consangüinidade, sabendo que a linha por afinidade foi sempre legitimada pelo poder da religião com a lei da adoção, não obstante, o parentesco fixava-se também na afinidade pelos motivos do casamento.

O rei ou o chefe do clã era sempre o chefe de família, que era ao mesmo tempo juiz, sacerdote e presidente do culto da religião doméstica.

Na Odisseia de Homero confirma-se a descrição do sistema partidário da solidariedade ativa e passiva entre os membros de um clã. "O testemunho mais remoto da antiga cultura aristocrática helênica é Homero. [...] Para nós, ele é ao mesmo tempo a fonte histórica da vida daqueles dias" (JAEGER, 2013, p. 24).

Do ajuntamento das comunidades clânicas resultara-se a formação da cidade/polis sob a autonomia do chefe de um deles. Formavam-se várias cidades, com diversos representantes. As cidades experimentavam diversas formas políticas. "Umas permaneceram monocráticas, como exemplo, Macedônia; noutras a aristocracia exerceu o poder; noutras ainda, sobretudo nas cidades comerciais, um tirano conseguiu impor-se, quer pela escolha de seus concidadãos, quer por um golpe de força" (GILISSEN, 2003, p. 74).

As cidades antigas compreendem os seus estatutos pela formação de um grupo social, instalado num determinado território. A Grécia foi se constituindo de dezenas de cidades. Apenas algumas como Atenas deixaram registros da evolução do seu Direito, o que compreende os séculos VIII e VI a.C. nos quais encontra-se instalado o regime democrático.

Assim, a cidade não é um agregado de indivíduos, mas uma confederação de muitos grupos já anteriormente constituídos e que a cidade deixa subsistir. Sabe-se pelos oradores áticos, como cada ateniense fazia, ao mesmo tempo, parte de quatro

sociedades distintas: era membro de uma família, de uma fratria, de uma tribo e de uma cidade (COULANGES, 1981, p. 133).

A crença ou a ideia religiosa continuou sendo a base legitimadora e organizadora da família e da sociedade. A religião foi o primeiro modelo para a organização de uma instituição social. A sua fórmula de organização abriu os caminhos para a instalação de novas Cidades, Estados e Nações.

Os preceitos elementares do procedimento correto para com os deuses, os pais e os estranhos foram mais tarde incorporados à lei escrita dos Estados gregos, na qual não se fazia distinção fundamental entre a moral e o direito; e o rico tesouro da sabedoria popular, mesclado de regras primitivas de conduta e preceitos de prudência enraizados em superstições populares, chegava pela primeira vez à luz do dia, através de uma antiqüíssima tradição oral (JAEGER, 2013, p. 21).

Do exposto ensinamento de Jaeger, observa-se que o mundo aristocrático da Grécia primitiva começou de maneira mais espiritualizado ainda, pois se elevava mais ainda acima do povo. Cada cidade elegia o seu representante. Os representantes das cidades passavam a se unir e pensar novas formas de organização social, jurídica e religiosa.